Pela primeira vez uma pequena ilha preside uma COP

O início da COP23 coincide com o 4º aniversário da devastação provocada pelo Tufão Haiyan nas Filipinas e vem na sequência de uma temporada devastadora de furacões no Caribe. O país que preside a conferência deste ano, Fiji, foi devastado no ano passado pelo ciclone Winston, que ceifou não só 44 vidas, mas também um terço de seu produto interno bruto.

 

Essa experiência prática certamente estará refletida na condução da Conferência. A expectativa é que o mecanismo de Perdas e Danos e as finanças para a adaptação aos impactos das mudanças climáticas tenham maior força na pauta das negociações. Haverá um fórum de alto nível entre Fiji e a Alemanha sobre possíveis soluções de seguros para perdas e danos (loss and damage) ligados aos impactos sofridos por países pobres.

 

Outro indicativo que corrobora essa percepção é o fato de que a visão da presidência de Fiji para a COP23, descrita em um capítulo específico no website oficial do governo fijiano para a Conferência, inclui o desejo de construir uma maior resiliência para todas as nações vulneráveis ​​aos impactos das mudanças climáticas, incluindo eventos climáticos extremos e aumento do nível do mar; permitir o acesso às finanças de adaptação climática, energia renovável, água limpa e risco climático acessível e seguro contra desastres; e promover a agricultura sustentável.

 

Embora não haja unanimidade sobre este mecanismo, já que alguns governos preferem que as nações ricas cubram esses impactos com novos subsídios, com base no irrefutável argumento de que esses países são os principais responsáveis pelas mudanças climáticas, o mecanismo de perdas e danos pode ganhar relevância na COP23, pelo esforço de Fiji e, também, como uma resposta pragmática à decisão de saída dos EUA, que já disseram que não destinarão recursos ao Fundo Verde do Clima e ao Fundo de Adaptação.

 

Estabelecer um vínculo mais forte entre a saúde dos oceanos e mares e os impactos das mudanças climáticas como parte de uma abordagem holística da proteção do nosso planeta é outra meta da presidência fijiana para a COP23. Essa ênfase estará visível no salão principal das negociações, onde está sendo instalada uma canoa oceânica.

 

Analistas acreditam que Fiji também destacará questões relacionadas a direitos humanos e gênero. E certamente também dará maior ênfase à questão da equidade.

 

Garantir que os norte-americanos permaneçam isolados em sua decisão de sair do Acordo de Paris é uma meta não escrita da atual presidência da COP.  E qual o caminho para isso? Para os fijianos, é Bula. Em seu idioma, Bula significa literalmente “vida”. Mas é mais que isso: é uma palavra imbuída de diversos significados, dependendo da situação dada. Seu uso mais comum é como saudação. É um olá que também expressa felicidade e saúde. A expressão completa é “Ni sa bula vinaka” equivale a “desejar-lhe felicidade e boa saúde”. A palavra também é usada como uma benção quando alguém espirra. Além do marketing  nacionalista, Bula representa a base da diplomacia fijiana: saudar todas as contribuições, ouvir todos, criar laços e pontes entre os participantes

Dentro da visão de Fiji para a COP23, chama a atenção o desejo de forjar uma grande coalizão para acelerar a ação climática antes e além de 2020, incluindo a sociedade civil, a comunidade científica, o setor privado e todos os níveis de governo, inclusive de cidades e regiões, explicitando que a ação climática vai além dos governos nacionais e além dos EUA. Lembrando que já existe a Marrakech Partnership for Global Action, a parceria entre nações e atores não governamentais que busca catalizar a ação entre as nações e stakeholders do clima entre 2017 e 2020 lançada na COP de Marrakesh, como ponto de partida para esse tipo de iniciativa.

 

Fiji tem por visão que a COP23 seja permeada pelo “Espírito Bula” de inclusão, simpatia e solidariedade. Para além do marketing patriótico, a ênfase no “Bula Spirit” dada em várias entrevistas e pronunciamentos da presidência da COP sinaliza a forma como Fiji pretende conduzir essa conferência: “Este é um processo de diálogo inclusivo, participativo e transparente, que desenvolve a empatia e leva à tomada de decisão para o bem coletivo. Não se trata de apontar o dedo e culpar, mas de ouvir e aprender uns com os outros, compartilhar histórias, habilidades e experiências. Ao se concentrar nos benefícios da ação, esse processo movimentará a agenda global do clima”.