ClimaInfo, 28 de junho 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

BRASIL NA QUASE LANTERNA DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA GLOBAL

Entre os 25 países que mais consomem energia no mundo, o Brasil é quase o lanterninha no quesito eficiência energética. Ficou na 20ª posição na 4ª edição do International Energy Efficiency Scorecard, do American Council for an Energy-Efficient Economy, que examina a performance e as políticas de eficiência de cada um destes países. Itália e Alemanha empataram em primeiro lugar, com 75,5 pontos dos 100 possíveis, seguidos por França, Reino Unido e Japão. A França ficou em 1º na categoria transporte, o Japão liderou a categoria indústria, enquanto Espanha e Alemanha lideraram as categorias edificações e esforços nacionais, respectivamente.

O relatório traz algumas informações que ajudam a pensar no que fazer para melhorar nossa eficiência energética. Investimento, por exemplo: a Alemanha investe anualmente mais de US$ 2,5 bilhões em eficiência (US$ 31 per capita), a Itália mais de US$ 1,5 bilhões (US$ 25 per capita), enquanto o Brasil investe somente US$ 191 milhões (US$ 0,94 per capita). Outro dado relevante: o tamanho do mercado das ESCO (energy services companies) equivale, na França, a 0,37% do PIB, e a pouco mais de 0,15% do PIB na China, Taiwan e Alemanha. No Brasil, as ESCO faturam 0,001% do PIB.

Definitivamente, o Brasil engatinha em termos de eficiência energética.

https://aceee.org/press/2018/06/world-energy-rankings-suggest

http://aceee.org/sites/default/files/publications/researchreports/i1801.pdf

 

PAÍS PIORA DEPOIS DA GREVE DOS CAMINHONEIROS

Vinicius Torres Freire mostra na Folha de S. Paulo a piora do país depois da greve dos caminhoneiros. Como resultado da greve, o diesel baixou mais ou menos R$ 0,20 por litro (5,5% na média nacional), segundo levantamento da ANP. A gasolina ficou mais cara nas bombas, em média quase 6%, assim como o etanol (quase 5%) e o GLP (quase 3%). Por outro lado, a conta da redução da Cide, do PIS/COFINS ao diesel e a do subsídio a este combustível pode chegar, nas contas do governo, a R$ 13,6 bilhões até o final do ano, pouco mais de R$ 2 bilhões por mês. Isto é quase igual à despesa com o Bolsa Família (R$ 2,5 bilhões por mês), bem próximo à média mensal investida no PAC nos últimos 12 meses, e ¼ do que o ministério da saúde gasta por mês (R$ 8,4 bilhões). Freire aponta outros custos que ele chama de “mais esotéricos”: a intervenção no preço do diesel ajudou a derrubar a Petrobras e a distorcer o mercado de combustíveis; antes do bloqueio das estradas, esperava-se um crescimento no PIB da ordem de 2,5% para este ano e as estimativas agora tendem a se resignar com 1,5%, e há risco de repetirmos a quase estagnação do PIB de 2017. Freire lembra que temos um encontro marcado com mais problemas, pois o subsídio termina em 31 de dezembro, de modo que o novo governo terá que decidir entre seguir bancando esta despesa ou, por exemplo, elevar o gasto com o Bolsa Família em 50%.

Vai ter briga no Ano Novo?

