ClimaInfo, 03 de maio 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

REVISTA NATURE CRITICA O “LICENCIAMENTO FLEX”

Um dos editores da Nature, Jeff Tollefson, escreveu sobre a ofensiva conservadora que tomou o congresso brasileiro e as ameaças ao meio ambiente que circulam nos seus corredores, comissões e plenários. Tollefson falou com gente do calibre de Carlos Nobre, Paulo Barreto e Mercedes Bustamante. A destacar a forte crítica que fez aos projetos de lei que solapam o instrumento do licenciamento ambiental. E, também, a perspectiva sombria deste clima conservador durar para além das eleições deste ano.

https://www.nature.com/articles/d41586-018-05022-2

 

SOBRE AS METAS DO RENOVABIO

O MME está trabalhando em um cronograma de metas para o Renovabio, o mecanismo que tem como objetivo aumentar o consumo de etanol frente ao de gasolina e, portanto, reduzir as emissões dos transportes em busca do cumprimento da promessa de 18% de bioenergia na nossa matriz energética feita junto ao Acordo de Paris. Os números parecem modestos: segundo o MME, hoje, os automóveis emitem 73,55 gramas de CO2e por unidade de energia e a meta é reduzir esta emissão em 7%. Ainda segundo o MME, como a frota de automóveis deve crescer a taxas maiores, sua emissão continuará crescendo. Mas, ainda segundo o MME, crescerá menos do que cresceria se não fosse o Renovabio, e a diferença seria da ordem de 80 milhões de tCO2e em 2028. Para chegar lá, o Renovabio criará uma “moeda parecida com o crédito de carbono” chamada de CBio, que é o valor associado à emissão de 1 tCO2e. O cronograma do programa indica que, em 2028, o comércio de CBios deverá girar por volta de R$ 3 bilhões. Estas contas indicam que o MME está trabalhando com um preço do carbono de 10 dólares/tCO2e.

Alguns problemas que vemos no que foi publicado:

– as metas nos parecem um tanto tímidas e talvez não se efetivem, principalmente porque o CBio representaria um aumento de algo em torno de 5 centavos por litro de etanol ou 3% do que o usineiro recebe, em dinheiro de hoje, muito pouco para enfrentar as flutuações do preço do açúcar na bolsa de Chicago;

– tudo o que se fala sobre o Renovabio se refere ao etanol e à gasolina. O carro elétrico parece ainda não ter entrado no horizonte governamental. Se estes veículos entrarem para valer na China e na Europa, como aparenta estar acontecendo, podem bagunçar as estimativas de crescimento de frota fóssil por aqui também; e

– embora o decreto do Renovabio fale em biodiesel e diesel, estes não foram mencionados nos números publicados, e a emissão provocada pelo uso do diesel no transporte é maior do que a da gasolina.

Enfim, nas palavras do bardo, parece muito barulho por nada.

http://www.valor.com.br/agro/5487085/mme-propoe-metas-para-o-renovabio

 

O POVO DA FLORESTA

A Repórter Brasil fez uma brilhante série de matérias sobre as estratégias dos povos indígenas que assumiram a frente de combate ao desmatamento. De grupos de vigilantes que expulsam madeireiros a tentativas frustradas de vender crédito carbono, esses grupos criam diferentes táticas para proteger a floresta, mas ao assumir várias funções do Estado, colocam sua vida em risco em batalhas de forças desiguais. Um depoimento em particular impressiona pela dose de realidade: “As comunidades estão expostas, correndo riscos em um momento em que a gente vê a violência avançar… Se você tem uma vereadora [Marielle Franco] sendo morta no centro da segunda maior cidade do Brasil, você pode imaginar o que essas comunidades estão correndo nas áreas longínquas” (Spensy Pimentel, antropólogo e professor da Universidade Federal do Sul da Bahia).

