ClimaInfo, 21 de março 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

IBAMA E GREENPEACE REVELAM ESQUEMA ILEGAL DE EXPORTAÇÃO DE MADEIRA NOBRE

Uma investigação conjunta feita pelo Greenpeace e pelo Ibama revelou um esquema criminoso utilizado para exportar madeira explorada ilegalmente na Amazônia para EUA e Europa. No fundo, a chave do esquema é bem simples: derrube um valioso ipê e chame-o de uma espécie bem menos valiosa, a jarana, por exemplo. Mas o esquema começa bem antes. O pessoal examinou mais de 500 planos de manejo e notou que, em mais de 75% destes, a quantidade declarada de árvores valiosas era muito maior do que a ciência estima como normal na Amazônia. Alguns inventários apontavam 10 vezes mais árvores valiosas do que o possível. E os inventários foram todos aceitos pelas secretarias de meio ambiente, responsáveis pela liberação do transporte das toras.

Rômulo Batista, um especialista do Greenpeace, explica que “este tipo de fraude é o que chamamos de árvores imaginárias, pois são árvores que só existem no papel, para gerar créditos de movimentação de madeira. Na serraria, a árvore imaginária se mistura com madeira de origem legal e acaba contaminando toda a cadeia produtiva, chegando aos mercados nacional e internacional”. O trabalho identificou 37 empresas norte-americanas que trabalham com o ipê ilegal. E outras em Bélgica, França, Holanda e Portugal, que também devem estar envolvidas no esquema.

http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/Arvores-imaginarias-destruicao-real/

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2018/03/madeireiros-usam-arvores-ficticias-para-esquentar-ipe-roubado.shtml

https://www.afp.com/en/news/2265/us-eu-hardwood-imports-fuel-amazon-destruction-greenpeace-doc-12v1pt1

 

O DESMATAMENTO NO XINGU CONTINUA, MESMO DEBAIXO DE CHUVA

O Instituto Socioambiental (ISA) denunciou uma imensa atividade de desmatamento na região do Xingu neste começo de ano, época pouco usual por causa das chuvas. Mais de 6 mil hectares de floresta foram cortados pela agropecuária e pelo garimpo ilegal. Quase um mil hectares desmatados ficam em terras indígenas e unidades de conservação, parte do chamado Corredor Xingu de Diversidade Socioambiental, e os 5 mil hectares restantes ficam em áreas próximas ao Corredor. “Os desmatadores sabem que estão sendo monitorados pelo Ibama e por outros órgãos, por isso estão começando a agir na época de chuvas, quando o monitoramento é mais difícil”, alerta Juan Doblas, assessor do ISA.

https://www.socioambiental.org/pt-br/blog/blog-do-xingu/desmatamento-no-xingu-avanca-mesmo-debaixo-de-chuva

https://www.xingumais.org.br/corredor-xingu

 

CUSTA RELATIVAMENTE POUCO LEVAR SANEAMENTO A TODA A AMÉRICA LATINA

José Carrera, vice-presidente de desenvolvimento social e ambiental do CAF, o Banco de Desenvolvimento da América Latina, fez uma comparação para lá de interessante. O custo da má qualidade da água varia entre 1% e 2,5% do PIB por ano nos países da América Latina, entre problemas de saúde e produção. Levar o saneamento para toda a população da região, segundo estudo do CAF que está para ser lançado, custaria 0,3% do PIB por ano. Carrera também identifica que a América Latina tem uma cultura de desperdício, fruto de séculos de abundância de água. Com a mudança do clima trazendo mais secas – e secas mais prolongadas – é preciso mudar o hábito.

http://www.valor.com.br/brasil/5395617/investimento-de-03-do-pib-levaria-saneamento-todos-os-cidadaos-da-al#

 

QUANTO CUSTA A ÁGUA NO BRASIL?

A partir de dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, a Deutsche Welle publicou um artigo sobre as tarifas da água no país. A mais barata no momento é a do Pará, R$ 2,09 o metro cúbico, enquanto a mais cara, a de Goiás, sai por R$ 5,19, mais que o dobro. Os dados do SNIS também apontam que as perdas nos canos e bombas das empresas de água representam mais de ⅓ da água captada, ou um vazamento de cerca de R$ 13 bilhões em 2016.

