ClimaInfo, 12 de abril 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

NA RETA FINAL DA CONFERÊNCIA DA OMI, BRASIL CONTINUA RESISTINDO A METAS DE REDUÇÃO DAS EMISSÕES DA NAVEGAÇÃO INTERNACIONAL

Brasil, Argentina e Arábia Saudita continuam resistindo ao estabelecimento pela OMI (Organização Marítima Internacional) de metas absolutas de redução de emissões de carbono para a navegação internacional. Na outra ponta, a União Europeia e as pequenas nações-ilha querem que zerar completamente as emissões dos navios até 2050, a única proposta alinhada às metas do Acordo de Paris. Entre os extremos, as propostas do Japão e da Noruega sugerem reduções de emissões entre 50% e 60% até 2050 ou 2060. Aparentemente, estas propostas têm apoio de  80% dos negociadores presentes na OMI.

Os negociadores brasileiros estão focados na nossa pauta de exportações de minérios e grãos, preocupados com a perda de competitividade devida a um eventual aumento no custo dos fretes, e pedem compromissos relacionados com aumentos de eficiência das embarcações.

Irônica situação: o país orgulhoso de sua performance nas negociações climáticas que levaram ao Acordo de Paris, se vê defendendo a continuidade das altas emissões de carbono da navegação para exportar minério de ferro (o qual emitirá muito lá na China quando da sua transformação em aço) e soja (a qual, ao ser digerida por ruminantes chineses e europeus, emitirá muito também).

https://business.mb.com.ph/2018/04/10/imo-under-pressure-to-tackle-growing-co2-emissions/

https://www.clarin.com/opinion/limpieza-transporte-maritimo-beneficiara-america-latina_0_rkGI_c5sz.html

http://www.climatechangenews.com/2018/04/10/countries-inch-towards-bare-minimum-climate-target-shipping/

 

MOREIRA FRANCO COMEÇA “CAUSANDO” NAS MINAS E ENERGIA

Como o mercado reagiu negativamente à sua nomeação, o novo ministro das minas e energia, Moreira Franco, quis se mostrar alinhado a duas das maiores preocupações deste mesmo mercado: a privatização da Eletrobras e a reforma do setor elétrico. Anteontem, o angorá, como é conhecido, solicitou ao novo presidente do BNDES a aceleração da avaliação da Eletrobras e usou seus contatos no Congresso para solicitar a aceleração da análise do projeto de lei que trata da privatização. Ao mesmo tempo, também solicitou a seus contatos no Congresso celeridade nas tratativas do projeto de reforma do setor. Pedir custa pouco. A ver se os pedidos serão atendidos. Em especial, a Eletrobras se transformou num cabo-de-guerra entre os que querem alguns de seus pedaços e o grupo que defende a continuidade da empresa como estatal, este último aliado a outro grupo, um tanto menos altruísta, que quer manter os cabides de emprego ao alcance de suas indicações. O presidente da Câmara deve ter se sentido um tanto incomodado, pois disse pensar que “a articulação do ministro Moreira aqui não é boa, e a comissão já vai muito mal. A única coisa que eu disse é que, se a base não se organizar, vai ficar muito difícil votar”.

O desconforto com o ministro-angorá provocou mais uma baixa: o secretário de geologia e mineração, Vicente Lôbo, pediu demissão.
http://www.valor.com.br/brasil/5443939/moreira-mobiliza-bndes-e-lider-na-camara-para-avancar-em-privatizacao

 

VIVENDO SOB O DOMÍNIO DO RISCO DE AUMENTOS BRUTAIS NAS CONTAS DE ENERGIA

Não bastassem os aumentos incríveis nas contas de eletricidade dos últimos anos causados por uma gestão desastrosa, o deputado Júlio Lopes (PP-RJ), relator da medida provisória da privatização da Eletrobrás, enfiou uma modificação-bomba no projeto de conversão da MP. Ele quer a Petrobrás sendo ressarcida da defasagem de preço do gás natural vendido às termelétricas depois do apagão de 2001. Um rombo estimado em R$ 2,5 bilhões que seria rateado entre nós, os consumidores. As ideias do deputado embutem uma maldade adicional: como a maioria destas térmicas se localiza no Nordeste, ele aventa a possibilidade de fazer o rateio conforme a geração. Ou seja, o consumidor do Nordeste arcaria com a maior parte do prejuízo. A Petrobras, claro, agradece.