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciustorres/2018/06/precos-e-pioras-apos-caminhonaco.shtml

 

10 ANOS DO FUNDO AMAZÔNIA

Ao contrário das críticas feitas à política ambiental de Temer quando de sua visita à Noruega há cerca de um ano, o tom do governo daquele país no evento de avaliação dos dez anos do Fundo Amazônia foi elogioso. O principal motivo da mudança foi a redução de 12% no desmatamento em 2017, principal indicador usado pela Noruega para calibrar suas doações ao Fundo. O país é responsável por 93,3% dos R$ 3,1 bilhões gerido pelo BNDES. Mas, entre os ambientalistas brasileiros que participaram da conversa que aconteceu em Oslo, na 3ª feira (26/6), os dez anos do Fundo foram celebrados com ressalvas. Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental, criticou o uso dos recursos em ações governamentais que deveriam ser financiadas pelo orçamento público, dando como exemplo o dinheiro destinado às ações de fiscalização do Ibama, desde 2016, para compensar os seguidos cortes no orçamento do órgão. Na mesma linha, Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas do Observatório do Clima e arquiteto do Fundo Amazônia, disse que o reforço ao caixa do Ibama não deve ser uma solução permanente: “o Fundo deve se voltar à sua vocação de investimento em inovações sociais, ambientais e econômicas para promover a conservação e uso da floresta em pé”. O ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, disse que a ajuda do Fundo foi fundamental para interromper o crescimento do desmatamento em 2016. Disse, também, que o pior da crise orçamentária já passou.

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2018/06/fundo-para-proteger-amazonia-faz-10-anos-em-meio-a-elogios-e-ressalvas.shtml

 

HOLANDA PROPÕE REDUZIR 95% DAS SUAS EMISSÕES ATÉ 2050

Sete partidos holandeses apresentaram ontem um projeto de lei impondo as – talvez – mais ambiciosas metas climáticas já definidas para um país: redução de 49% das emissões de gases de efeito estufa até 2030; redução destas emissões em 95% até 2050 (ambas com base nas emissões de 1990); e 100% de eletricidade neutra em carbono até 2050. O projeto propõe, também, um mecanismo inovador de revisão anual para garantir que as metas sejam cumpridas: cria o Dia Nacional do Clima, a quarta 5ª feira de outubro, no qual o governo deve relatar as reduções obtidas e, se necessário, anunciar medidas adicionais para o cumprimento das metas. A iniciativa, iniciada pelos verdes e pelos social democratas, tem apoio de cinco outros partidos da direita à esquerda.

http://www.climatechangenews.com/2018/06/27/netherlands-proposes-95-emissions-cut-2050-draft-climate-law/

 

AUSTRÁLIA: PRIMEIRO MINISTRO DIZ QUE CARVÃO DEVE TER PAPEL NO MIX DE ENERGIA “POSSIVELMENTE PARA SEMPRE”

Como diz um dos bordões das redes sociais, não tá fácil pra ninguém, muito menos para o clima. Não é que o primeiro ministro da Austrália, Malcolm Turnbull, disse que o carvão terá um papel importante no país “possivelmente para sempre”? O comentário foi feito nos debates sobre a política energética do país centrada na “garantia energética nacional”, que, segundo ele, será “tecnologicamente neutra”. O partido trabalhista, de oposição, advertiu o governo para que não dê novos subsídios ao carvão como parte do acordo.

http://www.climatechangenews.com/2018/06/26/australia-pm-coal-forever-play-role-energy-mix/

 

CEOs DE PETROLEIRAS DIZEM QUE GÁS NATURAL PODE AJUDAR A CONTER AQUECIMENTO GLOBAL

O gás natural não é apenas um passo no rumo às energias renováveis, segundo os executivos do setor reunidos em Washington. Patrick Pouyanne, CEO da Total, disse que “a idéia do gás natural como combustível de transição para as energias renováveis é estranha… O gás natural é uma solução (para as mudanças climáticas). Está cientificamente provado”. Segundo a Reuters, esta visão foi repetida por outros participantes da reunião, como os CEOs da BP e da ConocoPhillips. A Reuters informa, também, que uma nova análise da Agência Internacional de Energia prevê que a China se tornará o maior país importador de gás do mundo já em 2019, como consequência do afastamento do país da energia gerada pelo carvão.

https://af.reuters.com/article/energyOilNews/idAFL1N1TS1YO

 

