ClimaInfo, 17 de maio 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

ENERGIA SOLAR GERADA NOS TELHADOS BRASILEIROS ATINGE MARCA HISTÓRICA

Levantamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) mostra que o Brasil instalou 250 MW até maio de 2018.
Mais que o total, é o crescimento que impressiona. Eram 5.040 instalações em agosto de 2016 e, agora, em maio, são 27.803. Neste período a capacidade instalada aumentou de 50 MW em junho de 2015 para 250 MW. Destes sistemas conectados à rede, 77% estão nos telhados de residências. A potência solar instalada no Brasil agora é igual à de Balbina, a caríssima hidrelétrica que é considerada o maior desastre ambiental do setor.

http://www.absolar.org.br/noticia/noticias-externas/energia-solar-fotovoltaica-atinge-marca-historica-no-brasil.html

http://www.aneel.gov.br/sala-de-imprensa-exibicao-2/-/asset_publisher/zXQREz8EVlZ6/content/brasil-ultrapassa-5-mil-conexoes-de-micro-e-minigeracao/656877

http://www.aneel.gov.br/documents/656827/15234696/Nota+T%C3%A9cnica_0056_PROJE%C3%87%C3%95ES+GD+2017/38cad9ae-71f6-8788-0429-d097409a0ba9

 

AS VIDAS ROUBADAS POR BELO MONTE

Eliane Brum está acompanhando o sofrimento dos desalojados pela Usina de Belo Monte. O que ela conta esta semana é leitura obrigatória para o Ibama, para a defensoria pública, o ministério público e, também, para todos que defendem mais hidrelétricas na Amazônia, inclusive a Norte Energia, única responsável pelo grau de desrespeito humano que Eliane descreve.

Existem duas possibilidades: o responsável pelo projeto subestimou o custo humano e ambiental da usina e, nesse caso, que arque com os prejuízos e nem pense em repassar a conta para o consumidor, ou o responsável pelo projeto sabia bem o dano que provocaria e, nesse caso, deveria ser processado criminalmente.

Em todo caso, como o sócio majoritário se chama Eletrobras, empresa que ainda é do Estado, que o Estado intervenha e devolva a estas pessoas as condições de vida e a dignidade que a usina lhes roubou. E depois acerte as contas com a Norte.
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/05/14/politica/1526322899_121198.html

 

CERÂMICA NO CEARÁ SERÁ MOVIDA A BIOGÁS DE ATERRO

A Cerbras, indústria cerâmica do Ceará, vai começar a receber gás de aterro para tocar seus fornos. O gás vem do Aterro Sanitário Municipal Oeste de Caucaia e é tratado pela Ecometano. A usina de tratamento tem capacidade de produzir até 100 mil m³ de biometano por dia, evitando que 610 mil tCO2e sejam lançadas na atmosfera anualmente. De lá, o gás passa pelos gasodutos da Companhia de Gás do Ceará até chegar à cerâmica. A empresa consumirá 73 mil m³ por dia. Até agora, a empresa vinha consumindo gás natural fóssil.

http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2018/05/16/143685-cerbras-e-a-primeira-industria-do-brasil-a-usar-biogas-canalizado-no-processo-produtivo.html

http://www.ecometano.com.br/ecometano/projetos.html

 

O IMPÉRIO AMEAÇA CONTRA-ATACAR

Para assistir de camarote: a queda de braço entre o governo e os produtores rurais em torno do calote que o primeiro está dando nos produtores que deram o calote no Funrural. A bancada ruralista está preparando a abertura de brechas no orçamento de 2018 para encaixar os R$ 17 bilhões que os produtores rurais querem calotear. O ministro da fazenda, Eduardo Guardia, disse que o volume de renúncias fiscais e outras benesses bateu, no ano passado, em 4% do PIB, algo como R$ 270 bilhões. Parte disso já é mesmo do campo e a queda de braço é para ver se esta parte dá mais um salto.

Mais uma demonstração de que cumprir com a responsabilidade cidadã de pagar impostos é coisa para trouxa e assalariado descontado na fonte.

http://www.valor.com.br/agro/5527355/produtores-vao-cobrar-renegociacao-de-divida-rural#

http://www.valor.com.br/opiniao/5524531/renuncias-fiscais-representam-4-do-pib-e-podem-crescer

 

LANÇADO GUIA PARA O DESENVOLVIMENTO DO TRANSPORTE PÚBLICO COLETIVO

O Guia TPC foi feito para quem trabalha com a mobilidade urbana. Ele agrega informações técnicas sobre os diversos sistemas e transporte coletivo, metodologias de análise e guias de implantação de soluções, tudo para apoiar os gestores e planejadores dos sistemas.

