ClimaInfo, 20 de outubro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas

PORQUE NÃO NOS UFANAMOS DA QUEDA ANUNCIADA DO DESMATAMENTO DA AMAZÔNIA

Já dissemos aqui que, na 3a feira, Sarney Filho apresentou a estimativa oficial do desmatamento recente da Amazônia: a devastação caiu 16% entre agosto de 2016 e julho deste ano, em relação ao mesmo período anterior. Durante o anúncio, o ministro do meio ambiente treinou seu discurso para a COP23, a conferência do clima que vai ser presidida por Fiji, onde deverá dizer que o desmatamento está sendo domado, que não houve retrocesso e que o alegado desastre ambiental provocado por Temer para afagar a bancada ruralista e permanecer no cargo não passa de intriga da oposição.

O Observatório do Clima elencou dez motivos para não nos empolgarmos com a queda anunciada na taxa de desmatamento, entre os quais termos perdido 6.624 km2 de floresta em um único ano, termos uma queda que não compensa a alta nos anos anteriores e termos visto o governo Temer liberando geral para os grileiros.

Indicamos fortemente a leitura do texto para aqueles que ficaram otimistas com o anúncio do ministro.

http://www.observatoriodoclima.eco.br/dez-motivos-para-nao-se-empolgar-demais-com-queda-da-taxa-de-desmatamento/

 

ANÚNCIOS DO GOVERNO OFUSCAM ‘BOLA DE NEVE’ DA DEVASTAÇÃO DA AMAZÔNIA

No Direto da Ciência, Maurício Tuffani diz que depois de três décadas de anúncios do sobe-e-desce anual das taxas de desmatamento da Amazônia, sem que nunca o desmatamento acumulado seja divulgado simultaneamente, pouquíssimos sabem que a supressão total da parte brasileira da Amazônia alcançou 784.989 km2, uma área maior que metade do estado do Amazonas ou que o triplo de São Paulo. Tuffani consolida este número em uma tabela claríssima na qual vai somando o desmatamento anunciado ano a ano.

Mas tem mais. Tuffani lembra que os anúncios feitos ano a ano correspondem somente às áreas onde houve corte raso da cobertura vegetal acompanhadas pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal (Prodes), do INPE. Este sistema não leva em consideração áreas muito degradadas pela extração seletiva de madeira e por incêndios, que são, também, monitoradas pelo Inpe, mas por meio de outro sistema, o de Mapeamento da Degradação Florestal da Amazônia Brasileira (Degrad). Os dados deste outro sistema mostram que a degradação florestal também é muito elevada: em 2011, a degradação chegou a 24.650 km2, uma área equivalente a 10% do Estado de São Paulo; em 2012, foram mais 8.634 km2 e, em 2013, mais 5.434 km2.

Com base nestes números, Tuffani conclui que, de modo geral, estamos “desconsiderando a dimensão crescente da devastação da Amazônia”, justamente no momento em que “Temer, acuado sob acusações de corrupção, faz tudo para agradar os parlamentares que representam os setores mais retrógrados do agronegócio”.

http://www.diretodaciencia.com/2017/10/19/numeros-do-governo-ofuscam-bola-de-neve-da-devastacao-da-amazonia/

 

O POBRE PLANO DA AGRICULTURA DE BAIXO CARBONO

O Observatório do Plano ABC acaba de publicar dois relatórios de acompanhamento do Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura, mais conhecido por Plano ABC, com as mesmas conclusões dos anos anteriores: baixa adesão e desconhecimento da efetividade das ações.

Olhando pelo lado do copo cheio, os créditos disponibilizados somaram R$ 23 bilhões nos últimos sete anos, o que parece muito.

Olhando pelo outro lado, o Plano Safra disponibilizou R$ 900 bilhões nesse período, quase 40 vezes mais. Desses R$ 23 bilhões, menos de dois terços foram captados pelos produtores.

O pior da história é que, ainda que seja muito difícil verificar se os produtores fizeram o que prometeram ao tomar o crédito, o Plano não previu nenhum mecanismo para monitorar a real redução de emissões pretendida.

