ClimaInfo, 22 de maio 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

MOREIRA FRANCO, JUCÁ E CONGRESSISTAS QUEREM TOCAR LINHA DE TRANSMISSÃO IGNORANDO POSIÇÃO DOS WAIMIRI-ATROARI

Os dois escudeiros de Temer, Moreira-angorá-Franco, ministro das minas e energia, e Romero-estancar-a-sangria-Jucá, senador por Roraima, querem arrumar um jeito de contornar a lei e construir uma linha de transmissão ligando Manaus a Boa Vista atravessando no caminho as terras Waimiri-Atroari. Pela lei, nacional e internacional, os indígenas precisam dar seu consentimento, e os WA já disseram várias vezes que não querem coisas elétricas atravessando suas terras. Também pudera, como esquecer a obra de Balbina tocada na ditadura militar, quando milhares de pessoas da tribo foram mortas? A dupla de amigos de Temer quer fazer acreditar que a linha é questão de segurança nacional. E tem congressista pegando carona na crise humanitária da migração venezuelana para dizer que, agora, a linha é imprescindível. A construção dos 720 km da linha de transmissão, se autorizada, demoraria 2 anos, o que invalida qualquer urgência por conta dos venezuelanos. Os índios simplesmente disseram para dar a volta às suas terras. Como o problema é só custo e tempo, deve ser difícil provar que a segurança de alguém está em risco.

https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/05/moreira-franco-faz-pressao-por-obra-em-terra-indigena.shtml

 

ATÉ 2020, MT QUER ELIMINAR 80% DO DESMATAMENTO ILEGAL

O Governo do Mato Grosso quer reduzir em 80% o desmatamento ilegal até 2020. As contas serão feitas a partir da média do desmatamento ocorrido entre 2001 e 2010: 5.715 km². Ou seja, o governo quer que o desmatamento ilegal não passe de 1.143 km². É um bom desafio. Os dados oficiais indicam que, entre agosto de 2016 e julho de 2017, o estado perdeu 1.561 km², sendo que parte disso possivelmente foi em área legal.

http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=515200

http://www.obt.inpe.br/OBT/assuntos/programas/amazonia/prodes


CLIMA E SEGURANÇA NACIONAL

Aproveitando o seminário sobre mudança climática e segurança da última 6a feira, no Rio, Alice Amorim e Ana Toni publicaram no mesmo dia um artigo na Folha de S. Paulo mostrando porque é imperioso tratar a mudança do clima como uma questão de segurança. A segurança alimentar é abalada por secas e pode ser alavanca de conflitos como o da Síria e do Darfur. A segurança física das pessoas é ameaçada por enchentes e deslizamentos aqui no Brasil e por furacões no Caribe e no Sudeste da Ásia.

No Seminário, muito da discussão girou em torno das crises hídricas, mais do que de ondas de calor ou furacões. Talvez porque a falta d’água faça cada vez mais pessoas migrarem para lugares mais ricos – da África e Oriente Médio para a Europa, ou do semiárido para o Sul maravilha. E a água também é tema da elevação dos mares, o que faz o sistema militar norte-americano ficar preocupado com suas bases costeiras, com seus sistemas logísticos de suprimento de tropas e com a abertura de novas rotas de comércio no Ártico que precisam ser monitoradas e defendidas.

Alice e Ana levantam uma questão importante para o momento vazio de políticas de Estado em que vivemos: o que significa esta única menção às mudanças climáticas existente em toda a Política Nacional de Defesa do Brasil? “As mudanças climáticas têm graves consequências sociais, com reflexos na capacidade estatal de agir e nas relações internacionais”. O que isto significa para a prática das ações de segurança no Brasil e para o governo? A resposta deve ser cobrada de todas e todos os candidatos a qualquer cargo nas eleições de outubro.

https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2018/05/alice-amorim-e-ana-toni-inseguranca-climatica-e-uma-emergencia-a-conta-gotas.shtml

 