O TPC foi idealizado e elaborado pela Secretaria Nacional de Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades, pelo BNDES e pela Cooperação Financeira Alemã, por meio do KfW. O desenvolvimento técnico foi realizado pela Oficina Consultores. Disponível no site abaixo.

https://www.guiatpc.com.br/

 

LONDRES QUER SER A CIDADE MAIS VERDE DO MUNDO EM 2050

O prefeito de Londres, Sadiq Khan, apresentou na semana passada ao conselho da cidade sua estratégia para uma cidade verde até 2050. A ambiciosa estratégia ambiental inclui:

– novas medidas para combater a poluição do londrino, incluindo mapas da qualidade do ar e a antecipação, de 2025 para 2020, da introdução de zonas de emissão zero de modo a tornar a qualidade do ar compatível com os limites legais para o dióxido de nitrogênio (NO2) até 2020, além da adoção dos padrões mais rigorosos de qualidade do ar recomendados pela Organização Mundial da Saúde;

– planos para fazer de Londres o primeiro parque nacional urbano do mundo. A primeira Semana do Parque Nacional de Londres, que será realizada em julho, já tem mais de 200 eventos registrados nos quais os londrinos poderão explorar os espaços verdes da capital e se envolver com o esverdeamento de seus bairros. Em colaboração com a National Park City Foundation e outros parceiros, Khan pretende conseguir que Londres seja declarada uma National Park City no verão de 2019;

– reduzir o desperdício de alimentos em Londres em 50% por pessoa até 2030;

– aumentar a atual capacidade de geração solar distribuída de Londres em 20 vezes, chegando a 1GW até 2030 e 2GW até 2050;

– estabelecer orçamentos de carbono com o objetivo de reduzir a quantidade de gases de efeito estufa emitidos em Londres pelos próximos 15 anos. O primeiro destes visa uma redução de 40% nas emissões de CO2 (sobre os níveis de 1990) entre 2018 e 2022, o que representa uma redução maior do que a definida pelo governo central. Khan diz que isto é compatível com o objetivo de 1,5 graus do Acordo de Paris; e

– uma nova definição de infraestrutura verde para garantir que rios e áreas úmidas sejam reconhecidos como componentes críticos da rede de infraestrutura verde da cidade.

A estratégia do prefeito demanda apoio do governo central para realizar os investimentos previstos em energia limpa, eficiência energética e instalação de infraestrutura de reciclagem. Ela também solicita poderes para a limitação das emissões não rodoviárias.

https://www.london.gov.uk/press-releases/mayoral/london-environment-strategy-sets-out-vision

http://news.trust.org/item/20180515144717-rkszj/

 

NO MUNDO DO PETRÓLEO, O PREÇO QUE NÃO PARA DE SUBIR E UMA EMPRESA DISFARÇANDO O NOME

O preço do barril vem subindo a cada dia e pode chegar a US$ 80 logo logo. Lembrando que três anos atrás, ele flutuava em torno dos US$ 30 e muita gente duvidava que chegaria a US$ 50 algum dia. A elevação aconteceu em duas etapas, basicamente. No ano passado, os países da OPEP fecharam válvulas e, com o apoio dos países produtores de fora da organização, conseguiram fazer o preço passar um pouco dos US$ 50. O ano começou com o preço em torno de US$ 60, quando Trump declarou guerra comercial à China e, nesta semana, unilateralmente quebrou o tratado com o Irã, impondo o bloqueio comercial novamente. Ainda nesta semana veio a notícia de que a Venezuela cortaria a produção porque está sem dinheiro para fazer a manutenção dos equipamentos de extração e bombeamento. A ameaça de retirada do mercado internacional do petróleo do Irã e da Venezuela fez o preço subir rapidamente. O governo brasileiro está sorrindo duplamente: uma porque a Petrobras aumentou sua receita; e outra porque, com as irmãs petroleiras com dinheiro em caixa, a expectativa para os leilões do pré-sal aumentou junto com o preço do barril. Dois movimentos podem segurar o preço onde está: o pessoal do fracking dos EUA acelerou a instalação de mais poços que se tornaram de modo repentino economicamente viáveis, e a Arábia Saudita, que está produzindo um excedente de 2 milhões de barris por dia, pode querer economizar um pouco mirando na planejada abertura do capital de sua maior empresa, a Aramco.

