ClimaInfo, 16 de novembro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas

COP23

 

MERKEL ADMITE QUE ABANDONO DO CARVÃO PODE TER PREÇO POLÍTICO

A primeira-ministra alemã, Angela Merkel, reconheceu a necessidade de seu país reduzir a dependência ao carvão, mas não se comprometeu, na COP23, em Bonn, com algo que pode prejudicar as costuras políticas em curso agora, em Berlim, na coalizão que tenta montar. Emmanuel Macron, o presidente francês, que falou logo depois de Merkel, tocou em um ponto delicado das negociações internacionais, ao relacionar o comércio com barreiras ambientais.

http://www.valor.com.br/internacional/5194771/analise-merkel-admite-que-abandono-do-carvao-pode-ter-preco-politico?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=

 

PODE A MP 795 DESENCADEAR UMA CORRIDA GLOBAL PELA EXPLORAÇÃO DE COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS?

O The Guardian diz que, com a MP 795, o Brasil planeja uma rápida aceleração da venda de suas reservas de petróleo antes que o encolhimento dos orçamentos globais de carbono pressione a demanda e os preços internacionais.

Organizações ambientais manifestaram ao jornal inglês preocupação com a possibilidade da MP 795 vir a desencadear uma corrida pela extração rápida dos combustíveis fósseis que envolveria rivais como os EUA, Arábia Saudita, Rússia, Noruega e Reino Unido.

Se o ministério da fazenda de Temer tiver êxito em seus propósitos com a MP, a exploração e a queima do petróleo que se acredita existir no pré-sal consumiria 7% do orçamento de carbono da humanidade para mantermos o aquecimento global abaixo de 2oC, e 18% para 1,5oC.

http://climainfo.org.br/2017/11/15/planos-brasileiros-de-venda-rapida-de-petroleo-levantam-temores-quanto-uma-corrida-global-pela-exploracao-de-combustiveis-fosseis/

https://www.theguardian.com/environment/2017/nov/15/brazils-oil-sale-plans-undermine-its-role-at-bonn

 

BRASIL LEVA O ‘FÓSSIL DO DIA’ DE ONTEM NA COP23

O prêmio mais tradicional das COPs climáticas da ONU, o Fóssil do Dia, foi ontem para o Brasil com o seguinte anúncio (trechos): “O Fóssil de hoje vai para o Brasil, por propor um projeto de lei (sic) que poderia dar às companhias de petróleo US$ 300 bilhões em subsídios para perfurar suas reservas offshore… Basicamente, uma quantidade insana de dinheiro… cerca de 360 vezes mais do que o mundo inteiro fornece em apoio anual para financiamento de resiliência climática e desastre nos Pequenos Estados insulares em desenvolvimento, destacando como os fluxos de financiamento do clima atual são diferentes em comparação com os subsídios maciços de combustíveis fósseis. O Brasil, o gigante verde sul-americano, a terra dos biocombustíveis sustentáveis e o orgulhoso portador de uma mistura de energia com baixa emissão de carbono, é a mais nova vítima da febre do petróleo… O ministro do Meio Ambiente do Brasil chamou o projeto de lei de “inaceitável”… O objetivo da medida é acelerar o desenvolvimento da camada de pré-sal ultra-profunda, uma reserva do petróleo offshore que se pensa conter 176 bilhões de barris recuperáveis. Se esse óleo fosse queimado, o Brasil sozinho consumiria 18% do orçamento de carbono restante para 1,5 graus, acabando com nossas chances de afastar o mundo de uma catástrofe climática… Brasil, você faz uma cara boa, mas abaixo daquela camada de tinta verde encontra-se uma petrocracia em construção. É hora de pegar estes subsídios absurdos e destiná-los a um melhor uso, mais verde”.

http://www.climatenetwork.org/fossil-of-the-day

http://www.observatoriodoclima.eco.br/subsidios-multibilionarios-aos-combustiveis-fosseis-rendem-ao-brasil-o-premio-fossil-dia-na-cop23/

 

GOVERNADOR DO PARÁ RECEBE “PRÊMIO” POR DESMATAMENTO;

E GOVERNADOR DO MATO GROSSO CONFUNDE PLANTAÇÃO DE EUCALIPTO COM FLORESTA

O pessoal da organização de jovens Engajamundo deu um disco de platina ao governador Simão Jatene pelo sucesso “não Para de desmatar” seguir encabeçando há tempos a lista dos estados que mais desmatam no país. O governador tentou rebater dizendo que só 718 km2 foram desmatados no ano passado (uma área maior que Salvador). Isso representaria 25% do desmatamento do país, ao invés de 28%.

