ClimaInfo, 20 de março 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

CINCO DE NOVE BILHÕES DE PESSOAS ESTARÃO EM RISCO DE FALTA DE ÁGUA ATÉ 2050

Durante o Fórum Mundial da Água, a ONU lança seu relatório sobre o estado da água no mundo com uma projeção tenebrosa: até 2050, mais da metade da população mundial estará passando por crises de falta de água. As causas conjugam o aumento da demanda, a poluição de corpos d’água e, claro, a mudança do clima. Evitar este cenário exigirá mudanças dignas do nome, deixar para trás obras de concreto e aço e promover ações baseadas na natureza, no uso do solo e na recomposição da vegetação nativa, como, por exemplo, uma agricultura de conservação que aproveite melhor as chuvas e dependa menos da irrigação. Esta teria ainda o benefício adicional de reverter a degradação dos solos que são essenciais para alimentar o mundo.

Nas palavras do relatório, será necessário passar da tecnologia cinza para a verde.

http://unesdoc.unesco.org/images/0026/002614/261424e.pdf

http://www.valor.com.br/brasil/5392883/infraestrutura-verde-servico-da-agua#

http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,onu-estima-5-bilhoes-vivendo-em-risco-de-escassez-hidrica-ate-2050,70002232901

https://www.theguardian.com/environment/2018/mar/19/water-shortages-could-affect-5bn-people-by-2050-un-report-warns

http://www.dw.com/en/world-water-councils-braga-water-crises-could-be-coming-to-your-backyard/a-42991441

 

SOLUÇÕES BASEADAS NA NATUREZA PODEM NÃO FUNCIONAR NA ÁFRICA

Mike Muller, da Universidade de Witwatersrand, da África do Sul, escreveu sobre os problemas das soluções baseadas na natureza (vide nota acima). O maior desafio é o estoque finito de terras e a grande extensão destas exigida por esta família de soluções, terras estas que terão que ser divididas com a agricultura. Muller também diz que existirão situações nas quais as soluções baseadas na natureza reduzirão a disponibilidade de água para o consumo humano. No entanto, ele enxerga várias situações onde o pensamento se aplica. Cita alguns estados dos EUA, nos quais bombeia-se água para dentro de aquíferos nas situações onde há excedentes de chuva, dando-se uma mãozinha para mantê-los como reservatórios de água doce.

https://theconversation.com/why-unescos-nature-based-solutions-to-water-problems-wont-work-in-africa-93208

 

NORSK ADMITE QUE A CONTAMINOU AS ÁGUAS DE BARCARENA

Ontem, a mineradora norueguesa Norsk Hydro admitiu ter despejado água contaminada com resíduos de processamento de bauxita no entorno da sua fábrica em Barcarena. Foram semanas de negativas e dissimulações. Em um comunicado oficial, Svein Richard Brandtzaeg, o CEO da Norsk, admitiu que “vertemos água de chuva e de superfície não tratada no Rio Pará”. Talvez pegando muita gente de surpresa, a empresa confessou que o vazamento não teve nada a ver com as chuvas pois as águas deveriam ter ido para o sistema de tratamento e não foram. A empresa tomou R$ 40 milhões em multas até agora e contratou uma auditoria independente para descobrir o que aconteceu.

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2018/03/grupo-noruegues-admite-que-contaminou-rio-com-bauxita-no-para.shtml

 

CHINA INVESTE NA INTERLIGAÇÃO DE PORTOS E FERROVIAS BRASILEIROS

A maior empresa chinesa de infraestrutura, a CCCC (China Communications Construction Company), anunciou que investirá no novo porto de São Luís e que está estudando portos no sul do país. Para juntá-los, quer entrar nos leilões de trechos de ferrovias como a Norte-Sul, a Ferrogrão e participar da Malha Sul da Rumo Logística. Não é coincidência que quase toda a soja brasileira exportada para a China passe por um ou mais desses lugares. Também interessante que o porto de São Luís fica ao lado do de Itaqui, por onde a Vale exporta muito minério de ferro de Carajás para as siderúrgicas chinesas. Assim, São Luís talvez se concentre na soja do Cerrado.

