#ClimaInfo, 27 de setembro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas

AS PERDAS DO POVO SURUÍ EM CONFLITOS POR CARBONO, OURO E DIAMANTES

Fabiano Maisonnave escreveu um artigo sobre conflitos internos à nação Suruí acirrados pela mineração, por projetos de carbono e pelo Conselho Indigenista Missionári (CIMI). Em 2012, os Suruís registraram o projeto de desmatamento evitado (REDD) no esquema do V-C-S (Verified Carbon Standard), que começou a trazer recursos da venda dos créditos de carbono às populações Suruí. Aos poucos foi aparecendo um racha na comunidade. Parte se alinhou a Almir Suruí, quem liderou o processo de formação do Parlamento Suruí e o registro do projeto. Outra parte foi se distanciando sob a liderança de Henrique Suruí, reclamando de uma alegada injustiça na partilha dos recursos. Esta divisão foi reforçada quando se descobriu primeiro ouro e depois diamantes, nas terras da Reserva 7 de Setembro, exatamente no local do projeto de carbono. A mineração começou a cortar floresta e o projeto de carbono foi suspenso. Henrique se alinhou a garimpeiros para se afastar, em seguida, devido à intervenção do governo para a retirada do garimpo ilegal. Por trás disso tudo, está o CIMI (Conselho Indigenista Missionário), que é contra projetos de carbono desde sempre e que acabou por influenciar os humores de uns e outros. Nessa história, os grandes perdedores foram os povos Suruí que não têm mais os recursos do carbono e nem possíveis royalties da mineração, e que sobraram com parte da Reserva desmatada.

http://www.climatechangenews.com/2017/09/26/forest-diamonds/

http://www.paiter.org/projeto-de-carbono-florestal-surui/

UMA DISCUSSÃO SOBRE O FUTURO DAS EÓLICAS NO BRASIL

A revista Recharge publicou um suplemento especial sobre o futuro das eólicas no Brasil. O setor sentiu os vários baques dos últimos tempos: a recessão que reduziu a demanda por energia e a crise do setor elétrico que se viu sem dinheiro e, pior, com mudanças nas regulações que só complicaram os problemas. As últimas usinas contratadas devem entrar em funcionamento no meio do ano que vem. A torcida é para que os dois leilões programados para o final do ano não sejam cancelados, como foi o do ano passado. E tem mais insegurança no caminho devido à reforma do setor elétrico que está sendo cozinhada. Para as eólicas, o primeiro baque deve ser o fim do desconto na tarifa de transmissão, o que deve se somar à insegurança na precificação da geração eólica, posto que a nova regulação pode favorecer a segurança de fornecimento em detrimento das fontes intermitentes. Outra fonte de preocupação é o BNDES, de onde se espera que os financiamentos continuem a fluir como antes. Mas alguns agentes já se manifestam dizendo preferir contratos atrelados ao dólar ao invés de dinheiro do BNDES.

Valor de ontem trouxe um diagnóstico interessante do setor elétrico escrito por Adilson de Oliveira, da UFRJ, e Luiz Salomão, da UCM, que apontam dois problemas principais: as distorções nas remunerações dos agentes, que acabam por se descolar da energia efetivamente gerada e entregue, e as falhas no planejamento e operação do sistema, que fazem com que usinas prontas não tenham linhas de transmissão para entregar energia e, por outro lado, não otimizam o uso dos reservatórios existentes. Eles chamam a atenção por não enxergarem remédios para esses problemas na reformulação proposta para o setor.

http://info.rechargenews.com/special-focus-on-brazil-2017

http://www.valor.com.br/opiniao/5131698/reforma-do-sistema-eletrico

VALE A PENA INJETAR GÁS NATURAL PARA QUASE DOBRAR A ELETRICIDADE GERADA EM UMA TÉRMICA A BIOMASSA?

Muitas usinas de açúcar e etanol queimam o bagaço de cana em caldeiras de alta pressão para gerar e vender eletricidade. Uma das empresas da Petrobras, a Gás Brasiliana, responsável pela distribuição de gás natural do gasoduto Brasil-Bolívia no noroeste de São Paulo, quer introduzir o conceito de usina híbrida. Segundo José Ferrari, Diretor Técnico-Comercial da empresa, a injeção de um pouco de gás natural junto com a queima do bagaço aumenta a eficiência do sistema de 12% para 19% e o resultado é quase dobrar a energia gerada. Isto teria a vantagem adicional de permitir o funcionamento somente a gás na entressafra da cana.