Já o governador Pedro Taques levou para a COP uma publicação sobre a proteção ambiental do Mato Grosso, o segundo maior em desmatamento. Mas colocou na capa uma plantação de eucaliptos, símbolo de muita coisa, mas certamente não de proteção ambiental. No bate boca com ambientalistas, disse que eucalipto é árvore – certo – que captura carbono – certo – e que produz papel – certo também. Mas tudo isso não tem nada a ver com as críticas.

O governador assinou acordos de cooperação com a Alemanha e o Reino Unido no valor de R$ 165 milhões. Ficou no ar uma certa apreensão quanto a ele querer usar o dinheiro para plantar mais eucaliptos e tentar apresentá-los como restauração florestal adicional.

http://m.folha.uol.com.br/ambiente/2017/11/1935466-eucalipto-e-disco-de-platina-embaracam-governadores-na-cop.shtml

https://catracalivre.com.br/geral/sustentavel/indicacao/para-ganha-premio-de-ativistas-por-liderar-desmatamento-no-pais/

 

UM ANÚNCIO MAROTO DE REDUÇÃO DO DESMATAMENTO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

O governo anunciou nesta 3a feira, na COP23, que o sistema Prodes detectou uma redução no desmatamento nas unidades de conservação federais de 28% no período entre julho de 2016 e junho de 2017, quando comparada com a do mesmo período entre 2015 e 2016.

Mesmo para quem leu o anúncio, passa quase despercebido que isto representa míseros 2,4% do desmatamento total na Amazônia. Ou seja, 97,6% do desmatamento acontecem em terras devolutas, propriedades privadas, terras indígenas e áreas protegidas estaduais e municipais.

Anunciou-se, também, que o desmatamento caiu 65% no Jamanxim. Ora, no período anterior desmatou-se 76 km2; se a queda foi de 65%, desmatou-se neste período 26 km2, sendo a diferença igual a 48 km2. Ao mesmo tempo, no total, o desmatamento nas UCs caiu de 221 km2 para 159 km2, uma diferença de 62 km2. Ou seja, a queda no Jamanxim representa 77% da queda total. Ora, o Jamanxim foi objeto de muita controvérsia por causa da amputação da Floresta Nacional, cuja discussão ocupou manchetes durante todo o primeiro semestre e, naturalmente, atraiu várias operações do Ibama, inclusive com revides feitos por madeireiros e garimpeiros que destruíram vários carros do órgão. Com tanta luz em cima – e uma regularização de posses iminente – seria se espantar se o desmatamento tivesse crescido até junho. Já para o próximo período, se a amputação for oficializada, um terço do Parque e da Floresta deixarão de entrar na conta das Unidades de Conservação. E o desmatamento que muito provavelmente ocorrerá, não manchará os anúncios oficiais do ano que vem.

Por fim, também foi dito que “a Amazônia abriga 27 milhões de pessoas” e que “precisamos de alternativas sustentáveis para a região”, como se essas pessoas todas fossem responsáveis pelo desmatamento e que elas continuarão a desmatar se não houverem “alternativas sustentáveis”. Quanto a isto, é bom lembrar que mais da metade da população da região vive nas capitais em atividades que tem pouquíssimo a ver com a floresta (ou sua ausência).

http://mmanacop.mma.gov.br/noticias/120-desmatamento-cai-em-areas-protegidas

http://www.oeco.org.br/reportagens/jamanxim-e-a-decada-perdida/

 

SARNEY CONVIDA COP25 PARA O BRASIL

O ministro José Sarney Filho ofereceu hospedar a Conferência das Partes da Convenção Clima de 2019. A do ano que vem será em Katowice, Polônia, a 40 km de Auschwitz. O anúncio foi feito via Twitter – “O governo brasileiro está disponibilizando o Brasil para sediar a COP 25” – e, mais tarde, numa conversa com Patrícia Espinosa, secretária-executiva da Convenção Clima.

O anúncio já despertou comentários sobre o custo de um evento como esse quando o orçamento para educação e saúde está congelado, e quando o de seu ministério tem sido fortemente cortado.

https://twitter.com/mmeioambiente/status/930827819562819585

https://twitter.com/twitter/statuses/930789968095666176

http://sustentabilidade.estadao.com.br/blogs/ambiente-se/brasil-se-oferecer-para-sediar-conferencia-do-clima-em-2019/

 

O FÓSSIL DO DIA DE ANTEONTEM FOI PARA ALEMANHA E AUSTRÁLIA

Alemanha e Austrália foram agraciadas anteontem com o Fóssil do Dia. A Alemanha de Merkel, que hospeda a Convenção, admitiu que será muito difícil cumprir com as metas de Paris; daí que o pessoal da Climate Action Network a elegeu porque “em algum lugar no meio do processo, o governo alemão parece ter esquecido de que a parte mais importante em querer ser um líder climático é reduzir suas emissões”.