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/03/chinesa-investe-em-porto-no-maranhao-e-estuda-ferrovias.shtml

 

PARA DESMISTIFICAR OUTRO DISCURSO RURALISTA

O pessoal do Observatório do Clima (OC) escreveu novamente para desmistificar outro panfleto ruralista que circulou na semana passada tentando justificar porque a legislação ambiental deveria ser alterada. Só que os ruralistas esticaram os fatos, torturaram um ou outro número, talvez esperando que ninguém fosse notar. Começam afirmando que licenças ambientais “chegam a custar 27% do custo dos empreendimentos. Muitas vezes inviabiliza a atividade”, sem indicar de onde surgiu esse número. Segundo o OC, “um documento do Banco Mundial faz uma estimativa muito mais modesta: 5%”. O OC cutuca lembrando que a Lava Jato revelou que as propinas a políticos giraram por volta desses mesmos 5%. Aliás, se alguém examinar os “tremendos atrasos” provocados pelos processos de licenciamento das últimas grandes hidrelétricas, notará que elas foram entregues até antes das datas em que deviam começar a operar. Talvez porque, na real, as construtoras aprenderam a montar cronogramas que funcionam, mas esperneiam porque é bom para o negócio. Outro número da fantasia rural diz que a “Embrapa” pode classificar 80% do território nacional como de “alta relevância ambiental”, mais uma vez sem mostrar de onde surgiu o número, a não ser na cabeça de um funcionário da empresa, sempre citado pela bancada ruralista, que não fala pela instituição.

Toda essa vontade de tirar da esfera federal uma série de prerrogativas de defesa do ambiente e transferi-las a estados e municípios corre o risco de passar por cima do artigo 24 da Constituição, que diz que normas específicas criadas pelos estados e municípios não podem ser mais brandas que as da União. Se assim o fizerem, estados e municípios podem ter certeza que a judicialização dos processos será muito maior do que é hoje.

http://www.observatoriodoclima.eco.br/agromitometro-mitos-e-fatos-nos-argumentos-ruralistas-sobre-licenciamento/

http://www.observatoriodoclima.eco.br/wp-content/uploads/2018/03/Pontos-de-argumentac%CC%A7a%CC%83o-FPA_Licenciamento_Ambiental.pdf

 

CARROS A ETANOL VERSUS ELÉTRICOS

O Professor Goldemberg, ex-reitor da USP e atual presidente da FAPESP, volta afirmar na sua coluna no Estadão que os carros a etanol são melhores do que os elétricos que vêm por aí. O argumento central é que, em boa parte do mundo, a geração de eletricidade queima muito carvão e gás natural e um carro elétrico nessas condições estaria emitindo mais gases de efeito estufa do que outro a etanol. O que é correto, mas não se aplica a países como a Noruega, a Islândia e o Brasil, onde a imensa maioria da eletricidade vem de fontes renováveis. Nestes países, ao longo de todo o ciclo de vida das fontes de energia, os movidos a etanol emitem mais gases de efeito estufa do que a eletricidade. O professor também se esquece de observar que as matrizes elétricas estão ficando mais limpas a cada dia, e que muitos especialistas preveem que, até a segunda metade do século, as emissões do setor elétrico serão minúsculas. E tem mais um ponto: enquanto Goldemberg diz que acontece uma “degradação da qualidade do ar nas cidades, além do aquecimento global, resultado inevitável da queima de combustíveis fósseis derivados do petróleo, como gasolina e óleo diesel”, não diz que a queima de etanol em motores também polui localmente, emitindo, principalmente, óxidos nitrosos.

