ClimaInfo, 19 de outubro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas

GOVERNO BRASILEIRO SACRIFICA O FUTURO DO PAÍS POR UM PUNHADO DE PETRÓLEO

Carlos Rittl, do Observatório do Clima, escreveu um artigo contundente sobre um Brasil que acorrenta alegremente seu futuro ao sonho do pré-sal, ao mesmo tempo em que o mundo se esforça para construir uma economia de baixa emissão de carbono. Na própria semana da COP-23, quando os governos de todo o mundo voltam à mesa de negociação da Convenção Clima, a ANP vai fazer mais um leilão de áreas exploratórias do pré-sal.

Rittl escreve que “a chamada ‘maldição dos recursos naturais’ é um fenômeno conhecido e bem estudado pelos economistas: países que encontram dinheiro fácil no subsolo começam a deixar de fazer investimentos produtivos em outros setores da economia. Acabam dependentes de uma única commodity e primarizados. Em geral, esse mesmo dinheiro cria uma casta política corrupta, mina a democracia e, quando acaba, ou quando o preço da commodity despenca, deixa em seu lugar um Estado falido e uma população na miséria”.

Nosso país corre o sério risco, se o preço do petróleo realmente despencar, de se ver amarrado de papel passado a carros e caminhões que o mundo já terá abandonado e, ao mesmo tempo, tendo que lidar com grandiosos empreendimentos de petróleo e gás projetados com base em preços não mais praticados em lugar nenhum do mundo.

https://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/17/politica/1508193564_495228.html

 

GOVERNO DO PARANÁ TAMBÉM QUER SACRIFICAR SEU FUTURO NO ALTAR DOS FÓSSEIS

O governador Beto Richa, filho do ex-governador José Richa, fez uma parceria com a Shell para construir 1.500 km de gasodutos para, dentre outras, alimentar três termelétricas a gás natural.

O estado tem, em terra, um pouco de petróleo, nenhum gás natural e vê as áreas do pré-sal longe das suas fronteiras. Logo, o plano deve ser construir usinas de regaseificação e importar gás liquefeito de outros estados ou países.

Como Itaipu fica no Paraná, assim como outras hidrelétricas grandes, o estado tem 10% da capacidade instalada no país e é um exportador de eletricidade, de maneira que não precisaria de térmicas para seu consumo interno. Se precisar expandir, o estado é o segundo maior produtor de cana de açúcar e tem potencial para expansão de térmicas a bagaço, mas estas não são tão “inauguráveis” quanto uma enorme e brilhante térmica a gás.

http://www.gazetadopovo.com.br/politica/parana/copel-planeja-construir-gasodutos-e-tres-termeletricas-no-parana-3uo3ezc60hse85y3zdkoxajgr/ampgp

 

MINERAÇÃO É IMPORTANTE CAUSA DO DESMATAMENTO DA AMAZÔNIA

Um artigo que acaba de sair na Nature Communications mostra que a mineração legal na Amazônia foi responsável, direta e indiretamente, pelo desmatamento de 12% do total desmatado no período entre julho de 2005 e junho de 2015, que, pelos dados do INPE, somaram 100.400 km2.

Pegando os mesmos dados de satélite e colocando uma lupa nos locais das minas, os autores somaram quase 1.000 km2 de desmatamento nos locais das minas. A novidade do trabalho foi estimar o desmatamento devido à abertura de estradas e à construção de vilas para os trabalhadores. Isso acrescentou mais 10.000 km2 à responsabilidade da mineração. Reforçando: essa conta foi feita só para as atividades legais e licenciadas de mineração.

O artigo conclui que o processo de licenciamento precisa olhar com maior rigor tanto o desmatamento da mina, quanto o causado pela infraestrutura demandada pela atividade, a qual, pelo jeito, desmata bem mais do que as minas em si.

http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,mineracao-foi-responsavel-por-9-do-desmatamento-da-amazonia-entre-2005-e-2015,70002050689

 

MME QUER SABER COMO A MUDANÇA DO CLIMA AFETA O PLANEJAMENTO ELÉTRICO DO PAÍS

O MME (ministério de minas e energia) firmou um convênio com o BIRD (Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento) para contratar uma consultoria que estudará como a mudança do clima mexerá nas metodologias usadas para o planejamento do sistema elétrico nacional.

Em 2015, a SAE (secretaria de assuntos estratégicos da presidência da república) soltou resultados de um trabalho de dois anos avaliando os impactos da mudança do clima no país. Um dos capítulos se referia às bacias hidrográficas e ao uso múltiplo da água, e deu uma atenção especial à água usada nas hidrelétricas. O termo de referência do edital atual não menciona o estudo da SAE, uma indicação de que farão – novamente – um monte de contas e considerações já feitas.

O trabalho deve aplicar as descobertas à Bacia do São Francisco. Dados reais os consultores terão, posto que o rio está vazio e as usinas quase todas desligadas e lutando para manter uma vazão que evite que, na foz do rio, o mar entre e salinize áreas agricultáveis.

