#ClimaInfo, 21 de setembro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas

A ONU, MINISTRO FILHO CONFUNDE CATÁSTROFE COM FATALIDADE

O ministro das Minas e Energia, Coelho Filho, disse ontem na ONU achar que a catástrofe provocada pela Samarco em toda a bacia do Rio Doce “tem que ser encarad[a] como foi (…) como uma fatalidade, você não tem controle sobre isso”. Isso foi dito junto a uma defesa ardorosa da mineração brasileira, tão vilipendiada lá fora quanto o agronegócio. Só porque os dois setores têm seus olhos e bocas grandes hoje sobre a Amazônia. A valer esse “destino inevitável”, como nos ensina mestre Aurélio sobre o significado da palavra “fatalidade”, voltamos à condição de personagens de tragédia grega, sendo apenas joguete dos humores e vaidades dos deuses. Podemos, então, rasgar todas as regulações, desmontar todas as autarquias e lançarmo-nos à decifração do Oráculo de Delfos para saber o que nos é reservado. E, claro, prescindir dos Coelhos, pais e filhos.

https://oglobo.globo.com/brasil/ministro-de-minas-energia-chama-catastrofe-de-mariana-de-fatalidade-21846885

PRESIDENTE EQUATORIANO DEFENDE A “INICIATIVA AMAZÔNICA” COM APOIO INTERNACIONAL

O Presidente do Equador, Lenín Moreno, chamou a comunidade internacional a apoiar uma nova “Iniciativa Amazônica” para toda a região: “Como presidente que nasceu e cresceu na Amazônia, hoje quero lhes propor a Iniciativa Amazônica para proteger a maior bacia hidrográfica do mundo no marco de um processo regional. Nisto, concordamos com o chamado do Papa Francisco para preservar e conservar a Amazônia e, para tal, precisamos da cooperação internacional através da provisão de recursos financeiros”. Para quem está acostumado em pensar só na Amazônia brasileira, a bacia toda tem mais de 7,5 milhões de km2, dos quais pouco mais da metade (60%) no Brasil e 40% nos vizinhos.

http://www.comunicacion.gob.ec/presidente-lenin-moreno-propone-proteccion-regional-de-amazonia-con-apoyo-internacional/

GASTO COM PRESERVAÇÃO AMBIENTAL CAI 27% EM RELAÇÃO A 2016

Pelas contas do MMA, o gasto com preservação e conservação feito entre janeiro e agosto ficou em R$ 176 milhões, 27% menos do que foi gasto no mesmo período de 2016. Lembrando que o orçamento de 2018 promete mais cortes na área ambiental. Isso só confirma a atuação irresponsável e desastrosa do governo Temer para com o futuro do país. Com cada vez menos recursos para uma fiscalização de verdade, as palavras do presidente e do ministro Coelho Filho sobre a Renca ficam mais vazias do que os cofres do Ibama.

http://www.dci.com.br/economia/-investimento-publico-em-preservacao-ambiental-diminui-26,6–em-dois-anos–id652412.html

A SOJA NÃO É SUSTENTÁVEL POR CULPA DO MERCADO?

O Brasil ajudou a criar e ajuda a sustentar a Mesa Redonda para a Soja Sustentável (RTRS, em inglês), que deveria oferecer ao mundo uma soja cuja produção, processamento e comercialização seguisse princípios de responsabilidade e sustentabilidade. Mas parece que o mercado não está muito afim de pagar um ‘plus a mais’ por esta soja. A demanda cresceu até chegar a 3% da produção e parou por aí. A esperança do pessoal do RTRS é a compra chinesa de um bocado de soja para ração animal. Se, por conta do Acordo de Paris, a China tiver que rastrear suas cadeias de suprimento, a demanda pela soja responsável deve aumentar. Caso contrário, deve continuar a pressão pela abertura de novas terras, inclusive na Amazônia, e a pressão pela legalização de novas drogas para aplicação no campo.

http://www.valor.com.br/agro/5125314/falta-de-demanda-limita-crescimento-do-mercado-de-soja-sustentavel#