Por falar em poluição veicular, coisa que os elétricos não produzem, Fábio Feldmann escreveu um artigo importante sobre a importância da inspeção veicular, no qual chama governo e montadoras a tomarem uma ação decisiva, ou dito de outra forma, que parem de enrolar e ajam para limpar os ares das nossas grandes cidades.

http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,carros-eletricos-e-modernidade,70002232737

http://www.valor.com.br/opiniao/5388797/o-futuro-do-proconve#

 

RAQUEL DODGE QUER CRIAR UM INSTITUTO GLOBAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA O MEIO AMBIENTE

A procuradora geral da república vai propor a criação de um Instituto, ponto de encontro e discussão de integrantes dos ministérios públicos daqui e do mundo, para discutir, trocar experiências e soluções para questões do meio ambiente. Raquel Dodge quer aproveitar o Fórum Mundial da Água para lançar o Instituto Global do Ministério Público para o Meio Ambiente e já colocar a primeira pauta na mesa: água.

http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,procuradora-geral-da-republica-discute-criacao-de-instituto-com-enfoque-na-gestao-da-agua,70002232647

 

BOAS NOVAS RENOVÁVEIS

Duas grandes notícias do mundo das fontes renováveis:

  1. A Índia sediará a maior planta fotovoltaica do mundo. O parque solar Pavagada terá capacidade superior a 2 GW e faz parte do ambicioso plano do primeiro ministro Modi que quer instalar 100 GW fotovoltaicos até 2022; e
  2. A Holanda realizou o primeiro leilão do mundo para duas plantas eólicas offshore sem um centavo de subsídios. A sueca Vattenfall arrematou as Hollandse Kust Zuid I & II com 700 MW e 750 MW respectivamente. Serve para afastar detratores que insistem em vender a mentira de que as renováveis só funcionam movidas a subsídio.

http://www.latimes.com/world/asia/la-fg-india-solar-20180319-story.html

https://www.offshorewind.biz/2018/03/19/vattenfall-wins-dutch-zero-subsidy-offshore-wind-tender/

 

A MUDANÇA DO CLIMA E AS GUERRAS AUMENTAM O CUSTO DOS ALIMENTOS

Novo relatório da FAO (sigla em inglês da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) mostra que, entre 2005 e 2015, agricultores dos países em desenvolvimento arcaram com um prejuízo de US$ 98 bilhões devido aos desastres naturais potencializados pela mudança do clima, por guerras e por outros conflitos. Na categoria “desastre natural” são enfileirados furacões, secas, enchentes, incêndios florestais, tempestades, pestes no campo, dentre outros. Se nas décadas de 80 e 90 havia, em média, cerca de 120 desses desastres por ano nos países em desenvolvimento, entre 2005 e 2016 a quantidade de desastres anuais subiu para 260. A FAO estima que, neste período, os agricultores asiáticos tiveram perdas de quase US$ 50 bilhões, os africanos, outros US$ 26 bilhões, e os latino-americanos e caribenhos, US$ 22 bilhões. O principal desastre para os agricultores foi a seca que causou quase US$ 30 bilhões em prejuízos, seguida dos US$ 26,5 bilhões por tempestades e temperaturas extremas. Pela primeira vez nesta série de relatórios, a FAO incluiu uma estimativa relativa a guerras e mostra que a guerra civil na Síria, de 2012 e 2016, causou um prejuízo de  US$ 16 bilhões.

http://www.fao.org/3/I8656EN/i8656en.pdf

http://www.fao.org/news/story/en/item/1106977/icode/

http://www.valor.com.br/agro/5388629/o-elevado-custo-agricola-dos-desastres-naturais-e-das-guerras#

 

UM NOVO PAÍS-ILHA FEITO DE PLÁSTICOS ESPALHADOS NO MAR

Duas organizações se juntaram e criaram uma campanha para transformar uma ilha de lixo em um país oficial com capital e fronteiras. Al Gore, virou o cidadão no 1 das Ilhas de Lixo. Outras 100 mil pessoas estão pedindo cidadania oficial. A campanha pede à ONU que o Estado das Ilhas de Lixo seja reconhecido como o 196o país do mundo. A Plastic Oceans Foundation e o site LadBible estão por trás dessa iniciativa, que também gravou vários vídeos com celebridades apoiando a causa. As Ilhas de Lixo já têm bandeira, passaporte, uma moeda – que se chama escombros – e selos. A campanha tem um mote simples: “Se você acha que tudo isto é ridículo, então considere a ideia de que há uma área do tamanho de França feita inteiramente de plástico no meio do mar”.

