#ClimaInfo, 4 de outubro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas

A PRIVATIZAÇÃO DA AMAZÔNIA A GOLPES OLIGÁRQUICOS

 

Eliane Brum escreveu um artigo imperdível no El País para quem quer entender a dinâmica da exploração recente da Amazônia. Ela aborda um grande leque de situações, problemas e retrocessos na legislação e ‘liga os pontos’ entre a grilagem de terras públicas, o desmatamento e a força da bancada ruralista na política nacional. Eliane mostra o encadeamento de ações como o programa Terra Legal (do presidente Lula), o uso que os grileiros já fazem do CAR e as várias medidas provisórias de Temer a favor da bancada ruralista com a amputação do Jamanxim, a sucessão de anistias à grilagem e até as idas e voltas da extinção da Renca.

 

Muito importante é a separação que Eliane faz, e que cada vez mais gente assina embaixo, entre a bancada ruralista e a legião de produtores rurais sérios existente no país: “quando se menciona a bancada ruralista, não se trata dos produtores rurais que botam comida na mesa da população nem do agronegócio que usa tecnologia para melhorar a produtividade, mas das velhas oligarquias que marcam a história do Brasil, aquelas que só sabem acumular riqueza expandindo-se e apropriando-se do que é público. Produtores rurais sérios, conectados com os avanços tecnológicos e preocupados com os efeitos da mudança climática sobre a produção, não fazem parte dessa turma”. Enfim, entregamos os pontos, é impossível resumir o artigo. Só tentamos aqui dar um gostinho para motivar a leitura desta peça fundamental do bom jornalismo.

 

https://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/02/opinion/1506961759_879609.html

https://www.socioambiental.org/sites/blog.socioambiental.org/files/nsa/arquivos/dono_e_quem_desmata_conexoes_entre_gril1.pdf

 

OS OBSTÁCULOS A UM PROGRAMA DE RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA

 

André Zecchin, da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), escreveu um artigo no Valor sobre a pobre situação da restauração ecológica no Brasil e os obstáculos para que esta deslanche. Zecchin diz, basicamente, que o arcabouço legal está criado, mas que falta uma peça-chave: “é importante que o agricultor tenha consciência de que áreas de vegetação nativa bem conservadas são essenciais a suas atividades agrícolas, e não somente uma exigência legal”. A resistência do agricultor vem de sua visão de que o lucro só vem da área plantada. O ministro Maggi pensa de maneira similar, quando compara a situação dos agricultores da Amazônia, que têm por lei a obrigação de conservar 80% da área de suas propriedades, com um imaginário dono de hotel que só pudesse alugar 20% dos quartos do empreendimento. O ministro, e muitos outros, esquecem que hotéis têm muito mais área do que a ocupada pelos quartos: administração, lavanderia, restaurante, recepção, garagem, etc. E que sem essa infraestrutura de suporte à locação de quartos, o hotel rapidamente perderia a freguesia, ou seria forçado a jogar os preços lá embaixo. Se o país quer uma agricultura moderna e competitiva, precisará passar a enxergar as áreas conservadas como essenciais à produtividade das áreas plantadas. Zecchin termina o artigo dizendo que “é necessário e urgente que as ações de restauração ecológica ganhem escala, independentemente da solução a ser adotada. Somente assim será possível sanar os 21 milhões de hectares do déficit de vegetação nativa e reverter – ou ao menos minimizar – os inúmeros impactos oriundos da degradação ambiental nas propriedades e paisagens rurais”.

 

http://www.valor.com.br/opiniao/5142514/o-deficit-florestal-brasileiro

 

AINDA DÁ PARA APROVEITAR O PRÉ-SAL, SEGUNDO A ACCENTURE

 

Uma das maiores empresas de consultoria em gestão e tecnologia do mundo, a Accenture colocou uma matéria paga no Estadãona qual seu CEO diz que “questões ligadas principalmente a mudanças climáticas, veículos elétricos e à demanda levaram a um choque de preços e uma volatilidade bem maior [dos preços do petróleo]”. Ele toma o exemplo do pré-sal para criticar a política de conteúdo nacional que, junto com a escala da corrupção na Petrobras, praticamente impediu o aproveitamento de uma possível janela de oportunidade para sua exploração. Agora que a Petrobras começa a sair da depressão e o governo conseguiu aprovar mudanças regulatórias, o CEO diz que “se ainda quisermos aproveitar [o pré-sal], devemos ter uma agenda constante de leilões, com a entrada de vários operadores e investimento em eficiência para monetizar esse ativo e transformá-lo em valor real para a sociedade”.

 

Desnecessário dizer que a Accenture está mais que interessada no volume de negócios que os leilões e os vários operadores lhe trariam.

