ClimaInfo, 26 de janeiro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

AS OPÇÕES PARA A MITIGAÇÃO DAS EMISSÕES BRASILEIRAS

Na 4a feira foi lançado o trabalho de maior fôlego sobre as alternativas que o país tem para mitigar suas emissões. A ONU Meio Ambiente e o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações estão por trás do projeto “Opções de Mitigação de Emissões de Gases de Efeito Estufa em Setores-Chave do Brasil”, que levou cinco anos para ser concluído. Foram levantadas 450 opções abrangendo todos os setores da economia nacional que emitem esses gases. Indústria, transporte, resíduos e, claro, florestas e agropecuária. Só essa compilação já teria justificado o projeto. O que foi feito a partir daí é inédito no mundo para uma economia complexa como a nossa. Foram simulados o crescimento da economia, setor por setor, incorporando as opções de mitigação e ajustando os efeitos de uma medida tomada em um setor sobre os demais. Por exemplo, carros elétricos reduzem o consumo de gasolina, mas aumentam o de eletricidade, o que pode aumentar o consumo de gás natural para suprir a nova demanda.

No evento de lançamento, apareceu a necessidade de expandir o ferramental para incluir as opções de adaptação em função das projeções de mudança do clima. E, algo ainda mais ambicioso, desafiador e imprescindível, estender a análise para os outros 16 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Segundo os organizadores, toda a documentação e toda a base de dados usada, em breve, estarão disponíveis para serem usadas pela sociedade.
No entanto, uma observação negativa precisa ser feita sobre o documento lançado ontem e repercutido pelas mídia e organizações interessadas. Ele dá a entender que, para o cumprimento da meta mais ousada da NDC, a de cortar 47% do que o país emitiu em 2005, seriam necessários somente US$ 11 bilhões até 2030. Ora, isso equivale a pouco mais de US$ 12 por tonelada de CO2, o que parece muito pouco já que o mundo fala em preços acima de U$ 80 por tonelada.

Uma leitura mais cuidadosa do documento e dos relatórios setoriais explica o que ficou de fora da conta. Por exemplo, existe um potencial grande de aumento de eficiência energética a baixo custo que está aí faz tempo e não acontece. O porque de não acontecer não entrou na conta, assim como não entraram outras alternativas que enfrentam barreiras que não só preço. Também não entrou o custo do plantio de 12,5 milhões de hectares de floresta, mesmo porque uma boa parte disso pode virar mandatório se o Código Florestal pegar para valer. Só aí vão mais de R$ 50 bilhões que não entraram na conta. Seria interessante algum dos relatórios mostrar cenários que incluam a conta total.
http://www.mctic.gov.br/mctic/opencms/ciencia/SEPED/clima/opcoes_mitigacao/Opcoes_de_Mitigacao_de_Emissoes_de_Gases_de_Efeito_Estufa_GEE_em_SetoresChave_do_Brasil.html

http://www.mctic.gov.br/mctic/opencms/salaImprensa/noticias/arquivos/2018/01/Em_uma_decada_Brasil_reduziu_volume_de_emissoes_de_gases_de_efeito_estufa_do_Brasil_em_cerca_de_50.html

http://www.valor.com.br/brasil/5280777/meta-climatica-exige-investimento-de-us-17-bi-ate-2025#

http://envolverde.cartacapital.com.br/brasil-tem-condicoes-de-reduzir-ate-48-das-emissoes-ate-2050/

 

MOBILIDADE URBANA É TEMA DE SEMINÁRIO DA FOLHA DE SÃO PAULO

Na 2a feira, a Folha de São Paulo promoveu seu 2o Seminário sobre Mobilidade Urbana, dando um grande peso nas discussões voltadas à cidade de São Paulo. Dividido em cinco mesas e muitas entrevistas, vale dar uma olhada nas quase 20 matérias do caderno especial produzido em função do evento. As mesas iniciais trataram do metrô de São Paulo, das recentes discussões na Câmara Municipal sobre a nova licitação de linhas de ônibus, o uso do Big Data para gerenciar o trânsito e como os aplicativos estão mudando o perfil de uso e desafiando a criatividade (ou não) da prefeitura. Nessas conversas, falou-se que muitos paulistanos deixariam o carro só para viajar, se houvesse alternativas seguras, pontuais e acessíveis. O metrô seria exemplo, se a rede fosse muito maior. Os ônibus são facilmente acessíveis, mas dificilmente atenderiam os dois primeiros quesitos, o que não chega a ser novidade. A última mesa debateu uma cidade para pedestres e ciclistas. E isso começa por reconhecer que São Paulo cresceu em função do carro e que esse viés de concepção é um vício muito duro de largar. A história de várias cidades mundo afora mostra que é possível pensar o espaço urbano em função do cidadão e de sua qualidade de vida, e não em função de uma caixa de lata de mais de uma tonelada que polui e, pelo menos por enquanto, esquenta o planeta.
http://www1.folha.uol.com.br/especial/2018/seminario-mobilidade-urbana/

http://www1.folha.uol.com.br/seminariosfolha/2018/01/1952968-cidade-anda-melhor-quando-e-pensada-para-o-pedestre-dizem-especialistas.shtml

http://www1.folha.uol.com.br/seminariosfolha/2018/01/1952980-passageiro-de-transporte-publico-quer-pontualidade-e-minimo-de-conforto.shtml


