#ClimaInfo, 19 de setembro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas

BANCADA RURALISTA NA BICA DE GANHAR MAIS UM BRINDE DE R$ 17 BILHÕES

O Senado aprovou uma resolução que proíbe a cobrança retroativa do Funrural, pendurando para sempre uma continha que hoje está na casa dos R$ 17 bilhões. A coisa é assim: eles não recolhem o imposto e o governo fica proibido de vir cobrar os atrasados. Temer e seu grupo acharam por bem não recorrer ao Supremo contra a resolução, afinal, precisam cada dia mais dos votos no Congresso para se manterem no poder. E assim o governo que diz querer equilibrar as contas públicas vai aumentando os déficits futuros. Afinal, é difícil imaginar um meio mais eficaz de promover o calote de impostos do que anistiar os maus pagadores.

A bancada ruralista talvez não tenha percebido que está chamando de trouxa a parcela do agronegócio que recolhe os impostos em dia.

http://m.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2017/09/1919018-governo-desiste-de-acao-contra-ruralistas-e-pode-perder-r-17-bi.shtml

 

NOTAS SOBRE O FÓRUM “AGRONEGÓCIO SUSTENTÁVEL” DA FOLHA DE SÃO PAULO

 

O fórum aconteceu na semana passada na Associação Paulista de Supermercados, em São Paulo, patrocinado pela Apex Brasil, Banco do Brasil, governo de Goiás, governo de Mato Grosso e Bayer, e com apoio da Siemens e do governo de Mato Grosso do Sul. As três notas que se seguem resumem matérias da Folha que abordaram as discussões tidas no fórum.

 

KÁTIA ABREU E OUTROS PREOCUPADOS COM A IMAGEM DO AGRONEGÓCIO

A senadora Kátia Abreu, que lutou tanto por um Código Florestal generoso para com os ruralistas, e outros participantes do fórum manifestaram-se várias vezes – e de vários modos – preocupados com a imagem ruim que o agronegócio tem no exterior, o que é ruim para os negócios. Lá fora, o agro é associado à corrupção ‘à la JBS’ e à destruição da floresta Amazônica. O maior argumento esgrimido por Kátia e colegas é que o Brasil preserva 60% do seu território. O que não convence, dados os esforços sistemáticos da bancada ruralista no Congresso para reduzir esse percentual.

Talvez a bancada ruralista tenha uma agenda própria e não represente o lado mais empreendedor e moderno do agro nacional.

http://www1.folha.uol.com.br/seminariosfolha/2017/09/1918412-pais-deve-mostrar-acertos-para-superar-imagem-negativa-do-agronegocio.shtml

 

IZABELLA TEIXEIRA SUGERE UMA LAVA-JATO DO DESMATAMENTO DA AMAZÔNIA

A ex-ministra do Meio-Ambiente disse no fórum achar que o desmatamento na Amazônia está precisando de investigação e punição e que “enquanto uma árvore deitada valer mais do que uma árvore em pé, não tem quem pare o desmatamento”. Izabella salientou que é preciso que o pequeno agricultor tenha mais acesso aos avanços tecnológicos dos últimos anos, que, no seu entender, é bastante limitado, apesar da Embrapa produzir pesquisas das mais avançadas no mundo. O chefe-adjunto do setor de Transferência de Tecnologia da Embrapa acha que é essencial formar parcerias entre produtores, consumidores e a indústria que possam, dentre outras coisas, ajudar a difundir os avanços tecnológicos principalmente entre os pequenos e médios produtores.

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/09/1919026-desmatamento-merece-ter-sua-propria-lava-jato-afirma-ex-ministra.shtml

http://www1.folha.uol.com.br/seminariosfolha/2017/09/1918785-trabalhar-com-produtores-e-essencial-para-desenvolver-tecnologia-no-campo.shtml

 

SERIA O ESCOAMENTO DO AGRONEGÓCIO UM DOS GARGALOS DA NOSSA INFRAESTRUTURA?

Os governadores do Mato Grosso e de Goiás afirmam no fórum que falta um plano de logística para impulsionar o agronegócio brasileiro.