 

http://patrocinados.estadao.com.br/techvisionbrasil/setor-de-abastecimento-precisa-mudar-a-logica-defende-especialista-em-industria-de-energia/

 

CENSO AGROPECUÁRIO ALIMENTARÁ UM “WAZE RURAL”

 

Começou o censo agropecuário. Dezenove mil pesquisadores visitarão 5,3 milhões de propriedades rurais munidos de celular e tablet. O IBGE instalou um aplicativo no tablet para registrar os caminhos percorridos pelos pesquisadores. Além de servir de controle da realização da pesquisa, o aplicativo também servirá para montar uma base de trajetos, que pode virar um “waze rural” do interior do Brasil. Pensando em ‘voz alta’: estas informações, se conjugadas às de um CAR validado, facilitariam a ação dos agentes fiscalizadores e, também, o controle da ação destes.

 

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/10/1923791-com-censo-agropecuario-ibge-estuda-criar-waze-da-zona-rural-brasileira.shtml

 

MAIS UMA FREADA NO RENOVABIO

 

O RenovaBio volta à baila, dessa vez para avaliação de um possível impacto inflacionário e de como este evoluiria no tempo. O programa está em gestação no ministério das minas e energia (MME) para estimular as indústrias do etanol e do biodiesel e, assim, cumprir com uma das promessas feitas ao Acordo de Paris. Mas o pessoal da Fazenda decidiu colocar uma lupa no programa. Seus defensores juram por tudo que é sagrado que o programa não gera inflação no curto prazo e só um pouquinho mais a frente.

 

Por falar no MME, anteontem o ministro Coelho Filho foi ao Roda Viva, da TV Cultura, dizer, como se fosse a coisa mais natural do mundo, que a privatização da Petrobras “é um caminho possível”. Não deu nem 24 horas e teve que dar mais uma “retropedalada” dizendo que não há nada na agenda nesse sentido. Alguém precisa dar um toque para o menino guardar a boca para comer farinha.

 

http://www.valor.com.br/agro/5142038/receio-com-impacto-inflacionario-do-renovabio-trava-projeto

http://tvcultura.com.br/videos/62831_roda-viva-fernando-coelho-filho-02-10-2017.html

 

PARA IR OU ACOMPANHAR: O LICENCIAMENTO SOCIOAMBIENTAL EM DISCUSSÃO NO TCU

 

O Tribunal de Contas da União (TCU) montou um programa de dois dias para debater o licenciamento socioambiental nos empreendimentos de infraestrutura. Como ele é um dos palcos dos questionamentos, decidiu convidar um amplo espectro de especialista para debater. Os debates acontecerão no Auditório Ministro Pereira Lira, Térreo do Edifício Sede do TCU em Brasília. Dias 05 e 06 de outubro, das 9h às 18h. Programação e inscrições (só até hoje) em: https://contas.tcu.gov.br/ords/f?p=portal:detalhe:::::V:150278

 

ESCÓCIA BANE O FRACKING

 

Uma consulta pública feita pelo governo escocês revelou uma enorme oposição ao fracking. As áreas onde as petroleiras acham que tem gás natural ficam perto das desativadas minas de carvão do país. A consultoria KPMG estimou que a extração do gás por fracking não mexeria muito no PIB, mas causaria impactos ambientais irreversíveis nas áreas exploradas. O governo escocês proibiu o emprego da técnica e declarou que a proibição faz parte dos compromissos de enfrentamento da mudança do clima. A Escócia se junta, assim, ao País de Gales, que também proibiu o fracking e deixa os políticos ingleses encurralados por terem autorizado a exploração na Inglaterra. Os petroleiros não gostaram e abriram fogo dizendo que a Escócia passará a ser um importador de gás natural, ao invés de um importante exportador, e que isso diz muito sobre o governo de lá. Mas, de fato, a opinião pública deu uma resposta clara ao dar mais um passo para o fim dos fósseis.

 

http://www.independent.co.uk/news/uk/politics/scotland-bans-fracking-natural-gas-extraction-fossil-fuels-paul-wheelhouse-government-energy-a7980811.html

https://www.theguardian.com/uk-news/2017/oct/03/scottish-government-bans-fracking-scotland-paul-wheelhouse

 

EMISSÕES INDIANAS CRESCEM 4,7% EM 2016

 

A PBL, a agência ambiental holandesa, reportou que as emissões indianas aumentaram 4,7% em 2016, comparadas com o ano anterior. O que mais cresceu foram as emissões de metano vindas do rebanho bovino; a queima de carvão também cresceu, mas menos. A Índia tem o maior rebanho do mundo, mais de 300 milhões de cabeças. O segundo maior rebanho é o brasileiro, com mais de 200 milhões de cabeças.

 

http://www.hindustantimes.com/india-news/india-among-highest-greenhouse-gas-emitters-in-2016-big-coal-consumer/story-juJex1dknBvLxmQ275YN0K_amp.html

http://beef2live.com/story-world-cattle-inventory-ranking-countries-0-106905

 

MINISTRO INDIANO AVISA QUE MONTADORAS DEVEM MIGRAR PARA ENERGIA LIMPA

 

Nitin Gadkari, Ministro do Transporte Rodoviário e Estradas, disse em tom de ameaça às automotivas que a Índia vai na direção da energia renovável, quer elas gostem ou não. “Não vou perguntar, vou simplesmente passar por cima… O governo tem uma política cristalina de reduzir importações e controlar a poluição”. E acrescentou que não vai adiantar aparecer mais à frente dizendo que sobraram com um estoque enorme de veículos fósseis encalhados. Na sua visão, o futuro do transporte é elétrico.