O ACRE VAI PROCESSAR A HIDRELÉTRICA JIRAU POR NÃO TER PREVENIDO ENCHENTE EM ESTRADA VITAL

Em 2014, uma enchente do Rio Madeira inundou a rodovia que liga Cuiabá, MT, a Rio Branco, no Acre. A estrada ficou interrompida um tempão e, pelas contas do governo, o estado teve um prejuízo de mais de R$ 300 milhões. O governo do Acre vai entrar com uma ação buscando que a dona da Jirau pague a conta. Eles entendem que a dona da usina não cumpriu o compromisso assumido quanto a elevar o piso da rodovia, o que teria evitado sua interrupção. A dona da usina diz que não obteve a aprovação do projeto de elevação da rodovia. Não deixa de ser curioso que o maior acionista da usina seja a Eletrobrás. Talvez se a estatal tivesse feito esforço suficiente para cumprir o prometido, não estaria com mais essa faca no pescoço.
https://g1.globo.com/ac/acre/noticia/acre-vai-processar-usina-de-jirau-por-cheia-historica-do-rio-madeira-e-descumprimento-de-determinacoes-da-ana.ghtml


MAIS HIDRELÉTRICAS NA AMAZÔNIA E MAIS CONSULTAS MAL FEITAS

Hoje vai acontecer uma audiência pública em Rurópolis, PA, a respeito do projeto de construção de 8 hidrelétricas no rio Cupari, afluente do Tapajós. O Cupari se divide em dois braços bem separados e o projeto prevê 4 hidrelétricas em cada braço. A maior tem 40 MW, a segunda 30 MW e as outras, menos de 22 MW. Todas são a fio d’água com turbinas bulbo e a instalação vai represar um pouco o rio. O maior represamento tem 3,8 km2. É o tipo de situação que não chamaria a atenção se o projeto não fosse na Amazônia e se uma divulgação tivesse sido feita de maneira a interagir com as pessoas que serão afetadas por qualquer uma das usinas. Mas o processo usual nestas consultas mostra a intenção clara de não ouvir para não correr o risco de ter que modificar projetos ou ter que pagar compensações. Uma consulta pública já ocorreu em janeiro de 2016 e os RIMA públicos são de 2 anos atrás. Os registros das usinas foram revogados e reabilitados de lá para cá.
http://amazoniareal.com.br/novo-rio-hidreletrico/


CARRO ELÉTRICO E HÍBRIDO PAGARÃO IPI DE MODELO POPULAR

O governo decidiu, mas ainda não formalizou, que o IPI (imposto de produto industrializado) sobre a importação de carros elétricos e híbridos gerará um imposto igual ao dos modelos populares nacionais. Hoje, um importado paga até 25% de IPI . A alíquota cairá para 7%, a mesma que incide sobre os nacionais mais simples. Ainda assim, o modelo mais barato da Toyota, o híbrido Prius, custará cerca de R$ 118 mil.
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/01/1952910-carro-eletrico-e-hibrido-vai-pagar-ipi-de-modelo-popular-diz-ministro.shtml

 

EM DAVOS, TEMER “ESQUECE” ÁREA OCUPADA PELA PECUÁRIA

Ninguém esperava que Temer brilhasse no Fórum Econômico Mundial. Muito menos que dissesse algo relevante sobre meio ambiente e clima, um dos foco das conversas de Davos. Mas era de se esperar que, ao menos, não omitisse informações. Mas foi o que fez, ao afirmar em seu discurso, para uma plateia esvaziada, que o Brasil “consegue ser uma potência agrícola, utilizando, para lavouras, menos de 9% de seu território”, sem mencionar que usamos 33% do território para a pecuária. Temer nada mais fez do que papagaiar o que seu ministro da agricultura, Blairo Maggi, tem feito sistematicamente desde dezembro passado. O Direto da Ciência disse muito bem que “é lamentável… a desconexão do chefe do Executivo com informações estratégicas produzidas por sua própria administração”, aludindo ao estudo “Opções de Mitigação de Emissões de Gases de Efeito Estufa em Setores-Chave do Brasil” que acaba de ser lançado pelo MCTI.

http://www.diretodaciencia.com/2018/01/25/temer-bobeou-com-a-agenda-do-clima-em-davos/


TRUMP NO FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL

Depois do pouco sucesso de Temer no Fórum em Davos, hoje é a vez de Trump. O último presidente norte-americano a aparecer por lá foi Bill Clinton no século passado. Muita gente quer ver como a narrativa “America First” ( América em primeiro lugar) cairá num auditório de globalistas e multilateralistas. Trump chegou dizendo querer atrair mais investimentos e empregos para a “América”. Alguns mais sarcásticos comentam que Trump em Davos é um caso claríssimo de assédio.
O governador do estado de Washington, Jay Inslee, disse que Trump vive uma mudança climática só sua e que mais dois governadores republicanos aderiram à aliança americana pelo clima.
https://www.theguardian.com/business/2018/jan/20/davos-2018-wef-hottest-topics-climate-change-harassment-donald-trump

http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/01/1953297-na-chegada-em-davos-trump-diz-que-eua-e-reino-unido-sao-inseparaveis.shtml


