ClimaInfo, 17 de julho 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

PETRORIO QUER LICENÇA PARA EXPLORAR PETRÓLEO PERTO DOS CORAIS DA FOZ DO AMAZONAS

A Petrorio deu início ao processo de licenciamento de três poços exploratórios na área arrematada em leilão que fica quase em cima dos recifes de corais da foz do Amazonas. O recife cobre uma área de 56 mil quilômetros quadrados, fica em profundidades entre 115 e 195 metros e nele foram registradas estruturas de algas, leitos de rodolitos (uma espécie de alga calcária), um tipo de solo chamado de laterita, jardins de esponja, coral mole e coral negro. O processo da Petrorio fará companhia ao da petroleira francesa Total. No começo deste ano, o Ibama emitiu dois pareceres identificando “lacunas e incongruências que inviabilizam a sua aprovação” e indicando que “são  necessárias informações e esclarecimentos dos empreendedores sobre os meios físico e biótico”. A Total e as parceiras BP e Queiroz Galvão também não explicaram claramente os riscos de acidente e as ações a serem tomadas caso algum deles ocorra.

http://epbr.com.br/petrorio-licencia-campanha-de-perfuracao-na-foz-do-amazonas/

http://www.petroriosa.com.br/ativos-e-operacoes/outros/

https://oglobo.globo.com/economia/nelson-tanure-alvo-de-investigacao-do-ministerio-publico-federal-22119459

 

FUTURO DOS TRENS AMEAÇADO PELA PEQUENA POLÍTICA DE ESTADOS

Governadores, senadores e deputados do Pará e do Espírito Santo bradaram gritos de guerra contra o pessoal do governo federal que fechou com a Vale a construção de um trecho importante da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico) em troca da extensão das concessões das ferrovias de Carajás e Vitória-Minas. A Fico é importante para os plantadores de soja do Mato Grosso que teriam mais uma esteira para escoar o produto. As duas ferrovias da Vale existentes também são esteiras, só que de minério de ferro, posto que as composições voltam quase sempre vazias para Minas e para Carajás. Os políticos estaduais citados querem que a Vale invista em seus estados e não no Mato Grosso.

Se ferrovias-esteira são ruins por não aproveitarem ao máximo os trilhos, pelo menos queimam menos diesel por tonelada transportada do que os caminhões. Assim, mais uma vez, o pequeno interesse de caciques políticos tenta se sobrepor ao do governo federal que, por sua vez, tem pouca ligação com as reais necessidades do país. As ferrovias são mais simples de eletrificar do que caminhões e poderiam ter um papel estratégico na descarbonização da economia.

https://www.valor.com.br/brasil/5660927/uma-boa-ideia-que-nao-deveria-sair-dos-trilhos#

http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2018/07/13/144773-analfabetismo-ambiental-e-oportunismo-politico.html

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,construcao-de-ferrovia-pela-vale-gera-disputa-entre-estados,70002397788

 

INSTALAÇÃO DE FILTROS NOS VEÍCULOS DIESEL EVITARIA ONZE MIL MORTES PREMATURAS SOMENTE EM SÃO PAULO

Os veículos são responsáveis por 61% da poluição da Região Metropolitana de São Paulo. Apesar de seu pequeno número na região, os ônibus e demais veículos pesados movidos a diesel são responsáveis por 50% das concentrações atmosféricas de black carbon (fuligem fina), tolueno e benzeno, todos compostos mutagênicos (indutores de câncer). Vale observar que os ônibus representam somente 5% da frota de 8 milhões de veículos que trafega na região. Estes números são resultado de uma engenhoso trabalho publicado na revista Nature Scientific Reports que tomou partido do uso extensivo de etanol pela frota de 8 milhões de automóveis e veículos leves da Região Metropolitana de São Paulo para identificar a responsabilidade diferenciada na poluição da região entre veículos leves e veículos pesados movidos a diesel. Um dos autores, o físico Paulo Artaxo, da USP, afirma que o problema da poluição emitida pelos ônibus é relativamente fácil de resolver por meio da instalação de filtros que conseguem reduzir em até 95% as emissões de black carbon. Segundo Artaxo, a instalação destes filtros evitaria 11.200 mortes prematuras por ano só em São Paulo.

Segundo o especialista em poluição veicular, Olímpio Álvares, os filtros de fluxo total, que são adaptáveis em todos veículos Euro 3 e Euro 5, cortam mais de 95% do material particulado, custam US$ 5 mil e duram dez anos. Álvares informa que a cidade de Santiago do Chile instalou com sucesso 3.200 filtros em sua frota de ônibus urbanos, que o México acaba de implantar um programa abrangente de adaptação de filtros para toda frota de ônibus urbanos, caminhões de lixo, escolares e caminhões de entrega, e que Londres também o fez para toda a frota. Álvares lembra também que o Comitê do Clima da Prefeitura de São Paulo recomendou a instalação destes filtros, porém apuramos que a recomendação que foi solenemente ignorada tanto por Doria quanto pela Câmara dos Vereadores da cidade.

