#ClimaInfo, 2 de outubro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas

AGRONEGÓCIO PODE LIDERAR A LUTA CONTRA O AQUECIMENTO GLOBAL

Rachel Biderman e Carlos Nobre, do WRI, escreveram na Folha de São Paulo sobre o papel fundamental do agronegócio para conter a parte brasileira do aquecimento global. Apontam que novas tecnologias desenvolvidas pela Embrapa miram uma agricultura neutra em emissões. Dizem, também, que dá para aumentar a produtividade, especialmente na pecuária. Chamam a atenção para o cuidado que há de se ter com as “sementes de uma agropecuária expansionista ainda presentes na economia brasileira (…) nesta fase de reprimarização da economia.”. Segundo eles, “é o próprio setor que deveria liderar a reformulação de suas estratégias, criando códigos de ética em defesa de uma política agrícola de desmatamento zero em que o aumento da produção decorresse tão somente por ganhos de produtividade”.

http://m.folha.uol.com.br/opiniao/2017/09/1922037-agro-pode-mudar-imagem-com-producao-carbono-neutro.shtml

SETEMBRO FOI O MÊS COM MAIS INCÊNDIOS FLORESTAIS CAUSADOS PELO HOMEM

No mês passado, o número de incêndios florestais ultrapassou os 100 mil, recorde absoluto em um único mês. O coordenador do programa de monitoramento por satélite do INPE, Alberto Setzer, fez questão de apontar a atividade humana como causadora de quase todos os incêndios, seja pela prática de limpeza de campos para lavoura, seja pela expansão da agricultura, ou ainda para a replantação. Segundo Setzer, os cortes de verbas reduziram a capacidade de fiscalização do governo e muita gente aproveitou para tocar fogo no mato.

https://www.theguardian.com/world/2017/sep/28/brazil-forest-fires-deforestation-september-record-amazon

FLORESTAS TROPICAIS ESTÃO EMITINDO MAIS CARBONO DO QUE ABSORVENDO

Um artigo publicado na revista Science deu um sinal de alarme importante: as florestas tropicais estão degradadas a ponto de emitir mais carbono para a atmosfera do que sequestrar. O saldo anual de emissões nos últimos dez anos, contando as florestas tropicais da Amazônia, da África e do sudeste da Ásia, somou mais de 400 milhões de toneladas de carbono, com uma emissão de 800 milhões de toneladas de carbono e sequestro de 400. Isso é bem mais do que todas as emissões da matriz energética brasileira. A novidade foi o modo como se contabilizou a perda de carbono por atividades que levaram à degradação das florestas, responsáveis, segundo o estudo, por quase 70% das emissões anuais. Por ter a maior área e ser a mais atingida, 60% do saldo de emissões aconteceu na Amazônia, seguido de 24% nas florestas africanas e 16% no sudeste da Ásia, onde o desmatamento é mais importante do que a degradação.

http://science.sciencemag.org/content/early/2017/09/27/science.aam5962

https://www.theguardian.com/environment/2017/sep/28/alarm-as-study-reveals-worlds-tropical-forests-are-huge-carbon-emission-source

https://www.carbonbrief.org/tropical-forests-no-longer-carbon-sinks-because-human-activity

SOJA AVANÇA SOBRE ÁREAS QUE DEVERIAM SER PROTEGIDAS NO AMAPÁ

A expansão da soja nas áreas de cerrado do Amapá não está respeitando as áreas de proteção permanente e de reserva legal, o que levou o Ibama a embargar 10 mil hectares em 36 áreas no estado. As autuações somam mais de R$ 57 milhões. Quase toda a soja plantada neste ano já havia sido colhida e exportada antes do Ibama aparecer. A faixa de Cerrado no Amapá corre de norte a sul do estado, ocupando quase 10% do território e fica fora da problemática Renca. A área é vista pelo pessoal da soja como uma das próximas fronteiras de expansão, muito pela proximidade dos portos de exportação do grão para a China.

http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,fora-da-renca-soja-ilegal-avanca-em-areas-protegidas-do-amapa,70002017978

O GRANDE POTENCIAL DAS EÓLICAS NUM BRASIL QUE EMITE CADA VEZ MAIS PARA GERAR ELETRICIDADE

Ildo Sauer, professor da USP, deu uma entrevista ao Estadão dizendo que a capacidade eólica ainda a ser explorada é maior do que a possível via hidrelétricas. Nas contas feitas por ele, se dobrar o consumo per capita e a população crescer como projetado pelo IBGE até 2043, quando a população deve se estabilizar, será possível atender à nova demanda só com novas eólicas e as hidrelétricas que já estão em operação. Isso sem contar com o potencial fotovoltaico que, na visão de Sauer, vai se expandir mais nos telhados do que em centrais de geração.

