ClimaInfo, 6 de agosto de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

TALANOA: GOVERNO BRASILEIRO NÃO ENTENDE O QUE É DIÁLOGO

A Conferência do Clima do ano passado teve como presidente o primeiro ministro das Ilhas Fiji, quem colocou na pauta o Diálogo Talanoa. Na tradição das ilhas do Pacífico, Talanoa é um processo “de diálogo inclusivo, participativo e transparente… O propósito é compartilhar histórias, construir empatia e tomar decisões sábias para o bem comum” (Plataforma do Diálogo Talanoa 2018). Na semana passada aconteceu a versão nacional do Talanoa. A portas fechadas, confidencial e, até onde se sabe, com uma única pessoa representando a sociedade civil organizada. Não se sabe o que foi conversado. Não se sabe se haverão outros eventos. Exatamente o oposto do propósito do Talanoa: exclusivo, excludente e fechado, gerando antipatia e desconfiança e, assim, passando longe da sabedoria e do bem comum.
http://www.observatoriodoclima.eco.br/tanaloa-brasil-fechado/

https://unfccc.int/process-and-meetings/the-paris-agreement/2018-talanoa-dialogue-platform

 

EÓLICAS SERÃO 2a FONTE DE ENERGIA NO BRASIL JÁ EM 2019

Há poucos anos, as usinas eólicas eram vistas como “experimentos” do setor elétrico. Hoje, respondem por 8,5% da potência instalada em território nacional e, “com a expansão de projetos já contratada, …devem ultrapassar a geração térmica e a biomassa em 2019 ou, no máximo, em 2020”, segundo Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). As usinas a biomassa são hoje responsáveis por 9,2% da matriz elétrica, mas as eólicas já são 8,5% e crescem a um ritmo superior a 20% ao ano, muito acima das demais fontes. No dia-a-dia, a presença dos ventos é ainda superior. É justamente no período seco – de abril a novembro, quando a maior parte dos reservatórios precisa ser preservada – que os ventos ganham mais força. Nas últimas semanas, 14% da energia que abastece o pais veio das torres eólicas. Há uma semana, a fonte eólica foi responsável por nada menos que 72% da energia consumida na Região Nordeste.

Esta indústria gera hoje mais de 190 mil postos de trabalho no Brasil, entre diretos e indiretos. De 2010 a 2017, foram investido US$ 32 bilhões no segmento. Nos cálculos do setor, no ano passado as eólicas evitaram a emissão de 21 milhões de toneladas de CO2, o equivalente à emissão anual de 16 milhões de veículos.

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,eolicas-serao-2-fonte-de-energia-do-pais-em-2019,70002430856

 

SISTEMA ELÉTRICO HOJE ENCALACRADO PRECISA SER MAIS INTELIGENTE

O grande mico do nosso sistema elétrico é o jogo de empurra da conta da energia não gerada. A eletricidade não é gerada quando falta água nas hidrelétricas ou quando, em havendo água, as termelétricas são desligadas, mas o sistema continua pagando pelo gás não usado. O empurra-empurra termina sempre na ‘conta de luz’ do consumidor.

A este jogo vem se somando o problema/dilema colocado pelo forte crescimento da instalação de placas fotovoltaicas em residências e empresas: as placas fotovoltaicas vêm reduzindo o consumo das empresas e casas mais ricas, exatamente as que tinham contas mais altas. As distribuidoras defendem o fim do que chamam de subsídios aos consumidores/produtores de energia, alegando que os demais consumidores de energia estão arcando com seus custos. Do outro lado, os defensores da geração distribuída afirmam que, além dos benefícios ambientais, a geração de energia no próprio local de consumo reduz a necessidade de novos investimentos em linhas de transmissão e reforços na distribuição. A reforma do sistema elétrico que deveria tratar destas e outras questões foi para o congresso, onde os jabutis adicionados pesaram a ponto de inviabilizar o processo e deixar o problema para o próximo governo.

É bom que a reforma seja bem feita. Aos dilemas já citados, outros se somarão em breve. Tecnologias de eficiência energética e de uso inteligente de energia estão sendo velozmente colocados no mercado. Analistas dizem que o sistema elétrico precisa evoluir para se tornar mais inteligente e eficiente, capaz de adotar tarifas dinâmicas e baixar a conta em dias de sol e vento. Em breve, cada instalação, inclusive as residenciais, terá maior inteligência e precisará de acesso à informação sobre a tarifa ‘momentânea’ de modo a decidir se liga ou não a máquina de lavar ou qualquer outro equipamento. E cada instalação será capaz de se programar para usar a bateria do carro elétrico da melhor maneira possível. A tecnologia já está aí, mas o Brasil terá que mudar muito para ser capaz de adotá-la.