Já a Austrália, segundo os organizadores do prêmio, está no caminho para ganhar um Fóssil colossal. Nas importantes negociações sobre os mecanismos de perdas e danos, os australianos propuseram retirar o tema dos tópicos permanentes da Convenção e explorar novas fontes de financiamento para os atingidos. Além de não querer reduzir suas emissões, a Austrália também não quer pagar a conta.

http://www.climatenetwork.org/fossil-of-the-day

 

NÃO MEXER NO CARVÃO ESQUENTA O CLIMA EM TORNO DE MERKEL

A notícia de que a Alemanha corria o risco de não cumprir as metas de Paris foi recebida com choro, ranger de dentes e pauladas. Saíram manchetes como “A chanceler do clima de mãos vazias” e “Esquentou o clima sobre a ‘chanceler do clima’ Merkel por causa de térmicas a carvão e carros”. Merkel está tentando formar um novo governo após as eleições de setembro, quando viu a extrema direita crescer e seus ex-parceiros da Social Democracia perderem espaço e declararem que passam para a oposição em busca da sua alma. Merkel terá que negociar com um partido pró-mercado que defende o carvão (mais barato) e a indústria automotiva fóssil (parte importante do PIB alemão) e, também, com os Verdes que querem enterrar os dois. É nessa difícil composição que as metas de Paris ficaram um pouco em segundo plano.

https://www.reuters.com/article/us-climate-change-accord-merkel/climate-measures-agreed-in-paris-not-enough-merkel-idUSKBN1DF27G

https://www.thelocal.de/20171114/heat-on-climate-chancellor-merkel-over-coal-fired-plants-and-cars

 

JÁ QUE TRUMP QUER SAIR DO ACORDO DE PARIS, COALIZÃO NORTE-AMERICANA QUER PARTICIPAR OFICIALMENTE DAS NEGOCIAÇÕES

O anúncio do compromisso da Coalizão norte-americana que compreende 20 estados, 110 cidades e 1.400 empresas foi feito na 2a feira em Bonn. Em termos econômicos, o conjunto deste grupo tem o 3o maior PIB do mundo, só atrás dos próprios EUA e da China. Em seu nome, falou Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, e Jerry Brown, governador da Califórnia. Não longe de lá, nem em espaço nem em tempo, mas em outro planeta, a pequena delegação oficial dos EUA continuava a promover carvão limpo e energia nuclear segura. Bloomberg declarou que “promover carvão numa reunião de cúpula sobre o clima é como promover cigarro numa conferência sobre o câncer. Também é negar o que está acontecendo nos EUA – metade das plantas americanas a carvão fecharam nos últimos seis anos”. A Coalizão aproveitou para sondar o ambiente para ver se poderia participar oficialmente das discussões na Convenção.

https://www.americaspledgeonclimate.com/

https://news.nationalgeographic.com/2017/11/were-still-in-paris-climate-agreement-coalition-bonn-cop23/

https://www.washingtonpost.com/news/powerpost/paloma/the-energy-202/2017/11/15/the-energy-202-zombie-arguments-made-by-trump-officials-at-bonn-climate-conference/5a0b57f930fb045a2e00302e/

 

E para além da COP23

 

PANORAMA DA ENERGIA 2017 DO IEA PARECE COISA DO SÉCULO PASSADO

A Agência Internacional de Energia (IEA) soltou seu relatório anual com o panorama mundial da energia (World Energy Outlook 2017), uma das referências em dados sobre demanda e oferta de energia para quase todos os países. O destaque no noticiário internacional foi para o peso que o IEA deu aos fósseis, apontando que os próximos anos serão alimentados por gás e óleo de folhelho norte-americano. A IEA coloca em um pedestal um pouco mais abaixo a queda do preço das renováveis, a eletrificação da energia e a China tendendo a virar uma economia de serviços e transferindo a manufatura mais emissora para fora de suas fronteiras. Sobre o folhelho fóssil, a Agência indica que este vai ganhar espaço deixado pelo carvão, que, mesmo com os esforços de Trump e amigos, não voltará a ser competitivo, pelo menos nos EUA. Assim, a poluição por queima de fósseis despenca na China e na Europa, mas aumenta no Sudeste Asiático. Quanto à eletrificação, a Agência não enxerga um aumento rápido dos carros elétricos que chegue a bagunçar a demanda.

