ClimaInfo, 4 de dezembro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas

MUDANÇA DO CLIMA PODE DOBRAR PERDAS NO SEMIÁRIDO

Por encomenda da Agência Nacional das Águas (ANA), o GVces calculou o custo da mudança climática para a região da bacia dos Rios Piancó-Piranhas-Açu, entre o sertão da Paraíba e do Rio Grande do Norte, região que abriga 1,6 milhão de pessoas e que vem sofrendo com a seca severa seca dos últimos cinco anos. Para os próximos 50 anos, o cenário sem intensificação da mudança do clima resulta numa perda de cerca de R$ 17,5 bilhões. O incremento com a mudança do clima pode chegar ar 97% e atingir R$ 35 bilhões. A ANA, no seu relatório referente a 2016, tinha mostrado que, de 2013 a 2016, 78% dos quase 1.800 municípios do Nordeste decretaram ao menos uma vez situação de emergência ou estado de calamidade pública por causa da seca extrema que castiga a região.

http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,mudanca-do-clima-pode-dobrar-perdas-no-semiarido-do-nordeste,70002103656

http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,em-quatro-anos-secas-e-inundacoes-afetam-55-7-milhoes-de-brasileiros,70002103645

 

A MONOCULTURA DO EUCALIPTO E A CRISE HÍDRICA DO NORTE DE MG

Um artigo do Estado de Minas coloca as plantações de eucalipto entre as causas do estresse hídrico no semiárido do norte de Minas. A tese de Walter Viana mostra que cultura de eucalipto consome 230 litros a mais de água por metro quadrado que o cerrado. Além disso, provoca o rebaixamento do nível do lençol freático em meio metro por ano.

Adriana Maugeri, diretora da Associação Mineira de Silvicultura (AMS), disse que “Essa informação não procede de forma alguma. O estudo de que temos conhecimento revela que o consumo de água do eucalipto é como o de qualquer outra cultura, como a soja e o café, por exemplo. Também depende de vários fatores, como o tipo de solo”. Segundo o Estado de Minas, enquanto ambientalistas pedem a proibição de novos plantios de eucalipto na região, a AMS é frontalmente contrária a qualquer proibição, embora reconheça que há um estresse hídrico no norte do estado.

https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2017/11/27/interna_gerais,919749/estudo-liga-monocultura-de-eucalipto-a-falta-d-agua-no-semiarido-em-mg.shtml

 

TEMER INDICA LEIGA PARA DIRIGIR AGÊNCIA NACIONAL DAS ÁGUAS

O grupo de Temer mais uma vez passa por cima de funcionários de carreira e especialistas na complexidade da política hídrica no país e, em mais uma indicação política, nomeia Christianne Dias Ferreira para a presidência da ANA. Até agora, Christianne atuava como subchefe adjunta coordenadora de Infraestrutura da Subchefia para Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República desde maio de 2016. Christianne defendeu Temer no caso de hackers que invadiram o celular da primeira-dama e foi indicada por Gustavo do Vale Rocha, subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil. Rocha foi advogado do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. Seu nome é completamente desconhecido dentro da ANA e muito pouco conhecido na área ambiental. O ministro Sarney Filho não se manifestou, assim como a ANA não quis comentar o assunto.

http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,temer-faz-indicacao-politica-para-diretoria-da-ana-e-surpreende-cupula-do-meio-ambiente,70002104858

 

NOVO CÓDIGO DA MINERAÇÃO DESAGRADA AMBIENTALISTAS E MINERADORES

Numa prova de que por esforço ou desleixo é possível desagradar todos os envolvidos, o Congresso deixou de aprovar a MP da regulamentação da mineração. Como a MP perde a validade, o processo volta quase que ao começo outra vez. A redação atual desagrada às mineradoras pelos royalties que o Tesouro espera arrecadar. E desagrada aos ambientalistas por deixar a porta aberta para novos desastres como Mariana.

