BR 319
Para a primeira matéria da nova série da Folha de S. Paulo sobre a Amazônia, Fabiano Maisonnave e Lalo de Almeida viajaram pela BR-319, a estrada que liga Porto Velho a Manaus, conversando com ambientalistas e gente da região sobre o projeto de asfaltamento da estrada, ou melhor, de re-asfaltamento. Teme-se que, com o asfalto, mais gente se instale no seu entorno e leve o desmatamento até Manaus. O processo de desmatamento é bem conhecido. Entre 1980 e 2000, houve a abertura e o asfaltamento da BR-364, primeiro entre Cuiabá e Porto Velho e, depois, até Rio Branco, e o pessoal que por lá se instalou devastou Rondônia e parte do Acre. Mais recentemente, o mesmo processo vem acontecendo ao longo da BR-163, entre Cuiabá e Santarém. Fabianno e colaboradores tentaram colher as visões do candidatos a presidente sobre o asfaltamento da BR. Marina exige mais estudos de impacto ambiental. Boulos é contra. Alckmin, Álvaro Dias, Meireles e Lula/Haddad prometem asfaltar a estrada. Ciro, Amoêdo e Bolsonaro não responderam.
Em tempo 1: no ano que vem, a parceria entre a China e o Brasil vai lançar o 5o satélite do Programa Cbers que deve, dentre outras, gerar imagens da floresta amazônica e do Cerrado que ajudarão no combate ao desmatamento.
Em tempo 2: O presidente da Natura escreveu no El País sobre a importância da Amazônia, as ameaças do desmatamento e da mudança do clima e o que a empresa tem feito pela região.
https://temas.folha.uol.com.br/projeto-amazonia/br-319/asfaltar-ou-nao-asfaltar.shtml
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/05/opinion/1536161096_203719.html
FOLHA DE S. PAULO DEFENDE O AGRONEGÓCIO QUE ENTENDE E RESPEITA O MEIO AMBIENTE
Editorial da Folha deste domingo fala da importância do agronegócio na economia brasileira, destaca a área do território nacional ainda coberta por vegetação nativa (68%) e os 31% do território que é protegido por lei, seja em unidades de conservação ou em território indígena. A Folha explica que preservar é imprescindível para o próprio negócio do agro, e que não faz sentido opor lavoura e conservação. Por outro lado, o jornal pensa existir um gargalo logístico, sem explicar que o grosso das exportações de grãos saem pelos portos do Sudeste, onde as estradas são das melhores do país, e reclama da lentidão dos processos dos Incra, Anvisa, Ibama e Funai, sem ao menos tentar entender suas causas. No final, o jornal indica passos a serem tomados para conciliar o agro e o meio ambiente:
– priorizar a regularização fundiária, com integração de cadastros rurais, e concluir o Cadastro Ambiental Rural (CAR);
– elevar eficiência de órgãos controladores (Anvisa, Ibama, Incra, Funai);
– elaborar zoneamento ecológico-econômico do território;
– recuperar pastagens, aumentar produtividade da pecuária, zerar
desmatamento ilegal e recompor florestas para cumprir as metas do
Acordo de Paris; e
– buscar recursos privados para superar gargalos logísticos (estradas,
rodovias, hidrovias e portos).
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2018/09/salvacao-da-lavoura.shtml
SEM ESTUDOS TÉCNICOS, GOVERNO QUER FOSSILIZAR O FUTURO DO SETOR ELÉTRICO
Sem apresentar estudos técnicos, o ministro das minas e energia, Moreira Franco, anunciou a realização de leilões regionais para a contratação de energia de térmicas a gás, com o objetivo de desligar térmicas a óleo combustível. À guisa de justificativa, falou de “autossuficiência regional”, coisa que vai contra os fundamentos do sistema integrado nacional. Edvaldo Santana, ex-diretor da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) disse que “a ideia de autossuficiência energética vira de cabeça para baixo o sistema,
que sempre foi planejado para ser interligado [por linhas de transmissão]. Estamos retroagindo. Para ser assim, teria de ter uma discussão mais ampla”. Paira no ar a impressão de que, na atmosfera de fim de feira, o governo Temer tenta beliscar qualquer possível obra que passe na frente do Planalto, destas térmicas ao linhão Manaus-Boa Vista, da recolocação na pauta das hidrelétricas do Tapajós à conclusão de Angra 3.
