ClimaInfo, 20 de fevereiro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

CONVERSÃO DE MULTAS EM PROGRAMAS AMBIENTAIS PODE SER QUESTIONADA NA JUSTIÇA

A instrução normativa do Ibama que regulamenta a conversão de multas ambientais de empresas em apoio financeiro para projetos socioambientais não teve nem um final de semana de sossego. Já ontem, tanto o Ministério Público Federal como escritórios de advocacia viram problemas com o texto da instrução. O MPF está estudando se vai questioná-la na justiça, preocupado que está com o poder “criar a expectativa de que lá na frente haverá novo perdão”. Já o advogado Marcos Saes achou que a instrução trouxe conceitos muito subjetivos. Segundo ele “cada técnico do Ibama poderá interpretar de um jeito, o que fere o princípio da isonomia e leva à insegurança jurídica.”

Se o Ibama tiver que voltar atrás, as multas continuarão, como diria Noel Rosa, penduradas no cabide ali em frente.
http://www.valor.com.br/legislacao/5329269/mpf-pode-ir-justica-contra-programa-ambiental#

http://www.valor.com.br/legislacao/5329273/ibama-regulamenta-desconto-em-multas#


OS CANOS DE ESGOTO ESQUECIDOS E UM PEDIDO PARA ESQUECER A CONSTITUIÇÃO

Sabe-se que, frequentemente, obras públicas são interrompidas por falta de verba ou outros entraves. O que não se sabia é que um monte dessas obras dedicadas à instalação de redes de água e esgoto deixaram quilômetros de canos enterrados e desconectados, sem que ninguém saiba onde estão. Uma matéria do Estadão da semana passada citou o exemplo de Teresina, onde foram achados 150 km de canos perdidos no subsolo. Os técnicos da empresa concessionária passaram um tempão abrindo buracos para descobrir onde estavam os canos. O artigo também diz que a crise das empreiteiras contribuiu para a tubulação oculta, na medida em que obras foram sendo descontratadas.
Ainda a propósito do saneamento, o Estadão publicou um editorial desancando o ministro das Cidades. Alexandre Baldy queria abrir uma brechinha na Constituição para que estados e municípios pudessem tomar empréstimos para projetos de infraestrutura básica. O editorial, não muito gentilmente, diz que Baldy “foi muito além de uma tolerável demagogia eleitoral”. Baldy vai sair do ministério para se candidatar nas eleições de outubro.
Se estados e municípios cumprissem realmente a Constituição, o saneamento não estaria na situação de penúria país afora.
http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,esquecidas-redes-de-esgoto-estao-sem-uso,70002185700

http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,o-saneamento-e-a-lei,70002187610


MILHÕES DE PESSOAS VIVEM EM ÁREAS DE RISCO ELEVADO DE TRAGÉDIA

Estima-se que dois milhões de brasileiros vivam em situação de altíssimo risco, em casas construídas em encostas frágeis ou sobre e ao lado de córregos. Esses terrenos são os mais baratos em qualquer metrópole e essa gente é praticamente forçada a morar numa situação suicida, como o professor Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), classifica essas situações. Na terminologia oficial, são áreas de “Risco 4”, gravíssimo. As alternativas apresentadas são, em sua quase totalidade, longe das escolas e locais de trabalho. Nobre explica que “os prefeitos, a quem caberia cuidar mais diretamente do tema, não conseguem resolver. Faltam recursos, faltam moradias para onde as pessoas possam ser levadas, falta vontade política”.