Outra comparação, esta do blog Mar Sem Fim, cita que só no Caribe existe uma área do tamanho da baía de Guanabara de plástico boiando. No último link abaixo, um vídeo com muito plástico e pouco oceano.

https://plasticoceans.org/

http://www.ladbible.com/trashisles

http://www.ladbible.com/videos/news-celebs-unite-against-plastic-by-becoming-citizens-of-the-trash-isles-20180119

https://marsemfim.com.br/campanha-tornar-uma-ilha-de-lixo-num-pais-oficial/

https://marsemfim.com.br/mar-de-lixo-do-caribe/

 

A agitação atípica desta semana nos levou a, excepcionalmente para uma 3ª feira,  falar de cultura, de fóruns e de encontros que acontecem por estes dias…

 

Para ler

PÁGINA 22 – FGV

Saiu a edição da revista do GVces voltada para o Fórum Mundial da Água. A edição completa pode ser lida no link abaixo.

http://www.p22on.com.br/2018/03/10/pdf-da-edicao-8

 

Para ir

O JABUTI E A ANTA

O Cinesesc, em São Paulo, volta a mostrar a partir de 22 de março o documentário de Eliza Campai que dá “rosto, nome e voz aos ‘jabutis’, à gente humilde que é oprimida por enormes corporações com poderes que parecem ilimitados”.

Tem sessão especial gratuita às 19h, seguida de debate e o filme fica em cartaz até 1º de abril. O trailer está no link abaixo.
https://www.youtube.com/watch?v=VNvnCFmP4FQ

 

Para ir

8º FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA (FMA)

Começou no domingo (18/3) e vai até 6ª feira (23/3), em Brasília, o principal evento mundial sobre gestão, uso e direito à água. Pela primeira vez no Hemisfério Sul, o Fórum Mundial da Água deve atrair a atenção de governos e grandes corporações para os debates que acontecem na capital federal.
http://www.worldwaterforum8.org/

 

Para ir
FÓRUM ALTERNATIVO MUNDIAL DA ÁGUA (FAMA)

Brasília reúne, paralelamente ao FMA, movimentos sociais, sindicatos e ONGs que defendem a gratuidade desse bem público. Ao todo, serão mais de 170 países representados nos eventos.
http://fama2018.org/

 

Para aguardar os resultados

REUNIÃO PLENÁRIA DO “IPCC DA BIODIVERSIDADE”

Uma avaliação global e abrangente da extinção em massa de espécies – e o que pode ser feito para revertê-la – começou a ser finalizada neste sábado na Colômbia, na 6ª plenária do “IPCC da biodiversidade” que reúne mais de 750 especialistas do Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services (IPBES). Centenas de cientistas e enviados de vários governos estarão reunidos até 26 de março, para finalizar detalhes de cinco relatórios monumentais destinados a informar a construção de políticas globais. Os textos que formam o Land Degradation and Restoration Assessment Report foram compilados nos últimos três anos e fornecerão a imagem mais atualizada da saúde das plantas, animais e dos solos de todo o planeta, incluindo a Antártida e os oceanos.

https://www.ipbes.net/participants-information

https://www.ipbes.net/coming-soon-4-ipbes-regional-assessments-biodiversity-ecosystem-services-ipbes6

https://m.phys.org/news/2018-03-biodiversity-crisis-summit-colombia.html

 

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