A frase, tantas vezes repetida, pode acabar virando verdade. Mas o agronegócio a que se referem os governadores é a parte que exporta commodities agrícolas, não exatamente a que produz a maioria dos alimentos que vão para a mesa dos brasileiros. Acontece que a soma desses produtos representa só 7% de tudo que é transportado no Brasil. Pegar o curto dinheiro do Tesouro Nacional para ajudar o agronegócio a faturar mais é, no fundo, aumentar ainda mais a desigualdade social, porque este é um dos setores que menos empregos gera, que menos impostos paga e que vive de crédito subsidiado, isenções fiscais e anistia de dívidas.

http://www1.folha.uol.com.br/seminariosfolha/2017/09/1918389-para-governadores-de-mt-e-go-uniao-trava-investimento-logistico-regional.shtml

 

AS CHUVAS SE ATRASARAM EM 2015 E A SAFRA DE CASTANHA DESPENCOU 70%

A safra de castanha-do-brasil (ou do Pará) caiu 70% em relação a 2016. A produção esperada é de 10 mil toneladas, enquanto as últimas médias anuais variaram entre 20 mil e 40 mil toneladas. A queda da produção mais que duplicou o preço nas florestas de algumas regiões. Pesquisadores apontam alterações no regime de chuvas como a principal causa dessa queda. O pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril, Hélio Tonini, lembra que a chuva no início da formação dos frutos é muito importante para o seu desenvolvimento, e eles levam até 15 meses para serem formados. Daí que a produção da safra de 2017 foi formada no segundo semestre de 2015, um ano de forte influência do El Niño, quando houve atraso no período das chuvas em alguns locais da Amazônia e seca extrema em outros, como em Roraima e no Amapá. Em Macapá, por exemplo, foram mais de 100 dias sem chuva no verão de 2015. A forte queda na produção aconteceu em toda a Amazônia brasileira, com relatos de ocorrência também em países vizinhos.

https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/26131296/pesquisa-aponta-queda-de-70-na-producao-de-castanha-da-amazonia

 

A ROTA DA MODERNIZAÇÃO DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA NÃO É UM SONHO DE CONSUMO

Um editorial do Valor de ontem defende o que vai virar um programa do governo, chamado de Rota 2030, para incentivar a indústria automobilística a produzir veículos mais eficientes em troca de redução nos impostos. Dilma tinha tentado isso em 2012, através do programa Inovar-Auto, quando deu isenções e abatimentos de impostos para quem fosse cumprindo metas de aumento de eficiência dos veículos. O programa de Dilma expira no final do ano e as montadoras estão correndo para por alguma coisa no lugar e não perder a isenção de impostos. Vale lembrar que a avaliação do programa anterior é polêmica e ninguém está pondo números na mesa para saber se as montadoras atingiram as metas de eficiência energética ou se terão que pagar os impostos atrasados por não terem chegado lá. Uma pesquisa com executivos da indústria revelou que apenas uma minoria de 5% declarou acreditar que todas as montadoras habilitadas alcançarão as metas de eficiência energética (até outubro deste ano). Como é grande o peso das montadoras na economia e no emprego, não é difícil imaginar algo como uma anistia ao Funrural (vide primeira nota de hoje) sendo aplicado ao InovarAuto, já deixando o gancho pronto para outro, em 2030, para quem não cumprir as próximas metas. Afinal, correr na esteira cansa, mas faz bem para a saúde. Apesar de não se sair do lugar.

http://www.valor.com.br/opiniao/5122534/industria-automobilistica-na-rota-da-modernidade#

http://www.automotivebusiness.com.br/noticia/25447/resultados-do-inovar-auto-decepcionam

 

LONDRES NÃO VAI TER MAIS ÔNIBUS POLUENTES ATÉ 2020. SÃO PAULO VAI ESPERAR ATÉ QUANDO?

O prefeito de Londres, Sadiq Khan, anunciou ontem que até 2020, toda a frota de ônibus da cidade será compatível com o padrão Euro VI de baixíssimas emissões, se comparadas às dos que rodam aqui no Brasil. Todos os ônibus da cidade terão sistemas de filtragem nos escapamentos que controlam a emissão de gases e particulados. Além disso, não existirão ônibus a diesel rodando na região central. Estes serão híbridos a eletricidade ou a hidrogênio.

Enquanto isso, em São Paulo, uma lei de 2009 obrigava toda a frota de ônibus a rodar a combustíveis renováveis – ou eletricidade – até o final de 2018. Até agora, tirando um ou outro ônibus usado em testes, nada foi feito. Melhor dizendo, está sendo feito: os vereadores devem votar outra lei alterando o prazo, aliás, nem mencionando prazo algum. Fica mais fácil cumprir metas que não tenham valores definidos nem prazos finais.

https://www.london.gov.uk/press-releases/mayoral/capitals-most-polluting-buses-to-be-upgraded

https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/greenpeace-protesta-contra-mortes-causadas-por-poluicao-dos-onibus-em-sp.ghtml

 