Não vamos resumir, pois o material vale leitura integral.

http://reporterbrasil.com.br/povodafloresta/

 

90% DO MUNDO RESPIRA AR POLUÍDO

POLUIÇÃO MATA 7 MILHÕES POR ANO

Os números sobre poluição atmosférica que a Organização Mundial da Saúde (OMS) acaba de publicar falam por si. Três bilhões de pessoas vivem nos países mais pobres do mundo. Uma grande parte destas, principalmente composta por mulheres e crianças, respira diariamente a fumaça da queima de lenha e estrume em fogões primitivos sem chaminé. As pequenas partículas de fumaça dos fogões, somadas às de caminhões, carros, SUVs, termelétricas e indústrias, causam o entupimento dos alvéolos dos pulmões e atingem a corrente sanguínea, onde provocam AVCs, doenças cardíacas, câncer e uma longa lista de infecções pulmonares. A OMS estima que, das mortes provocadas todo ano por esta doenças, 7 milhões têm origem no ar poluído. Destas, 40% são causadas pela fumaça que polui o ar do interior das casas, e 60% pela contaminação da atmosfera das cidades. Das 7 milhões de mortes mencionadas acima, 6,3 milhões ocorrem em países pobres e de renda média, principalmente na África e na Ásia. Aqui no Brasil, a OMS estima que o número de mortes atribuíveis à poluição é da ordem de 50 mil.

A OMS montou uma base de dados para monitorar o nível de material particulado suspenso na atmosfera de mais de 4 mil cidades em todo o mundo. Tomando como indicador somente a poluição por partículas realmente pequenas, as que medem menos de 0,00025 cm (PM2,5), 14 das 20 cidades mais poluídas ficam na Índia. Se forem incluídas as cidades dos vizinhos Paquistão e Bangladesh, o número sobe para 17. A primeira cidade chinesa mais poluída pelas PM2,5 é a 21a cidade na classificação geral. As três mais poluídas no Brasil ficam na região metropolitana de São Paulo: a própria capital, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul, todas classificadas para lá do 850o lugar. Se incluirmos partículas maiores, de até 0,001 cm, a pior cidade brasileira é Santa Gertrudes, no interior de São Paulo, com menos de 30 mil habitantes, mas com o maior pólo de indústrias cerâmicas do país.

A base de dados, os principais resultados e infográficos podem ser vistos e baixados do site da OMS. Os números da OMS foram destaque ontem no Valor Econômico e em toda a mídia internacional.

http://www.who.int/news-room/air-pollution

http://www.who.int/news-room/detail/02-05-2018-9-out-of-10-people-worldwide-breathe-polluted-air-but-more-countries-are-taking-action

http://www.valor.com.br/brasil/5495347/poluicao-do-ar-mata-mais-de-50-mil-por-ano-no-pais-diz-oms#

https://www.euractiv.com/section/air-pollution/opinion/strong-climate-action-will-help-combat-europes-urban-air-crisis/

http://www.lemonde.fr/planete/article/2018/05/02/la-pollution-de-l-air-tue-7-millions-de-personnes-par-an-dans-le-monde-alerte-l-oms_5293076_3244.html

https://www.independent.co.uk/environment/air-pollution-deaths-poor-countries-mongolia-who-smog-particulates-beijing-delhi-a8331036.html

http://www.perfil.com/noticias/ciencia/siete-millones-de-muertos-al-ano-por-respirar-aire-contaminado.phtml

https://www.hindustantimes.com/india-news/14-out-of-world-s-20-most-polluted-cities-in-india-delhi-and-varanasi-the-worst-who/story-cjdPLlaCZoaxflqoKGxgEI.html

 

EUA: SALVAR O CLIMA OU ACABAR COM A ENERGIA NUCLEAR?

O boom do gás natural impulsionado pelo fracking nos EUA ajudou o setor elétrico a reduzir sua pegada de carbono aposentando muitas usinas a carvão. Agora, a enxurrada de gás natural barato ameaça, também, a energia nuclear. Esta, apesar de todos os seus problemas, ainda é a maior fonte de eletricidade de baixa emissão de carbono do país. No momento, quatro usinas nucleares ameaçam fechar anos antes das datas previstas para seu descomissionamento (a menos que recebam ajuda do Estado, of course): a infelizmente famosa Three Mile Island e a Beaver Valley, na Pensilvânia, e a Davis-Besse e a Perry, em Ohio. O que para os ativistas antinucleares é motivo de comemoração, pode vir a ser um problema para o clima, já que a energia das usinas nucleares prestes a fechar será substituída, pelo menos em grande parte, pelo gás natural, o que pode aumentar as emissões do setor.  

Para permanecer no negócio, os proprietários de usinas nucleares estão apelando à ajuda do governo federal. A FirstEnergy chegou a pedir ao governo federal que seja declarada “emergência de rede” para manter suas usinas a carvão e nucleares em funcionamento. Nova York e Illinois estão subsidiando usinas nucleares em dificuldades por meio de “créditos de emissões zero”, subsídios dados às plantas com base na quantidade de poluição por carbono evitada.

