ClimaInfo, 18 de abril 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

É POSSÍVEL AUMENTAR A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA SEM CORTAR MAIS NENHUMA ÁRVORE

Em debate realizado no Senado na semana passada foi apresentada uma ideia que parece ser capaz de acabar com o desmatamento e, ao mesmo tempo, ampliar a produção agropecuária em todo o país. A ideia, exposta pelo engenheiro florestal Tasso Azevedo, é simples: proibir todo e qualquer desmatamento no território nacional. Segundo ele, a proibição incentivaria o aumento da produtividade agropecuária, criando o que ele prevê ser um cenário de brutal crescimento desta: “redução de desmatamento e ganhos de produtividade são irmãos siameses, uma acompanha o outro”. Azevedo dá o exemplo do que aconteceu no estado de São Paulo: a lei da Mata Atlântica, de 2006, proibiu definitivamente o avanço floresta adentro. Com isto, a área ocupada pela agropecuária foi reduzida em um milhão de hectares, enquanto a ocupada por florestas nativas e reflorestadas aumentou, a produção agrícola cresceu 50% em 16 anos, e o desmatamento, estancou.

Mas quanta área estaria disponível para o crescimento agrícola neste novo cenário? Para responder a esta pergunta, vamos tomar como base o cenário de 2016: naquele ano, 32% do território brasileiro era ocupado pela agropecuária, o que corresponde a 269 milhões de hectares, sendo que 170 milhões de hectares eram ocupados por pastagens, 75 milhões pela agricultura e 24 milhões não estavam sendo utilizados. Dos 170 milhões de hectares de pastagens, algo entre 30 e 40 milhões estavam degradados e com produtividade em queda; a pecuária brasileira é um desastre, da ordem de 1,3 cabeça por hectare; dobrando esta produtividade para 2,6 cabeças por hectare, seria possível liberar 40 milhões de hectares para a agricultura. Somados então os 24 milhões de hectares não aproveitados em 2016 com os 40 milhões passíveis de serem liberados pelo aumento da produtividade da pecuária, o Brasil teria um estoque de mais de 60 milhões de hectares para atender às demandas da produção agrícola e da recuperação florestal. Tasso Azevedo diz que “não faz sentido gastar para desmatar se temos este ativo que pode ser recuperado. Nosso desafio é recuperar as áreas improdutivas e degradadas do país”.

Se a ideia apresentada por Azevedo é lógica, ousada e animadora, o contexto político brasileiro parece não permitir sonhar com sua implantação rápida. Como relatado por Daniela Chiaretti no artigo do Valor Econômico que aqui pretendemos resumir, o senador Jorge Viana, no mesmo debate, lembrou que seus adversários políticos dizem que proteger o ambiente é a política do atraso, e que modelo bom de desenvolvimento da Amazônia é o de Rondônia, onde se desmatou tudo o que se podia e mais um tanto.

http://www.valor.com.br/brasil/5458363/uma-boa-proposta-no-brasil-de-geni


SENADO TRABALHA PARA ESCONDER DOS CONSUMIDORES A PRESENÇA DE TRANSGÊNICOS NOS PRODUTOS ALIMENTARES

Anteontem, aproveitando-se do senado estar praticamente vazio, dois senadores – somente – aprovaram na comissão de meio ambiente o PLC 34/2015, do deputado ruralista Luis Carlos Heinze, que

altera a Lei de Biossegurança para liberar os produtores de alimentos de informar ao consumidor nos rótulos dos seus produtos sobre a presença de componentes transgênicos. Ou seja, acaba com a obrigatoriedade destes rótulos estamparem o “T” que indica a presença de ingredientes transgênicos. O relator na comissão, senador Cidinho Santos, disse que “uma análise científica rigorosa” é o melhor caminho para que se afaste “o medo em torno deles”, a seu entender fruto de “ignorância e obscuridade”, embora seja exatamente para, informar o consumidor “ignorante”, que existe o selo. Pela lógica, esconder a informação do consumidor, isso sim, é apostar na tal “ignorância e obscuridade”.

Ontem, os senadores da Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor (CTFC) aprovaram o projeto em regime de urgência, despachando-o para votação terminativa em plenário. Quando fechamos esta nota, o PLC estava no plenário “aguardando leitura de requerimento” para ser votado.

