ClimaInfo, 4 de abril 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

FIM DOS LEILÕES DE PETRÓLEO E GÁS EM TERRA?

A ANP deve acabar com os leilões de áreas terrestres para a exploração de petróleo, deixando todos os blocos onshore permanentemente disponíveis para serem adquiridos pelas petroleiras a qualquer momento. O motivo é o baixo interesse apresentado pelos investidores nas últimas licitações. Na última, não foi apresentada nenhuma proposta para os 21 blocos oferecidos. Segundo o diretor geral da Agência, Décio Oddone, o baixo interesse se deve, em parte, à competição com o programa de venda de ativos terrestres da Petrobras, que está se desfazendo de 71 campos em terra.

A oferta permanente deve começar já em maio, com 846 blocos, entre ativos terrestres e marítimos, mas a intenção é praticamente dobrar esse número “em breve”, segundo Odone. Ele também comentou ao Valor Econômico a intenção de incluir, na oferta permanente, blocos marítimos da Bacia de Campos, localizados dentro do polígono do pré-sal: “Inicialmente a ideia é incluir na oferta permanente os ativos de águas rasas, áreas próximas aos ativos colocados à venda pela Petrobras [e localizadas fora do polígono do pré-sal]”.

Odone não explicou, nem lhe foi perguntado, como pretende obter bons preços por estas áreas sem o emprego  de leilões.

http://www.valor.com.br/brasil/5424717/anp-estuda-acabar-com-leiloes-de-areas-em-terra

 

SANTOS TERÁ PROJETO PILOTO DE ADAPTAÇÃO A EXTREMOS CLIMÁTICOS

Ameaçado por eventos extremos como as enchentes e o aumento do nível do mar, o litoral de Santos, em São Paulo, foi escolhido pelo Ministério do Meio Ambiente para receber um projeto piloto de adaptação à mudança do clima. O objetivo do piloto, é estimular a resiliência climática em todo o país. Os recursos vêm do governo alemão.

http://envolverde.cartacapital.com.br/cidade-de-santos-e-escolhida-para-piloto-sobre-extremos-climaticos/

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/03/santos-cria-barreira-no-mar-contra-ressacas-e-perda-da-faixa-de-areia.shtml

 

TREM PARA GUARULHOS MOSTRA COMO NÃO PLANEJAR UMA CIDADE

O arquiteto, urbanista, professor da USP e ex-vereador Nabil Bonduki chamou de “puxadinho” a linha de trem que leva ao Aeroporto de Guarulhos que Alckmin acaba de inaugurar a um custo de R$ 2,3 bilhões. A nova linha tem 12,2 km e apenas duas novas estações, entre as quais a Aeroporto-Guarulhos, nome que Bonduki – acertadamente – diz ser pouco apropriado, já que esta fica a 1,5 km do Terminal 2 e a 2,5 km do Terminal 3 do aeroporto. Para usar o novo trem, um incauto viajante precisaria ir até alguma estação do metrô, fazer de dois a quatro transbordos e, ao “chegar” ao aeroporto, atravessar uma passarela para pegar um ônibus, que gastaria pelo menos 15 minutos até o embarque. Subindo e descendo escadas, carregando malas e bagagem de mão, nosso viajante gastaria mais de 1h30 para ir da avenida Paulista até o check-in. Bonduki diz que a falta de planejamento é notória, e notória também é a falta de compromisso público do governo do Estado. Justificando o traçado escolhido, o governo alega que a empresa GRU Airport, concessionária do aeroporto, impediu a implantação de uma estação junto aos terminais, onde pretende construir um centro comercial. Gastar mais de R$ 2 bilhões sem integrar o novo trem ao aeroporto revela, sim, uma grande fraqueza do Estado frente aos interesses privados da concessionária.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/nabil-bonduki/2018/04/mesmo-com-o-puxadinho-de-alckmin-chegar-ao-aeroporto-continua-um-tormento.shtml

 

COM ESCASSEZ DE RECURSOS NATURAIS E TERRAS, CHINA MIRA A AGRICULTURA BRASILEIRA

Uma extensa pesquisa feita pelo Inesc mostra o impacto do crescimento chinês sobre a economia e o território brasileiro. Entre 2012 e 2017, o PIB per capita da China cresceu 48%, potencializando a demanda chinesa por soja, milho, carne, minérios e outras commodities, e aumentando o interesse estratégico por terras cultiváveis.  

A China é a maior importadora dos produtos agrícolas brasileiros e tem interesses estratégicos também. Na visão do cônsul geral da China em São Paulo, Song Yang, “China e Brasil são altamente complementares… irmãos gêmeos” (na visão dos chineses, claro).  Empresas chinesas têm se posicionado estrategicamente no setor agropecuário comprando, por exemplo, a operação de sementes de milho da Dow AgroSciences e a processadora de grãos Fiagril Ltda. Sobre a compra dessa última, o Conselho Empresarial Brasil-China disse que o investimento “marca a estratégia chinesa de compra de tradings menores no exterior com vistas a ter maior controle sobre o escoamento de produtos agrícolas, sobretudo grãos, para a China”.