Ainda no mundo do petróleo, a estatal norueguesa Statoil, dona de várias concessões no Brasil, achou que ficava mais bonitinho mudar de nome, tirando o “oil” que afastava o público jovem. A empresa rebatizou-se de Equinor, “Equi” de igualdade e equilíbrio e “nor” de noruega.

A Shell e a Repsol continuam dando passos para um mundo pós-fóssil. A primeira vem comprando empresas de geração renovável e a espanhola declarou que não vai mais buscar novos campos de exploração.

http://www.valor.com.br/empresas/5527633/preco-do-oleo-anima-disputa-pelo-pre-sal

http://www.valor.com.br/internacional/5527573/colapso-da-pdvsa-encarece-o-petroleo#

https://www.economist.com/graphic-detail/2018/05/15/the-price-of-oil-inches-towards-80-a-barrel

https://www.equinor.com/

https://www.nytimes.com/2018/05/15/business/shell-renewable-energy.html

https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-05-15/repsol-said-to-end-pursuit-of-oil-growth-amid-energy-transition

 

O GÊNERO E A NACIONALIDADE DOS CIENTISTAS RESPONSÁVEIS PELO 6o RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IPCC

O IPCC publicou até agora cinco conjuntos de Relatórios de Avaliação do estado da ciência climática. Um sexto conjunto, o AR6, deve ser concluído até 2022. Para este trabalho, o IPCC selecionou 721 autores de 90 nacionalidades diferentes. O Carbon Brief fez uma interessante análise da mistura de nacionalidades e gêneros dos autores dos três grupos de trabalho: GT1 (The Physical Science Basis); GT2 (Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade); e GT3 (Mitigação da Mudança Climática).
O país com mais autores escalados é os EUA (74), seguido por Reino Unido e Alemanha (45 cada). Completando a lista dos top 5 vêm Austrália e China (37 cada). Da América do Sul, o país com o maior número de autores é o Brasil (21), seguido por Argentina (11) e Chile (8). O país africano com mais autores é a África do Sul (14), seguido por Marrocos e Nigéria (7 cada) e Argélia, Senegal e Tanzânia (6 cada). O continente mais representado é a Europa, com 229 autores, seguido pela Ásia (173) e América do Norte (128). África, Oceania e América do Sul seguem com 82, 55 e 54, respectivamente. Segundo o IPCC, 44% dos autores do AR6 são cidadãos de países em desenvolvimento e países com “economias em transição”.
Entre os 721 autores do AR6, 67% são homens e 33% mulheres. O balanço de gênero melhorou um pouquinho em relação ao AR5, que tinha 79% de homens contra 21% de mulheres. Os países com a maior representação feminina são a Espanha, com 10 mulheres (59%) e sete homens (41%), e o Canadá com 10 homens (48%) a 11 mulheres (52%).
https://www.carbonbrief.org/analysis-gender-nationality-institution-ipcc-ar6-authors

 

TEM GENTE TENTANDO MOSTRAR QUE O CARRO ELÉTRICO É RUIM PARA O AMBIENTE E AUMENTA A DESIGUALDADE SOCIAL

Jonathan Lesser escreveu um artigo para o Politico construindo toda uma argumentação para mostrar que um carro elétrico polui mais do que um carro à gasolina. Lesser se apresenta, no artigo, como presidente de uma empresa de consultoria. Mas ele não conta no artigo que presta consultoria para as Shell, Exelon e várias outras empresas locais de geração e distribuição de eletricidade e gás natural, além de prestar consultoria para um grupo que briga contra plantas eólicas que é presidido por um dos irmãos Koch, os famosos e reacionários megainvestidores norte-americanos do petróleo. O cerne do argumento de Lesser é que a matriz elétrica norte-americana é muito suja e, portanto, a eletricidade do carro elétrico também o é. Como ainda tem muita térmica a carvão emitindo SO2 e NOx, o carro elétrico provocaria mais chuva ácida do que um carro a gasolina. Lesser também diz que a geração renovável será sempre mais cara do que a do carvão e outros fósseis e, portanto, só os ricos poderão abastecer seus carros elétricos com eletricidade limpa. Com tanto fóssil correndo por seus bolsos, Lesser tortura os dados e projeções até conseguir seu “brilhante” resultado. É possível desmontar vários dos argumentos lançados por ele. Talvez o mais importante seja lembrar que, sim, um carro elétrico será tão limpo quanto a eletricidade que o alimenta. E que, num futuro, sem a eletricidade suja de carvão, e possivelmente sem gás natural, um carro a gasolina sempre poluirá e aquecerá a atmosfera mais do que um elétrico.
https://www.politico.com/agenda/story/2018/05/15/are-electric-cars-worse-for-the-environment-000660

https://www.manhattan-institute.org/html/short-circuit-high-cost-electric-vehicle-subsidies-11241.html