Também não foram publicadas informações sobre a inadimplência do Plano.

http://observatorioabc.com.br/wp-content/uploads/2017/09/Sumario_ABC_Relatorio4_GRAFICA.pdf

http://www.valor.com.br/agro/5157818/projeto-de-baixo-carbono-tem-baixa-demanda-e-menos-recursos

http://www.agricultura.gov.br/assuntos/sustentabilidade/plano-abc/plano-abc-agricultura-de-baixa-emissao-de-carbono

 

A DERRADEIRA HORA DO PETRÓLEO

Jorge Camargo, presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás e Biocombustíveis, escreveu um interessante artigo sobre o pré-sal no Valor de ontem.

Na primeira parte, ele narra como o mundo vai se descarbonizar e o consumo de petróleo vai atingir um pico até 2030, a ponto de “ficar visível o início do seu declínio e a inexorabilidade do encalhe de parte das reservas de petróleo hoje contabilizadas”.

A partir daí, ele passa a narrar a história da descoberta do pré-sal e de como o governo Temer teve êxito no leilão do mês passado de áreas de exploração de petróleo, principalmente no que ele chamou de “franjas do pré-sal”.

Camargo diz que o governo está se preparando para dois leilões com áreas do próprio pré-sal ainda em 2017. E conclui dizendo que é preciso leiloar tudo o que for possível, o mais rápido possível.

Não seria de todo injusto comparar com a xepa no fim de feira.

https://oglobo.globo.com/opiniao/a-hora-do-petroleo-21962943

 

A AUSTRÁLIA JUNTA VENTO, SOL E BATERIAS PARA REDUZIR A INTERMITÊNCIA DA GERAÇÃO RENOVÁVEL

A Austrália terá a primeira planta de geração de eletricidade que combina torres eólicas, painéis fotovoltaicos e baterias de armazenamento. Esta é uma alternativa para estabilizar a saída de eletricidade. Quando faltar vento, as placas solares geram e vice-versa. Quando houver sol e vento, carregam-se as baterias para quando não houver nenhum dos dois. Em termos de capacidade, a planta terá 43,2 MW eólicos, 15 MWp solares e um banco de baterias com capacidade de 4 MWh e pico de 2 MW. A planta está programada para entrar em operação no ano que vem.

http://www.rechargenews.com/transition/1368108/windlab-and-vestas-tie-up-for-landmark-hybrid-power-plant

 

A HOLANDA APERTA O CERCO AO CARVÃO

Por um acordo feito pela coalizão do governo de centro-direita de Mark Rutte feito na 3a feira, a Holanda eliminará a geração de eletricidade a partir da queima do carvão até 2030, estabelecerá um piso para o preço do carbono e pressionará por cortes mais profundos das emissões de carbono da União Europeia para que entrem em sintonia com a limitação do aquecimento global em 1,5°C.

Em decorrência do acordo, três das mais eficientes termelétricas a carvão da Europa, concluídas em 2015, serão fechadas antecipadamente.

Segundo Gerard Wynn, do Institute for Energy Economics and Financial Analysis, a decisão “envia um sinal dramático aos mercados de eletricidade: nenhum investimento na eletricidade do carvão na Europa é seguro”.

Os quatro partidos do governo também concordaram em definir um piso de preço para o carbono emitido pelo setor energético e a compra de permissões de emissão no mercado europeu para garantir que o encerramento das termelétricas na Holanda não venham a tornar mais barato poluir em outros lugares.

http://www.climatechangenews.com/2017/10/11/netherlands-agrees-coal-phase-calls-stronger-2030-eu-emissions-target/

https://www.axios.com/coal-projections-2497860176.html

 

