ClimaInfo, 16 de julho 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

GOVERNO TEMER QUER RETOMAR PLANO NUCLEAR

A Folha de S. Paulo teve acesso a um documento produzido pelo Comitê de Desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro que prevê a ampliação da geração de energia nuclear, da mineração e da exportação de urânio. O documento é a base do novo Programa Nuclear Brasileiro (PNB) que o general Sérgio Etchegoyen, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, quer enviar ao congresso até o final do ano na forma de um projeto de lei. Segundo a Folha, a proposta não detalha quantas e quais seriam as futuras usinas, mas o Etchegoyen tem dito a interlocutores que gostaria de construir várias usinas nucleares em diferentes partes do país, além de retomar a construção de Angra 3. Em 2016, uma equipe da Eletronuclear visitou locais em Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas e Sergipe que teriam potencial para receber novas usinas, em viagens acompanhadas por eventuais fornecedores estrangeiros da China, dos EUA e da França.

Segundo a Folha, o artigo primeiro da proposta do PNB diz que a energia nuclear é “limpa”. Que o digam os habitantes de Fukushima e Chernobyl.

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/07/temer-retoma-plano-nuclear-e-governo-preve-varias-usinas.shtml

 

CNI QUER TÉRMICAS A GÁS OPERANDO NA BASE DO SISTEMA ELÉTRICO

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) produziu um conjunto de documentos para os presidenciáveis que pode levar a um aumento considerável das emissões brasileiras de gases de efeito estufa. No capítulo sobre energia, a CNI defende o funcionamento contínuo das térmicas a gás natural, porque isto daria mais segurança e reduziria os custos, já que a armazenagem e a infraestrutura do gás é cara demais para ficar ociosa, esperando momentos de baixa nos ventos ou na insolação. Para baixar esses custos, a CNI defende que as térmicas a gás, no jargão do setor, ‘funcionem na base’.

A proposta tem vários problemas. Antes de tudo, a eletricidade das térmicas é mais cara porque é necessário pagar pelo gás natural, enquanto não se paga pela água, pelo vento ou pelo Sol. Além disso, o investimento para a instalação de uma unidade de energia eólica ou fotovoltaica é cada vez menor em relação ao necessário para a instalação desta mesma unidade térmica. Outro problema é que, colocando as térmicas na base, outras usinas ficarão ociosas, mesmo quando houver disponibilidade de água, vento ou Sol. Além disso, o preço das baterias também está caindo e, nos próximos anos, estas devem ser mais baratas do que a infraestrutura de distribuição e armazenagem do gás natural. A não ser que a indústria esteja exatamente de olho nessa infraestrutura. Aí o investimento todo seria rateado entre nós, os consumidores.

O documento se esquiva das emissões de gases de efeito estufa, usando a comparação internacional com o carvão. Que não é bem o caso no Brasil.

https://bucket-gw-cni-static-cms-si.s3.amazonaws.com/media/filer_public/f7/33/f733ead5-921a-48d0-be45-a474396f5a00/29_-_termicas_na_base.pdf

https://www.canalenergia.com.br/noticias/53068248/industria-defende-termicas-a-gas-na-base-para-reduzir-custo-da-energia

 

ROTA-2030 ESTIMULA IMPORTAÇÃO DE CARROS HÍBRIDOS E ELÉTRICOS

O governo lançou o Rota 2030 subsidiando as montadoras de automóveis. Embutida no programa está a consideração de que, sem o subsídio do contribuinte, as montadoras não têm como investir em inovação e melhoria de eficiência de seus produtos, o que é, no mínimo, questionável. Mas, para o clima, um ponto positivo do programa é a redução do imposto de importação de modelos híbridos e elétricos. O ideal seria que a indústria fabricasse os elétricos aqui mesmo, barateando-os para todo mundo, mas o Rota-2030 não diferencia os incentivos para a fabricação de elétricos e de fósseis. Assim, o elétrico, fundamental para descarbonizar o transporte, continuará sendo um importado de luxo.
https://www.gazetadopovo.com.br/economia/reducao-do-ipi-e-mais-um-passo-para-colocar-um-carro-eletrico-na-sua-garagem-1n87j6xcez7z35fvnbpwzh2vw

 