Vem por aí um outro rateio de mais de R$ 80 milhões, para custear o gasto adicional das térmicas do Ceará durante a recente grande seca.   Estas ganharam na justiça o direito de pagar o valor contratado. Com isto, o governo do Ceará que havia aumentado o preço da água fornecida, terá que devolver o dinheiro. Claro que a conta também recairá sobre todos consumidores.

E tem mais. O TCU analisou os muitos subsídios e incentivos que grassam no setor elétrico. A análise revelou que a Aneel, agência que tem a responsabilidade de zelar pela sua correta aplicação, não está fazendo direito seu trabalho. Alguns dos itens não tiveram nenhuma fiscalização. Outros tiveram fiscalização fraca. As revelações reforçam ainda mais a preocupação com as nomeações políticas que podem ser feitas por Moreira Franco.

http://www.valor.com.br/brasil/5443965/risco-de-tarifaco-na-energia

http://www.valor.com.br/brasil/5443937/mudanca-em-mp-aumenta-contas-de-luz

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,usinas-termicas-do-ceara-custam-r-81-milhoes-na-conta-de-luz,70002263296

https://www.istoedinheiro.com.br/termicas-do-ceara-custam-r-81-mi-na-conta-de-luz/

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,aneel-nao-fiscaliza-subsidios-afirma-tcu,70002248879

 

CURTAS SOBRE BIODIESEL, PETRÓLEO E DERIVADOS

Anteontem, aconteceu a 60o leilão de biodiesel, quase todo ele voltado para a mistura obrigatória de 10% no diesel fóssil. O preço médio foi de R$ 2,423/litro, enquanto o preço do litro de diesel de petróleo na saída da refinaria anda abaixo de R$ 2.

Ontem, foi definido que haverá mais um leilão de áreas de exploração do pré-sal, desta vez em agosto. Serão ofertadas áreas que não puderam ser leiloadas em eventos anteriores e espera-se, novamente, arrecadações na casa dos bilhões de reais. O novo ministro da fazenda deve estar sonhando com o dinheiro para cobrir os rombos recentes que o congresso impôs via Refis e anistias a dívidas do Funrural.

O pai do ex-ministro Coelho Filho, o deputado Coelho (pai) deu uma mexida numa medida provisória que passou pelas suas mãos buscando tirar um belo pedaço do que o governo esperava arrecadar vendendo petróleo bruto, obrigando-o a usar os recursos para construir mais refinarias. Diz Coelho que o país gasta um monte importando diesel e gasolina que poderiam ser produzidos aqui. Ele não disse, mas é provável que esteja pensando em mais refinarias no nordeste, embora o pré-sal fique no Sudeste.

Não passa pela cabeça das suas excelências pensar em um Brasil sem fósseis.

https://www.ultimoinstante.com.br/ultimas-noticias/economia/setores/anp-leilao-de-biodiesel-negocia-928-milhoes-de-litros/230806/

http://epbr.com.br/5o-leilao-do-pre-sal-deve-ser-aprovado-nesta-quarta-feira

http://www.valor.com.br/brasil/5443945/alteracao-em-medida-sobre-venda-de-petroleo-desagrada-governo

https://moneytimes.com.br/receitas-com-leilao-de-petroleo-deverao-custear-derrubada-de-vetos-diz-guardia/

 

