Conectando eventos do tempo com a mudança climática

Eventos extremos do tempo, como tempestades intensas, secas e ondas de calor, têm aumentado (pg5) desde meados do século 20 devido à mudança no clima causada pelas atividades humanas. Os cientistas climáticos preveem (pg5) que estes eventos extremos se tornem mais frequentes e mais intensos como resultado da mudança do clima.

 

Até recentemente não era possível ligar um evento individual do tempo às mudanças do clima. Os cientistas poderiam dizer, por exemplo, que as ondas de calor estão se tornando mais comuns ou mais intensas por conta da mudança no clima, mas não poderiam dizer que a mudança do clima fez uma onda de calor em particular mais provável ou mais intensa. Desenvolvimentos da ciência climática transformaram esta situação, embora exista uma má interpretação bastante difundida segundo a qual isto ainda seja impossível.

 

O campo científico dos “estudos de atribuição” permite agora que os cientistas avaliem se a mudança climática fez ou não um particular evento do tempo ser mais provável ou mais intenso. O primeiro destes estudos analisou o verão europeu de 2003 (o mais quente dos últimos 500 anos) e concluiu que a mudança do clima fez a onda de calor daquele verão pelo menos duas vezes mais provável. Desde então, mais de 140 estudos examinaram a real interferência da mudança do clima sobre eventos extremos do tempo em particular, tornando-os – ou não – mais prováveis.

 

Nos estudos de atribuição, os cientistas comparam o clima como é hoje, o qual foi aquecido em pouco mais de 1°C pelas atividades humanas, com o clima como seria sem a influência humana. Por meio de milhares de simulações rodadas em computador, os cientistas analisam se, e como, um padrão de eventos do tempo é influenciado pela mudança do clima. Isto permite aos cientistas concluir, por exemplo, que um evento do tempo que teria ocorrido uma vez a cada 500 anos sem mudanças no clima, ocorra uma vez a cada 50 anos no clima corrente.

 

Estudos de atribuição podem agora serem conduzidos em poucos dias depois da ocorrência. Por exemplo, dentro da semana de fortes tempestades que alagaram Paris em maio de 2016, cientistas concluíram que a mudança do clima fez aquele evento excepcional duas vezes mais provável.

 

Um mapa mostrando os eventos temporais estudados pelos cientistas para investigar sua relação com a mudança do clima pode ser visto aqui. O ‘Bulletin of the American Meteorological Society’ publica um sumário anual dos estudos de atribuição.

 

Abaixo listamos alguns exemplos de eventos do tempo que os cientistas descobriram terem se tornado mais prováveis ou mais intensos pela mudança do clima:

 

Argentina

  • A onda de calor que afetou a Argentina em dezembro de 2013 foi tornada cinco vezes mais provável pela mudança do clima.

 

Ásia

  • A onda de calor de 2016, que afetou particularmente a Índia – onde pelo menos 580 pessoas morreram – e o sudeste asiático, não seria possível (pg97) sem a mudança climática.

 

Austrália

  • O branqueamento da Grande Barreira de Corais ocorrido em 2016, quando mais de 60% da porção norte da barreira foi devastada, foi feito mais provável (pg144) pela mudança no clima.
  • Metade do recorde de calor que aconteceu na maioria da Austrália em outubro de 2015 se deveu à mudança do clima. Um outro estudo sobre a onda de calor, específico para a região sul da Austrália, mostrou que a mudança do clima teve uma influência substancial.
  • A onda de calor que atingiu a cidade de Adelaide em janeiro de 2014, durante a qual as temperatura da região excederam 42°C por cinco dias consecutivos, foi feita praticamente duas vezes mais provável pelas mudanças no clima (pg145).

 

Brasil

  • A seca severa que afetou a região sul da Amazônia em 2010 foi feita mais provável pela mudança do clima.

 

Canadá

  • Um estudo dos incêndios florestais ocorridos em 2016 em Fort Murray, na província de Alberta, mostrou que a mudança no clima os fez cinco vezes mais prováveis (pg60) na região.
  • As secas da primavera de 2015 nas províncias da British Columbia e Alberta, nas quais alguns rios chegaram ao seu nível mais baixo em pelo menos 100 anos, foram feitos mais prováveis pela mudança do clima.

 

China

  • As inundações que ocorreram na região de Yangtze-Huai em junho e julho de 2016, depois de chuvas muito fortes, foram 35% mais prováveis (pg102) pela mudança do clima.
  • As inundações severas que ocorreram no sudeste da China em maio de 2015, causadas por períodos curtos de chuvas intensas, foram feitas mais prováveis pela mudança do clima.
  • O verão extremamente quente ocorrido na China ocidental em 2013, o mais quente na história, foi 60 vezes mais provável pela mudança do clima.

 

EUA

  • As inundações costeiras de Miami de setembro de 2015, geradas por marés altas, foram feitas mais de cinco vezes mais prováveis pela mudança do clima.
  • A seca que afetou a Califórnia em 2013 e 2014 foi feita mais provável e mais severa pela mudança do clima, de acordo com múltiplos estudos.
  • O calor severo que afetou o Texas no verão de 2011, que quebrou todos os recordes para a região, foi feito 10 vezes mais provável pela mudança do clima.

 

Oriente Médio

  • Uma onda de calor que ocorreu no nordeste da África e no Oriente Médio em agosto de 2015 e que matou mais de 90 pessoas no Egito, foi tornada 69% mais provável pela mudança do clima
  • A seca que afetou Israel, Jordânia, Líbano e Palestina em 2014, e que devastou a produção de grãos, foi feita 45% mais provável (pg66) pela mudança do clima.