ClimaInfo, 8 de novembro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas
Sobre a COP23:

 

SÍRIA VAI ASSINAR O ACORDO DE PARIS E DEIXAR TRUMP SOZINHO DO LADO DE FORA

Um delegado da Síria declarou em Bonn que seu país está pronto para assinar o Acordo de Paris. Quando Trump tomou posse, só dois países não tinham assinado o Acordo: a Nicarágua e a Síria. A primeira porque achava que os ricos estavam fazendo pouco para combater a mudança do clima. A Síria pela situação de calamidade após quase sete anos de guerra civil. No mês passado, Rosario Murillo, a vice-presidente da Nicarágua disse que seu país aderiria ao Acordo. Em junho, no discurso em que anunciou a retirada dos EUA do Acordo, Trump disse que os demais países estavam levando vantagem sobre os EUA e que “não queremos mais que os outros países riam de nós”.

Não estão rindo, só não querem sair na mesma foto.

http://www.observatoriodoclima.eco.br/siria-diz-que-entrara-no-acordo-de-paris-isolando-eua/

https://www.theguardian.com/environment/2017/nov/07/syria-signs-paris-climate-agreement-and-leaves-us-isolated

 

O MMA QUER MOSTRAR O LADO BOM DA POLÍTICA AMBIENTAL DO PAÍS

O governo abriu ontem o Espaço Brasil na COP23, onde pretende mostrar ao mundo os avanços em diversas áreas da política ambiental feitos pelo Brasil para o cumprimento dos compromissos assumidos em Paris. O destaque vai para o desmatamento de 6.624 km2, apresentado como uma redução de 16%. Na inauguração, Marcelo Cruz, secretário-executivo do ministério do meio ambiente (MMA), disse que a recomposição orçamentária dos órgãos de fiscalização está entre os avanços, o que não bate com a falta de recursos para preservar a floresta mencionada anteontem por Everton Lucero, do próprio MMA. Na inauguração, também, foi apresentado o aplicativo Plantadores de Rios, construído a partir das informações do Cadastro Ambiental Rural, que conecta interessados em apoiar a recuperação de rios e nascentes com os proprietários de imóveis rurais que precisam recompor a vegetação nativa.

Deve estar sendo difícil para a brava delegação brasileira construir um biombo que consiga esconder os desmandos de Temer e do congresso, como a amputação do Jamanxim, a legalização da grilagem, as propostas de desmonte da legislação ambiental, a quase anulação da Lei Áurea e a oficialização do calote de impostos e contribuições ligadas ao uso da terra, entre outras.

http://mmanacop.mma.gov.br/noticias/104-brasil-apresenta-politica-ambiental-ao-mundo

 

MENSAGENS-CHAVE DO ÓRGÃO PARA REFUGIADOS DA ONU

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados divulgou o que considera suas três mensagens-chave para os participantes da COP23:

– Fortalecer o Diálogo Talanoa para que, em 2018, seja possível avaliar os progressos em direção às metas de longo prazo, de modo a incluir os impactos da mudança do clima sobre as populações, principalmente as em migrações;

– Avançar nas definições que formarão o livro de regras do Acordo de Paris, incorporando o trabalho da força-tarefa sobre o deslocamento de populações, os avanços no mecanismo de perdas e danos, a inclusão dos dados sobre impactos, vulnerabilidade e adaptação às mudanças do clima, e a garantia do uso do Fundo Verde do Clima para evitar e mitigar os impactos de migrações climáticas; e

– Agir sobre a mudança do clima, tema central do Acordo de Paris, de modo a que os países incluam, na próxima rodada de NDCs, as Estratégias de Redução de Desastres.

http://www.unhcr.org/protection/environment/59fc4e065/key-messages-for-cop23.html

 

O MAPA DA MINA: PARA ONDE VAI O DINHEIRO DOS FUNDOS MULTILATERAIS DO CLIMA

O pessoal do Carbon Brief lançou um mapa-múndi interativo mostrando os países para os quais estão indo os recursos de quatro dos principais fundos multilaterais dedicados ao clima. Para cada país beneficiado, o mapa mostra o número de projetos e, com cores, indica o montante destinado. Clicando no número de projetos, aparece a descrição dos projetos e os recursos angariados. Foram mapeados quatro fundos: o Fundo Verde do Clima (GCF), o Fundo de Adaptação, o Fundo de Investimento Climático (CIF) e o Fundo Mundial para o Ambiente (GCF). No total, desde 2016, foram aplicados US$ 2,78 bilhões. Os maiores receptores até agora foram a Índia (US$ 725 milhões) e a Ucrânia (US$ 278 milhões). Num cálculo per capita, Tuvalu recebeu US$ 3.947. O mapa não incluiu a doação de US$ 1,1 bilhão feita pelo governo norueguês ao Fundo Amazônia.