http://www.valor.com.br/brasil/5212497/pacote-de-mineracao-ganha-nova-cara-e-desagrada-empresas#

http://epoca.globo.com/ciencia-e-meio-ambiente/blog-do-planeta/noticia/2017/11/la-se-vai-chance-de-uma-politica-publica-moderna-para-mineracao.html

 

A RECICLAGEM DE EMBALAGENS VAI BEM

Mara Gama diz na Folha de São Paulo que a reciclagem de lixo, pelo menos a de embalagens, está crescendo e chega a quase 30%. O forte continua sendo a reciclagem das latas de alumínio, seguida da de papelão. Na contabilização não estão incluídas embalagens de vidro e nem de aço, sobre as quais não se tem estatística nacional. O que é uma pena. Um dos melhores jeitos de reduzir as emissões da indústria siderúrgica, que representa quase 30% das emissões totais do setor industrial, seria montar uma cadeia logística para a reciclagem de aço, principalmente carrocerias, motores e chassis de automóveis, caminhões e ônibus e de outros equipamentos de porte à base de aço.

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/maragama/2017/12/1939664-reciclagem-de-embalagens-chega-a-29-no-pais-diz-relatorio.shtml

 

AS HIDRELÉTRICAS DO PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO

No site Conexão Planeta, André Aroeira faz uma interessante avaliação do PAC, Programa de Aceleração do Crescimento, que se esvaziou diante do tamanho da recessão que se abateu sobre o país. André diz que “Avisamos que a escolha por UHEs não era escolha por energia limpa nem renovável porque obstruía as artérias por onde corre o sangue das florestas, ao mesmo tempo em que aumenta os conflitos em torno da água, já escassa em várias regiões. Anunciamos que usinas a fio d’água só resolviam, e parcialmente, o menor dos problemas ambientais envolvidos, que é o desmatamento (ou afogamento) da floresta na área do reservatório, tendo efeito nulo em mitigar os catastróficos impactos sobre os pulsos de inundação das várzeas e lagoas marginais, sobre as taxas reprodutivas, sobre o colapso do fluxo gênico de populações separadas pela barragem ou sobre a mera passagem de fauna. E que, ao mesmo tempo, sacrificava a grande vantagem das UHEs, de atuar como uma imensa bateria capaz de liberar energia de forma rápida e “barata” nos momentos de baixa da produção”. Aroeira termina o artigo rogando quase que uma praga sobre país: “Daqui um punhado de décadas vamos lamentar os tempos insanos em que matamos nossos rios e florestas, de maneira irreversível em vários aspectos, por uma fonte de energia de custo-benefício injustificável e que já dava sinais claros de que estaria obsoleta rapidamente”.

O PAC destinou mais de dois terços dos recursos ao petróleo e gás natural, o que não evitou que a Petrobras viesse a mergulhar na mais profunda crise da sua história com as revelações da Lava Jato. Uma parte do terço restante retornou à população mais carente na forma de programas como o Minha Casa Minha Vida. Outra parte desse terço foi para as concessões de aeroportos, portos e ferrovias. Tirando os primeiros, os resultados foram pífios.

http://conexaoplaneta.com.br/blog/a-maldicao-das-hidreletricas-do-pac/

 

HIDRELÉTRICAS AMAZÔNICAS E OS CRÉDITOS DE CARBONO

Um relatório do Idesam argumenta fortemente que o país está perdendo oportunidades e recursos que poderiam ajudar na preservação da floresta amazônica. Com as movimentações na COP23 há duas semanas, viu-se aumentar a pressão sobre as emissões da aviação que, pelo menos num horizonte até 2030, vai precisar comprar compensações de emissão de outros lugares. Os autores argumentam que a proteção da floresta, que necessita de recursos para evitar que o país continue a desmatar milhares de quilômetros quadrados por ano, é séria candidata a gerar os créditos de compensação da aviação. As emissões da aviação só podem ser reduzidas no curto prazo, pela diminuição da quantidade de viagens, posto que tanto o uso de biocombustíveis quanto o de eletricidade ainda estão no início da sua eventual curva de maturação. Como parece que os mundos dos negócios e do turismo não vão arrefecer, compensar parece ser a única alternativa para redução de emissão.