ALEMANHA: PREÇO DA ELETRICIDADE FOTOVOLTAICA CONTINUA CAINDO

O preço médio das novas instalações de energia solar na Alemanha caiu pela primeira vez abaixo de cinco centavos de Euro por quilowatt-hora. Desde a introdução dos leilões em 2015, os preços da tecnologia diminuíram em mais de 40%. O leilão realizado em junho fechou com o preço médio de 5,66 centavos/kWh. Já o último leilão comprou 222 MW pelo preço médio de 4,91 centavos/kWh.

https://www.cleanenergywire.org/news/auctions-bring-german-solar-power-price-new-record-low

 

MERCADO AUTOMOTIVO CHINÊS TEM AS CONDIÇÕES IDEAIS PARA A EMERGÊNCIA DOS VEÍCULOS ELÉTRICOS

A McKinsey divulgou um estudo sobre o mercado automotivo chinês no qual analisa como este cresceu tão rapidamente e porque é esperado que continue a crescer a taxas talvez mais baixas a partir de agora.

A indústria automotiva mundial entendeu rapidamente que a China seria o centro de gravidade da produção e deslocou muito capital para a China. Assim, lá foram vendidos, no ano passado, 40% mais carros do que na Europa. Em 2016, foram vendidos 23 milhões de carros novos, o dobro das vendas de 2010.

Em um mercado deste tamanho, e que cresce nesta velocidade, foram aparecendo vários fabricantes chineses, uns em joint-ventures com automotivas estrangeiras, outros navegando sozinhos. Este ambiente dinâmico se revelou ideal para o aparecimento dos elétricos. E o plano para 2020 é produzir 5 milhões de elétricos, o que vai requerer aumentar a produção em 40% a cada ano.

Por ajudar a resolver o problema da poluição nas grandes metrópoles, o consumidor chinês oferece menos resistência para comprar um elétrico, e o mercado enxerga um potencial gigantesco de crescimento. O governo, também olhando para a poluição, distribui licenças para os elétricos com mais facilidade do que para carros equipados com motores de combustão interna, outro importante incentivo para o consumidor.

O artigo da McKinsey que divulga o estudo avisa que, até 2030, mais de 280 cidades chinesas terão mudado para sistemas de compartilhamento, o que envolverá cerca de 800 milhões de pessoas.

Muito do que veremos um dia pode já estar acontecendo hoje na China.

https://www.mckinsey.com/industries/automotive-and-assembly/our-insights/riding-chinas-huge-high-flying-car-market

 

EUA: COMO NEGOCIAR OS TERMOS DE UM ACORDO DO QUAL O PAÍS DIZ QUERER SAIR?

O New York Times faz uma interessante análise do possível comportamento dos EUA na COP23. Acontece que os EUA não podem deixar oficialmente o Acordo de Paris até 2020 e, neste meio tempo, os negociadores dizem que continuarão a proteger os interesses norte-americanos, o que essencialmente se traduz em ajudar a escrever o livro de regras do Acordo.

As duas semanas da COP23 prometem uma mistura volátil de raiva para com os EUA, por terem declarado sua intenção de se retirar do Acordo, misturada a uma persistente esperança de que o país permaneça.

A própria administração Trump estará dividida. Thomas A. Shannon, subsecretário de assuntos políticos do Departamento de Estado e diplomata de carreira respeitado, liderará uma pequena delegação. Scott Pruitt, administrador da Agência de Proteção Ambiental, manifestou interesse em liderar o time de negociação e ainda pode participar da conferência em alguma condição.

Gente experimentada nas negociações diz esperar que, em público, os negociadores norte-americanos defendam os combustíveis fósseis, mas que, nos bastidores, devem ter atitudes construtivas, provavelmente seguindo algumas das posições do governo Obama. Por exemplo, espera-se que os EUA argumentem que todos países, não importando o nível de riqueza e de recursos de cada um, devem ser mantidos nos mesmos padrões legais, particularmente no que toca à divulgação dos progressos alcançados no cumprimento dos objetivos do Acordo.

