#ClimaInfo, 18 de setembro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas

RENCA: COMISSÃO DA CÂMARA PEDE REVOGAÇÃO DO DECRETO

Na quinta-feira passada, a Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados pediu a revogação definitiva do decreto que extinguiu a RENCA. Ricardo Trípoli, presidente da Comissão, deu uma bronca no executivo dizendo que “a maneira agressiva que foi feito (o decreto) não só causou constrangimento da sociedade brasileira, mas do parlamento como um todo, atingiu a Câmara e o Senado” (sic). Existe uma movimentação parecida no Senado. Nem o ministro das minas e energia Coelho Filho nem seu secretário de geologia e mineração apareceram, mandaram a sub da sub do desenvolvimento sustentável, quem repetiu o mesmo bordão de Temer e Coelho Filho: que as UCs e TIs serão respeitadas. No debate, Michel Santos, do Greenpeace, perguntou sobre o impacto das estradas e outras obras de infraestrutura para suportar a fase de pesquisa e exploração, mas ficou sem resposta.

Para lembrar, o primeiro decreto extinguindo a Renca foi publicado no dia 23 de agosto e defendido por Temer na mídia. No dia 28 de agosto, Temer soltou outro decreto, no fundo igual, mas com mais desculpas. No dia 30 de agosto, um juiz federal suspendeu o decreto e, na sequência, Temer e Coelho Filho também pediram um tempo para “consultar os universitários”. Se tivessem feito isso antes da primeira versão, teriam evitado um bocado de constrangimento.

http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,comissao-da-camara-pede-revogacao-de-decreto-de-extincao-da-renca,70001997289

 

UMA ANÁLISE DE CADU YOUNG SOBRE NOSSA ATUAL ‘ECONOMIA COLONIAL’

Cadu Young, num artigo na revista Época, educadamente chama de re-primarização da economia brasileira nossa dependência cada vez maior de commodities agrícolas e minerais. Não muito diferente da dependência de açúcar, ouro e pedras preciosas do Brasil Colônia. O país está “cada vez mais dependente da agropecuária e da mineração: a competitividade é baseada no acesso barato a matérias-primas e energia e na desconsideração dos custos socioambientais”. Young chama a atenção, mais uma vez, para aqueles que vêem a questão ambiental como um obstáculo para o crescimento, e termina o artigo dizendo que “a conta, mais uma vez, vai ser deixada para as gerações futuras pagarem”. É uma conta bem salgada, porque as contas ambiental, de desigualdade social, de saúde e da educação são faces do modelo de subdesenvolvimento adotado por aqui.

Em tempo: a Coroa portuguesa arrancava somente o dízimo (10%) dos negócios coloniais; a comissão parece ter aumentado.

http://epoca.globo.com/ciencia-e-meio-ambiente/blog-do-planeta/noticia/2017/09/polemica-da-renca-mostra-modelo-economico-baseado-em-materia-prima-barata.html

 

O PRÉ-SAL MUDA A DISTRIBUIÇÃO DOS ROYALTIES DO PETRÓLEO. POR QUANTO TEMPO?

A exploração dos primeiros campos do pré-sal está trazendo royalties para municípios do Rio que não foram beneficiados pela exploração da Bacia de Campos. Durante 40 anos, os royalties fizeram a alegria do estado do Rio despejando nele, desde 2000, quase de R$ 24 bilhões, principalmente nos municípios do litoral norte. Como se aprendeu, essa dinheirama serviu para inchar máquinas públicas e desestabilizar sistemas municipais e estaduais de arrecadação, além de aumentar a corrupção e criar e manter currais eleitorais de ex-poderosos. O fim da festa se anunciou quando o preço do petróleo caiu em 2014, o que foi seguido pela Lava-Jato, que afetou a Petrobrás, e pelo lento esgotamento das reservas da Bacia. O resultado: municípios e estado com uma conta a pagar muito maior do que as declinantes receitas.

Essa lição foi aprendida, dizem os prefeitos de Niterói, Maricá e Angra, no Rio, e Ilhabela e São Sebastião, em São Paulo, ao explicar como estão aplicando prudentemente o novo maná. Prudente ou não, é de imaginar que contam com os recursos durante um bom tempo. Mas e se não for mais possível explorar o pré-sal? E se o preço internacional despencar de vez? E quando os carros elétricos tomarem o mercado? Bom, dificilmente esses prefeitos estarão à frente dos municípios, mas estes deveriam se preparar desde já para o fim da bonança.

https://oglobo.globo.com/economia/pre-sal-cria-novo-mapa-dos-royalties-21832755

 

RIBEIRÃO PRETO (SP): SECA LAGOA QUE ABASTECE O AQUÍFERO GUARANI

Em Ribeirão Preto, cidade no centro-norte do estado de São Paulo, só caiu um pouco de chuva em seis dias desde junho e, assim, um importante conjunto de lagoas está seco. Esse conjunto é uma das áreas de recarga do aquífero Guarani, uma das maiores reservas de água doce do mundo. O problema é o de qualquer região metropolitana. Ribeirão e municípios vizinhos tiveram um crescimento acelerado nos últimos 15 anos, o que levou a muita impermeabilização do solo por causa do boom de construções, ruas e avenidas. Além da mudança do clima, é claro.