PAINEL SOBRE A MUDANÇA DO CLIMA EM DAVOS

Aconteceu ontem, em Davos, o principal evento sobre clima com a participação, entre outros, de Al Gore, que falou sobre impactos e aumento do riscos, e Christiana Figueres, que lembrou que a urgência do enfrentamento climático acabou não entrando no Acordo de Paris. Karuna Rana, a global shaper da Ilhas Maurício, avisou que um aumento de 2°C significa o desaparecimento dos países-ilha. E a alpinista Hilaree O’Neill deu seu testemunho da mudança do clima nas altas montanhas.
O ponto alto do dia de ontem não foi o clima. Foi o discurso da mais jovem Prêmio Nobel da história. A paquistanesa Malala Yousafzai falou sobre educação e igualdade de gêneros.
O link abaixo é a página principal do encontro. Notícias e comentários ficam no histórico do blog.
https://www.weforum.org/events/world-economic-forum-annual-meeting-2018

 

MACRON PROMETE FECHAR USINAS A CARVÃO ATÉ 2021

O presidente francês, Emmanuel Macron, aproveitou o Fórum de Davos para anunciar que, até o final do ano, anunciará quantas usinas a carvão serão fechadas até 2021, uma das promessas de sua campanha que, com toda boa vontade, ainda não passou disso.
https://medium.com/world-economic-forum/macron-at-davos-i-will-shut-all-coal-fired-power-stations-by-2021-2447d043a07d

 

TORNAR A PROTEÇÃO DE FLORESTAS UMA PRIORIDADE GLOBAL

Frances Seymour, do Center for Global Development, retomou em Davos informações de 2016, quando a perda da cobertura florestal aumentou 50% e 270 mil km2 de florestas foram desmatadas. Isso colocaria o desmatamento, se fosse um país, em terceiro entre os maiores emissores, atrás somente da China e dos EUA. Seymour assumiu como missão mostrar a importância das florestas para o sistema econômico mundial e, portanto, da imperiosa necessidade de protegê-las. Seymour usou o exemplo dos rios voadores da Amazônia para mostrar o quanto a produtividade da agricultura do centro e do sudeste brasileiro depende da floresta. Seymour cita, claro, os produtos da floresta, o sequestro do carbono da atmosfera e por aí vai. E destaca dois esforços multilaterais importantes: o monitoramento da Global Forest Watch e a Aliança de Florestas Tropicais 2020 (Tropical Forest Alliance) formada por corporações que, voluntariamente, suportam ações de redução do desmatamento no grande cinturão de florestas tropicais do planeta.
https://medium.com/world-economic-forum/why-saving-our-forests-should-be-a-global-priority-74e9ae58c3b7

http://www.wri.org/blog/2017/10/global-tree-cover-loss-rose-51-percent-2016

https://www.tfa2020.org/en/

 

REPUBLICANOS USAM ONDA DE FRIO E CICLONE BOMBA COMO DESCULPA PARA SUBSIDIAR CARVÃO

A guerra para dar sobrevida ao carvão norte-americano ganhou mais um capítulo quando o senado decidiu chamar especialistas do setor elétrico para perguntar se, no caso de outra onda de frio seguida de ciclone-bomba, a segurança da rede elétrica aumentaria se houvesse mais usinas a carvão e, aproveitando o gancho, nucleares. Como eles ainda tem a maioria (51 x 49), os especialistas estão sendo escolhidos a dedo para confirmar o discurso do secretário de energia Perry, que quer dar subsídios para o carvão e para o nuclear em nome dessa segurança. Outros especialistas, inclusive republicanos, descartam completamente esta besteira. Dizem que a entrada do gás de folhelho, extraído de múltiplos sítios nos EUA deu mais segurança ao sistema do que na época em que o carvão era o rei. Como os donos de carvoeiras andam à vontade pelo Congresso e pela Casa Branca, parece que o bom senso não vai prevalecer. Outra vez.
http://www.washingtonexaminer.com/senate-to-probe-deep-freezes-impact-on-electric-grid/article/2646545

 

BANK OF AMERICA PREVÊ TETO DA DEMANDA POR PETRÓLEO EM 2030

O BofA, Bank of America, o 2o maior dos EUA, prevê que o consumo de petróleo continue a crescer até 2030 para, depois, entrar em curva descendente. O banco acha que a penetração dos veículos elétricos será rápida e a demanda de gasolina cairá até antes. As grandes petroleiras, por sua vez, se dão um pouco mais de tempo, até 2040. A Shell destoa e está mais alinhada com o BofA, prevendo que o pico se dará bem no início da década de 2030. Temer e sua turma, pelo que parece, acreditam que a demanda continuará crescendo para sempre.
https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-01-22/bofa-sees-oil-demand-peaking-by-2030-as-electric-vehicles-boom

 

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