Se os ilustres senadores nos permitem um aparte, sugerimos que, ao retirarem o “T” dos rótulos, acrescentem em letras bem grandes a frase: “efeitos colaterais são da exclusiva responsabilidade do Senado Federal”.

https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2018/04/17/produtos-com-transgenicos-nao-precisam-mais-do-selo-de-identificacao-aprova-cma

https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/120996


ARTIGO SOBRE PREÇO DA GASOLINA NO BRASIL OMITE O PRINCIPAL

Marcelo Gauto escreveu um artigo para o site E&P Brasil (energia e petróleo) comparando o preço médio da gasolina nas bombas brasileiras com o preço em outros países. Ele diz que a nossa está quase no meio de uma lista de 167 países – ocupamos a 69a posição, sempre considerando a população e o PIB dos países. Quem gosta de dizer que temos a gasolina mais cara do mundo, vai se decepcionar. Gauto diz que os três países nos quais a gasolina é mais cara são a Islândia, Hong Kong e a Noruega, sem mencionar que esta última tem um dos maiores impostos sobre o carbono do mundo, exatamente para o pessoal deixar o carro em casa. E a Islândia segue de perto. Gauto mostra que o preço da gasolina é o preço cobrado pela refinaria ou importador mais os impostos e mais a margem de comercialização. Ele, como muita gente, reclama dos impostos no Brasil serem altos demais. De fato são, mas se queremos enfrentar a mudança do clima a sério, a gasolina queimada em carros particulares precisará ser muito mais cara.

http://epbr.com.br/o-preco-da-gasolina-e-caro-no-brasil/

 

MOREIRA FRANCO QUER CENTRALIZAR ATIVIDADES DA ENERGIA NUCLEAR

O amigo de Temer nas minas e energia, Moreira Franco, quer centralizar tudo o que se faz no campo da energia nuclear. Isto inclui o desenvolvimento de um submarino nuclear pela Marinha, que vem sendo feito vagarosamente desde a época da ditadura militar, centros de pesquisa científica que respondem ao ministério da ciência, e os reatores de Angra que, até agora, são da Eletrobrás e que deixarão de sê-lo se e quando esta for privatizada. O ex-czar da área nuclear, responsável por boa parte do atual organograma, é o vice-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva. Durante um bom tempo, ele centralizou muito do poder que, agora, Moreira Franco quer concentrar de vez.

Em tempo: o vice-almirante foi preso pela Lava-Jato.
http://www.valor.com.br/brasil/5458337/governo-trabalha-em-novo-desenho-para-area-nuclear-afirma-moreira


CUSTO DOS EVENTOS EXTREMOS DE 2017 PASSAM DOS US$ 330 BILHÕES

Os custos gerados pelos eventos climáticos extremos do ano passado somam a segunda mais alta conta climática já registrada. A parte destes que tinha seguro jogou uma conta para as seguradoras que passa dos US$ 140 bilhões, esta sim, um recorde absoluto. Somente os três furacões caribenhos, Harvey, Irma e Maria, custaram US$ 92 bilhões, cerca de 5% do PIB brasileiro. Os vários incêndios florestais que aconteceram na Califórnia, Portugal, Espanha, Canadá e Austrália causaram prejuízos de US$ 14 bilhões e mais de 11.000 mortes ou desaparecimentos. As seguradoras sabem que a conta, tanto a geral quanto a delas, só aumentará daqui para frente.

http://www.swissre.com/media/news_releases/nr20180410_sigma_global_insured_loses_highest_ever.html

http://texasclimatenews.org/?p=14888

 

A MUDANÇA DO CLIMA ENTRA NA PAUTA PREPARATÓRIA PARA A REUNIÃO DO G20

Este ano, a reunião do G20 acontecerá, pela primeira vez, na América do Sul, em Buenos Aires, nos dias 30 de novembro e 1o de dezembro, dias antes da conferência global do clima. Na semana passada, começaram as reuniões preparatórias sobre o tema climático. O tom dado pela Argentina é a da construção de ferramentas para a consecução das metas do Acordo de Paris. Até o ano passado, o tema climático era tratado junto com o tema energia. A separação, necessária, se fez sob a gestão argentina. Dado a posição refratária dos EUA à simples menção da palavra “clima”, busca-se definir as linhas onde há boa chance de obter consensos. Uma das principais diz respeito à criação de uma infraestrutura resiliente à eventos meteorológicos extremos. E espera-se que, apesar de Trump, avancem nos caminhos para uma economia global de baixa emissão.

Em tempo: os países do G20 são responsáveis por 80% das emissões globais de gases de efeito estufa.

https://www.clarin.com/politica/metas-plazos-esperanzas-debut-capitulo-climatico-20_0_r1qLV9zhz.html

 

REINO UNIDO REVISARÁ SEUS COMPROMISSOS COM ACORDO DE PARIS

A Ministra do Crescimento Limpo do Reino Unido, Claire Perry, anunciou uma revisão de suas metas de longo prazo para aumentar o nível de ambição. Ela chegou a mencionar que é possível que se adote como meta, até 2050, zerar as emissões líquidas, ou seja, remover da atmosfera a mesma quantidade emitida de gases de efeito estufa.