Até o final de agosto, o país tinha quase 1.300 municípios que estavam ou tinham passado por situação de emergência. Mais de 70% deles por estiagem, principalmente no nordeste, mas também por deslizamentos e enchentes causados por tempestades, principalmente na bacia do Rio Uruguai, no sul do país, e na bacia amazônica, no norte. Em Brasília, o racionamento de água vem ocorrendo desde o começo do ano.

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/09/1918625-maior-estiagem-desde-2006-esvazia-lagoa-em-aquifero-de-ribeirao-preto.shtml

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/08/1913593-pais-tem-23-das-cidades-em-situacao-de-emergencia-por-inundacoes-e-secas.shtml

 

O ROCK IN RIO E A PRESERVAÇÃO DA AMAZÔNIA

A organização do Rock in Rio se juntou à maior ação de restauração florestal na Amazônia, capitaneada pelo MMA e o Fundo Global do Meio Ambiente (GEF). A meta é recuperar quase 30 mil hectares de floresta amazônica nos próximos seis anos. Os organizadores estimam que tenham que plantar mais de 70 milhões de árvores. Quem compra o ingresso para os shows, tem a opção de “plantar” uma delas. Juntando com os esforços feitos pelos parceiros da Conservation International, o Instituto Socioambiental e o Funbio, já são três milhões de árvores. No palco do festival, já houve muitas demonstrações de apoio e de cobrança pela preservação da região.

http://www.valor.com.br/brasil/5121492/rock-rio-chega-amazonia-restauracao-de-73-milhoes-de-arvores

 

SISTEMA BRASILEIRO DE ALERTA DE DESASTRES VIA CELULAR

A Anatel aprovou e as operadoras devem começar a oferecer um serviço de alarmes de desastres nos moldes dos que já existem no Chile, no Canadá e nas Filipinas. O usuário se cadastra informando o CEP e a Defesa Civil Nacional avisa quando a região vai sofrer algum risco climático. Por aqui, o aviso vai soar para tempestades fortes que podem causar enchentes e deslizamentos e até furacões como o que bateu nas costas de Santa Catarina em 2004.

https://tecnologia.uol.com.br/noticias/redacao/2017/09/16/todo-territorio-brasileiro-tera-sistema-de-alerta-de-desastres-via-celular.htm

 

MINISTÉRIO VAI BUSCAR SOLUÇÕES ELÉTRICAS PARA O TRANSPORTE DOS CORREIOS

Uma comitiva do ministério do desenvolvimento, indústria e comércio exterior (MDIC) foi conhecer como a DHL, o serviço postal alemão, está usando veículos elétricos para fazer suas entregas e recolhimentos usando uma frota de pequenos caminhões, vans e até bicicletas elétricas. O interesse está na frota e também na rede de recarrega e sua operação.

http://www.mdic.gov.br//index.php/noticias/2733-comitiva-do-mdic-conhece-estrategia-do-servico-de-correios-da-alemanha-para-zerar-emissoes-de-carbono-usando-veiculos-eletricos

 

OS RECADOS E PASSOS AMBÍGUOS DOS EUA NO ACORDO DE PARIS

A pressão internacional para que os EUA não saiam do Acordo de Paris continua grande. Seja na voz de artistas como Steve Wonder ou em pitos do Papa Francisco. Na semana passada, um pessoal do governo canadense soltou um boato dizendo que Trump estaria estudando um jeito de continuar no Acordo de Paris sem parecer que estaria dando meia-volta, o que o faria perder mais um bocado do seu já combalido prestígio. Rapidamente, a Casa Branca negou e reforçou o discurso ‘jardinal’ de Trump em 1º de junho, mas colocou uma ênfase especial no trecho em que Trump diz que ainda vai ver como sair e a possibilidade de criar outro acordo. Nas últimas semanas, Trump está dançando um balé interessante que ele mesmo chamou de um passo para a direita, outro para a esquerda.

https://beta.theglobeandmail.com/news/national/stay-in-paris-accord-climate-ministers-urge-us/article36283125/

http://www.bbc.com/news/world-us-canada-41296988

 