O Operador Nacional do Sistema elétrico está deixando ligadas as térmicas (mais caras) para economizar água nos reservatórios, e o prejuízo é só parcialmente coberto pela Bandeira Tarifária Vermelha 2, a mais cara, indicando que as tarifas, novamente, aumentarão mais do que a inflação durante o próximo ano.
BRASIL PRECISA DEIXAR OS FÓSSEIS EMBAIXO DA TERRA
Rubens Born, diretor interino de 350.org Brasil, escreveu um longo artigo mostrando a cegueira da política energética nacional em não ver que o clima já está mudando. Born lista os recentes impactos climáticos para dizer que a era dos combustíveis fósseis já deveria ter se encerrado. Mas o que se vê por aqui são as centenas de bilhões em subsídios para a exploração de petróleo e gás, e pouco mais de uma centena de milhões para o atendimento das emergências que o clima já está provocando. Born lembra que, “com a proximidade das eleições presidenciais, estaduais e legislativas, o Brasil tem em mãos a chance de mudar de vez esse cenário. Candidatos devem apresentar propostas condizentes com a necessidade urgente de combate ao aquecimento global e com a demanda de suas populações, e cidadãos devem votar conscientes e cobrar o cumprimento dos compromissos assumidos por seus representantes.”
No entanto, o que se lê nos programas dos candidatos é um apego quase atávico à exploração do pré-sal, ainda achando que este é uma dádiva divina, sem se dar conta do preço que a humanidade vai pagar pela sua exploração.
PESQUISA APONTA AUMENTO DA PREOCUPAÇÃO DO BRASILEIRO COM O MEIO AMBIENTE
O Ibope realizou uma pesquisa para o WWF sobre o que o brasileiro pensa hoje sobre o meio ambiente e comparou os resultados com uma outra pesquisa realizada em 2014. Dos resultados, o WWF destaca que:
– 91% dos brasileiros acreditam que a natureza não está sendo protegida de forma adequada, um aumento de 7 pontos percentuais desde 2014;
– mais brasileiros pensam que também é responsabilidade dos cidadãos cuidar das Unidades de Conservação. Eram 46% em 2014 e são 66% agora. A responsabilidade maior continua sendo do governo; e
– o número de pessoas que acham que o meio ambiente é o principal motivo de orgulho nacional caiu de 58%, em 2014, para 39% agora. Talvez a crise econômica e política tenha deixado o brasileiro menos orgulhoso em geral.
https://www.imcgrupo.com/impress/gt/upload/baa46b2f7a47e9a7c9f6fd9def556dec.pdf
VEÍCULOS ELÉTRICOS PELO MUNDO
– O Greenpeace destacou em artigo os avanços do mercado de veículos elétricos: 1) tem cada vez mais gente comprando; 2) alguns governos estão implantando políticas para aumentar sua venda; 3) as pessoas usam os elétricos em locais onde podem recarregar as baterias; 4) fabricantes aumentarão a oferta de elétricos, assim como a de veículos a combustíveis fósseis; e 5) carros elétricos ocuparão o lugar dos a fósseis; quanto e quando ainda é motivo de debate e segue a questão das emissões da geração de eletricidade.
– Na Índia, o primeiro ministro, Modi, deve lançar uma política para apoiar os veículos elétricos. O objetivo é atingir 15% das vendas nos próximos 2 anos. Os veículos elétricos têm um triplo apelo no país: reduzir as importações de petróleo, reduzir a poluição do ar e combater a mudança do clima.
– O compartilhamento de patinetes elétricos vem ocupando espaços nas grandes cidades norte-americanas. Por ser mais leve, mais lento, mais seguro e mais barato do que carros e bicicletas elétricas, e ocupando menos espaço também, cinco operadoras colocaram à disposição, nos EUA, milhares de patinetes em mais de 40 cidades. Os patinetes são sucesso na Rússia e começam a despontar também na Europa. Problemas também começam a aparecer. O primeiro é que os patinetes estão ocupando espaço nas ruas, nas calçadas e nas ciclovias. Assim como acontece com o compartilhamento de bicicletas sem pontos fixos de entrega, começam a pipocar fotos de pilhas de patinetes ocupando calçadas e irritando pedestres. Também se discute a eventual necessidade de algum tipo de habilitação para transitar nos espaços públicos. Em São Paulo, a Scoo e a Yellow estão introduzindo o patinete em determinadas regiões.
– Uma pesquisa recente indicou que um programa de caminhões elétricos poderia fazer a Europa deixar de queimar o equivalente a 11 bilhões de barris de petróleo até 2050. Hoje, o continente queima esta quantidade a cada dois anos.