Entretanto, Andrew Light, consultor sênior sobre mudanças climáticas no Departamento de Estado de Obama, prevê que os demais países invariavelmente questionarão o direito dos EUA fazerem demandas durante as negociações: “todos os pontos substantivos colocados pelos EUA serão recebidos com questionamentos sobre como levar a sério a posição se o país pretende se afastar”.

A mensagem dúbia da administração Trump será ainda mais ressaltada pela presença de governadores e prefeitos norte-americanos. Uma coligação de organizações filantrópicas liderada por Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, e Tom Steyer, ativista ambiental bilionário, deve anunciar na 4afeira que cobrirá o custo de US$ 200 mil de um pavilhão na COP23 para mostrar os esforços dos estados, cidades e empresas norte-americanos para o cumprimento dos objetivos do Acordo de Paris.

Embora Bloomberg diga respeitar as posições de Trump, deverá demonstrar que “o povo e as indústrias dos EUA estão na prática trabalhando para cumprir as metas do Acordo de Paris”.

https://www.nytimes.com/2017/10/18/climate/trump-paris-accord.html

 

O AVANÇO DO MAR SOBRE A COSTA BRASILEIRA

O nível do mar está subindo nas costas brasileiras e causa destruição e ameaça moradias no Rio, Guarujá (SP), no litoral norte do Rio Grande do Norte e em outras praias.

No Rio, o calçadão da Praia da Macumba, no Recreio dos Bandeirantes, desmoronou em alguns trechos e continua afundando. O calçadão foi feito sem levar em conta o aviso feito por um estudo da COPPE-UFRJ do ano 2000 de que isto poderia acontecer.

Na Praia do Tombo, no Guarujá, uma casa já foi comprometida e outras nas praias vizinhas correm o mesmo risco. Duas fotos do tipo “antes e depois” publicadas pelo Estadão dão a dimensão da subida do mar.

Um novo estudo estima que mais da metade do litoral do Nordeste e Norte estão sofrendo erosão. Em certos locais, o mar já avançou cinco metros.

Ainda faltam muitos quilômetros para o sertão virar mar, mas os primeiros metros já foram.

http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,destruicao-costeira-se-alastra-no-pais,70002050386

http://brasil.estadao.com.br/noticias/rio-de-janeiro,moradores-e-comerciantes-da-praia-da-macumba-vao-a-justica-por-obra,70002051690

 

Para Ir

QUAL O IMPACTO DO DESMATAMENTO ZERO?

O Instituto Escolhas vai apresentar o resultado de um trabalho que estimou os impactos econômicos, sociais e ambientais de parar completamente o desmatamento na Amazônia. O que acontece com a agropecuária, o que acontece com outras atividades e qual o peso disso para o país.

30/outubro, das 08:30 – 12:00

No Insper, Rua Quatá, 300, São Paulo no Auditório Steffi e Max Perlman

Inscrições em: https://www.insper.edu.br/agenda-de-eventos/seminario-qual-e-o-impacto-do-desmatamento-zero-no-brasil-aspectos-sociais-ambientais-e-economicos/

 

Para Ler

BRAZIL AND CLIMATE CHANGE: BEYOND THE AMAZON, LIVRO DO PROF. EDUARDO VIOLA

Colaborador constante de jornais, o professor Viola publica seu primeiro livro em colaboração com Matías Franchini. “Trata-se do primeiro livro em inglês sobre o Brasil na política internacional de mudança climática e, por isso, espera-se que terá forte impacto na literatura acadêmica de relações internacionais e de mudança ambiental global”. É possível conseguir um desconto usando o código FLR40 no checkout.

www.routledge.com/resources/compcopy/9781138106253

 

Para fazer mestrado e doutorado

BOLSAS DE ESTUDO DO INSTITUTO ESCOLHAS

O Instituto Escolhas abriu as inscrições para bolsas de mestrado e doutorado pelo seu programa “Cátedra Escolhas de Economia e Meio Ambiente”. Para conhecer melhor o programa e fazer inscrições veja o site abaixo:

http://escolhas.org/escolhas-lanca-novo-edital-de-programa-de-bolsas-para-mestrado-e-doutorado/