JAPÃO AJUDA A ÍNDIA DOS TRENS E DOS CARROS ELÉTRICOS

Os primeiros ministros do Japão e da Índia se encontraram numa reunião de cúpula bilateral na semana passada dentro de uma estratégia comum de contenção da China. O Japão está investindo US$ 17 bilhões num projeto indiano de trem-bala entre Mumbai e Gujarat. Aproveitando a ocasião, a Suzuki disse querer construir uma fábrica de baterias lítio-íon em Gujarat para sua linha de carros elétricos. Gujarat é a terra natal do premiê Narendra Modi e foi lá que os dois se encontraram. É como uma reunião dessas acontecer na terra natal do presidente ao invés de Brasília.

http://www.hindustantimes.com/editorials/india-japan-ties-stronger-than-ever-bullet-train-reflects-the-depth/story-dw5T4dsNG5xBj69WrNGUmM.html

 

50% DE CHANCE DO AQUECIMENTO GLOBAL ULTRAPASSAR 4°C

Ao indicar um artigo que acaba de sair na PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences), o físico Paulo Artaxo perguntase atravessaríamos a rua se soubéssemos ter 50% de chance de não chegar vivo do outro lado. O artigo mostra que nosso mundo tem uma chance de 50% de ver a temperatura média global ultrapassar 4°C de aumento em relação ao período pré-industrial. E pior, existem 5% de chance desta ultrapassar um aquecimento de 5°C, atingindo então a média mais alta dos últimos 20 milhões de anos. Reverter este quadro é urgente e a humanidade tem poucos anos para evitar este cenário. Nas palavras do prêmio Nobel, Mario Molina: “Está se esgotando rapidamente o tempo que temos para prevenir uma mudança do clima imensamente perigosa, cara e, talvez, incontrolada”.

https://www.scientificamerican.com/article/the-window-is-closing-to-avoid-dangerous-global-warming/

 

O IMPORTANTE PAPEL DOS BANCOS DE DESENVOLVIMENTO NA TRANSIÇÃO PARA AS BAIXAS EMISSÕES

O diretor geral da AFD (Agence Française de Dévélopment). Rémy Rioux, o ‘BNDES francês’, esteve no Brasil e destacou a importância que os bancos de desenvolvimento têm na transição para um mundo de baixas emissões. Os dois bancos, e os de outros vinte e um países, formaram um grupo que, juntos, têm US$ 630 bilhões para investir anualmente, dos quais US$ 90 bilhões para a agenda climática. Rioux veio ver projetos apoiados pela AFD, como o BRT (vias exclusivas para ônibus) em andamento em Curitiba e os estudos da ligação ferroviária do Aeroporto de Cumbica com a cidade, em São Paulo. Daniela Chiaretti, jornalista do Valor Econômico,  perguntou sobre a petroleira Total querer explorar a área na Foz do Amazonas, onde está o ainda desconhecido e enorme banco de corais. A resposta foi meio esquiva:”As empresas sabem que é preciso transformar o nosso modelo econômico. Este é um processo que precisa ser acelerado, mas o mundo não irá deixar de consumir petróleo de um dia ao outro”. Dá para entender que se forem encontrados petróleo e um banco de corais na foz do Sena ou do Loire, Rioux vai mandar ver rapidamente antes que o mundo pare de queimar óleo.

http://www.valor.com.br/brasil/5120372/bancos-de-fomento-devem-financiar-baixo-carbono-diz-especialista-frances

 

CHOCOLATE DESMATA

70% do cacau mundial é produzido por dois milhões de pequenos fazendeiros numa faixa entre Serra Leoa e Camarões, especialmente na Costa do Marfim e em Gana. A floresta tropical que um dia cobriu um quarto de Serra Leoa hoje não ocupa mais do que 5% do território e toda picadinha e espalhada. Se o apetite mundial por chocolate continuar crescendo, em 2030 não haverá mais floresta alguma. As grandes chocolateiras, assim como as traders, não negam que haja desmatamento na sua cadeia de suprimento, mas são rápidas em afirmar suas melhores intenções em erradicá-lo das suas compras. A ONG Mighty Earth produziu um excelente trabalho a respeito do cacau e da floresta na costa oeste africana.

Interessante é que a Mars declarou, na semana retrasada, que pretende gastar US$ 1 bilhão até 2020 para cortar suas emissões de gases de efeito estufa em 40% (base 2007). Além de combater o desmatamento, e de usar cada vez mais energia renovável, o bilhão deve servir, também, para combater trabalho escravo, desumano e infantil. Pelo menos foi o que o pessoal do M&M prometeu.

http://www.mightyearth.org/chocolatesdarksecret/

https://www.reuters.com/article/us-mars-climatechange/candy-maker-mars-looks-to-curb-greenhouse-gas-emissions-across-supply-chain-idUSKCN1BH0F7

 

DICAS PARA PARTICIPAR:

Nos dias 20 e 25 de setembro, o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC) realiza mais uma série de webinars para discutir medidas-chave para viabilizar a redução das emissões do país. Nessa rodada o foco será o contexto urbano.

Dia 20, quarta-feira:

Dia 25, segunda-feira: