ClimaInfo, 22 de fevereiro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

REVITALIZAÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO PODE RECEBER R$ 15 BI EM 30 ANOS

O governo federal já trabalha com a possibilidade da Eletrobrás ter que contribuir com R$ 15 bilhões para revitalizar o rio São Francisco. O texto que propõe a privatização da empresa propõe aportes anuais durante 30 anos, num total de R$ 9 bilhões. Porém, as bancadas do Nordeste estão querendo mais para votar favoravelmente. Ao Valor, uma fonte do governo disse que “se isso é necessário para aprovarem a lei, vamos aceitar”.

Resta saber se as tais “bancadas do Nordeste” deixarão o recurso chegar à revitalização, já que o  relator do PL, deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), quer criar uma agência reguladora para fiscalizar o uso dos recursos no programa de revitalização do São Francisco. A ideia não é de todo má, porém vai saber o número de cargos que serão ali criados.

http://www.valor.com.br/brasil/5333263/sao-francisco-deve-levar-r-15-bi-da-eletrobras

 

PREFEITOS QUEREM MANTER CLEAN POWER PLAN DE OBAMA

Prefeitos de 233 cidades dos EUA, que representam cidades com mais de 51 milhões de cidadãos de 46 estados e territórios, lançaram ontem uma carta conjunta contra os esforços da administração Trump contrários ao Clean Power Plan, de Obama, argumentando que a reversão do plano “coloca nossos cidadãos em risco e ameaça nossos esforços de combate à urgente ameaça das mudanças climáticas”.

Os prefeitos apontam o aumento da frequência e da intensidade de eventos climáticos extremos e dos impactos destes sobre suas comunidades. Eles também mencionaram os custos crescentes que as cidades têm que arcar para responder aos desastres e, também, à elevação do nível do mar.

O texto integral da carta está no segundo link abaixo.

http://e360.yale.edu/digest/hundreds-of-u-s-mayors-collectively-oppose-trump-reversal-of-clean-power-plan

http://climatemayors.org/actions/clean-power-plan/?utm_content=bufferefb3f&utm_medium=social&utm_source=twitter.com&utm_campaign=buffer

 

MODELOS MOSTRAM O MAR SUBINDO DEVAGAR, MAS SEMPRE
O jornalista Claudio Angelo comentou um paper que acaba de ser publicado na Nature Communications examinando a elevação do nível do mar nos próximos 282 anos, ou seja, até 2300. Esse longo período de tempo foi escolhido porque os oceanos têm uma inércia muito grande e os eventos demoram para se propagar, como sabe qualquer surfista que acompanha os swells. Foram testados vários cenários baseados em níveis diferentes de esforços para a mitigação do aquecimento global e no quão rápidos estes se darão. Os resultados variaram entre 70 cm e 4,5 metros. O primeiro é resultado de ações fortes feitas desde já, de maneira que as emissões de gases de efeito estufa atingiriam um pico em 2020, pico que seria seguido de uma redução de 700 milhões de tCO2e por ano. Nesse caso, parte das geleiras da Groenlândia derretem, aumentando o nível do mar gradativamente, mas a Antártica não passa por um derretimento avassalador, como o simulado no caso mais extremo. Angelo destaca que as emissões de hoje terão reflexos no nível do mar durante muito tempo, para além dos dois séculos destas modelagens.
https://www.nature.com/articles/s41467-018-02985-8

http://www.observatoriodoclima.eco.br/mar-subira-20-cm-cada-5-anos-de-enrolacao-no-clima/

 

GELO POLAR PERDIDO NO MAR

Atingimos mais um marco climático miserável no início da semana passada: o gelo marinho caiu para o nível mais baixo dos 12 mil anos anteriores, início da civilização humana: hoje há apenas 10 milhões de km2 de gelo sobre os mares do planeta, cerca de dois milhões de km2 a menos do que se encontrava tipicamente nesta época do ano na década de 1990, e algumas dezenas de milhares de km2 a menos do que no ano passado, ano que marcou o recorde anterior de baixa.

O meio de fevereiro é o momento habitual de baixa anual do gelo marinho do planeta (a Antártica quase sempre tem mais gelo do que o Ártico, porque há menos massa terrestre no caminho).

Embora a perda de gelo marítimo seja preocupante, o ritmo geral de mudança é ainda pior. As temperaturas globais estão aumentando a uma velocidade muito superior à vista na história da Terra recente. Isso significa, com alta probabilidade, que esses últimos registros foram feitos para serem quebrados.

https://grist.org/article/polar-ice-is-lost-at-sea/

 

ILHAS BALEARES QUEREM 100% DE ENERGIA RENOVÁVEL ATÉ 2050

As ilhas Ibiza e Maiorca são referência do turismo internacional e muito conhecidas pelas suas praias e discotecas. Apesar do sol abundante, as ilhas Baleares geram hoje somente 2% da eletricidade por fontes renováveis. Agora, o governo regional está propondo uma arrojada lei do clima para chegar a 100% de geração renovável de eletricidade até 2050 e, também, eletrificar completamente a frota de aluguel de carros já em 2035. A proposta cria um problema para o governo central de Madri, que busca impedir o fechamento de antigas usinas de carvão – incluindo a de Maiorca – alegando razões de custo e segurança de abastecimento. O governo central deve publicar em breve o seu próprio projeto de lei climática. A questão na Espanha é se os esforços regionais podem incentivar uma maior ambição? Ou se Madrid imporá sua política energética à região? Espera-se alguma influência do comissário climático da União Europeia, Miguel Arias Cañete, ex-ministro do partido de centro-direita que detém o poder na Espanha. http://www.climatechangenews.com/2018/02/15/ibiza-mallorca-launch-100-renewable-power-plan-defying-madrid/

https://www.theguardian.com/environment/2018/feb/15/balearics-launch-pioneering-plan-to-phase-out-emissions

 

GUIA CLIMÁTICO PARA ESPIÕES

Trump anunciou a retirada dos EUA do Acordo de Paris. Sua administração está tentando rescindir os regulamentos sobre o assunto. Até retira menções ao aquecimento global das páginas do governo na internet. No entanto, sua tentativa de suprimir os fatos não está sendo bem sucedida, e agências federais continuam a emitir advertências. A última veio embalada no Worldwide Threat Assessment, da comunidade de inteligência. No documento, o diretor nacional de inteligência, Daniel Coats, o qual supervisiona a CIA e a NSA, fez um alerta sobre as ameaças associadas às mudanças climáticas. Ele disse que a mudança climática é “um problema real” capaz de causar “transtornos sociais” e “ameaças à estabilidade política”. Segundo Justin Gillis, do New York Times, o que “falta neste documento é qualquer atribuição explícita da causa da perturbação climática global”.

Ou seja, a comunidade de segurança não ousa colocar o sino da mudança climática no pescoço da indústria fóssil.

https://www.nytimes.com/2018/02/15/opinion/guide-climate-change.html

 

GEOENGENHARIA: QUE ACONTECE SE USARMOS INADEQUADAMENTE A TECNOLOGIA DE REDUÇÃO DA LUZ SOLAR?

A redução da luz solar (sunlight reduction) é uma ideia da geoengenharia que propõe refletir parte da energia do Sol de volta ao espaço, por meio da pulverização de partículas reflexivas na atmosfera, por exemplo. Dois estudos científicos recentes analisaram o que aconteceria se a redução da luz solar fosse mal feita. Um dos estudo, publicado na Nature Ecology & Evolution, descobriu que, se a redução da luz solar for iniciada e, de repente, interrompida, a temperatura média global subiria rapidamente, o que poria em perigo animais que não podem se mover com rapidez suficiente, sem falar das plantas, ainda mais lentas. O outro estudo, publicado na Nature Communications, sugere que os efeitos da pulverização de partículas reflexivas em apenas um dos hemisférios – ao invés de globalmente – poderia gerar problemas bastante complicados. A pulverização desigual pode levar a menos furacões nas Américas, mas também a secas na África, o que indica que a redução da luz solar poderia ser usada para beneficiar algumas partes do mundo à custa de outros lugares.

Alguns pesquisadores criticaram a cobertura da mídia, apontando que ninguém defende a pulverização de partículas em apenas um hemisfério ou interrompê-la repentinamente. Os riscos seriam mais baixos, sugerem os estudos, se o mundo usasse moderadamente a redução da luz solar e a gerenciasse com cuidado.

Mas por que estamos discutindo a redução da luz solar? Porque, com ela, os governos podem deixar de reduzir as emissões. Daí que é importante entender o que aconteceria se eles também usassem mal as tecnologias de redução da luz solar.

https://www.nature.com/articles/s41559-017-0431-0

https://www.nature.com/articles/s41467-017-01606-0

https://twitter.com/JesseLReynolds/status/931190818215481345

 