Apesar de mencionar o uso múltiplo e citar como beneficiários a ANA (Agência Nacional de Águas) e a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), não há nenhuma indicação de que estes e outros atores relevantes na questão do uso da água serão envolvidos.

http://www.mme.gov.br/documents/10584/40650095/TDR+n%C2%BA+66+-+SPE-MME+-+Projeto+META.pdf/9cfc5cb9-ace4-4fc2-a0cb-bc2486a20988

http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=3&pagina=88&data=17/10/2017

http://br.reuters.com/article/businessNews/idBRKBN1CM2QB-OBRBS

 

GOVERNO BAIXA UM DECRETO CRIANDO O QUE JÁ EXISTE E UMA LEI NOMEANDO O QUE AINDA NÃO EXISTE

Temer assinou duas peças de legislação ontem no mínimo inusitadas.

Por um decreto criou o SIRENE, um site que o MCTI (ministério da ciência, tecnologia, inovações e comunicações) desenvolveu para reportar as emissões de gases de efeito estufa desde 1990. Detalhe: o MCTI colocou o site no ar no ano passado. Ele tem um leve cheiro de plágio do SEEG, o Sistema de Estimativa de Emissões de gases de efeito estufa desenvolvido pelas organizações do Observatório do Clima.

Temer também assinou uma lei que cria o Produto Interno Verde. Em três artigos diz que, algum dia, o PIB (Produto Interno Bruto), que mede os fluxos econômicos do país, será estendido para incluir “o patrimônio ecológico nacional”.

Essa é uma discussão de anos no âmbito do pessoal de estatística da ONU que define como se deve contabilizar a riqueza de um país e o que faz parte do cálculo. A ideia pretende, num primeiro momento, incluir as reservas minerais no PIB estendido e, depois, atribuir valor e contabilizar os serviços ecossistêmicos. Para quem se interessar, o último link abaixo leva para o SEEA – System of Environmental Economic Accounting. Técnicos do IBGE e do BNDES participaram da elaboração das normas.

A ver se o país começará a reportar a destruição dos ecossistemas da Amazônia, Cerrado e Bacia do Rio Doce na coluna de prejuízos nas contas nacionais. Afinal, o país ficou realmente mais pobre.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9172.htm

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13493.htm

https://seea.un.org/

 

CONTAR VANTAGEM SOBRE A GERAÇÃO FOTOVOLTAICA PREJUDICA SUA IMAGEM

A Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica) divulgou uma nota sobre um estudo que contratou para avaliar “qual seria o impacto de uma inserção planejada da fonte solar fotovoltaica no período histórico entre janeiro de 2013 e maio de 2017”. A conclusão principal é que os consumidores brasileiros “poderiam economizar pelo menos R$ 2 bilhões na conta de luz com uma complementação da matriz elétrica brasileira por meio da inserção da fonte solar fotovoltaica”.

A nota não explica bem como a conta foi feita. Cita, corretamente, que pagamos centenas de milhões de Reais pela aplicação das bandeiras amarela e vermelha, mas não diz de onde vem o restante dos bilhões. Também não diz se usou os preços da fotovoltaica praticados em 2013, muito mais altos do que os encontrados hoje, mesmo no mercado nacional.

A nota também destaca que os consumidores do Nordeste seriam especialmente beneficiados porque a seca obrigou o Operador do Sistema a ligar muitas térmicas nordestinas por muito tempo, o que encarece a conta, principalmente por meio das bandeiras amarela e vermelha. Mas não explica que o adicional trazido pelas bandeiras não é regionalizado e que o país todo paga pelo acionamento das térmicas.

Assim, os autores ficam devendo a explicação de como o consumidor do Nordeste foi especialmente prejudicado pela ausência de parques fotovoltaicos. Não foi possível ter acesso ao estudo, só a uma divulgação resumida.

Nós acreditamos que a geração fotovoltaica de eletricidade vai transformar o uso da energia no Brasil, como está fazendo mundo afora. Mais do que os watts e watts-hora, ela força mudanças estruturais em como os sistemas elétricos são pensados e operados e, portanto, nos modelos de negócio das empresas de energia. Divulgar vantagens que a fotovoltaica não tem não contribui com sua imagem.

http://www.absolar.org.br/noticia/noticias-externas/estudo-da-absolar-mostra-economia-de-pelo-menos-r-2-bi-na-conta-de-luz-com-insercao-da-fonte-solar-f.html

 

MARTIN WOLF – OS POBRES E A MUDANÇA DO CLIMA

Martin Wolf, importante colunista do Financial Times, escreveu sobre um dos pontos mais importante do relatório do FMI sobre a economia mundial, o que mostra que os impactos da mudança do clima afetam muito mais países e pessoas pobres do que o mundo desenvolvido.

Wolf fala que os trópicos já estão sofrendo desproporcionalmente os impactos do clima e é justamente nos trópicos onde ficam os países e as pessoas mais pobres.