MUDANÇA CLIMÁTICA É COISA PARA ADULTOS NÃO INFANTILIZADOS

Eliana Brum escreveu um texto forte e direto dizendo, basicamente,

que enfrentar a mudança do clima exige uma mudança nos padrões de consumo, mas que hoje muito da comunicação é feita para “adultos infantilizados”, que consomem e repercutem as mensagens positivas, especialmente para situações complicadas como a provocada pela mudança do clima. Dourar o rivotril – para adaptar uma das frase do texto de Eliane – não vai fazer o clima parar de mudar nem diminuir a conta que a humanidade terá que pagar. Brum ainda enfatiza que a distribuição das desgraças será oposta à distribuição da riqueza, citando o exemplo da crise da água de 2014 em São Paulo, quando os bairros periféricos ficaram muito mais sem água do que os ricos. Para Brum, “a chave desse momento histórico não está entre o otimismo e o pessimismo – ou entre o pensamento positivo e o negativo. Não há tempo para esses truques de auditório. A crise climática é gravíssima e seus efeitos só estão começando. Adultos precisam ser capazes de escutar. E de reagir com algo mais do que carinhas sorridentes ou vermelhas de raiva. É preciso romper a estética do entretenimento porque ela não é ética. Nada está ‘sob controle’. É exatamente isso que precisa ser dito.”

https://brasil.elpais.com/brasil/2018/05/21/politica/1526914514_866691.amp.html

 

PETRÓLEO MAIS CARO MEXE COM POLÍTICOS, CAMINHONEIROS, FROTAS DE ÔNIBUS E, CLARO, COM A PETROBRAS

A alta do preço da gasolina mobiliza vários pré-candidatos: Rodrigo Maia anunciou via Twitter que convocará uma comissão na câmara para discutir o assunto; Meirelles defendeu a redução dos impostos que incidem sobre a gasolina e o diesel; Álvaro Dias, também no Twitter, criticou a política de preços da Petrobras. Pelo lado do executivo, Moreira-angorá-Franco disse que é preciso discutir o preço dos combustíveis no país, porque “está subindo demais”, e que está avaliando no governo medidas como a redução do PIS/Cofins e do ICMS, as mesmas ideias de Meirelles sobre o assunto. Mas o ministro da fazenda, Eduardo Guardia, mostrou-se contrário a este caminho.
Enquanto isso, caminhoneiros autônomos iniciaram ontem uma greve geral bloqueando várias estradas do país para reclamar dos preços do diesel, que consideram abusivo: “o aumento é absurdo, tem lugar que o diesel, que custava cerca de R$ 2,70 há seis meses, está custando R$ 3,70 ou R$ 3,80. O preço está chegando aos R$ 4,00”. E a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) disse que as empresas responsáveis por 86,3% do deslocamento da população nas cidades brasileiras tiveram um prejuízo de R$ 1 bilhão entre janeiro e maio, devido ao aumento médio de 11% no preço do óleo diesel nos cinco primeiros meses do ano.
O motivo de choro para caminhoneiros, empresários e automobilistas faz a alegria da Petrobras e acionistas, cujas ações acumulam alta superior a 60% neste ano, graças à valorização do petróleo no mercado externo e aos efeitos da reestruturação da empresa, que – entre outras – mudou sua política de preços para “acompanhar a cotação do petróleo”.
Vale observar que, hoje, os impostos federais e estaduais somam aproximadamente 45% do valor da gasolina cobrado do consumidor, enquanto a parte da Petrobras é de 31% (isto para o período que vai de 29/4 a 5/5; no começo do ano, entre 4/2 e 10/2, esta participação era menor, 28%).
O preço do barril chegou a passar a marca de US$ 80, na 6a feira, por causa das eleições na Venezuela, que mantiveram Maduro no poder, e o anúncio de trégua na guerra comercial entre EUA e China. Ontem, o preço era só um pouco menor. A gasolina nos EUA passou de R$ 2,90/litro, coisa que não acontecia há muito tempo.
http://epbr.com.br/gasolina-eleicoes-e-politica-de-precos-da-petrobras/

https://www.em.com.br/app/noticia/economia/2018/05/21/internas_economia,960258/caminhoneiros-estradas-mg-protesto-nacional-preco-diesel-combustivel.shtml

http://www.valor.com.br/brasil/5537027/transporte-urbano-perde-r-1-bi-com-alta-do-diesel

https://oglobo.globo.com/economia/com-preco-do-petroleo-em-alta-reestruturacao-acoes-da-petrobras-tem-perspectiva-positiva-22700743

https://oilprice.com/

https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-05-17/american-roadtrippers-to-face-3-a-gallon-gas-this-summer

 

PETROLEIRAS SOB PRESSÃO

A petroleira espanhola Repsol indicou a seus acionistas que não mais trabalhará para expandir sua produção e que limitará suas reservas a não mais do que 8 anos, nos volumes de produção atuais, em um movimento que busca proteger a empresa de “ativos ociosos” (stranded assets). Para comparação, a Exxon e a BP têm reservas aproximadamente duas vezes maiores. Interessante notar que a primeira parte da apresentação feita pela empresa na sua assembléia geral anual foi dedicada a uma extensa discussão sobre a transição energética. A Repsol avalia que a energia eólica e a energia solar são tão baratas quanto outras formas de geração de eletricidade e que a captura e o uso de carbono têm “grande potencial”. A Repsol é, até onde se sabe, a primeira grande petroleira a expressar tão explicitamente uma visão de futuro distante dos combustíveis fósseis.