O SUMÁRIO EXECUTIVO DO RELATÓRIO 1,5oC do IPCC

O site Climate Home News teve acesso e publicou a versão enviada pelo IPCC aos governos do sumário executivo do relatório 1,5oC. O relatório deve ser oficialmente lançado em outubro, depois dos comentários dos governos. Fugindo do nosso estilo, que busca divulgar resumidamente as informações, colocamos abaixo as principais conclusões do sumário de maneira não tão resumida. Pedimos desculpas antecipadamente pelo tamanho do texto, mas acreditamos que as informações podem ser úteis a vários de nossos leitores. Vamos lá:

– O aquecimento global induzido pela humanidade atingiu, em 2017, aproximadamente 1 ± 0,2°C (faixa provável) acima dos níveis pré-industriais, e atualmente está aumentando 0,2 ± 0,1°C por década (alta confiança).

– É improvável que as emissões passadas, sozinhas, elevem a temperatura média global ao nível da superfície (GMST) em 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, mas levam a outras mudanças, como a elevação do nível do mar e os impactos associados (alta confiança). Se as emissões continuarem na taxa atual, o aquecimento induzido pelo homem ultrapassará 1,5°C por volta de 2040 (alta confiança).

– Os riscos para os sistemas naturais e humanos são menores para um aquecimento global de 1,5°C quando comparados a um aquecimento de 2°C, e dependem da localização geográfica, dos níveis de desenvolvimento, da vulnerabilidade e das escolhas de adaptação e mitigação (alta confiança).

– O desenvolvimento sustentável, a erradicação da pobreza e implicações para a ética e a equidade serão considerações-chave nos esforços de mitigação para a limitação do aquecimento global a 1,5°C e nos esforços para a adaptação ao aquecimento global de 1,5°C (alta confiança).

– Não há uma resposta simples quanto a saber se é viável limitar o aquecimento a 1,5°C e adaptar as populações às suas consequências, porque esta viabilidade tem múltiplas dimensões que precisam ser consideradas simultânea e sistematicamente.

– Em relação a hoje, existem aumentos substanciais nos eventos climáticos extremos num mundo aquecido em 1,5°C, e entre 1,5°C e 2°C, incluindo extremos de temperatura ambiente em todas as regiões habitadas (alta confiança), eventos de precipitação na maioria das regiões (alta confiança) e secas extremas em algumas regiões (média confiança).

– Em terra, os riscos de impactos induzidos pelo clima na biodiversidade e nos ecossistemas, incluindo a perda e a extinção de espécies, são substancialmente menores a 1,5°C do que a 2°C. Limitar o aquecimento global a 1,5°C trará grandes benefícios para os ecossistemas terrestres, para os de zonas úmidas e para a preservação de seus serviços (alta confiança). Um sobreaquecimento, se muito superior a 1,5°C (por exemplo, próximo a 2°C), pode ter impactos irreversíveis em algumas espécies, ecossistemas, suas funções ecológicas e seus serviços prestados aos humanos, mesmo se o aquecimento global se estabilizar em 1,5°C até 2100 (alta confiança).

– Devido às diferenças projetadas na temperatura oceânica, nos níveis de acidificação e de oxigenação, limitar o aquecimento a 1,5°C comparado com 2°C, reduziria substancialmente os riscos à biodiversidade marinha, aos ecossistemas e suas funções ecológicas e aos serviços prestados aos seres humanos nas áreas costeiras e oceânicas, especialmente nos ecossistemas do mar Ártico e nos recifes de coral de água quente.

– Até 2100, o aumento do nível do mar seria cerca de 0,1 m mais baixo com o aquecimento global limitado a 1,5°C, quando comparado com 2°C (confiança média). Aumentos da intrusão de água salgada, de inundações e de danos à infraestrutura associados ao aumento do nível do mar são especialmente danosos para ambientes vulneráveis, como pequenas ilhas, zonas costeiras de baixa altitude e deltas (alta confiança).