De hoje até o futuro desenhado pelo professor Ildo, a matriz elétrica vai precisar cortar suas emissões. Depois da secura dos meses entre junho e setembro, os reservatórios baixaram bastante e estão, hoje, com pouco mais de 26% de reservação no sudeste e menos de 10% no nordeste. Por isso, o ONS (Operador Nacional do Sistema) está acionando cada vez mais térmicas a gás natural, o que aumenta as emissões do sistema e o custo de geração. Nós, consumidores, já entramos em outubro pagando um adicional de R$ 3,50 a cada 100 kWh de consumo. A meteorologia prevê um outubro mais chuvoso do que a média histórica. No sábado, as chuvas inundaram cidades de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,hidraulicas-nao-sao-mais-o-maior-potencial-energetico-do-brasil-mas-sim-a-energia-eolica,70002018647

http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,producao-de-energia-eletrica-no-brasil-polui-cada-vez-mais,70002021234

O CHILE ADOTA UM ÔNIBUS BRASILEIRO MENOS POLUENTE DO QUE O QUE RODA NO BRASIL

Reproduzimos aqui um comentário do consultor em transportes Olímpio Álvares: “Enquanto os zelosos chilenos avançam no aspecto ambiental, introduzindo os silenciosos ônibus Euro 6 (com filtro das partículas cancerígenas geradas na queima do diesel), tecnologia que já é obrigatória nos EUA e na Europa desde 2010 e 2012, respectivamente, as montadoras brasileiras – as mesmas que fornecem ônibus Euro 6 para Santiago – com a aquiescência das autoridades e do BNDES, responsável pelo financiamento os ônibus novos, seguem despejando no mercado brasileiro em cidades muito contaminadas pelo diesel, os caros ônibus Euro 5 (25% a mais) equipados com um sistema de controle de NOx que não funciona (segundo o ICCT) e que não atende os padrões ambientais brasileiros na operação real das ruas. Ainda assim, os ônibus Euro 5 ainda não foram banidos das aquisições das operadoras de transporte coletivo brasileiro. E o BNDES, que tem um Código de Ética Ambiental rigoroso (que parece não ser cumprido), não toma providências para vetar os financiamentos para os Euro 5”.

https://diariodotransporte.com.br/2017/09/28/citaro-modelo-euro-vi-premiado-da-mercedes-benz-comeca-a-operar-em-fase-de-teste-em-santiago-do-chile/

RUAS COMPLETAS NO BRASIL E AS SUPERQUADRAS DE BARCELONA

Em junho, o WRI e a Frente Nacional de Prefeitos, com apoio do Instituto Clima e Sociedade, lançaram o programa Ruas Completas que está sendo aplicado em grandes cidades brasileiras. Serão ruas modificadas para garantir acesso seguro a pedestres, ciclistas, transporte coletivo e particular. Nas palavras de Luis Antonio Lindau, diretor do programa de Cidades Sustentáveis no WRI, “esse projeto resulta do que aprendemos com a população ao longo dos últimos anos: precisamos construir cidades e espaços urbanos que promovam a convivência. O que nos fez chegar até aqui é nosso desejo de mudar a  realidade e investir em cidades voltadas para as pessoas”.

O primeiro link, abaixo, mostra o que já está acontecendo em Niterói, Porto Alegre, João Pessoa, Campinas, Joinville, Salvador, São Paulo, Juiz de Fora, Recife, Fortaleza e no Distrito Federal.

Bruno Felin, também do WRI, faz uma comparação interessante entre conceito e interação com a população das novas Superquadras em Barcelona com as Ruas Completas. Enquanto em Barcelona o objetivo é tirar o cidadão dos transportes motorizado, particular e coletivo, abrindo o espaço para estar e lazer, as Ruas buscam integrar os modais com segurança.

http://wricidades.org/tags/ruas-completas

http://wricidades.org/noticia/wri-brasil-e-fnp-lançam-rede-nacional-para-mobilidade-de-baixo-carbono-%E2%80%93-ruas-completas-0

http://www.archdaily.com.br/br/880180/superquadras-de-barcelona-e-ruas-completas-o-que-elas-tem-em-comum

http://www.archdaily.com.br/br/880331/cidade-ativa-adverte-carros-fazem-mal-a-saude