MINISTÉRIO PÚBLICO DE SÃO PAULO NÃO ACEITA MURO VERDE DE DORIA COMO COMPENSAÇÃO AMBIENTAL

Quem chega de avião, em São Paulo, reparou que, logo que assumiu, Doria destruiu os fantásticos grafites da Av. 23 de Maio, passando tinta tão cinza que lhe valeu o apelido de Doria Grey. Aí os marqueteiros de plantão sugeriram pintar os muros de verde, ao que Doria juntou a obrigação de compensação ambiental de uma construtora que desmatou 10 mil m2 no Morumbi. Doria combinou com a empresa a implantação um jardim vertical sobre o cinza como a compensação. O ministério público não aceitou ponderando que “a desproporcionalidade, a insuficiência e a inadequação da ‘compensação’, que nem merece a adjetivação de ‘ambiental’, por meio de jardins verticais, saltam aos olhos neste caso. Considerando a constatação de 1 m2 equivale a 2 m2 de jardim vertical, a empresa responsável pelo dano ambiental teria de construir, no mínimo, 20 mil m2“. Doria Green tem 30 dias para responder ao juiz.

http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,mp-entra-com-acao-civil-contra-jardins-verticais-em-sp,70002006395

SECRETÁRIO GERAL DA ONU FALA DE FURACÕES E MUDANÇA DO CLIMA

O secretário-geral da ONU, António Guterres, discursou na abertura da sessão desse ano falando dos furacões e do estrago que causaram nos EUA e no Caribe, fazendo a ponte direta com a mudança do clima: “O aumento da temperatura da superfície do oceano teve um impacto nos padrões meteorológicos e precisamos fazer todo o possível para trazê-la para baixo. Ainda no seu início, a temporada de furacões deste ano já é quase a mais violenta registrada, e ela ainda vai até novembro. A temporada segue um padrão. As mudanças do nosso clima estão tornando eventos climáticos extremos mais severos e frequentes, jogando comunidades em um ciclo vicioso de choque e recuperação.

Eventos extremos ligados à mudança do clima têm impacto no mundo todo, incluindo enchentes no sul da Ásia e deslizamentos e secas na África”. Segundo ele, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável não serão nunca atingidos em países obrigados a um constante reconstruir. O representante-substituto dos EUA ofereceu solidariedade a países afetados, mas não mencionou a mudança do clima. Ontem, o furacão Maria, o segundo a chegar à categoria 5 neste ano, passou arrasando Porto Rico, deixando a ilha completamente sem luz. O porta-voz do governo declarou que a devastação é total. Porto Rico tem mais de 3,4 milhões de habitantes em uma área de 9 km2.

http://www.climatechangenews.com/2017/09/19/un-general-assembly-leaders-link-hurricane-devastation-climate-change/

“REPRESAS DE ÁRVORES” PARA A GERAÇÃO ELETRICIDADE

André Ferreira, do IEMA, escreveu na Época sobre a importância cada vez mais estratégica do emprego de térmicas a biomassa para suprir os intervalos sem sol e sem vento das novas fontes renováveis e, também, para o reflorestamento de áreas que, hoje, são “pastagens mal aproveitadas”. A ideia é uma operação do setor elétrico que utilize os reservatórios das hidrelétricas para cobrir a intermitência das eólicas, fotovoltaicas e das grandes hidrelétricas a fio d’água, como Belo Monte, Jirau e Santo Antônio, e que passe a responsabilidade de boa parte da geração na base para térmicas a biomassa. Tudo isso para que o Brasil busque cada vez mais uma matriz energética de emissão zero.

Aqui nos trópicos, é razoável pensar que plantar eucalipto em pasto degradado é bom para o clima, posto que se troca a grama rala pela retirada do carbono da atmosfera feita pelas árvores. Já no hemisfério norte, fechar a conta é bem mais difícil. Primeiro porque os pastos de lá têm uma variedade de plantas bem maior do que a da nossa grama rala. Segundo, porque as árvores que por lá crescem, não crescem nem de perto na velocidade do eucalipto nestas nossas terras. Isso significa que no hemisfério norte espera-se muito mais tempo entre a plantação da muda e a incineração da lenha numa usina, o que faz com que os tempos de retorno dos investimentos e, pior, as emissões indiretas de toda a cadeia de processos, sejam maiores do que os daqui. No caso da Europa, ainda teríamos que levar em conta as emissões dos navios que transportam os pellets. Um estudo estima que, morro abaixo e vento a favor, uma moderna térmica a biomassa nos EUA emitiria metade do emitido por uma equivalente a gás natural. Por aqui, as emissões são quase nulas.

http://epoca.globo.com/ciencia-e-meio-ambiente/blog-do-planeta/noticia/2017/09/arvore-e-nova-usina-hidreletrica-no-brasil.html

http://www.usabiomass.org/docs/Final%20BPA%20Khanna%20Dwivedi%20Biomass%20Carbon%20Study%20May%202017.pdf

https://www.cnbc.com/2017/09/15/biomass-and-climate-change-burning-wood-for-energy-in-21st-century.html