Bob Dudley, o CEO da BP, deu uma entrevista para a Reuters dizendo que a empresa conseguiu sair de dois buracos: a queda do preço do petróleo até 2016 e a explosão da plataforma no Golfo do México, quando levou uma multa de US$ 65 bilhões. A BP chegou a ser classificada como “comprável”, tamanho foi rombo. Dudley acha que o maior desafio agora é o clima, ou, como disse, “esse é o grande desafio da indústria (petroleira) e da BP: como suprir a energia para o mundo… e fazê-lo com menos emissões”. No curto prazo, a aposta é o gás natural. O CEO reconhece que “se um acionista ou qualquer um vier à BP amanhã e disser que aí estão US$ 10 bilhões para investir em fontes de energia de baixo carbono, nós não saberíamos o que fazer”.

Em sua assembleia geral de acionistas, a direção da Shell enfrentou um grupo de fundos de pensão exigindo mais transparência e mais ações sobre as emissões de gases de efeito estufa. O grupo quer que a empresa assuma metas mais fortes e alinhadas com as do Acordo de Paris.

O pessoal da Carbon Tracker colocou uma lupa sobre nove das maiores petroleiras. Ficaram de fora a maior de todas, a Aramco dos sauditas, e as chinesas. O pessoal analisou os relatórios que seguem as recomendações da Financial Stability Board’s Task Force on Climate-related Financial Disclosures’ (TCFD) e diz que houve progressos quanto à modelagem usada por cada uma das empresas e avanços quanto à adoção de um preço interno para o carbono. Algumas das empresas modelaram um cenário com uma demanda menor de petróleo, mas outras apenas testaram a resiliência do negócio a um mundo com preços menores. Um futuro onde o aquecimento global é limitado a 2oC deve vir a ter preços bem baixos para o petróleo, por conta da pouca procura, no entanto, todas as nove acham que o preço vai continuar subindo.

www.bloomberg.com/news/articles/2018-05-15/repsol-said-to-end-pursuit-of-oil-growth-amid-energy-transition

https://www.repsol.com/imagenes/global/en/2018_agm_slides_tcm14-130244.pdf

https://www.reuters.com/article/us-bp-ceo-exclusive/exclusive-bp-back-on-its-feet-but-ceo-senses-no-respite-idUSKCN1IM0E8

https://www.theguardian.com/business/2018/may/20/shell-faces-shareholder-challenge-over-climate-change-approach-paris-climate-deal

https://www.carbontracker.org/reports/under-the-microscope/

 

REUNIÃO DO BASIC REAFIRMA NECESSIDADE DE FINANCIAMENTO CLIMÁTICO

O encontro de nível ministerial dos países do Basic (Brasil, África do Sul, Índia e China) deste final de semana destacou o clima e o Acordo de Paris. Provavelmente em função das dificuldades enfrentadas no começo de maio na intersessional climática de Bonn, os representantes do Basic reforçaram dois recados, ambos dirigidos aos países ricos. O primeiro foi sobre os fundos prometidos pelos ricos para apoiar países em desenvolvimento na implantação de medidas de mitigação e adaptação e, como parte disso, a definição de regras sobre ressarcimentos por perdas e danos causadas por eventos climáticos. Os ricos tinham se comprometido a pingar US$ 100 bilhões por ano a partir de 2020, mas pouco apareceu até agora. O recado é importante porque, dado que Trump prometeu não contribuir mais, o Basic espera que alguém cubra o buraco. O segundo recado reforçou a tese das responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Dado que os países ricos mandaram muito mais CO2 para a atmosfera desde a revolução industrial do século 19, não é justo que os países pobres sacrifiquem seu desenvolvimento para mitigar a sujeira que os outros fizeram antes. Talvez os países mais pobres possam cobrar esta “dívida”. Mas soa cada vez menos razoável que China, Índia e Brasil, que estão entre os cinco maiores emissores, se apeguem a esta tese. O caso brasileiro sempre soou estranho, dado que metade das nossas emissões vem do desmatamento, atividade que tem peso zero no PIB. Se zerasse o desmatamento, o país passaria a estar, junto com a África do Sul no final da lista dos 20 mais e não no desonroso 5º lugar.