https://www.carbonbrief.org/mapped-where-multilateral-climate-funds-spend-their-money

 

UMA GUIA PARA ENTENDER AS NEGOCIAÇÕES DA COP23

A tarefa principal desta 23a Conferência das Partes da Convenção Clima é preparar as regras de implantação do Acordo de Paris a serem finalizadas no ano que vem. Essas regras não são simples, pois devem permitir que as Partes possam comunicar, reportar, rever e fortalecer as ações climáticas no máximo de suas capacidades, de forma transparente e de modo a prestar contas para a comunidade internacional. Os negociadores têm que trabalhar para equilibrar os vários entendimentos em relação a direitos e deveres de cada Parte. Por exemplo, precisam evitar a polarização entre países ricos e em desenvolvimento, que foi uma das travas do Protocolo de Quioto. Precisam definir plataformas comuns e dar clareza às funções intrínsecas ao Acordo, como os mecanismos de compensações por perdas e danos. E encontrar uma base comum, transparente e verificável para que se reporte as ações climáticas, seus efeitos e seus custos sociais, econômicos e ambientais.

http://www.wri.org/blog/2017/11/insider-negotiating-paris-agreements-implementation-guidelines-cop23

 

O TAMANHO DAS COMITIVAS INSCRITAS NA COP23

O Carbon Brief se deu ao trabalho de contar as inscrições oficiais dos países à Convenção. São mais de onze mil inscritos, menos do que os quinze mil em 2015, em Paris. A somar os mais de seis mil vindos da ONU e outros organismos multilaterais e não governamentais. As maiores delegações vêm da África: a maior vem da Costa do Marfim (492), seguida da Guiné (355), da República do Congo (340) e do Marrocos (253). O país sede, a Alemanha, tem 230 inscritos a despeito da presidência da Convenção ser das Ilhas Fiji. Entre os grandes emissores, a maior delegação é a do Canadá (161), seguida pela Indonésia (158), Brasil (128), China (82), Rússia (71) e Índia (41).

https://www.carbonbrief.org/analysis-which-countries-sent-most-delegates-cop23

 

E para além da COP23:

 

NOVO ATAQUE INCENDIÁRIO CONTRA O IBAMA

Ontem ocorreu mais um ataque a uma caminhonete do Ibama, desta vez em Colniza, no norte de Mato Grosso. O órgão acredita que seja uma represália contra as operações de combate à extração de madeira em terras indígenas, quando 18 serrarias ilegais foram desmontadas. Uma troca de mensagens interceptada pelo Ibama dizia: “Só acho q fogo no Ibama ou em carro do governo não muda nada… Deveria ser nos carros particular (sic) ou na casa deles. Quem sabe em outra abordagem eles ia (sic) rever suas ação (sic) e respeitar quem realmente está suando para ganhar seu pão de cada dia…”.

Colniza apareceu na mídia em abril quando 10 trabalhadores rurais foram massacrados num assentamento. A justiça indiciou um madeireiro e mais quatro homens ligados a ele. Segundo o Ministério Público, o motivo do massacre foi criar as condições para a extração da madeira da área do assentamento para, depois, tomar posse da área.

http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,carro-do-ibama-e-incendiado-no-mt-em-novo-ataque-contra-o-orgao,70002075482

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/05/1884205-ministerio-publico-denuncia-seis-por-chacina-em-colniza.shtml

 

AUMENTOU O DESMATAMENTO EM TERRAS INDÍGENAS

O Instituto Socioambiental (ISA) divulgou sua avaliação do estado das florestas em terras indígenas, destacando o crescimento de 32% do desmatamento, lá onde este não deveria estar acontecendo. O ISA responsabiliza a invasão de madeireiros, de grileiros e a falta de fiscalização. A boa notícia que vem da avaliação: em números absolutos, o desmate nas TIs amazônicas segue muito pequeno, confirmando que estas formam um escudo que contém – em parte – a destruição da floresta. A má notícia: o aumento da devastação nas TIs reforça a percepção de que, sem políticas de proteção adequadas, o escudo formado pelas TIs e demais áreas protegidas pode começar a ruir sobre a pressão da criminalidade ambiental.

https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/desmatamento-cresce-32-nas-terras-indigenas-da-amazonia-brasileira-aponta-isa

 