Para enfatizar sua tese, o Idesam aponta que o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo deu créditos de carbono a projetos como as mega hidrelétricas de Jirau, Santo Antônio e Teles Pires e uma quantidade de plantas eólicas na Índia e China. Embora tenham atendido a todos os requisitos do MDL, dificilmente precisaram dos créditos de carbono para se viabilizar. Aos olhos dos autores, os recursos transacionados no mercado de carbono teriam sido melhor aplicados combatendo o desmatamento da Floresta Amazônica.

A posição histórica do governo brasileiro tem sido não aceitar projetos de REDD (créditos de carbono por evitar o desmatamento e a degradação da floresta) nem em terras indígenas, nem em terras particulares.

http://idesam.org.br/publicacao/brazils-amazon-hydroeletrics-cdm.pdf

http://www.idesam.org.br/hidreletricas-na-amazonia-projetos-duvidosos-para-investidores-e-para-o-clima/

 

ASSEMBLÉIA DA ONU SOBRE POLUIÇÃO DO AR

De hoje até 6 de dezembro acontece em Nairóbi, no Quênia, a Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA). Este ano a Assembleia do Meio Ambiente de foca em como derrotar a poluição, especialmente o lixo dos oceanos e o chumbo contido em tintas.

Entre os fatos em discussão estão a projeção de que haverá mais plástico do que peixes nos mares em 2050 e que a poluição do ar mata, em escala global, 7 milhões de pessoas ao ano, conforme descrito em um recente e abrangente relatório da ONU Meio Ambiente sobre poluição.

A UNEP tem uma página dedicada à informação sobre poluição do ar e dados visuais: a poluição atmosférica do transporte rodoviário causa, anualmente, pelo menos 184 mil mortes, a do transporte marítimo 60 mil, e a do aéreo outras 16 mil mortes. A poluição atmosférica oriunda da agricultura causa 664 mil mortes por ano globalmente.

Para acompanhar o evento:

http://web.unep.org/environmentassembly/assembly

O relatório da ONU pode ser baixado em https://wedocs.unep.org/bitstream/handle/20.500.11822/21800/UNEA_towardspollution_long%20version_Web.pdf

http://ccacoalition.org/en/news/fighting-air-pollution-can-help-achieve-global-development-and-climate-goals

 

Para acompanhar:

AL GORE – 24 HORAS DE DEBATE SOBRE A MUDANÇA DO CLIMA

O ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, promove hoje e amanhã a 7a edição da maratona “24 Hours of Reality” (24 Horas de Realidade), um evento voltado para o debate sobre a crise da mudança climática e soluções. O objetivo da maratona é chamar atenção para a situação em que a humanidade se encontra em relação ao clima e, também, se colocar contra a política negacionista de Trump. A programação abordará temas, como energia limpa e ativismo, a partir da perspectiva de vários países. Entre eles estão os EUA, Filipinas, Alemanha e Brasil, que apresentará como as fontes de energias limpas podem reduzir as emissões de gases de efeito estufa. “Mesmo que as manchetes tenham sido preenchidas com histórias de crises e transições políticas nos últimos anos, o Brasil também vem apresentando medidas práticas para lutar contra as mudanças climáticas e incentivar as energias renováveis”, afirma o The Climate Project. As 24 Hours of Reality serão transmitidas ao vivo para todo o mundo, a partir das 19h45 (horário de Brasília) pelo site https://www.24hoursofreality.org/

 