Vem imediatamente à lembrança a tragédia da região serrana do Rio de 2011. As estatísticas oficiais somaram 918 mortes e 100 desaparecidos. O pessoal local – e o Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH) de Petrópolis – fala em 10 mil. Como o país ainda vive sua maior crise econômica e muitas prefeituras estão falidas, a situação dessa gente tende a piorar em função da mudança do clima. Sob tempestades extremas, barrancos tenderão a despencar e córregos tenderão a transbordar. É a crônica de milhares de mortes anunciadas.
https://projetocolabora.com.br/cidades/os-brasileiros-suicidas/


AUMENTA O NÚMERO DE BICICLETAS ELÉTRICAS NO BRASIL

Estima-se que, a cada ano, 5 milhões de novas bicicletas entrem no mercado, mas a novidade é o aumento das vendas de bicicletas elétricas. Por enquanto são importadas ou usam peças importadas e custam em média R$ 4.000. Mas o mercado vem crescendo, posto que as metrópoles brasileiras vêm construindo ciclovias, apesar de uma topografia às vezes acidentada e bastante desagradável para quem gostaria de parar de usar o carro para ir trabalhar. O pessoal da Aliança Bike fez umas contas e estimou que, a seguir a tendência, o mercado das elétricas deve crescer 50 vezes nos próximos 10 anos.
http://www.valor.com.br/brasil/5329163/ciclovias-estimulam-os-negocios-com-bicicletas-eletricas#


COMPENSANDO AS EMISSÕES DA AVIAÇÃO

Um artigo do pessoal do IDESAM defende que a aviação internacional possa compensar suas emissões ajudando a preservar a floresta em pé. Num artigo publicado ontem, eles mostram a pegada de carbono da aviação – 2% das emissões globais – e a tendência que estas têm de continuar crescendo, apesar do uso de materiais mais leves e motores mais eficientes. Simplesmente porque o número de viagens internacionais está crescendo, e muito. As entidades da aviação querem comprar créditos de carbono dos projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), da UNFCCC, por serem mais críveis. Os autores gostariam de incluir os chamados projetos REDD+, que geram créditos ao evitar o desmatamento. O problema é que o pessoal do MDL acha muito complicado medir, calcular e depois auditar esses créditos. E, para piorar, uma sucessão de governos brasileiros proibiu o reconhecimento destes projetos, sem nunca ter explicado claramente o motivo. Assim, essa oportunidade de obtenção de recursos para a preservação da floresta – e de seus habitantes – está indo pelos ares.
Por falar em aviação, o Guardian de ontem trouxe uma matéria sobre os impactos da mudança do clima sobre a operação dos voos: ar quente é menos denso do que ar frio; a partir de certa temperatura, o ar quente não sustenta mais o avião, principalmente durante a decolagem, quando sua velocidade está apenas começando a aumentar. Os fabricantes definem limites de temperatura para cada modelo e, o que era raro antigamente, esses limites começam a ser ultrapassados com mais frequência, levando a atrasos e cancelamentos de voos. Outro problema levantado é que o jet-stream ártico está mudando e fazendo com que os ventos fiquem mais fortes de oeste para leste. Assim, um voo dos EUA para a Europa vai demorar menos do que no sentido oposto, fazendo com que as empresas tenham que ajustar seus horários. E um problema final: aeroportos são construídos em grandes áreas planas. Em cidades costeiras, eles muitas vezes ficam na beira do mar, o qual vai subir, e as tempestades mais frequentes e mais fortes trarão ondas ainda maiores, aumentando o risco de inundação das pistas, cancelando e atrasando mais voos.
http://www.valor.com.br/opiniao/5329481/o-esforco-para-reduzir-emissoes-da-aviacao#

https://www.theguardian.com/environment/2018/feb/19/climate-change-spells-turbulent-times-ahead-for-air-travel


AS VIDAS BARRADAS DE BELO MONTE

Eliane Brum contou, na Folha de São Paulo de domingo, a história de uma das famílias despejadas durante a construção da Usina de Belo Monte, no Rio Xingu, e o “processo de conversão dos povos da floresta em pobres urbanos”. No relato, o marido conta que “tinha uma vida melhor até mesmo do que qualquer pessoa de São Paulo. Se eu quisesse ir pra roça eu ia; se eu não quisesse, a roça ia estar lá no outro dia. Se eu quisesse pescar eu ia, mas se eu preferisse tirar açaí, em vez disso, eu tirava. Eu tinha rio, eu tinha mato, eu tinha sossego. Na ilha eu não tinha porta. E eu tinha lugar.” E sua esposa complementa “E lá na ilha a gente não adoecia. Aqui a gente adoece de quentura”. O artigo segue com mais depoimentos, contando da violência urbana crescente em Altamira e do abandono e da ausência de futuro dos desalojados. Tudo em nome de um Brasil que precisa de cada vez mais de energia. Eliane colheu um depoimento final, de Aranô, filho de um ribeirinho e de uma indígena do povo juruna: “sempre tivemos o antes, o agora e o depois. O antes é passado, o agora é um pesadelo. E o depois?”
https://www.uol/noticias/especiais/vidas-barradas-de-belo-monte.htm#tematico-1


NOTA CURTA SOBRE A CONFERÊNCIA DE SEGURANÇA DE MUNIQUE

Essa nota não tem muito a ver com o clima, a não ser o tom depressivo de quem participou da conferência. A chamada da Conferência perguntava “Até a beira do abismo – e de volta?”. Todo mundo parece conhecer os desafios, mas ninguém apresentou mapas de como enfrentá-los. Um dos participantes resumiu ao dizer que “os EUA se parecem cada vez mais com um navio sem leme enquanto os europeus oferecem análises, mas não estratégias”. Talvez nossa situação seja uma justaposição das duas.
https://www.economist.com/blogs/kaffeeklatsch/2018/02/happily-vegetarian


A ARÁBIA SAUDITA DÁ PASSOS PARA VIRAR RENOVÁVEL ANTES QUE SEU PETRÓLEO ACABE

O governo saudita anunciou que vai investir sete bilhões de dólares na construção de sete plantas fotovoltaicas e uma eólica. É como se eles soubessem que a era dos fósseis está chegando ao fim, muito antes das gigantescas reservas que ainda têm enterradas debaixo da areia se esgotarem. O plano saudita é elevar a participação das renováveis na matriz elétrica e chegar a 10% em 2023. Eles fizeram um leilão para as primeiras fotovoltaicas e os preços ofertados foram os mais baixos obtidos no mundo todo até hoje: a previsão é que o kWh custe entre 2 e 3 centavos de dólar, bem abaixo das térmicas fósseis queimando seu próprio gás e óleo. O consumo elétrico deles é determinado pela climatização de ambientes, cujo pico de demanda coincide com o pico de geração da fotovoltaica.
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/02/arabia-saudita-planeja-virada-para-energia-renovavel.shtml

https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-01-16/saudi-arabia-plans-up-to-7-billion-of-renewables-this-year