https://www.environment.gov.za/mediarelease/jointstatement_conclusionof26thbasicministerialmeeting

 

REUNIÃO DO G-20 PODE COLOCAR ARGENTINA NO MEIO DO TIROTEIO CLIMÁTICO ENTRE TRUMP E O RESTO DO MUNDO

Presidir a reunião do G20 de 2018 parecia uma boa ideia quando a Argentina conquistou o direito, no – hoje aparentemente longínquo – ano de 2016. Mas, ao invés disso, e muito por conta de Trump, Macri sobrou com uma batata quente nas mãos. Na reunião do ano passado, as principais resoluções aprovadas foram publicadas com ressalvas dos EUA porque Trump não quis assumir nenhum compromisso fora da sua agenda fóssil. A Argentina de Macri está tentando manobrar no caminho do meio. Não provocar a turma do Trump com termos para eles inaceitáveis, mas, ao mesmo tempo, não aparentar estar abrindo mão de pontos tidos como cruciais para os outros 18 países. A Argentina tem um certo cacife obtido por ter se comprometido com a meta de 1,5oC em Paris, e por ter sido o primeiro país a rever suas metas apertando-as um pouco mais. A ver se esse cacife é suficiente para tranquilizar a Europa e os amigos climáticos. E suficiente, também, para que os norte-americanos não virem a cara. Lembrando que esta situação se definiu antes da recente crise econômica que levou a Argentina de Macri de volta ao caixa do FMI. Assim mais vulnerável, ficou mais difícil agradar a gregos e troianos.

https://www.worldpoliticsreview.com/articles/24762/is-the-g-20-heading-for-a-showdown-with-trump-on-climate-change

 

O NOVO CASAL REAL SAI DE CARRO ELÉTRICO, SÍMBOLO DO FUTURO

Fotos do casamento real britânico deste final de semana mostraram o Duque e a Duquesa de Sussex num conversível de dois lugares a caminho da lua de mel ou da próxima festa. Quem viu as fotos pode ter notado que o carro era um Jaguar clássico de 1968, modelo que o comendador Enzo Ferrari chamou de o “o carro mais lindo já feito”. O detalhe é que o carro é elétrico e vai de 0 a 100 km/h em 5,5 segundos, entregando uma potência de 220 kW para as rodas. Dizem que o Duque divide com o pai as preocupações com o futuro do planeta.

http://conexaoplaneta.com.br/blog/meghan-e-harry-dirigem-carro-eletrico-ao-final-do-casamento-que-celebrou-a-diversidade-e-o-feminismo/

https://www.fastcompany.com/40575366/why-the-electric-jaguar-at-the-royal-wedding-was-a-symbolic-step-forward

 

RESISTÊNCIA À ANTIBIÓTICOS AUMENTA COM A TEMPERATURA AMBIENTE

O aquecimento global pode estar fazendo mais gente pegar infecções resistentes a antibióticos. Em um estudo feito nos EUA, pesquisadores mergulharam nos dados de casos de infecções com bactérias resistentes a antibióticos. Especificamente, pegaram dados de infecções por três das bactérias mais comuns, a Escherichia coli, a Klebsiella pneumoniae e o Staphylococcus aureus, e das cepas resistentes à primeira linha de antibióticos, os mais receitados e encontrados em farmácias. Os pesquisadores perceberam uma correlação entre a taxa de resistência e a temperatura média ambiente. Como tinham um volume grande de dados, eliminaram outras variáveis como densidade populacional, renda e raça. A influência é pequena, mas clara. A cada 10oC a incidência de cepas resistentes aumenta cerca de 5%. Esse aumento fica tão maior quanto mais antigo é o antibiótico; a boa e velha penicilina funciona menos quando a temperatura sobe porque mais bactérias resistentes ou bactérias mais resistentes se sobrepõem ao tratamento. Não se sabe ainda como a temperatura altera o padrão de resistência. Pode ser porque as bactérias se reproduzem mais, pode ser porque os genes por trás da resistência são transferidos horizontalmente mais frequentemente. Ou simplesmente porque a taxa de portadores aumenta. Os pesquisadores gostariam de ver trabalhos similares serem realizados em outros países com climas distintos.

O recado do trabalho é claro: “previsões sobre a crise de resistência a antibióticos que não levarem em conta que o clima está mudando podem estar subestimando a gravidade do problema”.

https://www.nature.com/articles/s41558-018-0183-0

 

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