O DESENVOLVIMENTO DE AVIÕES ELÉTRICOS

Responsável por 2% de todas as emissões antrópicas mundiais, a aviação conseguiu evitar que fossem estabelecidas metas de redução de emissões para uma parcela importante delas, as acontecem em céus internacionais, as quais não submetidas às jurisdições nacionais. Nos últimos tempos, a pressão sobre as grandes empresas de aviação associadas à ICAO (Organização da Aviação Civil Internacional, em inglês), vinculada à ONU, aumentou e centros de pesquisa vêm experimentando e desenvolvendo diferentes tecnologias para reduzir drasticamente, ou até mesmo eliminar, as emissões associadas às viagens aéreas. Além do desenvolvimento de motores a biocombustíveis, está aparecendo uma geração de aviões elétricos comerciais para até 180 passageiros com autonomia em torno de 500 km. Outras empresas estão mirando a aviação executiva com até o dobro de autonomia e restrita a menos de 20 passageiros. A visão é que o desenvolvimento de alternativas à bateria possa, com menos peso, possibilitar à aviação reduzir significativamente suas emissões.

A ICAO estima que a demanda por viagens aéreas dobrará nos próximos 20 anos e, assim, novos desenvolvimentos passam a ser imprescindíveis se o limite de 1,5oC, ou até mesmo 2oC de aumento da temperatura média global tiver que ser respeitado.

https://todosabordo.blogosfera.uol.com.br/2017/11/29/avioes-eletricos-modelos-em-desenvolvimento/

 

O CLIMA NO ÁRTICO E NO ALASCA

Sem o El Niño, exceto pelo mar de Chukchi e pelo mar de Bering, o gelo voltou a se formar no Ártico neste final de verão. Nas águas em torno do Alasca, a falta de gelo voltou a bater recordes históricos devido à combinação de águas um pouco mais quentes com tempestades violentas (umas não necessariamente desconectadas das outras), que prejudicaram a formação de gelo. Um dos indicadores de monitoramento da formação de gelo na região é o dia em que 95% do Mar de Chukchi fica coberto de gelo. Este ano, sem El Niño, o gelo chegou a este ponto 18 dias mais tarde do que em 1970, conforme registro dos primeiros satélites de monitoramento. Águas mais quentes ajudam a criar tempestades mais fortes que destroem o gelo fino que começa a se formar. A temperatura precisa cair mais para que ele o manto de gelo se forme e possa se manter.

Embora o Alasca tenha contribuído para a eleição de Trump e seus céticos, o litoral do estado está sendo devorado pela subida do nível do mar e pelas tempestades mais fortes que jogam ondas cada vez mais fortes contra a costa. Em Deering, o mar já avançou mais de 3 metros costa adentro. A situação acelerou porque o gelo, que começa a faltar, serve de bloqueio às ondas formadas pelas tempestades. Sem a proteção do gelo, o litoral está exposto cada vez mais cedo. O que poucos não-americanos sabem, é que o litoral do Alasca é metade de toda a costa dos EUA.

A atmosfera global aqueceu em torno de 1,1°C desde o início da industrialização e isto tem um efeito que os Inuits do Ártico já constatam há algum tempo. O ar mais quente tem um índice de refração diferente do ar mais frio e, como num canudo num copo d’água, tudo parece entortar mais. O resultado é que o Sol, que no dia 21 de dezembro mal chegava a aparecer, agora, em muitos lugares, nasce e o dia dura até seis horas. Assim como estrelas que nunca apareciam no horizonte no inverno, agora continuam a brilhar. Kukik Baker, uma caçadora no Ártico canadense, disse que “o gelo começa a derreter antes e, quando se sai para pescar, o gelo já não é tão espesso quanto antes”. E David Barber, pesquisador da Universidade de Manitoba, acha que “o Ártico é um instrumento para entender a urgência da mudança do clima”.

https://insideclimatenews.org/news/30112017/arctic-sea-ice-extent-record-chukchi-bering-sea-alaska-ocean

https://www.scientificamerican.com/article/alaskas-coast-is-vanishing-1-storm-at-a-time/

https://news.vice.com/story/these-are-the-most-extreme-effects-of-climate-change-people-are-seeing-in-the-arctic