https://www.nature.com/articles/s41598-018-29138-7

 

PRESERVAÇÃO DOS ESTOQUES DE CARBONO DE FLORESTAS PRIMÁRIAS NÃO GARANTE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE

Um grupo de pesquisadores descobriu que os investimentos destinados a evitar perdas maciças de carbono em florestas tropicais são provavelmente menos eficazes para a biodiversidade nas florestas de maior valor ecológico, enquanto aparentam ser mais eficazes para a proteção da biodiversidade em florestas secundárias ou primárias bastante degradadas. Para a surpresa do time de pesquisadores, nas florestas mais preservadas, até 77% das espécies que teriam sido protegidas por meio de ações voltadas à conservação da biodiversidade não seriam protegidas no caso de medidas centradas exclusivamente na proteção dos estoques de carbono. “Proteger os estoques de carbono das florestas tropicais deve permanecer um objetivo central em políticas internacionais de conservação”, afirma Joice Ferreira, uma das líderes do estudo e pesquisadora da Embrapa. “Esse tipo de medida não apenas pode desacelerar as alterações climáticas, como também tem o potencial de proteger a vida selvagem única e insubstituível das florestas tropicais como a Amazônia. No entanto, para garantir que tais espécies sobrevivam, a biodiversidade precisa ser tratada como foco central dos esforços de conservação – tanto quanto o carbono”.

https://www.nature.com/articles/s41558-018-0225-7

 

SUSTENTABILIDADE NO BRASIL DEVE VIR DA DEMOCRACIA E DA CIÊNCIA

Em um trabalho publicado na revista científica Perspectives in Ecology and Conservation, pesquisadores das universidades federais da Bahia, Goiás e Sergipe afirmam que a ciência e a democracia devem orientar a trajetória do Brasil em direção à sustentabilidade. Eles dizem que, na busca de soluções para os desafios sociais e ambientais, todas as nações do mundo têm contribuições a dar, e o Brasil não é exceção. Pelo contrário, como país megadiverso e de poder econômico emergente, tem um papel central neste processo. Entre 1995 e 2014, o país fez importantes melhorias em termos de desenvolvimento humano, incluindo educação superior e proteção ambiental. No entanto, as atuais crises econômica e política ameaçam tais avanços. Ao reduzir o financiamento da ciência e deixar de lado o aconselhamento científico na tomada de decisões ambientais estratégicas, o Brasil desviou-se do caminho da sustentabilidade, e várias tendências positivas já foram revertidas. Se o país quiser resolver os desafios colocados para a melhoria do bem-estar humano e a conservação da biodiversidade, deve renovar seu compromisso com a ciência, a educação e a democracia.

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2530064418300439

 

ENERGIA SOLAR E BATERIAS JUNTAS PARA A REDUÇÃO DO CUSTO DA ENERGIA NA PONTA

A norte-americana VedantaESS anunciou a instalação de um banco de baterias acoplado a uma central fotovoltaica em Goiás. Os recursos contam com a participação da Agência de Desenvolvimento e Comércio dos Estados Unidos (USTDA). Os clientes preferenciais do projeto são as empresas que pagam uma tarifa mais alta durante as três horas do horário de ponta ou, como vem acontecendo, ligam um gerador diesel durante este período. A primeira instalação terá capacidade de 100 kW, suficiente para evitar a entrada de geradores durante boa parte do ano. A VedantaESS firmou uma colaboração com a Pacto Energia, comercializadora de eletricidade. A parceria pretende oferecer soluções de até 5 MW com baterias com capacidade para até 20 MWh.

https://www.valor.com.br/empresas/5660877/americana-ess-traz-novas-baterias-ao-brasil#

http://vedantaess.com.br/sobre-vedantaess-ltda/

 

CHINA E UE REAFIRMAM COMPROMISSO COM ACORDO DE PARIS

A China e a União Europeia reafirmaram ontem seus compromissos com o Acordo de Paris e pediram a outros signatários que façam o mesmo porque as ações contra o aumento da temperatura global se tornaram mais importantes do que nunca. No comunicado conjunto, Pequim e Bruxelas não criticaram Trump diretamente, mas disseram que o Acordo de Paris provou que “o multilateralismo é capaz de oferecer soluções justas e eficazes para os problemas globais mais graves de nosso tempo”. China e UE se declararam comprometidas com a criação de um mecanismo de transferência de US$ 100 bilhões por ano das nações mais ricas às mais pobres para ajudá-las na mitigação e na adaptação às mudanças climáticas, prometeram buscar uma solução eficiente para o problema das emissões da aviação e da navegação internacionais, e anunciaram que estudarão novas maneiras de cooperar no comércio de emissões de carbono.

https://veja.abril.com.br/mundo/china-e-ue-reafirmam-compromisso-com-acordo-do-clima-de-paris/

 

PICO DA DEMANDA POR PETRÓLEO PODE VIR EM 20 ANOS

A Wood Mackenzie, uma das mais influentes consultorias do mundo do petróleo, estima que a demanda global por petróleo deve atingir seu pico nos próximos 20 anos, indicando que o declínio do negócio das petroleiras começará antes do previsto anteriormente.