 

http://timesofindia.indiatimes.com/auto/miscellaneous/switch-to-clean-vehicles-or-be-bulldozed-nitin-gadkari-to-automakers/articleshow/60409241.cms

 

MINISTRO DAS FERROVIAS DA ÍNDIA NÃO QUER MAIS LOCOMOTIVAS A DIESEL

 

Em 2015, a Índia assinou um contrato de US$ 2,5 bilhões com a GE para construir uma fábrica de locomotivas a diesel. Lá, o transporte ferroviário de carga é puxado a diesel, enquanto os trens de passageiros são elétricos. Na semana passada, o Ministro das Ferrovias, Piyush Goyal, disse que o país não precisava mais de locomotivas a diesel e acrescentou estar avaliando se não valeria a pena romper o contrato. Nas suas contas, a economia gerada pela troca do diesel pela eletricidade pagaria a multa contratual com sobras. A GE reagiu dizendo que o rompimento do contrato implicaria perda de milhares de postos de trabalho. O Ministro, então, veio novamente a público “retropedalando”, para dizer que os prazos do contrato com a GE estão alinhados e sendo cumpridos.

 

http://www.businesstoday.in/current/economy-politics/ge-contract-general-electric-indian-railways-make-in-india-jobs-piyush-goyal/story/261127.html

http://www.livemint.com/Companies/UHFjavMc4UbonwwVXYgQsN/GE-warns-India-about-risks-to-altering-25-billion-diesel-l.html

 

ALEMANHA: DESAFIOS DA ‘COALIZÃO JAMAICA’ PÓS-ELEIÇÃO DE MERKEL

 

Logo antes da eleição que manteve Merkel no poder, o think-tank Agora Energiewende “causou” ao dizer que a Alemanha corre o risco de falhar “espetacularmente” no cumprimento do compromisso de reduzir suas emissões até 2020. Mesmo após a vitória de Merkel e sua reafirmação do compromisso, as dúvidas persistem. Merkel está à frente de uma coalizão que junta o seu partido, conservador, com um outro neoliberal e os verdes. O multicolorido do grupo ganhou o apelido de Coalizão Jamaica. Um dos principais pontos de divergência entre os três partidos é justamente a política energética e suas implicações climáticas. Os verdes não querem mais saber de térmicas a carvão, nem de nucleares, e propõe começar a desativar usinas existentes já. Os conservadores também querem se livrar do carvão, mas bem aos poucos. Já os liberais acham que os fósseis vão permanecer importantes até onde a vista alcança, e defendem que é o mercado que deve ditar sua eventual substituição. Outra peça importante nesse xadrez é o imposto sobre emissões, que poderia substituir a política de subsídios aos fósseis e abrir espaço para um compromisso entre verdes e liberais. As discussões sobre o futuro das automotivas também devem ser acaloradas, com os liberais e conservadores defendendo o diesel, as montadoras e seus milhões de empregos, e os verdes querendo a transição para os veículos elétricos, com todo o peso do governo por trás.

 

https://www.cleanenergywire.org/news/coalition-watch-road-new-german-government

http://www.valor.com.br/internacional/5140896/na-alemanha-carvao-e-industria-sao-obstaculos-coalizao-com-verdes#

 

ESPANHA ENFRENTA UMA FORTE SECA

 

Mais da metade da Galícia, no noroeste da Espanha, está em estado de alerta no que já é o ano mais seco da sua história. Dependendo das chuvas de outono, os mais de dez mil rios galegos podem entrar em estado de emergência. Lá, o nível da reservação está em torno de 44%, o que para eles já é calamitoso. Já se começa a preparar campanhas para redução de consumo. Na região central, a seca atinge a bacia do Rio Tajo, na Espanha (que muda de nome para Tejo quando adentra Portugal). Para piorar, os governos de Castilla-La Mancha e Murcia estão trocando acusações pela retirada de água das cabeceiras do Tejo para alimentar o Rio Segura. Em agosto, o Greenpeace espanhol saiu em defesa do Tejo dizendo que a bacia do Segura tem água suficiente. Com o que os agricultores de Murcia não concordam. A situação lembra a disputa entre Rio, São Paulo e Minas pelas águas do Rio Paraíba do Sul quando as represas do sistema Cantareira secaram em 2014.

 

https://politica.elpais.com/politica/2017/10/02/actualidad/1506952022_705006.html

https://politica.elpais.com/politica/2017/10/02/actualidad/1506965550_154959.html

https://politica.elpais.com/politica/2017/08/24/actualidad/1503565112_933828.html