MELHORAR A PRODUTIVIDADE DO PEQUENO AGRICULTOR REDUZ A PEGADA DE CARBONO DOS ALIMENTOS

Quando se pensa em agricultura no Brasil recente, vem a imagem de imensas plantações de soja cheias de tratores super tecnológicos. Mas 70% do alimento que chega à mesa dos brasileiros é produzida por pequenos agricultores, grande parte trabalhando em sistemas de agricultura familiar. Um trabalho recente investigou essa multidão de pequenos produtores em 15 países, dentre os quais o Brasil, examinando 134 culturas e criações que cobrem uma área de quase 5 milhões de hectares. Os pesquisadores mostraram que a introdução de melhorias de manejo e de tecnologias aumentam a produtividade e  reduzem as perdas pós-colheita. E, na maioria dos casos, reduzem as emissões de gases de efeito estufa. Mas os pesquisadores alertam que, embora com as modificações analisadas as emissões sejam menores do que num cenário business as usual, o crescimento da demanda por alimentos implicará aumento das emissões do setor.

http://iopscience.iop.org/article/10.1088/1748-9326/aab0b0

 

DESMATAMENTO MASSIVO NA ÁFRICA EMITIU BILHÕES DE TONELADAS DE CARBONO NOS ÚLTIMOS ANOS

As florestas, savanas e matas da África subsaariana estão sendo destruídas por uma combinação da ação humana com secas provocadas pela mudança do clima. Uma pesquisa recente mostra que a região emitiu 2,6 bilhões de toneladas de CO2 entre 2010 e 2016. O uso de imagens de satélite na faixa de microondas passivas permitiu estimar o estoque de carbono na vegetação e acompanhar sua variação ao longo do tempo. A precisão obtida com o método não permite “fotografar” o desmatamento, como fazem os satélites usados por aqui. Mas as imagens servem para dar uma ideia bem precisa da variação dos estoques de carbono em grandes regiões. Os pesquisadores observaram que, nos períodos El Niño, as secas foram as principais causas da perda de carbono, enquanto o desmatamento antrópico pesou menos. O contrário aconteceu quando não havia anormalidades no clima global.

Para efeito de comparação, segundo o SEEG, no mesmo período, as florestas brasileiras perderam um estoque de 6,6 bilhões de toneladas de CO2, duas vezes e meia o perdido na África. Bom observar que, em 2010, o grande pico do desmatamento da Amazônia já havia passado.

https://www.nature.com/articles/s41559-018-0530-6

https://www.carbonbrief.org/africas-vegetation-has-lost-2-6bn-tonnes-of-co2-in-seven-years

http://seeg.eco.br/

 

IMPACTO DA MUDANÇA DO CLIMA NA AGRICULTURA PODE AUMENTAR AINDA MAIS A DESIGUALDADE SOCIAL

Segundo relatório recente da BMI Research sobre as tendências da agricultura, espera-se uma grande mudança nos modos de produção por conta das mudanças previstas no clima. Estas trazem uma grande variabilidade nas condições do tempo, tornando as previsões do tempo menos precisas e os regimes hidrológicos mais variantes, alternando fases de escassez com episódios de chuvas devastadoras. O relatório aponta que a agricultura terá que intensificar o uso de tecnologia, incluindo inteligência artificial e big data, para fazer as escolhas corretas nos momentos corretos. Mas isto implica menor uso de mão de obra e uso mais intensivo de capital e, portanto, maiores concentrações de recursos e terras. Ou seja, aumento da desigualdade social.

https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-04-10/climate-change-will-disrupt-the-way-big-agriculture-is-done

 

MAIS LIBERDADE PARA FUNDO NORUEGUÊS INVESTIR EM RENOVÁVEIS

O maior fundo de pensão do mundo, o da Noruega, quer ampliar o leque dos seus investimentos em fontes renováveis por meio da aplicação de recursos em empresas de capital fechado. O conselho de governança do fundo pede muito cuidado, já que empresas não listadas são, em geral, menos transparentes do que as que precisam submeter balanços e análises auditadas a seus acionistas. Por um lado, o conselho pode vir a exigir certos controles sobre onde estão aplicando seus recursos, mas, por outro lado, sabe da importância e da urgência do aumento da oferta de energia renovável para a mitigação dos impactos da mudança do clima. O pessoal também está levando em conta que 75% dos investimentos em renováveis acontecem em países em desenvolvimento, onde as estruturas de controle e auditoria são mais frouxas do que na Noruega.