Em tempo: as recentes leis que aumentaram os subsídios aos fósseis – a MP do trilhão e a prorrogação do Repetro – usam horizontes de tempo maiores do que estes 20 anos. Seria recomendável alguém refazer as projeções para ver se esses subsídios ainda ficam em pé.

https://www.woodmac.com/news/feature/the-rise-and-fall-of-black-gold/

https://www.businessgreen.com/bg/news/3035898/wood-mackenzie-global-oil-demand-could-peak-by-2036

 

PETROLEIRAS SE AFASTAM DE GRUPO NEGACIONISTA

A petroleira Exxon anunciou que não renovará sua participação no American Legislative Exchange Council (ALEC), um dos grupos de pressão mais fortes da direita americana, com pautas que vão da posse de armas ao negacionismo climático. No final do ano, o ALEC forçou seus membros a apoiar uma resolução pedindo que o governo removesse a mudança do clima da lista de ameaças à saúde pública. A BP e a Shell saíram do Alec em 2015 por causa do seu negacionismo. A Chevron, outra grande norte-americana continua, mas seu porta-voz declarou que “a empresa reconhece e compartilha a preocupação do governo e do público com relação à mudança do clima e acredita ser mais útil focar em ações práticas e custo-efetivas para enfrentar os riscos climáticos”.
https://www.houstonchronicle.com/business/energy/article/Oil-companies-break-with-right-over-climate-change-13071242.php

 

EMISSÕES NA CALIFÓRNIA RECUAM AO NÍVEL DOS ANOS 90

O CARB (California Air Resources Board) anunciou que o estado atingiu sua meta de redução de emissões de gases de efeito estufa quatro anos antes do prazo. A redução foi alcançada pelo aumento tanto da eficiência da economia quanto da participação das renováveis na matriz. A rigor, a meta foi alcançada em 2016 e o Conselho levou um certo tempo para coletar os dados e auditá-los. A pegada de carbono de um californiano médio diminuiu 23% e é, hoje, metade daquela de um norte-americano médio. A Grist destaca que isto desmente os que afirmam que só dá para reduzir emissões reduzindo o tamanho da economia. O CARB mostra que, comparada com o resto do país, “a Califórnia agora produz duas vezes mais bens e serviços, emitindo a mesma quantidade de gases de efeito estufa”.

https://grist.org/article/californias-carbon-emissions-are-back-to-90s-levels-it-can-be-done-people/

 

ALSTOM APRESENTA TREM MOVIDO A CÉLULA COMBUSTÍVEL

A Alemanha autorizou a Alstom a colocar em serviço seu primeiro trem de emissão zero alimentado por células de combustível de membrana de troca de prótons (PEM – proton-exchange membrane). Esta é uma célula que gera diretamente corrente elétrica separando hidrogênio e oxigênio. No modelo convencional, a queima do hidrogênio gera vapor que move uma turbina. Do ponto de vista operacional, as eficiências são parecidas, mas a temperatura de operação da PEM é mais baixa, simplificando a engenharia e baixando os custos. As duas primeiras locomotivas devem entrar em operação em setembro.

A Alstom é grupo industrial francês que atua na área de infraestrutura de energia e transporte e aparece de vez em quando no noticiário policial sobre os trens e metrôs de São Paulo.

http://www.railwaygazette.com/news/technology/single-view/view/hydrogen-fuel-cell-trainset-approved-for-passenger-service.html

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1464285916302280

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1464285917304091

 

CULTIVO DO MILHO AMEAÇADO PELO AQUECIMENTO GLOBAL

As lavouras de milho devem sofrer impactos da mudança do clima. O milho é o grão mais produzido no mundo e está na base da alimentação de muitos povos. Uma das pesquisadoras de um trabalho recém publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences diz que “a maioria das nossas lavouras são bem adaptadas ao clima atual. Existe uma temperatura ótima para seu crescimento e, para além dela, a produtividade cai. Extremos de calor produzem impactos realmente negativos… na florada das lavouras e, também, aumentam o consumo de água”. A grande vulnerabilidade decorre da concentração da produção em poucos países. Nos últimos dez anos, 87% do milho exportado no mundo veio de apenas 5 países (EUA, China, Brasil, Argentina e Ucrânia). Os pesquisadores rodaram modelos climáticos examinando a probabilidade de impactos simultâneos sobre as lavouras nestes países. Nas condições atuais do clima, a probabilidade de quebras simultâneas maiores que 10% das safras nestes países é basicamente zero. Num cenário de 2°C, a chance passa a ser de 7%. E se a temperatura média global chegar a 4°C, passa a ser muito provável (86%) que haja quebras simultâneas de safra nestes países. Lembrando que o milho é um dos grãos mais democráticos, com o qual se faz pão e tortillas para os pobres, e ração para o filé mignon e o faisão dos ricos.

https://www.pri.org/stories/2018-07-15/global-corn-crop-vulnerable-effects-climate-change

 

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