A situação precária da energia nuclear está criando um dilema para os grupos que há muito se opõem à energia nuclear. A solução encontrada por um dos maiores grupos ambientalistas dos EUA, o Sierra Club, é usar o dinheiro gasto na manutenção da operação das usinas nucleares para a construção de novas plantas de energia renovável. A organização apoiou a manutenção em operação de uma planta nuclear em Illinois cuja empresa proprietária também investe em renováveis, como uma “política de eliminação gradual” da energia nuclear.

Neste mesmo sentido, o estado de Nova Jersey gastará US$ 300 milhões por ano para manter três usinas nucleares operando, ao mesmo tempo em que elevou suas metas de energia renovável para 50% até o ano 2030.

https://www.alleghenyfront.org/as-nuclear-power-loses-ground-environmentalists-are-torn-save-nuclear-for-climates-sake

 

SISTEMA PÚBLICO DE ÔNIBUS DE NY SERÁ ELÉTRICO ATÉ 2040

A cidade de Nova York pretende que toda sua frota pública de ônibus seja elétrica até 2040. A meta foi anunciada na semana passada pela Metropolitan Transportation Authority (MTA). A MTA ressalva que isto dependerá da maturidade da tecnologia, tanto da embarcada nos veículos quanto da de recarga das baterias, mas que está seriamente comprometida com a meta. O anúncio é parte de um ambicioso plano de ação que busca aumentar o número de passageiros e a velocidade média do serviço, que é muito lenta, da ordem de 9 km/h. Esta velocidade média implica em grande consumo de combustível e, consequentemente, maior volume de emissões de gases de efeito estufa e de poluentes danosos à saúde.

A MTA espera que o plano traga, também, benefícios para a comunidade negra da cidade: um relatório divulgado no início do mês pela New York City Environmental Justice Alliance revelou que 75% das garagens de ônibus de Nova York se localizam em comunidades negras, mais afetadas, portanto, pelas emissões de poluentes dos veículos a diesel.

Um estudo realizado em 2016 pela Universidade de Columbia estimou que a troca de cada ônibus diesel por um elétrico reduziria os custos com doenças respiratórias e outras em cerca de US$ 150 mil. O estudo também mostrou que os custos de combustível e manutenção cairiam em US$ 39.000 por ano por veículo e que a cidade poderia reduzir as emissões de dióxido de carbono no total da frota em 575 mil tCO2e por ano.

https://insideclimatenews.org/news/26042018/nyc-air-pollution-electric-bus-public-transportation-mta-clean-technology

 

EUA: 18 ESTADOS PROCESSAM GOVERNO TRUMP EM DEFESA DAS REGRAS CLIMÁTICAS VEICULARES DE OBAMA

Dezoito estados dos EUA entraram anteontem na justiça contra a proposta da administração Trump que revê as regras de emissão de gases do efeito estufa estabelecidas por Obama para a frota de automóveis do país. Em abril, Scott Pruitt, o presidente da Agência de Proteção Ambiental (EPA), anunciou uma revisão das regras da era Obama que visavam aumentar a eficiência de consumo de energia para mais de 22 km/litro até 2025, justificando que estas teriam “padrões muito rigorosos”. Os estados consideram que a EPA agiu “arbitrária e caprichosamente”. O processo é mais uma batalha que envolve a política climática para carros e caminhonetes nos EUA. A proposta de Pruitt e Trump congela os padrões federais em 2021, deixando-os bem abaixo dos níveis visados por Obama.

https://www.washingtonpost.com/news/energy-environment/wp/2018/05/01/california-17-other-states-sue-trump-administration-to-defend-obama-era-vehicle-efficiency-rules/

 

EUA: AGRO E ATLETAS OLÍMPICOS AVISAM TRUMP DOS PREJUÍZOS À ECONOMIA E ÀS COMPETIÇÕES CAUSADOS PELA MUDANÇA DO CLIMA

As gigantes da alimentação Nestlé, Danone, Mars e Unilever mandaram uma carta à Agência de Proteção Ambiental (EPA) de Trump dizendo que, se esta não tomar ações sérias contra a mudança do clima, o sistema de produção de alimentos do país corre o risco de enfrentar “um clima mais destrutivo e imprevisível”, o que seria uma ameaça multitrilionária à economia. A declaração foi a mais contundente já feita por grupos empresariais em favor de ações para a mitigação da mudança do clima.