– Na Inglaterra, a Veolia, multinacional francesa que atua nas áreas de resíduos urbanos, tratamento de água e esgoto e energia, começará a usar incineradores para gerar energia elétrica e carregar as baterias de uma frota de caminhões de lixo elétricos.
https://unearthed.greenpeace.org/2018/09/06/the-rise-of-the-electric-car-five-things-you-need-to-know/
https://www.telegraph.co.uk/business/2018/09/06/new-electric-rubbish-lorries-powered-waste-collect/
MUDANÇA DO CLIMA VAI MUDAR O COMÉRCIO INTERNACIONAL DA AGROPECUÁRIA
Os impactos do clima na produção de alimentos ao redor do mundo trará mudanças importantes no comércio internacional de produtos agrícolas e de proteína animal. Um artigo que acaba de sair na Nature analisou o que pode vir pela frente. A ONU diz que seremos cerca de 10 bilhões de pessoas por volta de 2050. Entre os anos 2000 e 2010, ⅔ do consumo energético diário das pessoas provinha de quatro grupos de commodities agrícolas: trigo, arroz, outros cereais e oleaginosas. Como exemplo do impacto do clima, os autores modelaram a produção de soja, arroz, trigo e outros cereais nos EUA. Em 2015, os norte-americanos atendiam a 30% do consumo mundial. Tanto para o cenário de aquecimento de 2oC quanto para o de 1,5oC, a participação norte-americana nestes mercados cai e fica por volta de 10%. A China, hoje, importa quase todos os cereais que consome, mas no cenário 1,5oC, passar a exportar arroz. A África subsaariana deve ter o maior crescimento populacional, sem que a produção local de alimentos acompanhe o processo, de modo que passará a ser um dos principais mercados importadores. Numa matéria para o site The Conservation, os autores escrevem que “mudanças no sistema agrícola por conta do clima são inevitáveis. É o momento para se criar um sentido de urgência quanto às nossas vulnerabilidades agrícolas frente à mudança do clima e começar a seriamente minimizar os riscos”.
https://www.nature.com/articles/s41599-018-0164-y
https://theconversation.com/climate-change-will-reshape-the-worlds-agricultural-trade-102721
OS AEROPORTOS SUBMERSOS DA MUDANÇA CLIMÁTICA
Uma das imagens mais impactantes da semana passada foi a inundação do aeroporto de Kansai, no Japão, causada pela passagem do tufão Jebi. Aeroportos se tornaram um dos negócios mais atrativos do mundo. O valor de mercado somado das empresas que operam os aeroportos de Paris, Xangai, Sidnei, Frankfurt, Copenhagen e da Tailândia quase que quadruplicou na última década, e cresceu mais de 60% de 2016 para cá. O número de passageiros cresce a quase 5% cada ano. Um aeroporto exige muita área, de preferência plana e, principalmente, barata. Isso torna atraentes as áreas próximas a rios, lagos e próximas ao mar (à exceção das praias, claro). Quanto o terreno é caro, vale até construir ilhas artificiais, como é o caso do aeroporto de Kansai, nas proximidades de Osaka. E isso os torna vulneráveis a tempestades, furacões e tufões, assim como à elevação do nível do mar. Kansai está 3,4 metros acima do mar. Dos grandes aeroportos internacionais, os de Roma, Brisbane, Barcelona, Tianjin, Bangcoc, Amsterdam, e os dois de Xangai, estão no mesmo nível ou até abaixo. Aqui, é só pensar no Santos Dumont e no Galeão. A ameaça não é que os aeroportos venham a afundar de vez, mesmo porque os cenários de maior impacto preveem uma elevação de não mais de 1 metro, mas que estes permaneçam mais tempo fechados por marés mais fortes ou inundações das pistas, terminais e rotas de acesso por tempestades mais fortes.
NO SAARA PLANTAS EÓLICAS E SOLARES PODEM TRAZER MAIS CHUVA E VEGETAÇÃO
Plantas eólicas e solares têm efeito local sobre a temperatura, a umidade e outros fatores. Os resultados de um modelo climático publicados na Science prevêem que o espalhamento de eólicas e fotovoltaicas no deserto do Saara aumentará a precipitação e a vegetação, particularmente na região do Sahel, logo ao sul do deserto do Saara, que pode ficar mais verde.
http://science.sciencemag.org/content/361/6406/1019
https://www.bbc.co.uk/news/science-environment-45435593
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