A tecnologia é usada na Europa em usinas que queimam resíduos urbanos ao invés de bagaço de cana. O problema da proposta é que esta amarra parte da geração termelétrica, hoje movida a biomassa, a um combustível fóssil. Não valeria a pena avançar na biodigestão da vinhaça e de outros resíduos da produção de cana, açúcar e etanol, de modo a queimar biogás no lugar do gás natural?

https://www.canalenergia.com.br/noticias/53035206/usina-hibrida-a-biomassa-e-gas-natural-pode-dobrar-a-geracao-de-energia

JÁ É POSSÍVEL OBSERVAR A SUBIDA DO NÍVEL DO MAR EM SANTOS

Um projeto apoiado pela Fapesp demonstrou que aumentou a erosão e a intrusão de água salgada na cidade provocadas por tempestades mais fortes e mais frequentes somadas ao aumento do nível do mar. Os modelos climáticos indicam que o mar pode subirá 18 cm até 2050 e quase meio metro até o final do século. Sabendo disso, é preciso tomar providências para evitar ou mitigar os impactos, assim como elaborar medidas e treinar equipes para atuarem em casos de emergência.

http://agencia.fapesp.br/impactos_da_elevacao_das_mares_em_santos_ja_sao_visiveis/26238/

DEPOIS DO MEGAINCÊNDIO FLORESTAL, CRIANÇAS PORTUGUESAS QUEREM PROCESSAR PAÍSES EM BUSCA DE JUSTIÇA CLIMÁTICA

Em junho, 64 pessoas morreram no maior incêndio florestal de Portugal, quase metade presa em seus carros numa estrada que ficou cercada pelas chamas. Agora, crianças de escola estão chamando um crowdfunding para contratar advogados ingleses especialistas em direito ambiental e processar 47 países europeus por falharem em atacar as causas da mudança do clima, colocando assim suas vidas em risco. Os advogados disseram que já existe jurisprudência suportando o caso e que o avanço será o envolvimento de muitos países no mesmo processo. As crianças de 5 a 14 anos são todas da vizinhança de Leira, perto de onde pessoas e carros foram queimados.

Para contribuir, o site do crowdfunding é: https://www.crowdjustice.com/case/climate-change-echr/

http://www.observatoriodoclima.eco.br/criancas-portuguesas-se-preparam-para-processar-paises-da-uniao-europeia-por-inatividade-climatica/

https://www.theguardian.com/world/2017/sep/25/portuguese-children-crowdfund-european-climate-change-case-sue-47-countries

O MUNDO ESTARIA SE ELETRIFICANDO LENTAMENTE DEMAIS

David Hone, consultor da Shell sobre o clima, escreveu um artigo dizendo que aumentar o uso da eletricidade é fundamental para que o mundo pare de queimar combustíveis fósseis. Ele cita, como exemplo, os carros e fogões virando elétricos. A partir daí ele começa a colocar números sobre a mesa: de acordo com a IEA (Agência Internacional de Energia), no final de 2015 a eletricidade representava 19% da energia consumida no mundo, enquanto a queima de fósseis dava conta dos restantes 81%. Essa “penetração” da eletricidade precisaria acelerar e rapidamente para serem atingidas as metas para 2050. Para tornar a tarefa mais difícil, a eletricidade não pode ser gerada em usinas fósseis.

Apesar das fontes renováveis estarem crescendo rapidamente, falta muito para elas ocuparem parte importante do cenário mundial. O tom do artigo não chega a ser muito otimista. Já o presidente da Associação Fotovoltaica Chinesa mostra um gráfico impressionante com a curva que representa o preço dos painéis fotovoltaicos despencando e outra curva representando os painéis instalados deslanchando. Mesmo sem ver o futuro em bolas de cristal, parece seguro que o futuro é brilhante como o Sol.

https://blogs.shell.com/2017/08/31/chasing-electrification/

https://medium.com/world-economic-forum/the-next-energy-revolution-is-here-c63e54ba1ed8

A CRISE DA AGROBIODIVERSIDADE E OS RISCOS DOS PESTICIDAS

Dois trabalhos tocam em lados diferentes do mesmo problema, os riscos existentes a uma produção agrícola que sustente a população humana. O primeiro, decorrente da Convenção da Biodiversidade, gerou o termo agrobiodiversidade para abarcar as múltiplas dimensões da justaposição entre agricultura e biodiversidade, com o objetivo de suportar políticas voltadas à segurança alimentar da população humana. O primeiro é o livro Mainstreaming Agrobiodiversity in Sustainable Food Systems (Integrando Agrobiodiversidade em Sistemas Alimentares Sustentáveis). O texto se desenvolve ao longo de quatro eixos estruturantes: dietas saudáveis e diversas; múltiplos benefícios de sistemas agrícolas sustentáveis; sistemas de sementes produzindo diversidade de lavouras para os sistemas alimentares sustentáveis; e a conservação da biodiversidade agrícola para os sistemas alimentares sustentáveis.