https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-04-10/norway-once-again-rejects-private-equity-for-1-trillion-fund

https://www.cnbc.com/2018/04/10/reuters-america-update-3-norways-wealth-fund-should-not-expand-to-private-equity-government.html

 

CRISE NO SETOR ELÉTRICO CHINÊS FAZ CARVÃO PERDER ESPAÇO

A diferença entre o que se percebe como crise no sistema elétrico aqui e na China é enorme. Em 2015, a dívida das carvoeiras chinesas chegou a ameaçar bancos. Estes emprestaram, confiando na segurança do negócio, já que o parque elétrico chinês ainda é bastante dependente do carvão. Mas o crescimento do país deu um soluço, as demandas de eletricidade e, consequentemente, as do carvão também soluçaram, fazendo com que os bancos ficassem com um mico nas mãos. Entre aumentar as tarifas da energia, o que não seria popular, ou o preço do carvão, o governo chinês optou por autorizar um aumento no preço deste último, mas não autorizou aumento das tarifas. Em dois anos, o carvão tirou o pé do atoleiro e o setor elétrico ocupou seu lugar. Aliás, um atoleiro pelo menos duas vezes maior do que o do carvão. No final de 2017, as geradoras deviam a bagatela de US$ 1,3 trilhão, fazendo com que o governo tenha que interferir mais uma vez, desta vez reduzindo a margem do carvão para salvar as elétricas. Esta gangorra favorece os investimentos em renováveis, já que nestas não se paga pelo Sol nem pelo vento.

Por aqui, os rombos ainda estão na casa dos bilhões, mas tem gente querendo taxar o vento.

https://www.wsj.com/articles/coal-is-about-to-lose-face-in-china-1523437020


FREQUÊNCIA DE ONDAS DE CALOR NO MAR AUMENTA 34% EM RELAÇÃO AO SÉCULO PASSADO

Usando registros históricos tomados desde 1925, pesquisadores compilaram o número de ondas de calor no mar, momentos em que as águas se aquecem acima da média de cada período. O branqueamento de corais, como os da Grande Barreira, está associado a estas ondas de água quente, assim como a perda de 36% de um campo de ervas marinhas ocorrido também nas proximidades da Austrália. A pesquisa revela que estas ondas de calor estão 34% mais frequentes do que há quase cem anos, e estão durando quase 20% à mais. Recentemente, a comunidade científica chegou a uma definição precisa do que é uma onda de calor marinha: “é quando a temperatura diária do oceano excede o limite do que é considerado ‘muito quente’ para o dado período do ano… por no mínimo cinco dias”.

Em tempo: publicamos no site do Climainfo um briefing sobre a ciência da atribuição de eventos extremos à mudança do clima. Se há um tempo atrás, cientistas eram supercuidadosos ao apontar o culpado, hoje, com medições mais acuradas e modelos climáticos muito mais poderosos, a situação mudou. As expressões-chave são: “tal evento ficou tantas vezes mais provável de ocorrer” ou “ele teria uma probabilidade muito baixa ou não teria ocorrido se não fosse a mudança do clima”.

https://www.carbonbrief.org/marine-heatwaves-have-become-34-more-likely-over-past-century

http://climainfo.org.br/2018/04/10/conectando-eventos-do-tempo-com-mudanca-climatica/

 

PLANTAS ALPINISTAS FOGEM DO AQUECIMENTO GLOBAL

As plantas estão aprendendo a escalar os Alpes para fugir do aumento da temperatura mais abaixo. Pesquisadores vêm acompanhando a quantidade de espécies encontradas em mais de 300 montanhas dos Alpes; entre 1957 e 1966, o número de espécies aumentou um pouco, 1,1%. Mas nos últimos dez anos, o crescimento do número de espécies encontradas se acelerou, chegando a 5,5%. Segundo os pesquisadores, a aceleração se casa perfeitamente com o aumento da temperatura média na região.

https://www.nature.com/articles/s41586-018-0005-6

https://www.eurekalert.org/pub_releases/2018-04/au-iop040318.php

 

Siga o ClimaInfo nas redes sociais: www.facebook.com/climainfo e www.twitter.com/climainfonews