Outra matéria do Valor traz um retrato destas perdas por todo o país e cita a importância das florestas para os ciclos hídricos do Brasil. Pedro Scazufca, parceiro da ONG Trata Brasil, estima que, para levar saneamento básico a todos os brasileiros e brasileiras, seriam necessários investimentos da ordem de R$ 450 milhões, muito menos do que se perde de água nas cidades. O plano de universalização do abastecimento está se arrastando e não atingirá os 100% até 2033, como prometido. No passo atual, só chegará lá em 2054.

http://m.dw.com/pt-br/quanto-custa-a-%C3%A1gua-no-brasil/a-43042579

http://www.snis.gov.br/

http://www.valor.com.br/opiniao/5395671/floresta-para-quem-quer-agua#

 

CRIADAS, AFINAL, AS DUAS NOVAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO MARINHAS

Foram publicados ontem dois decretos criando a Área de Proteção Ambiental do Arquipélago de Trindade, Martim Vaz e Monte Colúmbia e a Área de Proteção Ambiental Marinha do Arquipélago de São Pedro e São Paulo. A primeira fica no litoral do Espírito Santo e a segunda no litoral de Pernambuco. O ministro Sarney Filho fez o anúncio dos dois decretos durante o 8o Fórum Mundial da Água, dizendo que o país agora passa a ter 25% de sua zona costeira marinha protegida, mais do que os 17% recomendados pelas Metas de Aichi.

https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/ag-estado/2018/03/20/decreto-que-cria-duas-novas-unidades-de-conservacao-marinha-e-publicado.htm

 

BANCO MUNDIAL PREVÊ MIGRAÇÃO EM MASSA IMPULSIONADA PELA MUDANÇA DO CLIMA

O Banco Mundial soltou o relatório Groundswell – Preparing for internal climate migration (A Onda – Preparando para a migração interna causada pelo clima), no qual indica que a mudança do clima forçará a migração de mais de 140 milhões de pessoas até 2050, e isso apenas dentro dos países. Juntas, estas pessoas formariam, hoje, o 10o país mais populoso do mundo. As causas gerais podem ser tanto as gradativas, como as provocadas por anos de seca e aumento de doenças endêmicas, como por conta de eventos extremos climáticos como furacões e enchentes, ou ainda por surtos de epidemias. O Banco indica que a maioria dessa gente se concentrará nas já superpovoadas favelas das grandes metrópoles dos países em desenvolvimento. A região mais crítica é a África subsaariana, onde o Banco prevê quase 90 milhões de migrações. Outros 40 milhões serão empurrados, no sul da Ásia, por enchentes e pela elevação do nível do mar. Tudo isso, claro, se o mundo não fizer mais do que o compromissado em Paris.

https://openknowledge.worldbank.org/handle/10986/29461

http://time.com/5206716/world-bank-climate-change-internal-migration/

https://www.theguardian.com/environment/2018/mar/19/climate-change-soon-to-cause-mass-movement-world-bank-warns

 

NO RITMO ATUAL, RENOVÁVEIS LEVARÃO SÉCULOS PARA LIMPAR O SISTEMA ENERGÉTICO GLOBAL

Ken Caldeira, da Carnegie Institution, atualizou uma conta velha de 15 anos, que calculava quanto de energia renovável teria que entrar em operação por dia para que o limite de 2⁰C não fosse ultrapassado. Segundo suas estimativas, o mundo deveria inaugurar 1,1 GW de eólicas e fotovoltaicas por dia para chegarmos em 2050 dentro das metas de Paris. O problema é que se está somando cerca de 0,15 GW, uma pequena fração do que deveria estar acontecendo. Neste ritmo, Caldeira estima que levará 400 anos para completar a transição para uma matriz energética limpa. Mas, entrando no campo da especulação, ele acha que não vai demorar tanto. Principalmente porque a eletrificação avançará rapidamente, tanto para a locomoção quanto para geração de calor, e isso aumentará a demanda da eletricidade que atrairá mais investimentos em renováveis. Mesmo assim, o andar da carruagem continua lento demais para fazer alguma diferença na temperatura global.

https://www.technologyreview.com/s/610457/at-this-rate-its-going-to-take-nearly-400-years-to-transform-the-energy-system/

 

ESTARÃO AS CORPORAÇÕES PREPARADAS PARA DIVULGAR COMO O CLIMA IMPACTA SUAS FINANÇAS?