O CERRADO É O BIOMA MAIS AMEAÇADO DO PAÍS

Um artigo publicado na Nature organiza os números do desmatamento no Cerrado e mostra que este é o bioma mais ameaçado do país. O artigo é importante para mostrar ao mundo que desmatamento não é sinônimo de Amazônia, embora esta continue emblemática no imaginário do mundo mais rico. No ano passado, o INPE registrou a perda de 7.408 km2 de vegetação nativa do Cerrado e 6.947 km2 na Amazônia. O artigo mostra que as dinâmicas dos desmatamentos nestes diferentes biomas são distintas, que o Cerrado está sendo ocupado por pastos e lavouras e que a legislação protege mais a Amazônia. O artigo se refere às áreas de reserva legal que, na Amazônia, são de 80% de cada propriedade, enquanto no Cerrado são de 35% (o artigo diz que são apenas 20%, atribuído aos campos gerais e outros biomas).
https://www.nature.com/articles/d41586-018-05695-9

 

DESMATAMENTO DAS FLORESTAS TROPICAIS

Um outro artigo publicado na Science compara o desmatamento das florestas tropicais daqui, da Indonésia e do Congo, entre 2002 e 2014. O Brasil perdeu duas vezes mais florestas do que a Indonésia e cinco vezes mais do que o Congo. Os autores apontam que, no Brasil, a extração de madeira e de minério ocupam áreas de floresta virgem. No Congo são pequenos agricultores que derrubam a mata, muitas vezes fugindo de conflitos e da insegurança. A Indonésia foi o país que, relativamente, mais perdeu florestas, basicamente por conta da expansão das plantações de palma para extração de óleo vegetal e da drenagem de manguezais ao longo das costas. Os resultados do trabalho mostram que, enquanto os resultados mostram uma variação considerável entre as dinâmicas de perda de florestas nos três países, “a narrativa dominante é a exploração continuada de florestas tropicais úmidas”.

A esse respeito, o WWF acaba de lançar um trabalho que relaciona a perda florestal no mundo e as indústrias extrativas. Uma área maior que a França foi perdida para a mineração, o que representa 11% de todas as florestas tropicais ainda intactas no mundo. O petróleo e o gás estão por trás da perda de outros 8%. E, dos 5,2 milhões de km2 de florestas ainda em pé, 1 milhão está diretamente ameaçado por essas indústrias extrativas. Para dar a dimensão do que elas representam para o clima, o trabalho cita que as florestas tropicais existentes são responsáveis pela absorção de 25% do CO2 emitido pela humanidade.

http://iopscience.iop.org/article/10.1088/1748-9326/aacd1c/meta

https://press.wcs.org/News-Releases/articleType/ArticleView/articleId/11357/Report-Extractive-Industries-Impact-Almost-One-Million-Square-Kilometers-of-Pristine-Forests.aspx

 

GUERRA COMERCIAL DE TRUMP ENCHE OS EUA DE LIXO

No final do ano passado, a China decidiu limitar a quantidade de resíduos sólidos, principalmente plásticos, vinda de outros países. Durante um bom tempo, a China entendeu que esta importação era uma alternativa energética ao carvão, especialmente porque os países pagam para se livrar do lixo. Como Trump decidiu entrar em guerra comercial com a China, esta decidiu proibir a vinda do lixo norte-americano para ser tratado em seu território. Como resultado, o lixo está se acumulando no território dos EUA.

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2018/07/sem-compra-da-china-reciclaveis-dos-eua-acabam-acumulados-ou-em-lixoes.shtml

 

NA ESPANHA, RENOVÁVEIS SUPREM 46% DA DEMANDA ELÉTRICA

A Red Eléctrica de España (REE), responsável pelo sistema elétrico da Espanha continental, anunciou que, no primeiro semestre, as renováveis supriram 46% da demanda, as eólicas 23%, as hidrelétricas 17%, as centrais fotovoltaicas 3%, e as centrais solar-térmicas outros 2%. A REE explicou que o clima deu uma contribuição importante, principalmente para as hidrelétricas, que forneceram 74% mais eletricidade do que no mesmo período do ano anterior, que foi um ano particularmente seco.