Mas, segundo alguns críticos, a IEA tem pés bem fincados nos poços de petróleo do mundo, tanto que analisa muito brevemente um cenário de precificação de emissões.

http://www.iea.org/publications/freepublications/publication/world-energy-outlook-2017—executive-summary—english-version.html

https://www.bloomberg.com/news/articles/2017-11-14/iea-sees-u-s-shale-surge-as-biggest-oil-and-gas-boom-in-history

https://www.theguardian.com/business/2017/nov/14/us-net-oil-exporter-iea-international-energy-agency

https://uk.finance.yahoo.com/news/global-oil-demand-withstand-rise-electric-vehicles-iea-000145654–finance.html

 

O SETOR ELÉTRICO TEM POUCO PESO NAS EMISSÕES NACIONAIS E PODE ZERÁ-LAS SEM IMPACTAR A ECONOMIA

Em uma antiga história, um sujeito perde uma moeda em um beco escuro e vai procurá-la debaixo de um poste de luz. Como na história, é muito comum que se procure sob a luz, isto é, no setor elétrico, o aumento das emissões nacionais. Mas os dados recentes do SEEG mostram que as emissões da geração de eletricidade em 2016 foram somente 2% do total. As emissões do setor só serão importantes se e quando o país parar de desmatar (51% das emissões) e quando o rebanho parar de soltar metano (16%). E, claro, quando o país parar de queimar petróleo, gás natural e seus derivados (16%). Mas discursos de muita gente, inclusive de altos funcionários do governo, copiam o resto do mundo que tem toda a razão em se preocupar com a geração elétrica.

Um estudo recente do Instituto Escolhas mostrou que zerar as emissões do setor elétrico impactaria a economia nacional em menos de 0,6%. As contas feitas no estudo foram ultraconservadoras e não incluíram aumentos de produtividade, ganhos de eficiência e novas tecnologias que, reduzindo a demanda de energia e aumentando a produção, poderiam reverter o impacto negativo e, ainda assim, zerar completamente as emissões da eletricidade.

Fica nossa sugestão: vamos procurar a moeda não sob a luz do poste, mas onde ela foi perdida, nos pastos e nas florestas do país.

https://www.canalenergia.com.br/especiais/53041095/emissoes-de-gee-no-setor-eletrico-vies-de-alta

http://escolhas.org/especialistas-discutem-emissoes-zero-no-setor-eletrico-brasileiro/

http://epoca.globo.com/ciencia-e-meio-ambiente/blog-do-planeta/noticia/2017/11/zerar-o-desmatamento-em-absoluto-partir-de-hoje-teria-um-impacto-de-apenas-062-sobre-o-pib.html

 

DRAUZIO VARELLA REPERCUTE O RELATÓRIO LANCET SOBRE OS IMPACTOS À SAÚDE DA MUDANÇA DO CLIMA

O site do médico Drauzio Varella repercutiu o lançamento do Relatório Lancet sobre os impactos à saúde das mudanças climáticas citando que “o diretor-executivo do estudo, Nick Watts, afirmou que os efeitos da mudança climática na saúde dos seres humanos são inequívocos e potencialmente irreversíveis, e que a mobilização na área da saúde tem causado mudanças reais e é motivo de otimismo. No entanto, o mundo fez muito pouco, ainda de acordo com Watts, para reduzir as alterações climáticas nas últimas três décadas”.

https://drauziovarella.com.br/noticias/estudo-revela-impacto-das-mudancas-climaticas-na-saude/

 

MORREU UM DOS PRIMEIROS E MAIORES ARTISTA AMBIENTAIS

Frans Krajcberg morreu ontem, no Rio, aos 96 anos. Foi um dos primeiros artistas brasileiros a levantar a preocupação com a preservação ambiental. Para quem quer conhecer um pouco da sua obra, veja o vídeo no Youtube ‘linkado’ abaixo. Para quem quer conhecer bem mais e puder, vale a visita ao Espace Krajcberg, em Paris.

http://jovempan.uol.com.br/programas/jornal-jovem-pan/morre-no-rio-de-janeiro-escultor-polones-frans-krajcberg.html

https://www.youtube.com/watch?v=yXvaM_H1_As

http://www.espacekrajcberg.com/