UMA ANÁLISE SOBRE COMO A AMÉRICA LATINA DEVERIA TRATAR O GOVERNO TRUMP

Guy Edwards, da Brown University, e Isabel Cavelier, da Mission2020, escreveram um artigo interessante sobre as relações entre os países da América Latina e o errático governo Trump. Tomando como exemplo o anúncio da saída do Acordo de Paris, os autores sugerem que a América Latina deve ir mostrando caminhos para uma transição para um mundo de baixa emissão que não batam de frente com o ‘America First’, mas que, ao mesmo tempo, mostrem que as relações multilaterais que os países vêm estabelecendo lhes garantem um papel não mais de submissão aos interesses do grande irmão do norte. Um caminho que parece ser mais tortuoso e difícil do que a muito estreita subida até Machu Picchu. Exemplificam com a cúpula do G20 que acontecerá no ano que vem na Argentina, sugerindo não diminuir a importância do tema climático para não desagradar Trump. “Recuar prematuramente ou jogar fora temas difíceis não é opção se a região quiser defender seus interesses”.

http://theglobalamericans.org/2017/09/latin-america-shouldnt-pull-punches-trump/

 

CURTAS SOBRE IMPACTOS CLIMÁTICOS

 

A EXTRAORDINÁRIA TEMPORADA DE FURACÕES DE 2017

Este ano leva jeito de ser especial no que toca a furacões fortes no Atlântico. O Irma chegou à categoria 5; Harvey e José chegaram à categoria 4. O próximo na fila é o Maria e, logo atrás, vem o Lee. Maria está chegando ao Caribe numa rota que deve atingir a Dominica e que pode seguir para St. Croix, nas Ilhas Virgens, e Porto Rico. Nesta noite o furacão alcançou a categoria 5, com ventos de 260 km/h. As águas quentes do Caribe aumentaram rapidamente a potência do furacão, que ontem à tarde estava classificado como categoria 3.

http://www.nhc.noaa.gov/

https://www.theguardian.com/world/2017/sep/18/hurricane-maria-storm-strengthens-as-it-heads-towards-battered-caribbean

 

MAIS DE OITO MILHÕES AMEAÇADOS PELA SECA NA ETIÓPIA

Na região sul e sudeste da Etiópia não chove quase nada há três anos e mais de oito milhões de pessoas estão dependendo quase que exclusivamente da ajuda externa. Isso apesar do país estar liderando rankings de crescimento econômico, posto que as zonas rurais não estão sendo beneficiadas. Olhando para os países vizinhos, mais de 27 milhões de pessoas no leste africano estão dependendo de doações de alimentos por causa da seca.

https://www.washingtonpost.com/world/africa/ethiopia-faces-worst-drought-in-years-as-millions-at-risk/2017/09/05/69f2f042-9222-11e7-8482-8dc9a7af29f9_story.html

 

PERDA DE GLACIARES NO PERU AMEAÇA ABASTECIMENTO DE ÁGUA EM LIMA E EM MUITAS CIDADES

As temperaturas no alto dos Andes peruanos estão subindo tão rapidamente quanto no Ártico, diminuindo o tamanho dos glaciares e mudando seus ritmos. Os glaciares andinos, historicamente, derretem ao longo do ano todo, de modo que a vazão dos rios é mais ou menos constante. Com bem menos gelo no período seco, já não há água suficiente para abastecer Lima, a segunda maior cidade de clima desértico do mundo, atrás apenas do Cairo. O governo estuda trazer água de rios mais distantes e construir barragens para regularizar suas vazões. No período de chuva, o que antes caia como neve que fazia crescer os glaciares, agora parte cai como chuva mesmo, fazendo os rios transbordarem e inundarem vastas regiões planas do país. E os prognósticos não são nada otimistas.

http://americasquarterly.org/content/climate-change-speeding-ice-melt-peru-devastating-consequences

 

DOIS ESTADOS NORTE-AMERICANOS TAMBÉM SOFREM COM SECAS E INCÊNDIOS

Os estados de Montana e Dakota do Norte estão sofrendo uma seca histórica. Campos de trigo já não têm planta alguma nessa região que é principal produtora do grão nos EUA. E a seca desse ano veio sem que ninguém tivesse previsto a pouca chuva junto com temperaturas altas o tempo todo. Alguns registros indicam que esse clima é inédito, pelo menos nos cem anos de registros meteorológicos. Clima seco e quente é combustível para incêndios florestais que estão destruindo as encostas das Montanhas Rochosas e atingindo parques nacionais como o Yellowstone e o Glacier. Os fazendeiros, republicanos e importantes apoiadores de Trump, admitem que o clima mudou.

https://www.theguardian.com/environment/2017/sep/07/flash-drought-north-dakota-montana-wildfires

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