NOVIDADES NO MUNDO DO HIDROGÊNIO

Uma empresa norte-americana pode ter desenvolvido as chaves para a economia do hidrogênio. A primeira chave é a separação do gás, seja do oxigênio na água ou vapor, seja do carbono de hidrocarbonetos como metano. As várias tentativas feitas até agora ou eram muito caras ou consumiam muito mais energia do que a obtida com o uso do hidrogênio. O pessoal da HyTech Power diz ter desenvolvido um eletrolisador simples e barato a partir de eletrocatalisadores e uma placa de titânio. Quem viu um funcionando, ficou admirado com o rendimento. O segundo grande problema do hidrogênio é a complicação do armazenamento de um gás altamente inflamável e explosivo. Uma das alternativas mais testadas é comprimi-lo em altas pressões e guardá-lo em tanques especiais. De novo, a energia que se gasta para isso tira muito do apetite de quem quiser usá-lo. O pessoal da HyTech diz ter desenvolvido substâncias da família dos hidretos que se associam com o hidrogênio, permanecem estáveis por muito tempo e que devolvem o hidrogênio sem gastar muita energia. Por exemplo, a HyTech diz que o calor do cano de escapamento seria suficiente para separar o hidrogênio da sua prisão de hidretos. O último problema é como transformar isso tudo num negócio. Os planos são uma construção gradativa de porte e ambição. A primeira aplicação já está sendo testada pela Fedex e a Caterpillar. Trata-se de instalar um pequeno eletrolisador e um sistema sofisticado de controle para injetar hidrogênio e oxigênio num motor a diesel. Os testes mostram que o rendimento aumenta entre 25% e 30% e as emissões de NOx, SOx e particulados caem 85%. Com a economia de combustível, a adaptação do motor, hoje, se pagaria em nove meses. Se tudo funcionar bem, vai dar para capitalizar e atrair investidores para o passo seguinte: transformar motores a combustão interna que queimam fósseis para queimar hidrogênio. Aí entrarão no jogo o eletrolisador e a armazenagem com hidretos. O obstáculo seria a logística de abastecimento. A HyTech diz que os hidretos são mais simples e seguros para armazenar e transportar do que a gasolina e o diesel. A última etapa do plano é montar instalações a partir dos hidretos para acoplar às plantas eólicas e fotovoltaicas para aproveitar as horas em que a demanda elétrica cai. O artigo da Vox traz muito mais detalhes e, cautelosos, os autores dizem que vão acompanhar o desenrolar do plano nos próximos dois anos antes de dar um veredito final.
https://www.vox.com/energy-and-environment/2018/2/16/16926950/hydrogen-fuel-technology-economy-hytech-storage


PLANTA FOTOVOLTAICA FLUTUANTE NO MAR DO NORTE

Há algum tempo, os holandeses anunciaram a construção de um hub offshore de parques eólicos no Mar do Norte, conectando-os às Holanda, Inglaterra e Dinamarca. Agora apareceu um outro plano para construir uma planta fotovoltaica flutuante. Segundo o pessoal que está por trás, “tem mais sol no mar e ainda tem o benefício adicional de um sistema de resfriamento dos painéis que faz o rendimento subir 15%”. O desenho prevê um piloto de 2.500 m2 até 2021, ancorado a 15 quilômetro da costa de Haia. A planta se conectará a cabos lançados por eólicas na região.
http://news.trust.org/item/20180214161711-02n2y/


USANDO A FÍSICA PARA ENTENDER A FRAGMENTAÇÃO DE FLORESTAS TROPICAIS

Cientistas do Helmholtz Center for Environmental Research estudaram a dinâmica dos fragmentos florestais na zona tropical do globo num esforço para melhor compreendê-la. Eles analisaram dados de sensoriamento remoto, com resolução de 30 metros, e identificaram mais de 130 milhões de fragmentos florestais. Ao tentar analisar matematicamente os dados, descobriram que a fragmentação estava se processando de modo quase que idêntico na América, na África e no Sudeste Asiático, embora os vetores reais dessas fragmentações fossem bem diferentes de um lugar para outro. Em seguida, descobriram que o padrão se assemelha aos fractais, com pedaços pequenos se repetindo indefinidamente. A modelagem matemática usada mostrou que os pedaços se comportam como o que os físicos chamam de transição de fase, como quando a água começa a congelar até que vire tudo gelo. É nesse meio termo que os fragmentos florestais se encontram. Um empurrãozinho para o lado errado e o modelo prevê uma perda florestal e de biodiversidade brutal. O empurrãozinho para o lado certo requer programas de reflorestamento que façam a ligação entre fragmentos formando fragmentos cada vez maiores. Nesse caso, com empurrões nos lugares e tempos corretos, a floresta se regenera.
https://www.nature.com/articles/nature25508

https://www.ecodebate.com.br/2018/02/16/fragmentacao-das-florestas-em-escala-global-revela-desmatamento-sem-precedentes-nos-tropicos/

 

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