ClimaInfo, 2 de agosto de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

EÓLICAS ATINGEM MATURIDADE NO BRASIL

No próximo leilão de eletricidade, as eólicas serão negociadas como gente grande. Até agora, os riscos de performance foram diluídos pelo sistema. Depois de muitos anos de operação, conhece-se bem mais o vento e, mais importante, os agentes do mercado conhecem bem mais os riscos operacionais de cada planta. Assim, a partir de agora, estes riscos serão do empreendedor, como são os das hidrelétricas e térmicas. Sinal de que não serão mais tratadas como novidade.

https://www.valor.com.br/brasil/5702199/aneel-aprova-leilao-com-novo-contrato-para-eolicas

 

ESTIAGEM NO SUDESTE FAZ ELETRICIDADE FICAR AINDA MAIS CARA

Dois terços dos reservatórios de hidrelétricas fica no centro-sul do país que está passando por uma forte estiagem. Analistas do setor elétrico já estão fazendo as contas do impacto que a estiagem terá nos reajustes das concessionárias no ano que vem. A labiríntica regulamentação do setor faz com que o consumidor pague pela energia que a falta de chuva não deixou gerar.

Uma das pendências que Temer deixa para o próximo governo é um novo modelo para o setor que, em tese, corrige esta e outras distorções. Nada garante que o próximo presidente terá cacife para bancar a reforma e, assim, corremos o risco de continuar a pagar pela energia não gerada.

https://www.valor.com.br/brasil/5702193/seca-mais-intensa-ja-pressiona-tarifa-de-2019

 

FAMÍLIAS EXPULSAS POR BELO MONTE ENCERRAM OCUPAÇÃO DE ESCRITÓRIO DO IBAMA

A Norte Energia, dona da usina de Belo Monte, desalojou um monte de gente prometendo moradia decente, mas até agora não cumpriu a promessa. Por falta de recursos, muitas famílias foram morar em palafitas construídas em cima do esgoto de Altamira. No começo de julho, cansadas de serem enroladas, invadiram o escritório do Ibama. Ontem, com o apoio do Movimento dos Atingidos por Barragens, conseguiram que a Norte Energia providencie de imediato um aluguel social por 2 meses enquanto resolve a situação definitivamente.

https://www.mabnacional.org.br/noticia/ap-s-23-dias-atingidos-por-belo-monte-desocupam-ibama

https://www.brasildefato.com.br/2018/07/30/belo-monte-nao-entrega-casas-e-familias-atingidas-por-barragem-fecham-transamazonica/

 

PROCURADORA GERAL DA REPÚBLICA LIVRA ELISEU PADILHA DE CRIME AMBIENTAL

O gaúcho chefe da casa civil de Temer, Eliseu Padilha, tem uma boa lista de processos criminais nas costas, inclusive no campo ambiental. Ontem, a procuradora geral da república mandou arquivar o que dizia respeito à construção de uma obra numa área de proteção permanente. Como em outros muitos casos, a procuradora entendeu que o crime prescreveu porque passou muito tempo e Eliseu tem mais de 70 anos de idade.

Em tempo: Toninho Malvadeza, o já falecido ex-governador da Bahia, ex-senador e ex-ministro Antônio Carlos Magalhães, chamava carinhosamente o gaúcho da casa civil de Eliseu Quadrilha.

https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/raquel-pede-arquivamento-de-inquerito-contra-padilha-por-crime-ambiental/

 