Enquanto este sistema elétrico inteligente não vem, alguns sistemas isolados estão trocando o diesel dos velhos geradores por placas fotovoltaicas e baterias, e levando vantagem com a troca.
https://www.reuters.com/article/us-europe-electricity-prices-insight/run-your-dishwasher-when-the-sun-shines-dynamic-power-pricing-grows-idUSKBN1KN0L7

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/08/producao-de-energia-solar-em-casa-traz-polemica-para-o-pais.shtml

https://www.valor.com.br/opiniao/5708415/colapso-e-explosao-tarifaria

https://www.valor.com.br/empresas/5708573/ribeirinhos-trocam-diesel-pela-energia-do-sol

 

CANDIDATURAS PRESIDENCIAIS DISCUTEM (I)MOBILIDADE URBANA

A Folha de S. Paulo promoveu um debate sobre mobilidade urbana com representantes de dez candidatos à presidência. A falta de recursos permeou as discussões sobre a subvenção às tarifas do transporte público e sobre a capacidade dos municípios das regiões metropolitanas de montar e pôr em prática planos consistentes de mobilidade. Alguns dos representantes advogaram uma contribuição maior dos veículos privados para ajudar nestas despesas. Se inicialmente a ideia é justa, é preciso considerar que uma cidade do futuro, com muito menos carros, teria que arrumar outra maneira de bancar o transporte coletivo. Os efeitos da poluição na saúde, a perda de tempo em congestionamentos e outros tantos problemas da falta de mobilidade deveriam se traduzir em prejuízos colossais para a economia do país. São, no economês vigente, externalidades, posto que a conta é de todos e de ninguém. É mais uma ferida na qual ninguém quer põe o dedo.

https://www1.folha.uol.com.br/seminariosfolha/2018/08/e-necessario-criar-formas-para-financiar-o-preco-da-passagem-dizem-especialistas.shtml

https://www1.folha.uol.com.br/seminariosfolha/2018/08/falta-de-engajamento-de-cidades-com-mobilidade-dificulta-mudancas.shtml

 

PROJETOS DE LEI AMEAÇAM CONQUISTAS DOS 18 ANOS DO SNUC

Cientistas criticaram na semana passada os sete projetos de lei que alteram o tamanho de UCs e enfraquecem a própria lei que as fundamenta, a que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), ameaçando mais de 2 mil unidades de conservação que hoje cobrem uma área de mais de 2,5 milhões de km2. Cobrindo o IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, a jornalista Giovana Girardi chama a atenção para uma carta de pesquisadores brasileiros recém-publicada na Science que alerta para o projeto de lei que dá um prazo para que Unidades de Conservação regularizem suas questões fundiárias. Os recursos para tal dependem do mesmo congresso federal e do mesmo governo que patrocinam grileiros e posseiros e que retiram áreas do sistema de proteção.

O governo do Mato Grosso acaba de dar um exemplo concreto desta situação ao permitir desmatamento na Área de Proteção Ambiental (APA) das Cabeceiras do Rio Cuiabá. A medida foi suspensa a pedido do Ministério Público. Segundo denúncia do Instituto Centro de Vida, quase 40% da APA já foi desmatada por particulares. O governador Pedro Taques fala muito em sustentabilidade e enfrentamento do aquecimento global, mas, na prática, promove mais desmatamento no seu estado, que é líder nesta prática.

Os PLs e a ação do governo do MT sinaliza mais emissões de CO2 do desmatamento.

https://sustentabilidade.estadao.com.br/blogs/ambiente-se/cientistas-alertam-contra-pl-que-anula-area-protegida-que-nao-tiver-regularizacao-fundiaria

http://science.sciencemag.org/content/361/6401/459.1

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2018/08/governador-do-mt-propoe-lei-que-permite-desmatar-tres-cidades-de-sao-paulo.shtml

 

QUANDO NÃO HÁ ÁGUA TODOS BRIGAM E SABE-SE LÁ QUEM TEM RAZÃO

As águas da hidrovia Tietê-Paraná são cruciais para o transporte de grãos do Centro-Oeste e do Sul para o porto de Santos, e para a geração elétrica. Quando da pouca chuva do período 2014- 2016, o sistema elétrico ganhou a disputa paralisando a hidrovia e provocando um prejuízo estimado em R$ 1 bilhão, fora a perda de 1.600 empregos. Só que, como bem lembrou Munir Soares, especialista em energia do IEMA, faltar água é “o novo cenário de normalidade, não uma emergência”. A nova normalidade terá que regular o uso da água, seja para o transporte, seja para a energia. Olhar sob o ângulo das emissões de gases de efeito estufa é, também, uma pequena escolha de Sofia. Usar a água para gerar energia evita as emissões das térmicas fósseis. Usá-la para o transporte evita as emissões dos caminhões que queimam diesel nas estradas.