TRÊS EMPRESAS DE CARNE EMITEM TANTO GÁS DE EFEITO ESTUFA QUANTO AS MAIORES PETROLÍFERAS

As três maiores multinacionais de carne, a JBS, a Cargill e a Tyson, juntas, emitiram mais gases de efeito estufa no ano passado do que a França, ou quase tanto quanto cada uma das maiores petroleiras do mundo, como a Exxon, a BP e a Shell. É o que mostra um relatório lançado ontem pela IATP, em conjunto com a Grain e a Fundação Heinrich Böll. O relatório incluiu todo o metano emitido pelos rebanhos – da cria ao abatedouro – calculado com base em médias regionais. A JBS, por exemplo, processou 2,1 milhões de toneladas de carne na América Latina, outras 2,1 milhões de toneladas nos EUA e Canadá, e mais 0,5 milhões na Austrália, o que resultou numa emissão de 236 MtCO2e. As três maiores emitiram, juntas, 414 MtCO2e. Para comparar: a França emitiu um pouco mais em 2016, 464 MtCO2e. Outra comparação surpreendente é com a emissão das grandes petroleiras, contabilizando aí a queima de todo o petróleo e gás que produzem. As emissões da BP em 2016 foram de 448 MtCO2e, e as da maior petroleira privada, a Exxon, foram de 577 MtCO2e. Juntas, as dez maiores da carne emitiram 547 MtCO2e.

Quem, consciente destes números, poderá desfrutar sem culpa do tradicional churrasco do fim de semana? 

https://www.grain.org/article/entries/5825-big-meat-and-dairy-s-supersized-climate-footprint.pdf

https://www.theguardian.com/commentisfree/2017/nov/07/big-meat-big-dairy-carbon-emmissions-exxon-mobil

 

MINISTÉRIO PÚBLICO QUER PARAR A OBRA DA USINA DE SÃO MANOEL POR DESCUMPRIMENTO DE ACORDOS

O Ministério Público Federal do Mato Grosso pediu ao Ibama a revogação da licença de operação da Hidrelétrica de São Manoel por conta da empresa não ter cumprido o Plano Básico Ambiental Indígena. Segundo o MPF, a Empresa de Energia São Manoel não fez as consultas aos indígenas como preconizado e acordado, e exibe baixa qualidade nas obras e melhorias feitas nas aldeias, desobedecendo “as determinações das comunidades tradicionais beneficiárias”.

http://www.oeco.org.br/blogs/salada-verde/mpf-recomenda-ao-ibama-anulacao-de-licenca-da-usina-sao-manoel/

 

MAPA MONITORA EXPERIMENTOS DA GEOENGENHARIA

A Fundação Heinrich Böll e o Grupo ETC prepararam um mapa situando e caracterizando as pesquisas e testes do que se convencionou chamar de “geoengenharia”. Foram mapeados 800 projetos que pretendem reduzir o aquecimento global espalhando tecnologia em escala global. Fazem parte deste leque, projetos globais de sequestro de carbono, de controle da radiação solar e de modificações propositais do clima.

Críticas à própria ideia desses projetos são feitas por vários cientistas e pesquisadores. Uma boa referência é a Coalizão Contra a Geoengenharia, que se pode acessar no segundo link, abaixo.

https://map.geoengineeringmonitor.org/

http://www.coalitionagainstgeoengineering.org/

 

POLUIÇÃO TRANSFORMA DELI EM CÂMARA DE GÁS

A Associação Médica da Índia decretou situação de emergência na capital, Deli, por causa da densa névoa de poluição que cobriu a cidade. Respirar hoje em Deli equivale a fumar 50 cigarros num só dia. Ventos fracos e temperaturas baixas fazem com que o ar fique parado, acumulando as emissões dos veículos e das térmicas a carvão da região. Em alguns pontos, os valores do Índice de Qualidade do Ar ultrapassaram a escala máxima dos aparelhos. O Greenpeace mediu os particulados finos mais prejudiciais à saúde, os PM2,5 e o resultado foi onze vezes superior ao limite definido pela Organização Mundial da Saúde. O ministro chefe da cidade disse que Deli virou uma câmara de gás. As fotos das reportagens lembram o cenário de Blade Runner.

Em tempo: em Deli moram quase 20 milhões de pessoas.

https://m.timesofindia.com/city/delhi/ima-declares-health-emergency-in-delhi-as-smog-blankets-capital/articleshow/61544331.cms

https://www.theguardian.com/environment/2017/nov/06/how-indias-battle-with-climate-change-could-determine-all-of-our-fates

https://www.theguardian.com/world/2017/nov/07/delhi-india-declares-pollution-emergency-as-smog-chokes-city