ANVISA SE ADIANTA AO PL DO VENENO E RELAXA REGRAS PARA LIBERAÇÃO DE AGROTÓXICOS

A Anvisa publicou muito discretamente uma “orientação interna de serviço” se adiantando a uma das mudanças mais importantes propostas no PL do Veneno: a liberação quase que automática de agrotóxicos já aprovados nos EUA e na Europa. Rafael Moro Martins foi atrás das informações e colocou várias críticas à medida no Intercept. Entre elas, o fato de o clima e o solo dos EUA e da Europa serem diferentes. Como também são diferentes as práticas de aplicação. Portanto, a liberação dos venenos tem que passar por testes de adaptação às condições locais. Martins questionou a Anvisa se o uso dos EUA e da Europa como critérios de aprovação não deveria valer no sentido contrário, o da proibição aqui das moléculas proibidas por lá. A resposta levanta um batalhão de lebres: “A abordagem de avaliação para fins de registro por analogia não servirá para banir produtos do mercado. A retirada de produtos do mercado só pode ser feita por meio de reavaliação do ingrediente ativo e quando houver alertas internacionais ou apresentarem evidências de que o produto possua características proibitivas de registro como mutagenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade, desregulação endócrina e danos ao aparelho reprodutor”. Ou seja, dispensa-se a avaliação na entrada, mas não na saída.

Não se sabe bem como essa “orientação” passou, nem quem são os pais do monstrinho. Mas ela tem um cheiro tóxico de ação de quem sentiu o tamanho do protesto contra o PL do Veneno e quer chegar a seus objetivos por outros caminhos.

Ontem, também foi noticiada a investigação da venda de agrotóxicos pela internet, o que é ilegal. A prática está acontecendo no Paraná, terra do relator do PL do Veneno, que por sua vez também é comerciante dos venenos.

O barulho em torno do tema fez um grupo de chefs se movimentar para assegurar a qualidade dos ingredientes que usam, que consideram ameaçada pela eventual aprovação do PL do Veneno.

https://theintercept.com/2018/08/01/anvisa-pl-do-veneno-agrotoxicos/

https://www.bemparana.com.br/noticia/fiscalizacao-fecha-cerco-contra-o-comercio-ilegal-de-agrotoxicos-na-internet

https://www1.folha.uol.com.br/comida/2018/08/depois-da-farinata-chefs-se-unem-contra-a-bancada-ruralista.shtml

 

BRASIL PODE SER O 3o PAÍS COM MAIS MORTES CAUSADAS POR ONDAS DE CALOR

A devastadora onda de calor que assola o hemisfério norte está servindo para abrir os  olhos para o que o futuro nos reserva. Por coincidência, acaba de sair um estudo estimando o aumento de mortalidade causado por ondas de calor em diferentes cenários de mudança do clima. A tendência é de aumento da frequência e da intensidade destas ondas. Por contar com a participação de cientistas brasileiros, dentre os quais o professor Paulo Saldiva, o Brasil foi um dos 20 países analisados e o resultado não é bom. Nas projeções de aumento das mortes ligadas ao calor, o país só fica atrás da Colômbia e das Filipinas. Os pesquisadores entendem que as cidades do litoral são bem adaptadas ao calor. O que não acontece nas cidades um pouco mais para o interior, como São Paulo. Antonio Gasparrini, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, diz que “esse estudo, que é a maior pesquisa epidemiológica dos impactos projetados de ondas de calor no contexto do aquecimento global, sugere que as mortes associadas a ondas de calor podem aumentar dramaticamente, especialmente em países populosos de áreas tropicais e subtropicais”.
https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-tera-aumento-de-mortes-por-ondas-de-calor-afirma-estudo,70002424589

http://journals.plos.org/plosmedicine/article?id=10.1371/journal.pmed.1002629

 

REVISTA CIENTÍFICA PUBLICA NÚMERO ESPECIAL SOBRE SAÚDE E MUDANÇA DO CLIMA

A PLOS Medicine acaba de publicar uma coleção de artigos sobre os impactos da mudança do clima sobre a saúde humana. O artigo comentado na nota anterior faz parte da coleção junto com:

– um editorial sobre a necessidade de passarmos da teoria à prática;

– projeções dos impactos da mudança do clima à saúde;

– mudança do clima e a saúde da mulher;

– priorizar os cuidados com crianças;

– mudança do clima, saúde em ambientes urbanos e a promoção da equidade na saúde;

– efeitos negativos da mudança do clima na qualidade dos alimentos; e

– o alto nível de contaminação de esgotos após tempestades.