AS EMISSÕES MUNDIAIS NÃO AUMENTARAM EM 2015

A PBL-NEAA (agência ambiental holandesa) soltou um relatório estimando que as emissões globais pararam de crescer em 2015, o que é um bom sinal. Como o crescimento da economia mundial mais dinâmico tende a puxar as emissões para cima, o que se viu foi uma queda no consumo de carvão em térmicas, o que manteve as emissões no mesmo patamar.

http://www.pbl.nl/en/trends-in-global-co2-emissions

https://www.theguardian.com/environment/2017/sep/28/global-carbon-emissions-stood-still-in-2016-offering-climate-hope

SUBSÍDIO EUROPEU PARA COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS VAI QUASE TODO PARA O TRANSPORTE

O ODI (Overseas Development Institute) atualizou o tamanho dos subsídios embutidos nos combustíveis fósseis na Europa. Os subsídios continuam firmes e fortes, apesar do compromisso de zerá-los até 2020. A lupa deste ano foi aplicada sobre o setor de transportes, que recebeu € 49 bilhões, correspondendo a quase metade do total, na forma de renúncias fiscais para abaixar o preço do diesel. Uma das desculpas desses governos é que o diesel em motores emitiria menos CO2 por km. Pena que esta redução vem acompanhada de poluentes que aumentam doenças, especialmente de crianças.

https://www.odi.org/publications/10939-phase-out-2020-monitoring-europes-fossil-fuel-subsidies

https://www.theguardian.com/environment/2017/sep/28/european-countries-spend-billions-a-year-on-fossil-fuel-subsidies-survey-shows

EUA EXPORTAM COQUE DE PETRÓLEO PARA POLUIR A ÍNDIA E O BRASIL

Diariamente morrem oito moradores de Nova Delhi por causa da poluição. Enquanto o governo indiano toma ações para regular o diesel e reduzir as emissões da queima de carvão em térmicas, praticamente não atua sobre um outro combustível fóssil – o coque de petróleo. O coque é o óleo residual do processamento de petróleo nas refinarias e seu principal exportador é os EUA, principalmente a partir das refinarias em torno de Houston e Nova Orleans, que foram castigadas pelo Harvey no mês passado. O consumo de coque de petróleo na Índia vem crescendo exponencialmente porque a restrição ao carvão o torna atraente para geração elétrica. Outro grande consumidor do coque é a indústria do cimento. Aliás, aqui no Brasil, o coque também é um problema. Mas, diferentemente das térmicas, o pessoal do cimento ao menos aprendeu a controlar as emissões de poluentes.

http://www.climatechangenews.com/2017/09/28/us-exports-tar-sand-waste-fuelling-delhis-air-pollution-crisis/

EMISSÃO DO REBANHO BOVINO MUNDIAL É MAIOR DO QUE SE ESTIMAVA

Em um artigo na Carbon Balance and Management, pesquisadores do Departamento de Agricultura norte-americano recalcularam as emissões mundiais do rebanho bovino e chegaram a um valor 11% superior ao das estimativas do IPCC. Estimam que o tamanho do rebanho foi subestimado, e, principalmente, o peso médio do gado aumentou. Os fatores de emissão da fermentação entérica e da decomposição de esterco também aumentaram. O resultado é que a emissão de metano é maior do que se supunha.

https://amp.theguardian.com/environment/2017/sep/29/methane-emissions-cattle-11-percent-higher-than-estimated

CRISTÃOS COMBATEM A MUDANÇA DO CLIMA

Dois bispos ingleses, um católico e outro luterano, escreveram que a mudança do clima é um dos principais desafios do mundo cristão, pelas tragédias que dela poderão decorrer. Os bispos dão como exemplo a guerra civil síria, que foi acirrada por uma seca excepcional e pelas decorrentes quebra de safras e migração de gente para as cidades, e com o sofrimento da população de Bangladesh com o aumento do nível do mar. Os bispos lembram do dever cristão da caridade para com os necessitados e defendem que as igrejas também têm o dever de reduzir suas pegadas de carbono.

No velho oeste americano, igrejas cristãs de várias denominações estão pregando o “ativismo ambiental”. Em 2001, 14 congregações californianas criaram a rede “Campanha Interfé de Força e Luz” (Interfaith Power & Light Campaign). Hoje, já são 20 mil congregações em 40 estados dos EUA. Enquanto isso, nove importantes organizações católicas, inspiradas pelo Papa Francisco, se desfizeram de investimentos em empresas fósseis. Uma das mensagens que perpassa esse movimento é resumida por uma delas: “a obrigação moral da nossa geração de proteger a Criação do Senhor”.

https://www.christiantoday.com/article/the.christian.case.for.tackling.climate.change/114897.htm

http://www.hcn.org/issues/49.16/activism-why-religious-communities-are-taking-on-climate-change