Ainda na semana passada, um grupo de atletas norte-americanos que participa das Olimpíadas de Inverno foi até Washington falar com gente do governo e do congresso sobre a dificuldade que enfrentam para treinar e competir. Muitos do locais mais tradicionais, só funcionam a base de neve artificial. Os atletas disseram que várias das últimas sedes dos Jogos de Inverno não teriam mais neve em condições de competição.

https://www.businessgreen.com/bg/news/3031461/trillion-dollar-risk-food-giants-warn-trump-agenda-could-fuel-climate-threat-for-us-agriculture

https://edition.cnn.com/2018/04/27/politics/us-winter-olympians-capitol-hill-climate-change-trnd/index.html

 

CARTA DESMASCARA VIÉS DE CIENTISTAS CONTRA PAÍSES POBRES

Em 2016, a Nature publicou um trabalho que analisava a repartição da conta climática entre os países usando os critérios de equidade preconizados pelo IPCC. Segundo os autores, teriam uma contribuição maior a dar os países com um PIB per capita alto agora e no passado, aqueles que tivessem um histórico de emissões altas. E incluíram, como meta geral, que as emissões per capita convergissem para um único patamar.

Na edição deste mês, a Nature publicou uma carta com críticas pesadas ao trabalho, dizendo que, ao não levarem em conta pontos cruciais, os autores jogaram o peso da responsabilidade climática muito mais sobre os países em desenvolvimento do que sobre os ricos. Primeiro e mais importante porque, apesar de incluírem as emissões históricas em um dos critérios, os autores não a incluíram nos demais. Assim, o fato da China e da Índia serem grandes emissores hoje, mas não o terem sido no passado, faz com que, na hora destas atingirem a tal convergência, partiriam de um patamar muito elevado.

A carta também aponta que os autores omitiram, sem justificativa, um dos critérios preconizados pelo IPCC, e este justamente daria peso ao passado cravando que a responsabilidade de quem emite faz tempo é fundamental para que prevaleça um senso de justiça.

O último ponto é, talvez, o principal. Ao aplicar critérios definidos para serem computáveis, os autores deixaram de lado quaisquer considerações éticas e humanas. Países em desenvolvimento precisam se desenvolver. Populações pobres precisam deixar de sê-lo. “Embora apresentada como uma pesquisa neutra, ecumênica e exaustiva e que segue uma taxonomia objetiva do IPCC, seu efeito geral – longe de ressaltar os dilemas morais enfrentados pela sociedade – na melhor das hipóteses os esconde e, na pior, apropria-se deles a seu favor.”

https://www.nature.com/articles/s41558-018-0152-7

https://www.nature.com/articles/nclimate3186

 

A MUDANÇA DO CLIMA PODE IMPACTAR MAIS A FLORESTA AMAZÔNICA DO QUE AS DO RESTO DO MUNDO

Dois trabalhos científicos recém publicados lançam mais dados sobre a saúde da Floresta Amazônica. No primeiro, publicado na Nature, os pesquisadores queriam entender um pouco mais das diferenças entre as florestas tropicais daqui, da África e do Sudeste da Ásia. A última safra de modelos climáticos do IPCC vinha apontando que choveria mais sobre as florestas dos outros do que sobre a nossa. Os pesquisadores olharam a distribuição de CO2 sobre os continentes, sabendo que essa concentração afeta os sistemas de evapotranspiração das árvores. Os resultados mostraram que as florestas tropicais americanas podem ser mais vulneráveis ao aumento da concentração de CO2 na atmosfera do que as da África e da Ásia.

O segundo trabalho buscou simular a dinâmica do carbono na Floresta Amazônica usando a altura das copas como indicador de tamanho e estrutura das árvores. A principal conclusão é interessante: a floresta é um sorvedouro de carbono a uma taxa de 500 milhões de toneladas de por ano. Este número varia de região para região e é fortemente dependente da estrutura da floresta em cada local. Não há dúvidas de que a floresta retira CO2 da atmosfera, mas não se imaginava que nesta quantidade. Se confirmadas as conclusões, a contabilidade de carbono do Brasil e dos vizinhos amazônicos pode sofrer uma alteração substancial.  

https://www.nature.com/articles/s41558-018-0144-7

http://iopscience.iop.org/article/10.1088/1748-9326/aabc61/meta

 

Siga o ClimaInfo nas redes sociais: www.facebook.com/climainfo e www.twitter.com/climainfonews