Um fator que potencializaria ainda mais o apetite chinês pela produção agrícola no Brasil seria uma eventual autorização da compra de terras por estrangeiros (um projeto de Temer quer liberar a compra por estrangeiros de até 100 mil hectares, área que poderia subir a 200 mil hectares por arrendamento). Charles Tang, presidente da Câmara Brasil China, diz que há grande interesse de investidores orientais na compra de terras no Brasil para produção agrícola. Segundo ele, os chineses poderiam já ter investido cerca de US$ 90 bilhões no país se fossem liberados para comprar terras.

Vale ler a matéria que tem muito mais informações.

E lembremos que a soja, a carne e o minério de ferro, tão cobiçados pelos chineses, são os principais vetores de expansão da fronteira agromineral, do desmatamento, das emissões brasileiras de gases de efeito estufa, de conflitos fundiários e da violência no campo, especialmente nos estados da Amazônia Legal e no Matopiba.

http://amazonia.inesc.org.br/destaque/com-escassez-de-recursos-e-terras-china-mira-agricultura-brasileira/  

 

CONSEGUIRÁ O TRANSPORTE MARÍTIMO ENTREGAR “O” ACORDO CLIMÁTICO DO ANO?

Nas próximas duas semanas, 173 nações componentes da Organização Marítima Internacional (OMI) estarão discutindo em Londres como deve ser o plano de redução de gases de efeito estufa do transporte marítimo. Estima-se que as emissões de gases de efeito estufa provenientes dos navios sejam da ordem de 2% ou 3% do total global de emissões da economia mundial, mas como estas ainda não são controladas, podem chegar a 250% das emissões totais atuais até meados do século. Se a OMI chegar a um acordo ambicioso, este será, certamente, ‘o’ acordo climático deste ano.

Descarbonizar o setor não é um problema técnico, nem relacionado à ausência de ferramentas de gestão. A OECD publicou um relatório neste mês concluindo que sim, é possível descarbonizar o setor até 2035, com o emprego das tecnologias atualmente disponíveis somadas à algumas políticas:

– estabelecimento de uma meta clara e ambiciosa de redução de emissões;

– investimento em pesquisa de tecnologias de carbono zero;

– transparência da pegada de carbono das linhas de navegação;

– estabelecimento de um preço para o carbono emitido pelo setor;

– criação de taxas diferenciadas nos portos com base em critérios ambientais; e

– criação de incentivos governamentais ao “transporte verde”.

A OCDE diz, ainda, que melhorias adicionais de eficiência ainda são possíveis nos cascos e hélices existentes.

Para ajudar a implantação de um acordo ambicioso, os avanços tecnológicos dão uma força: avançam projetos que complementam a força dos motores diesel-elétricos com mastros e velas para o aproveitamento da energia dos ventos; a Hurtigruten, empresa de cruzeiros, está trabalhando em navios híbridos e a Siemens é pioneira na implantação de balsas elétricas; a Shell, a ITM Power e a Engie estão trabalhando no desenvolvimento de equipamentos de eletrólise para produção de hidrogênio e em cadeias de fornecimento de “hidrogênio verde”; grandes operadoras como a Stena e a CMB já estão testando estes combustíveis potenciais em fase piloto; e a Port Liner está construindo uma frota de barcaças 100% elétricas para operar no transporte fluvial entre Antuérpia, Amsterdã e Roterdã.

https://medium.com/@edking_CH/will-the-imo-deliver-the-climate-deal-of-2018-358016c3ccb7

https://www.itf-oecd.org/sites/default/files/docs/decarbonising-maritime-transport.pdf

http://www.valor.com.br/internacional/5424673/paises-negociam-reduzir-emissoes-do-transporte-maritimo#

 

MARÇO EM PORTUGAL TEVE 100% DE ENERGIA RENOVÁVEL

A produção de eletricidade renovável no mês de março de 2018 excedeu o consumo da região continental de Portugal. Foram produzidos 4.812 GWh renováveis, enquanto o consumo total foi de 4.647 GWh. As fontes mais importantes foram a hidráulica (55% do total gerado) e a eólica (42%). O resultado evitou a emissão de 1,8 milhões de tCO2, e economizou os € 21 milhões que seriam necessários para a aquisição de licenças de emissão. Com isto, o preço médio do mercado diário caiu para 39,75 €/MWh, inferior ao do mesmo período do ano passado (43,94 €/MWh), quando o peso das renováveis no consumo foi de 62%.