GEOENGENHARIA: UM PLANO DO TAMANHO DO CÉU PARA ESFRIAR O PLANETA

Em um ensaio sobre a redução da luz solar (sunlight reduction) publicado no Wall Street Journal, os economistas da Universidade Harvard, Gernot Wagner e Martin L. Weitzman, escreveram que “uma coisa se tornou bastante clara, os custos de sua implantação seriam relativamente baratos – talvez muito baratos”. Suas estimativas sugerem que “o custo anual pode chegar a menos de US $ 10 bilhões”, e que “tais somas não são desprezíveis, mas no contexto, começam a parecer pequenas”. Segundo os autores, a dificuldade com a tecnologia “não seria motivar os países a espalhar aerossóis na atmosfera, mas impedir que eles o fizessem exageradamente e muito rapidamente”. Eles dizem que “sem acordos internacionais, o país que estiver determinado o faria da sua própria maneira”, e que “na melhor das hipóteses, [a redução da luz solar] seria um complemento de outros esforços de combate à mudança climática, e um esforço imperfeito, uma droga que simplesmente modera sintomas perigosos”. Para eles, “a solução permanente é um regime de dieta e exercícios”.

https://www.wsj.com/articles/a-big-sky-plan-to-cool-the-planet-1518802598?mod=e2tw&page=1&pos=1

 

GEOENGENHARIA: ATRASAR A REMOÇÃO DE CO2 DA ATMOSFERA PODE FECHAR OPÇÕES

Algumas opções para a remoção de dióxido de carbono (CDR) são hoje possíveis, mas em breve não mais o serão, de acordo com um comentário publicado na Nature. Começar a remover o CO2 agora pode dar tempo suficiente para usarmos métodos relativamente atraentes, mas lentos, como plantações em grande escala. Mas, se o mundo esperar muito antes de usar o CDR para ajudar a atingir os objetivos do Acordo de Paris, podemos ter que nos basear em outras medidas, como o uso em larga escala da bioenergia com captura e armazenamento de carbono (BECCS), o que pode exigir vastas extensões agrícolas.

https://www.nature.com/articles/s41558-017-0045-1

 

GEOENGENHARIA: A REMOÇÃO DE CO2 EM LARGA ESCALA PODE NÃO SER REALISTA

O Acordo de Paris estabeleceu metas ambiciosas para o mundo ao limitar o aquecimento a 1,5 ou 2oC e, com base em modelos ambientais e econômicos, a maioria dos cientistas pensa que estas exigirão uma contribuição significativa de tecnologias de Remoção de Dióxido de Carbono (CDR). Mas um novo relatório argumenta que os modelos são irrealistas ao superestimar a quantidade de CO2 que pode ser removida. O relatório é particularmente cético sobre o uso de bioenergia com captura de carbono (BECCS), da qual os modelos dependem fortemente. Assim como o comentário publicado na Nature (ver nota anterior), o relatório mostra quão importante é compreender o potencial e os problemas com o CDR agora, em vez de deixá-los como uma questão aberta para o futuro.

https://easac.eu/fileadmin/PDF_s/reports_statements/Negative_Carbon/EASAC_Report_on_Negative_Emission_Technologies.pdf

 

GEOENGENHARIA: BARREIRAS SUBAQUÁTICAS CONTRA O AUMENTO DO NÍVEL DO MAR

Um artigo publicado no Atlantic examina a idéia de construção de barreiras (paredes) subaquáticas em frente a grandes geleiras, para abrandar o derretimento e, assim, limitar o aumento do nível do mar. A construção seria um enorme desafio de engenharia, incluindo o emprego de submarinos para a construção de uma parede subaquática de 100 km na Antártida. Mesmo que desse certo, a ideia enfrentaria apenas um sintoma da mudança climática, ao invés de suas causas. Os oceanos continuariam a acidificar e o mundo enfrentaria todas as outras conseqüências das mudanças climáticas.

https://www.theatlantic.com/science/archive/2018/01/a-new-geo-engineering-proposal-to-stop-sea-level-rise/550214/

 

APOIO POLÍTICO À GEOENGENHARIA

Alguns políticos dos EUA estão interessados em geoengenharia. O orçamento assinado em fevereiro inclui créditos fiscais para a remoção de carbono da atmosfera. Além disso, Lamar Smith, um congressista que nega a mudança climática e preside o Comitê de Ciências da casa, sugeriu que a redução da luz solar poderia ser uma solução. Enquanto isso, um projeto de lei propõe financiamento das Academias Nacionais de Ciências para pesquisas sobre a redução da luz solar. O projeto foi apresentado por um democrata, Jerry McNerney, que é sincero na necessidade de lidar com as mudanças climáticas.

https://www.congress.gov/115/bills/hr1892/BILLS-115hr1892enr.pdf

http://dailycaller.com/2018/01/29/technology-advances-civilization-bureaucrats-do-not/

https://www.congress.gov/bill/115th-congress/house-bill/4586/text

 

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