O CDP acaba de soltar um relatório indicando o quão preparadas estão as corporações para as recomendações da Força Tarefa para Divulgações Financeiras associadas ao Clima (Task Force on Climate-related Financial Disclosures). As análises do impactos do clima no portfólio de investimentos de fundos de pensão, bancos e corretoras vem ganhando importância cada vez maior. No mundo dos fósseis, pergunta-se sobre os riscos dos ativos perderem valor frente a veículos elétricos ou algum mecanismo de precificação das emissões. Também nesse meio, pergunta-se o quanto as corporações se envolveram com campanhas negacionistas. Em outras áreas, os impactos climáticos podem influenciar o próprio negócio, como nas commodities agrícolas ou indiretamente, via a cadeia logística. O CDP preconiza maior transparência desses riscos, mas avalia que falta muito chão a percorrer. Nas palavras de seu CEO, estão faltando informações de maior qualidade e profundidade e não apenas em maior quantidade. O CDP “opera o sistema global de divulgação para que investidores, empresas, cidades, estados e regiões gerenciem seus impactos ambientais.”

http://b8f65cb373b1b7b15feb-c70d8ead6ced550b4d987d7c03fcdd1d.r81.cf3.rackcdn.com/cms/reports/documents/000/003/116/original/TCFD-Preparedness-Report.pdf

 

McDONALD’S PLANEJA CORTAR ⅓ DE SUAS EMISSÕES DE CO2

A cadeia internacional de lanchonetes anunciou ontem, em Nova York, que, até 2030, cortará 36% das suas emissões (base 2015), o que evitará a emissão de 150 milhões de toneladas de CO2, o equivalente a tirar 32 milhões de carros das ruas por um ano, ou o equivalente a quase todas as emissões de países como a Bélgica, o Vietnã ou a República Checa. O anúncio foi feito em resposta à provocação do bilionário indiano Anand Mahindra, quem desafiou, no Fórum Econômico Mundial, as empresas globais a definirem metas de redução de emissões de carbono em linha com a ciência climática e com as metas do Acordo de Paris.
http://fortune.com/2018/03/20/mcdonalds-climate-change/

 

ONDA DE CALOR SUBMARINA DETONA BOMBA DE CARBONO NAS COSTAS DA AUSTRÁLIA

A onda de calor de 2010 em águas australianas fez mais do que matar corais, ela liberou mais de 5 milhões de toneladas de CO2 à atmosfera. Se isto tivesse sido contabilizado, as emissões australianas teriam aumentado em cerca de 20%. A origem da “bomba de carbono” está nas ervas marinhas. Estas formam prados nos fundos das partes mais rasas dos oceanos e são muito eficientes na remoção de CO2 das águas e no armazenamento do gás capturado no solo. Estima-se que uma camada de um metro de profundidade armazene mais carbono do que uma floresta tropical de área equivalente. A onda de calor matou uma grande quantidade de ervas e, com elas, as bactérias que prendem o CO2 ao solo. Sem ervas e sem bactérias, a bomba de carbono explodiu. Estima-se que na área atingida viviam entre 0,6% e 2,4% das ervas marinhas de todos os oceanos. Como estas ervas vivem em grandes concentrações, devem existir mais bombas de carbono esperando por uma onda de calor ou uma supertempestade para serem detonadas.

https://www.nature.com/articles/s41558-018-0096-y

https://www.theguardian.com/environment/2018/mar/20/marine-heatwave-set-off-carbon-bomb-in-worlds-largest-seagrass-meadow

 

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