– Impactos na saúde, nos meios de subsistência, no abastecimento de alimentos e água, na segurança, na infraestrutura e sobre o potencial subjacente de crescimento econômico aumentarão com 1,5°C de aquecimento em comparação com os dias de hoje, e ainda mais com um aquecimento de 2°C em comparação com 1,5°C.

– Limites à adaptação e perdas associadas existem para todos os níveis de aquecimento global (confiança média) com implicações específicas para regiões e populações vulneráveis. É necessária uma adaptação adicional nos setores avaliados de energia, terra e ecossistemas, sistemas urbanos, industriais e de transporte, e dentro de setores transversais como gestão de risco de desastres, saúde e educação; as necessidades de adaptação serão menores com o aquecimento global de 1,5°C, em comparação com 2°C.

– Todas as trajetórias de emissão consistentes com 1,5°C implicam reduções rápidas nas emissões líquidas globais antropogênicas de CO2 para zerar as emissões líquidas até meados do século, junto com reduções rápidas em outras emissões antropogênicas, particularmente de metano. Maiores reduções de emissões até 2030 levam a uma maior chance de limitação do aquecimento global a 1,5°C sem, ou com limitado, superaquecimento (de zero a 0,2°C) (alta confiança).

– Trajetórias consistentes com 1,5°C podem ter diferentes níveis de remoção de dióxido de carbono (CDR). Algumas limitam o aquecimento global a 1,5°C sem depender da bioenergia com captura e armazenamento de carbono (BECCS). Mudanças comportamentais, ações pelo lado da demanda e reduções de emissões no curto prazo podem limitar a dependência do CDR (alta confiança).

– Limitar o aquecimento global a 1,5°C exigiria transições rápidas e de longo alcance, que ocorreriam durante as próximas duas décadas, em sistemas energéticos, terrestres, urbanos e industriais.

– Mesmo se cumpridas as atuais promessas do Acordo de Paris (NDCs), estas ainda resultarão em um aquecimento global acima de 1,5°C, com riscos associados e desafios de adaptação. As reduções de emissões e a ação para além das NDCs atuais levam a uma redução do sobreaquecimento e a desafios de transição menores após 2030, e podem contribuir para que sejam atingidos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS) (alta confiança).

– A limitação do aquecimento global a 1,5°C no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza requer um portfólio de ações de mitigação e adaptação que funcione em todos os setores e escalas. Essas ações devem enfrentar as principais barreiras e seriam possibilitadas por mudanças nas finanças, na tecnologia e no comportamento (alta confiança).

– A adaptação pode reduzir a vulnerabilidade ao aquecimento global de 1,5°C e é benéfica, principalmente, para o desenvolvimento sustentável e a redução da pobreza. Também podem haver consequências negativas (trade-offs) com alguns dos ODS da ONU, se as ações não forem específicas para os distintos contextos e gerenciadas com cuidado (alta confiança).

– A mitigação consistente com as trajetórias de aquecimento global de 1,5°C está associada a múltiplas sinergias e trade-offs em uma série de ODS da ONU, dependendo do ritmo e da magnitude das mudanças e do gerenciamento da transição (alta confiança).

– Perseguir caminhos de desenvolvimento resilientes ao clima pode limitar o aquecimento a 1,5°C, ao mesmo tempo em que nos adaptamos às suas consequências e simultaneamente alcançamos o desenvolvimento sustentável (alta confiança)

– A implementação de políticas para limitar com sucesso o aquecimento a 1,5°C, e para adaptar a humanidade a este aquecimento, implica cooperação internacional e fortalecimento da capacidade institucional das autoridades nacionais e subnacionais, da sociedade civil, do setor privado, de cidades, comunidades locais e povos indígenas (alta confiança).

http://www.climatechangenews.com/2018/06/27/new-leaked-draft-of-un-1-5c-climate-report-in-full-and-annotated/

 

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