Espera-se que até 2040 a produção de eletricidade renovável será capaz de garantir a totalidade do consumo anual de eletricidade da região continental de Portugal.

http://www.neomondo.org.br/portugal-bate-recorde-em-marco-em-energia-100-renovavel/

https://www.washingtonpost.com/world/europe/portugals-growing-green-energy-production-hits-milestone/2018/04/03/f8247b62-372a-11e8-af3c-2123715f78df_story.html?utm_term=.48719a43e48e

 

EMISSÕES EUROPEIAS AUMENTAM PELA PRIMEIRA VEZ EM 7 ANOS

Dados ainda provisórios mostram que as emissões de carbono de fontes estacionárias da União Europeia aumentaram 0,3% em 2017, passando de 1.750 milhões de toneladas em 2016 para 1.756 milhões de toneladas em 2017. Apesar de pequeno, o aumento é o primeiro dos últimos anos sete anos. Estas emissões caíram, em média, 2,7% ao ano nos primeiros 11 anos do esquema europeu de comércio de emissões (ETS), que vão de 2005 a 2016.

Como também se espera que as emissões não abarcadas pelo ETS tenham aumentado, especificamente as provenientes da queima de fósseis no transporte e uso de gás no aquecimento das edificações, as emissões totais da União Europeia, provavelmente, aumentarão em 2017.

https://sandbag.org.uk/project/eu-emissions-rise-for-first-time-in-7-years/

 

SINDICATOS COREANOS NÃO QUEREM SABER DE CARROS ELÉTRICOS

As montadoras estão descobrindo que a produção de veículos elétricos requer muito menos trabalhadores do que a produção dos tradicionais veículos movidos a combustíveis fósseis. E isto está causando problemas com os sindicatos. Na Coreia, o chefe do sindicato da Hyundai, Ha Bu-young, disse que os carros elétricos são “um desastre” e que representam “o mal”. Bu-young prevê que até 70% da força de trabalho pode perder seus empregos como resultado da transição para a eletricidade. Este número é novo; embora outras empresas, como a Ford e a Daimler, venham alertando seus empregados que esperam encontrar melhorias de eficiência na fabricação de veículos elétricos, nenhuma ainda chegou perto desta “melhoria” de 70%.

https://electrek.co/2018/03/27/electric-cars-disasters-evil-says-hyundai-union-head/

 

PRIMEIRO CICLONE DE 2018 MATA 4 EM FIJI E GOVERNO DIZ QUE MUDANÇAS CLIMÁTICAS TRAZEM ‘NOVA ERA ASSUSTADORA’

O primeiro ciclone de 2018 passou pela nação insular de Fiji, no Pacífico, trazendo chuvas torrenciais e provocando inundações que, juntas, ceifaram quatro vidas. O primeiro-ministro Frank Bainimarama disse que “estamos agora num nível quase constante de ameaça desses eventos climáticos extremos”, e acrescentou que os ciclones poderosos que se formam na região estão se tornando “mais severos” como resultado das mudanças climáticas, que também estão elevando o nível do mar e colocando em risco as 332 ilhas que formam seu país.

https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/meio-ambiente/mudancas-climaticas-trazem-nova-era-assustadora-diz-governo-de-fiji-22550115

https://www.reuters.com/article/us-pacific-cyclone-josie-floods/four-dead-one-missing-as-cyclone-causes-floods-in-fiji-idUSKCN1H90KM

 

EXTREMOS CLIMÁTICOS EM CENÁRIO DE AQUECIMENTO GLOBAL DE 2oC PODEM REDUZIR A VAZÃO DA BACIA AMAZÔNICA EM 25% E COMPROMETER A SEGURANÇA ALIMENTAR DA POPULAÇÃO

Os extremos climáticos causados pelas mudanças climáticas podem aumentar o risco de escassez de alimentos em muitos países, inclusive no Brasil, concluiu um estudo da Universidade de Exeter, Reino Unido, publicado pela Royal Society. O estudo analisou 122 países, entre em desenvolvimento e menos desenvolvidos, da Ásia, África e América do Sul.

O professor Richard Betts, da Universidade de Exeter, diz que “se espera que a mudança climática leve a extremos de chuvas fortes e secas, com efeitos diferentes em diferentes partes do mundo”. Estes extremos climáticos podem aumentar a vulnerabilidade à insegurança alimentar. Segundo Betts, “algumas mudanças já são inevitáveis, mas se o aquecimento global for limitado a 1,5°C, a vulnerabilidade deverá permanecer menor do que no cenário de aquecimento de 2°C em aproximadamente 76% dos países em desenvolvimento”.

O estudo concluiu que condições mais úmidas deverão ter maior impacto no sul e no leste da Ásia, com as projeções mais extremas sugerindo que o fluxo do rio Ganges poderia mais que dobrar se o aquecimento global chegar a 2°C. Já o sul da África e a América do Sul serão mais afetados pelas secas. Os fluxos fluviais na Amazônia deverão cair em até 25%.

O estudo calculou o Índice de Vulnerabilidade ao Clima e à Fome (Hunger and Climate Vulnerability Index) para os países analisados. O maior aumento deste índice em relação à linha de base foi encontrado para Oman, país seguido por Índia, Bangladesh, Arábia Saudita e, de certa forma surpreendentemente, pelo Brasil e alguns de seus vizinhos.

Voltaremos a este estudo oportunamente.

https://www.sciencedaily.com/releases/2018/04/180402085901.htm

http://rsta.royalsocietypublishing.org/content/roypta/376/2119/20160452.full.pdf

 

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