EMPRESAS PASSAM A REPORTAR OS RISCOS CLIMÁTICOS

A iniciativa Climate Disclosure Standards Board (CDSB), criada em 2007 entre membros do Fórum Econômico Mundial, está avançando e dez grandes corporações se comprometeram a começar a reportar as implicações financeiras dos riscos e oportunidades relacionados à mudança do clima. Dentre as primeiras a implantar o padrão de reporte definido pelo CDSBA estão a Aviva, da área de finanças e investimentos, a Royal DSM, da saúde, e a Iberdrola, do setor de energia. Nas palavras de Christiana Figueres, ex-secretária executiva da Convenção do Clima e uma das principais responsáveis pelo Acordo de Paris, “(tomar) ação urgente contra a mudança do clima é crítico se vamos reverter a curva das emissões até 2030. Como primeiro passo, este imperativo exige que empresas e instituições financeiras implementem o mais cedo possível as recomendações da Força Tarefa de Demonstrações Financeiras relacionadas com o Clima. Compreender os riscos atuais ajuda a colocar dólares em projetos e empresas que nos põem numa rota prudente e lucrativa para a completa descarbonização”.

http://www.cdsb.net/press-room/task-force/722/global-leading-companies-commit-disclose-climate-risks-within-three-years

MAIS EMPRESAS COM METAS DE ADOÇÃO DE VEÍCULOS ELÉTRICOS

Uma coalizão de corporações que inclui a Unilever, a Ikea e a DHL lançou uma campanha para acelerar a transição para veículos elétricos. Hoje, mais da metade dos carros que circulam no mundo pertencem a empresas e, assim, elas têm um papel fundamental na mudança da infraestrutura elétrica para recarregar as baterias. A coalizão, liderada pelo Climate Group quer eletrificar o transporte mais comum o mais rapidamente possível. E as empresas estão prometendo um cronograma de substituição de suas frotas que dão um sinal claro para governos, para fabricantes e para o mercado sobre a velocidade dessa transformação. Uma das empresas da Coalizão é a PG&E, a gigante elétrica da Califórnia, que tem planos para trocar parte da sua frota e montar pontos de recarga aos montes. Eles só mantêm um pé atrás quanto aos caminhões de manutenção da rede, dizendo que, afinal, eles precisam continuar funcionando quando a luz cair.

https://insideclimatenews.org/news/19092017/electric-cars-ev100-coalition-charging-fleet-ikea-dhl

ESTRADAS À PROVA DA MUDANÇA DO CLIMA

Começou (finalmente) uma discussão séria sobre a construção e manutenção de rodovias que levem em conta que o clima mudou e vai mudar mais ainda. A Ars Technica publicou um artigo que começa falando que é jogar dinheiro fora duas vezes construir uma estrada que não aguente calor maior e mais frequente e que continue a considerar invernos até ontem rigorosos. O problema começa com a prática habitual de usar as mesmas estatísticas de clima do período 1964-1995 e, daí, se espalha para a qualidade do asfalto e para as demais características de drenagem e absorção de calor da estrada em si. Simulações feitas usando modelos climáticos indicaram custos da ordem de US$ 19 bilhões até 2040, num cenário de baixa emissão, e que sobem para US$ 26 bilhões se a temperatura subir mais. Isso sem considerar tormentas, alagamentos e, nas estradas costeiras, a elevação do nível do mar. Fica a sugestão para o governo colocar cláusulas sobre o tema nas próximas rodadas de concessão.

https://arstechnica.com/science/2017/09/were-building-roads-to-withstand-last-centurys-climate/

 

ERRAMOS

  1. No ClimaInfo, de ontem, atribuímos a frase “enquanto uma árvore deitada valer mais do que uma árvore em pé, não tem quem pare o desmatamento” à ex-ministra Izabella Teixeira quando, na verdade, quem a disse foi a também ex-ministra Kátia Abreu. Agradecemos a Iana Silvestre pelo toque.
  2. Também, ontem, atribuímos ao Serviço Geológico Brasileiro a informação de por volta de 2 mil garimpeiros estarem atuando hoje na Renca. O jornalista Fabiano Maisonnave, autor da matéria comentada na nota, nos escreveu corrigindo a informação: “Na verdade, são duas fontes, com números parecidos. A associação dos garimpeiros do Vale do Jari estima que são de 2.000 a 2.600. A administração da Flota diz que são pelo menos 2.000”. Valeu, Fabiano.