Ele critica acidamente a inação ou pouca ação dos países mais ricos e aponta a indústria dos fósseis e a visão de muito curto prazo dos agentes econômicos como os maiores responsáveis pela inação ou pouca ação pela redução das emissões. E chama esses responsáveis a ajudar os países pobres na sua preparação e superação dos problemas trazidos pelo clima do futuro.

O artigo saiu no Valor de ontem.

http://www.valor.com.br/opiniao/5159768/os-pobres-e-mudancas-climaticas

 

GRANDE BANCO E ONU CRIAM PROGRAMA PARA A PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL DE ALIMENTOS

O holandês Rabobank, um dos maiores bancos a operar no agronegócio mundial, anunciou que, em parceria com a UNEP (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), alocará US$ 1 bilhão em um programa de incentivo à produção sustentável de alimentos em todo o mundo. O programa distribuirá recursos a fundo perdido, oferecerá instrumentos de redução de risco e linhas de crédito a baixo custo para clientes envolvidos com a agricultura sustentável. Além de colocar sua rede de parceiros e clientes para apoiar uma logística igualmente sustentável e eficaz.

Os pioneiros serão o Brasil e a Indonésia. Aqui o programa vai apoiar iniciativas da integração-lavoura-pecuária-floresta junto a clientes do banco detentores de 17 milhões de hectares.

Em tempo: nosso compromisso junto ao Acordo de Paris é de incrementar “5 milhões de hectares de sistemas de integração lavoura-pecuária-florestas (iLPF) até 2030”.

http://www.unep.org/newscentre/rabobank-and-un-environment-announce-new-billion-dollar-partnership-kickstart-climate-smart

http://www.valor.com.br/agro/5159324/rabobank-e-onu-investirao-us-1-bilhao-em-producao-sustentavel

 

ESCÓCIA INAUGURA PRIMEIRO PARQUE EÓLICO FLUTUANTE

É cada vez mais claro que, na Europa, aproveitar os ventos de Mar do Norte implica construir plantas eólicas em pleno mar, as off-shore. Mas quando o mar é muito profundo, aumentam muito o custo das fundações e os riscos de acidentes. Daí a ideia de torres eólicas flutuantes, ancoradas no fundo do mar e nas torres vizinhas.

A primeira destas plantas acaba de começar a operar na Escócia. Modesta, se comparada com suas irmãs fixas, é composta de cinco torres de 6 MW cada uma. A petroleira norueguesa Statoil, dona da planta, pretende construir uma de 100 MW até 2023 e outra de 500 MW até 2030.

http://www.rechargenews.com/wind/1366774/worlds-first-floating-wind-farm-powers-up-off-scotland

 

PROJETO SUÍÇO DE CENTRO COMUNITÁRIO SOLAR É PREMIADO NOS EUA

Todo ano nos EUA é organizado um decatlo de projetos de casas e edificações solares que premia a que fizer mais pontos em dez critérios. Na edição que acabou na semana passada, a equipe suíça das Universidades de Lausanne e Genebra apresentou um centro comunitário que ganhou oito provas e um destaque especial para a eficiência energética da obra. As dez “provas” são: inovação, água, saúde e conforto, utilidades, qualidade de vida, energia, arquitetura, potencial de mercado, engenharia e comunicação.

https://www.solardecathlon.gov/

https://www.swissinfo.ch/por/eficiência-energética_estudantes-suíços-ganham-decatlo-solar-nos-estados-unidos/43603790

 

EMPRESA MOSTROU QUE SABE TRANSFORMAR CO2 EM PEDRA

Um longo artigo na Quarz conta sobre uma linha de pesquisa e desenvolvimento inovadora que busca capturar e retirar CO2 da atmosfera.

Normalmente, as empresas que atuam nesta área usam tecnologias que coletam os gases que saem de uma chaminé e os enterram bem fundo em sítios geológicos que aprisionam o CO2 por séculos. Mas alguns projetos estão tentando remover o CO2 direto da atmosfera. As estimativas, ainda bem otimistas, é de que conseguirão fazer essa remoção em escala a um custo que deve variar entre US$ 50 e US$ 100 por tonelada de CO2 capturado. O que é o intervalo de valores que muita gente acha que deveria ser cobrado na forma de um imposto sobre emissões.

Uma das empresas mais adiantadas nesta técnica usa uma substância facilmente reciclável que faz exatamente isso. O genial é que eles construíram uma planta ao lado de uma usina geotérmica da Islândia e descobriram, por acaso, que o basalto presente no fundo do poço da usina reagia com o CO2 puro injetado e o transformava em rocha calcária. Esse processo acontece naturalmente na natureza, mas leva milhares de anos para uma dada quantidade. A planta piloto transformou esta mesma quantidade em pedra em menos de dois anos.

Parece que vale a pena caçar poços com basalto no fundo que não estejam dentro de bocas de vulcão.

https://qz.com/1100221/the-worlds-first-negative-emissions-plant-has-opened-in-iceland-turning-carbon-dioxide-into-stone/