O anúncio feito pelo Reino Unido deve pressionar a União Europeia e outras grandes economias a fazerem o mesmo, ou pelo menos incentivará o debate nestes países sobre o que mais podem fazer.

https://www.theguardian.com/environment/2018/apr/17/uk-to-review-climate-target-raising-hopes-of-a-zero-emissions-pledge


TRUDEAU, DO CANADÁ, ASSINA PARCERIA AMBIENTAL COM A FRANÇA E VOLTA CORRENDO PARA CASA PARA PRESSIONAR PELA CONSTRUÇÃO DE GASODUTO POLÊMICO

O jovem primeiro ministro canadense visitou a França e, na 2a feira, assinou com o presidente francês Macron um compromisso para a proteção do planeta e as gerações futuras: “acelerar as ações climáticas e trabalhar juntos para um futuro próspero e limpo”. As principais ações do compromisso se referem à redução das emissões do transporte em terra, mar e ar, à promoção da eficiência energética, à mensuração e precificação das emissões e à redução das emissões dos setores agrícola e florestal, dentre outras.

O compromisso não menciona os combustíveis fósseis, setor econômico no qual Trudeau mostra claramente a que veio. Acontece que a província de Alberta tem muito óleo e gás betuminoso, o que faz do Canadá o país com a 3a maior reserva do mundo. Sobre a mesa, no Canadá, está um projeto de oleoduto que que segue de Alberta até o Oceano Pacífico, atravessando a província da Colúmbia Britânica até Vancouver. Só que o pessoal da Colúmbia não quer ouvir falar de um tubo imenso cheio de riscos de vazamentos e desastres. No final de semana, o dono do projeto ameaçou suspender tudo. E, para piorar, o governo de Alberta, talvez inspirado em Putin, ameaçou cortar o fornecimento de gás para a Colúmbia Britânica. Trudeau voltou correndo da França dizendo que construir o oleoduto “é algo que os canadenses esperam que façamos e, sinceramente, que investidores internacionais, que querem criar empregos no Canadá, querem nos ver fazendo.”

Pois é, a pregação climática de Trudeau não durou o tempo do voo de Paris até Ottawa.
https://pm.gc.ca/eng/news/2018/04/16/canada-france-climate-and-environment-partnership

https://www.reuters.com/article/kinder-morgan-cn-pipeline-surprise/rpt-canadas-trudeau-faces-election-risk-after-firms-pipeline-surprise-idUSL1N1RR0HX

https://thetyee.ca/News/2018/04/17/Pipeline-Battle-Escalates-Alberta-Turn-Off-Taps/

 

METAS DE PARIS REQUEREM 6 VEZES MAIS ENERGIA RENOVÁVEL ATÉ 2050

A Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA) publicou seu roadmap para chegarmos em 2050 sob um aquecimento da atmosfera menor que os 2oC das metas de Paris. Para tal, a IRENA estima ser necessário instalar seis vezes mais fontes renováveis do que o instalado até agora, isto com a economia global continuando a  crescer. A IRENA calcula que os benefícios deste cenário para a saúde humana sejam 15% superiores à de uma situação business-as-usual. Este nível de investimento em renováveis abriria 11 milhões de empregos, só no setor energético. Quanto aos fósseis, a IRENA estima que as reservas que permanecerão inexploradas, os tais “ativos encalhados”, chegarão a US$ 11 trilhões. A Agência também estima que, a continuarem as tendências atuais, mesmo com mais renováveis entrando, o orçamento de carbono para não estourarmos a meta dos 2oC será gasto em menos de 20 anos. Sextuplicar as renováveis implicará eletrificar massivamente a economia, tanto no transporte como na geração de calor, com eletricidade gerada em fontes renováveis, com destaque para os ventos e o Sol.

http://www.irena.org/publications/2018/Apr/Global-Energy-Transition-A-Roadmap-to-2050

https://www.pv-magazine.com/2018/04/17/irena-renewables-can-account-for-up-to-two-thirds-of-total-energy-use-and-85-of-power-generation-by-2050/

http://www.rechargenews.com/transition/1473260/paris-goals-need-sixfold-rise-in-renewables-uptake-rate-irena


GE LANÇARÁ AS MAIORES TURBINAS EÓLICAS DO MUNDO EM 2021

Todo ano alguém lança “a maior turbina do mundo”. A GE anunciou em março que investirá mais de US$ 400 milhões para construir a maior de todas até 2021. Hoje, a maior turbina instalada nos EUA é offshore e tem 175 metros de altura. O monstrinho da GE terá 260 metros. O ponto mais baixo da trajetória das pás ficará a 40 metros do solo e o diâmetro de giro destas será de 220 metros, mais ou menos o comprimento de dois campos de futebol. A turbina gigante terá capacidade de gerar 12 MW, mais que muita pequena central hidrelétrica no interior do Brasil. No mundo das eólicas, tamanho é documento e quanto maior a turbina melhor sua economia. A turbina da GE aproveitará as duas maneiras existentes para aumentar a geração das eólicas: o aumento do tamanho das pás e rotores, para que cubram uma área maior, aumentando assim sua capacidade de geração, e a elevação de todo o conjunto, já que os ventos de regiões mais altas da atmosfera são mais constantes, o que aumenta o tempo no qual o sistema gera eletricidade.

https://www.vox.com/energy-and-environment/2018/3/8/17084158/wind-turbine-power-energy-blades

 

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