Na semana passada soubemos que, no Reino Unido, as renováveis geraram mais eletricidade do que as térmicas a carvão. Parece que as metas de energia limpa podem ser atingidas antes do esperado.

https://www.pv-magazine.com/2018/07/12/spain-covers-45-8-of-first-half-electricity-demand-with-renewables

 

FOTOVOLTAICA SE ESPALHA RAPIDAMENTE PELA ÁFRICA

No último ano, aconteceram vários leilões de centrais fotovoltaicas na África com o apoio de organismos multilaterais. O Banco Mundial expandiu seu “Escalonando o Solar” (Scalling Solar). Aconteceram leilões na Zâmbia, Senegal e Etiópia e, neste ano, outros em Burkina Faso, Moçambique, Namíbia e Camarões. Os preços alcançados nestes leilões chegaram à casa de US$ 48 por MWp, considerado competitivo nas condições africanas. Uma das limitações para uma queda maior de preços está na precária rede de transmissão existente na maioria das localidades, o que limita a quantidade de consumidores atendidos e, portanto, a escala da central. Os últimos leilões foram de projetos com menos de 100 MWp. Analistas consideram que o apoio dos bancos e dos organismos multilaterais, com condições favorecidas de financiamento, continuará a ser imprescindível por um bom tempo.

https://www.pv-tech.org/editors-blog/large-scale-solar-blossoms-in-africa

 

LIÇÕES APRENDIDAS NOS MERCADOS DE CARBONO

Sabe-se de há muito que a transição para uma economia de baixa emissão precisa ter um sinal de preço atribuído às emissões de carbono. Nesse campo, uma das grandes discussões se dá sobre a efetividade de um imposto sobre o carbono ou a implantação de esquemas de mercado tipo cap-and-trade. O que se tem visto mais recentemente são jurisdições implantando ambos, conforme o setor ou atividade econômica. Um artigo na Climate Policy fala de uma avaliação feita sobre mais de 50 iniciativas de precificação das emissões. A primeira lição é que é muito difícil atribuir uma redução de emissões a um instrumento climático, posto que outras políticas e a própria conjuntura econômica são igualmente importantes. Especificamente para o caso de impostos, os autores afirmam que, na grande maioria dos casos, o valor do imposto é ou foi pequeno demais para que seu efeito possa ser notado. A iniciativa mais importante até o momento é o ETS europeu (sistema de comércio de emissões) pelo montante de emissões e dinheiro transacionado. Os autores dizem que o ETS certamente contribuiu para a redução das emissões europeias, mas que é muito difícil saber quão importante foi. Nas conclusões, os autores entendem que ambos devem ser vistos como parte de um portfólio de políticas climáticas e que é preciso mais investigações para entender a contribuição de cada instrumento.

https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/14693062.2018.1492897

 

EVENTOS EXTREMOS CADA VEZ MAIS MORTAIS COMO NO JAPÃO E NO CANADÁ

Este mês viu uma onda de calor passar por todo o hemisfério norte, provocando 70 mortes no Canadá e uma tempestade histórica sobre o sul do Japão, a qual deixou mais de 200 mortes. Não é possível atribuir os dois eventos unicamente ao aquecimento global. O que ciência da atribuição climática indica é que eventos como estes ficarão mais fortes e mais frequentes. Os japoneses contam com um sistema de avisos e de treinamento como o de poucos outros lugares, mas, mesmo assim, foram pegos em enxurradas e deslizamentos. No Canadá, uma quase repetição da onda de calor que atingiu a Europa em 2002 e deixou centenas de mortos. Agora, como então, a grande maioria das vítimas é de pessoas de idade, morando sozinhas em edificações construídas para não deixar o calor sair. Elas não conheciam a desidratação nem sabiam que precisam pedir ajuda.

O CRED (Centro de Pesquisa da Epidemiologia de Desastres) mantém um banco de dados de eventos extremos que, colocados num gráfico, mostra a clara tendência de aumentos de intensidade e frequência. O gráfico pode ser visto na matéria da Deutsche Welle (DW) abaixo.

https://www.emdat.be/

https://www.dw.com/en/will-extreme-weather-become-even-deadlier/a-44651459

https://www.reuters.com/article/us-weather-japan/japan-faces-frequent-disasters-as-flood-toll-reaches-200-idUSKBN1K20BJ

https://public.wmo.int/en/media/news/july-sees-extreme-precipitation-and-heat

 

Siga o ClimaInfo nas redes sociais: www.facebook.com/climainfo e www.twitter.com/climainfonews