 

PROGRESSO DOS VEÍCULOS ELÉTRICOS E METAS EUROPEIAS DE EMISSÃO PARA CAMINHÕES

O International Council on Clean Transportation (ICCT) acaba de publicar uma análise de novos modelos de veículos elétricos, abrangendo desde automóveis até caminhões leves, estes que dominam o transporte de carga dentro das cidades. O trabalho identifica as características da produção de veículos e baterias e as dos mercados consumidores. O ICCT recomenda políticas voltadas para a identificação de oportunidades para a disseminação desta classe de veículos.

– Hoje, quase todos os veículos elétricos são produzidos na China, Europa, Japão, Coréia do Sul e EUA. Em 2017, só a China produziu metade do total. Dos 20 maiores fabricantes, 9 estão sediados na China, 4 na Europa, 3 nos EUA e no Japão e 1 na Coreia do Sul.

– Entre 2011 e 2015, o Japão dominou a produção de baterias. A China superou o Japão em 2016. No ano passado, a produção chinesa de baterias para veículos foi 11 vezes maior do que a norte-americana e 22 vezes maior do que a europeia.

– Existem, no mundo, várias políticas que ajudam os elétricos superarem as barreiras de escala, custo, número limitado de modelos e de conveniência. Mais de 80% dos novos veículos já seguem padrões industriais que reduzem os custos para a indústria e, nestes países, encontram regulações diretas para infraestrutura de recarga.

– A China promove amplamente os veículos elétricos, já os EUA e a Europa o fazem de modo mais limitado.

Por falar em Europa, na próxima semana eles decidem as metas de redução de emissão a serem adotadas pelos caminhões pesados. A proposta da Comissão designada para esse fim é de uma redução de 30% nas emissões de todo o transporte rodoviário de carga, e uma redução de 15% em um ponto intermediário a ser definido. Os fabricantes queriam que os 15% só valessem a partir de 2030, alegando perda de competitividade e a vida longa de um caminhão e, portanto, a baixa taxa de renovação deste mercado. A Europa é a última região dos desenvolvidos a impor uma meta de emissões para caminhões. Até os EUA têm regras definidas à época de Obama. Os caminhões pesados são responsáveis por 25% do total de emissões do setor de transporte europeu.

Aqui no Brasil, muito mais rodoviário do que a Europa, o transporte de carga responde por cerca de 25% de todas as emissões da queima de combustíveis, incluindo aí, todas térmicas e todo o setor industrial.

https://www.theicct.org/publications/global-electric-vehicle-industry

https://www.reuters.com/article/us-eu-trucks-emissions/eu-targets-30-percent-cut-in-truck-co2-emissions-by-2030-source-idUSKCN1IF2HL

 

ESTUDO MAPEIA AS PERCEPÇÕES QUE LEVAM AGRICULTORES A SE PREPARAR PARA AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Um trabalho interessante recém publicado contém os resultados de uma pesquisa feita com pequenos fazendeiros na África do Sul. Os pesquisadores sabiam que há muito trabalho sobre a percepção que esta população tem das mudança climáticas, de quando e como percebem o que está ocorrendo com o clima. O que eles queriam entender era como se dava a conexão entre essas percepções e as ações adaptativas que tomadas. Os pesquisadores constataram que a população usa seis grupos conceituais mutuamente exclusivos: agricultural, cognitiva, econômica, emocional, política e sobrevivência. A prevalência das percepções associadas à agricultura e à economia traz poucas mudanças em suas práticas. Já a prevalência de percepções associadas à sobrevivência da fazenda deslancha ações de adaptação que aumentam a chance de sobrevivência no longo prazo. Os pesquisadores ressaltam que a “sobrevivência” é menos associada à situação financeira e mais a um modo de pensar. O trabalho pode ser interessante para quem precisa comunicar a mudança do clima para populações rurais ou como ponto de partida para pesquisas semelhantes com outros grupos sociais.

https://link.springer.com/article/10.1007%2Fs10584-018-2217-z

 

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