Em tempos de muita água, o conflito não aparecia. Com a palavra a Agência Nacional das Águas que tem exatamente esta missão.

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/08/transporte-e-energia-disputam-uso-dos-rios-no-brasil.shtml

 

NORTE-AMERICANOS RICOS PREFEREM TERRENOS MAIS ELEVADOS NA COSTA LESTE

A gentrificação de cidades como Miami começa a tomar o rumo da mudança do clima e da elevação do nível do mar. Já é possível notar uma mudança nos preços relativos de terrenos à beira do mar e situados em locais um pouco mais altos. Isso também aparece, disfarçadamente, nas conversas de corretores que encontram um pouco mais de dificuldade na venda de propriedades quase com o pé na areia. O mesmo está acontecendo mais ao norte, no litoral das Carolinas. Os mais ricos pagando para não molhar os pés. Os mais pobres tendo que molhar os seus.

https://medium.com/s/greatescape/can-you-escape-displacement-driven-by-climate-gentrification-if-youre-rich-2899382f0f90

 

CLIMA ESQUENTA E ECONOMIA ESFRIA NOS PAÍSES MAIS POBRES

Temperaturas mais altas afetam mais gravemente os trabalhadores que executam tarefas braçais a céu aberto. Sua produtividade cai sensivelmente e passam a ter mais problemas de saúde. Por conta disso, o aquecimento global impactará as economias do Sudeste da Ásia e da África, reduzindo as exportação em US$ 78 bilhões no Sudeste Asiático e em US$ 10 bilhões na África Ocidental. Os cálculos são da consultoria de risco Verisk Maplecroft. O trabalho mostra também que, até 2045, o fator climático terá um impacto da ordem de 4% nas exportações brasileiras. Ressalte-se que o trabalho olhou apenas para as condições dos trabalhadores e não levou em conta os impactos climáticos na produção da agropecuária. No entanto, os consultores incluíram o aumento da demanda de eletricidade pelo uso intensivo de aparelhos de ar condicionado, o que deve elevar a tarifa e derrubar ainda mais a economia. O relatório pode ser baixado no 2o link abaixo.

https://www.valor.com.br/internacional/5708585/aquecimento-global-afetara-producao-nos-paises-pobres
https://www.maplecroft.com/portfolio/new-analysis/2018/08/02/emerging-economies-will-slow-down-temperatures-rise-africa-se-asia-exports-tipped-feel-heat/

 

AQUECIDO, SOLO ‘RESPIRA’ MAIS E LIBERA CARBONO À ATMOSFERA

O vasta quantidade de carbono estocada no solo que pisamos está se esvaindo à atmosfera em uma taxa crescente, muito  provavelmente como resultado do aquecimento global, sugerem observações coletadas de uma variedade dos muitos ecossistemas terrestres. Quanto mais quente seu ambiente, mais furiosamente as bactérias do solo se reproduzem, comem e lançam dióxido de carbono à atmosfera. As medições mostram que esta emissão aumentou 1,2% nos últimos 25 anos. Os pesquisadores do trabalho publicado na Nature alertam que, embora este aumento pareça pequeno, na verdade, dada a escala global e o tempo relativamente curto quando comparado às escalas geológicas, é um aumento massivo. Segundo um dos autores “o solo é considerado como um sumidouro robusto de carbono, mas com as taxas crescentes de respiração deste, não teremos um sumidouro intato de carbono para sempre”.

https://www.sciencedaily.com/releases/2018/08/180801131607.htm

 

Para participar hoje

WEBINAR: METODOLOGIA DO GLOBAL FOREST WATCH

2017 foi o segundo pior ano de perda de cobertura por árvores tropicais. Os trópicos perderam 15,8 milhões de hectares de cobertura por árvores, uma área do tamanho de Bangladesh, ou pouco maior que o estado do Ceará, de acordo com os cálculos da Universidade de Maryland que se baseiam na metodologia do Global Forest Watch (GFW).

O conceito de perda de cobertura por árvores tem diferenças em relação ao conceito de desmatamento, este último comumente utilizado no Brasil. Para esclarecer o conceito e as diferenças, o WRI realizará hoje, das 14h00 às 15h30, um webinar para os profissionais da área ambiental que queiram entender melhor a metodologia do GFW. Os interessados poderão participar do webinar acessando o primeiro link desta nota. O segundo link leva aos resultados do GFW para 2017 e, o terceiro, à uma discussão das diferenças entre o GFW e as estimativas oficiais de desmatamento no Brasil.

https://wri.zoom.us/j/452718104

http://www.wri.org/blog/2018/06/2017-was-second-worst-year-record-tropical-tree-cover-loss

https://blog.globalforestwatch.org/data/technical-blog-comparing-gfws-2017-tree-cover-loss-data-to-official-estimates-in-brazil

 

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