O link abaixo leva ao número especial onde se acham estas e outras matérias sobre o tema.
http://collections.plos.org/climate-change-and-health

 

TRUMP: CARROS EFICIENTES AUMENTAM RISCOS

Como parte do esforço de reversão dos padrões de economia de combustível estabelecidos por Obama, a administração Trump pretende argumentar que o aumento da eficiência do consumo de combustíveis por carros e caminhões pode ser perigoso para os motoristas. A Associated Press teve acesso a um esboço da proposta de congelamento dos padrões de eficiência e observou que esta postula que o congelamento dos padrões de eficiência poderia prevenir até 1.000 mortes por ano, já que carros menos eficientes e pesados ​​impediriam as pessoas de dirigir mais (!). O transporte é a maior fonte isolada de poluição do ar nos EUA, e pesquisas publicadas no ano passado revelaram que mesmo pequenos aumentos na poluição se correlacionam com mais de 100.000 mortes adicionais entre populações idosas. A proposta da administração Trump, que pode ser divulgada a partir desta semana, também contém planos para desafiar a possibilidade da Califórnia estabelecer seus próprios padrões.

https://www.washingtonpost.com/politics/federal_government/trump-administration-links-gas-mileage-to-risk-for-drivers/2018/08/01/546edabe-9542-11e8-818b-e9b7348cd87d_story.html

https://www.ucsusa.org/clean-vehicles/vehicles-air-pollution-and-human-health/cars-trucks-air-pollution

https://www.reuters.com/article/us-health-airpollution-usa-mortality-idUSKBN19J2V5

 

AS CAMPANHAS DE DESINVESTIMENTO GANHAM FORÇA, MAS SEU IMPACTO É DIFÍCIL DE AVALIAR

O Financial Times, jornal que lidera o conservadorismo do mundo dos negócios, diz que os ambientalistas venceram a batalha: depois de anos de campanha, conseguiram convencer o mundo da realidade da mudança climática; os céticos remanescentes – incluindo Trump – estão em menor número e a maioria dos governos, empresas de energia e investidores estão começando a apoiar fontes de energia de baixo carbono. Mas esta vitória não é suficiente para evitar os efeitos catastróficos do aquecimento global. O FT conta de “uma nova geração de ativistas” que prefere exercer pressão dentro das salas de reuniões e dá como exemplo a Iniciativa Carbon Tracker (CTI), pioneira na argumentação dos riscos e recompensas para os investidores. A CTI há anos tenta mostrar aos investidores que muitos de seus ativos fósseis se tornarão “não queimáveis” (unburnable) em uma economia de baixo carbono. Estes argumentos ganharam tração em 2015, quando o presidente do banco central inglês, Mark Carney, os ecoou e fez com que as preocupações com estes ativos entrassemm no mainstream. A CTI estima que as empresas produtoras de combustíveis fósseis correm o risco de desperdiçar algo próximo a US$ 1,6 trilhões em projetos de petróleo, gás e carvão, se os esforços internacionais para limitar os aumentos da temperatura global se intensificarem. Anthony Hobley, executivo chefe da CTI, diz que estes projetos, além de não fazerem sentido para o clima, não têm sentido financeiro. A pressão dos grupos ambientalistas tradicionais, aliada às campanhas pelo desinvestimento em fósseis que se apoiam nos números da CTI, está tendo algum efeito político e comercial: a França e o Reino Unido instam as instituições financeiras e empresas a divulgar os riscos da mudança climática em seus negócios. A Noruega decidiu se desfazer do carvão em 2015 e está considerando estender a política para petróleo e gás, embora seu grande fundo soberano seja baseado nas exportações dos combustíveis. E empresas de petróleo e gás, incluindo Shell, BP, Total, ConocoPhillips e ExxonMobil, responderam à pressão anunciando que informarão sobre o impacto potencial de suas atividades sobre a mudança climática. A Shell também estabeleceu uma meta para reduzir pela metade o carbono emitido pelos produtos que vende, enquanto a BP pretende mantê-los estáveis ​​até 2025.

https://www.ft.com/content/94ca31f0-7ac4-11e8-af48-190d103e32a4

 

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