O segundo é um artigo que diz que as regulações atuais dos pesticidas são claramente fracas e estão pondo em risco a vida de trabalhadores e consumidores. Alice M. Milner, da Universidade de Londres, e Ian L. Boyd, da Universidade de St. Andrews na Escócia, dizem que os testes com pesticidas são realizados completamente fora das condições em que serão usados. Normalmente, os testes são feitos apenas em laboratórios e sempre usando um único pesticida. No mundo real, as pestes são múltiplas e os produtos químicos aplicados – os vários “cidas”, adubos e mais tantos outros produtos – acabam sendo aplicados e depositados quase que ao mesmo tempo. Os testes de laboratório não captam os efeitos de uma substância sobre a outra, que podem desde inibi-la até potencializá-la. Boyd, que é um dos consultores-chefe do equivalente ao Ministério do Meio Ambiente no Reino Unido, aponta que a “vigilância na escala que é requerida para medicamentos, não existe na avaliação dos efeitos dos pesticidas no meio ambiente (…) e não existe nenhum monitoramento sistemático dos resíduos dos pesticidas no ambiente”.

Os dois aproveitam para criticar o uso preventivo de pesticidas, sem que haja comprovação da existência da(s) praga(s). No momento, tanto Michael Gove, o secretário do meio ambiente inglês, quanto Scott Pruitt, do EPA americano, andaram prometendo relaxar ainda mais os controles sobre os pesticidas. Por aqui, os ruralistas também querem baixar uma lei afrouxando o controle e, se possível, reduzir o poder da ANS (Agência de Vigilância Sanitária).

https://www.bioversityinternational.org/mainstreaming-agrobiodiversity/

http://science.sciencemag.org/content/357/6357/1232

https://www.theguardian.com/environment/2017/sep/21/assumed-safety-of-widespread-pesticide-use-is-false-says-top-government-scientist

FLORESTAS DÃO PISTAS DA MUDANÇA DO CLIMA, APÓS MÚLTIPLOS INCÊNDIOS

Recentemente, o Parque Yellowstone, no oeste americano, foi palco de vários incêndios florestais que estão dando aos cientistas a oportunidade de estudar como a regeneração após ciclos curtos de crescimento e novo incêndio. Dados os prognósticos de um mundo mais quente, com incêndios mais frequentes, os pesquisadores envolvidos acham muito importante entender esta dinâmica desde já. Uma das áreas do parque que foi bastante destruída, sobrando muitas cinzas e alguns poucos tocos, recebeu o nome de “stumpland” (terra dos tocos). Lá, aos poucos, novos brotos foram surgindo e as equipes estimam que crescerão cerca de 1.000 árvores por hectare. Em uma outra área, basicamente uma floresta de pinheiros, uma quantidade grande de troncos sobreviveu aos incêndios e, por isso, recebeu o nome de “denseland” (terra densa). Nesta, existem cerca de 80 mil árvores por hectare. Acontece que, incêndio após incêndio, as árvores também vão ficando mais dispersas e, possivelmente, se encaminham para uma paisagem de tocos. Por outro lado, na terra dos tocos, a diversidade de espécies está aumentando e, aí, a possibilidade de sobrevivência aumenta. O fogo acaba favorecendo a diversidade e, dentro da diversidade, a resiliência a incêndios.

https://mountainwestnews.org/stumptowns-cautionary-tale-4d50270c0bbc

CONVITE DA BVRIO PARA CONHECERMOS PRODUTOS CERTIFICADOS DA FLORESTA

A BVRio dará uma palestra sobre a produção de móveis e outros produtos com madeira certificada da floresta pela Cooperativa Mista da FLONA do Tapajós. O evento é parte da Semana Design Rio 2017. Quinta, 28/09, das 14:30 – 15:30 hs. No Armazém 3 do Píer Mauá (Auditório Principal) – Av. Rodrigues Alves, 10 – Gamboa, Rio. A inscrição é gratuita.

http://eventos.oglobo.globo.com/semana-design-rio/2017/o-evento/

http://bvrio.org/2017/09/26/bvrio-na-semana-design-rio-2017-o-globo/

ERRAMOS:

Anteontem, na nota sobre a super-malária, dissemos que esta estava sendo provocada por um supervírus, enquanto o  correto teria sido dizer que o agente é um protozoário. Obrigado pela correção Ciro Campos.