ClimaInfo, 20 de setembro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

FALTA SANEAMENTO EM MAIS DA METADE DOS MUNICÍPIOS

Mais da metade dos municípios brasileiros não conta com uma política municipal de saneamento básico, segundo pesquisa do IBGE divulgada ontem, 19/9. São mais de 3 mil municípios sem nenhum tipo de planejamento para tratamento de água e esgoto, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, drenagem e manejo das águas pluviais urbanas. Verminoses, diarreias e dengue foram as doenças mais reportadas pelas cidades – problemas relacionados às condições de saneamento. Apesar de uma lei de 2010 obrigar todos os municípios a elaborar estes planos, menos da metade o fez. A pesquisa mostra também uma forte desigualdade regional: 73% dos municípios na região Sul tem planos e sistemas de saneamento básico, mas eles só existem em menos de 16% dos municípios do Nordeste. A pesquisa levantou a prevalência de doenças associadas ao saneamento como verminoses e diarreia, e a correlação é total. A situação da saúde é agravada pelas doenças provocadas por mosquitos como o Aedes aegypti que encontram o mundo ideal em ambientes quentes com água parada.

Tanto esgoto quanto lixo não tratados adequadamente podem ser fonte de emissão tanto de metano quanto de dióxido de carbono. Cerca de 5% das emissões nacionais vem dessas fontes.

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/09/menos-da-metade-dos-municipios-tem-plano-de-saneamento-aponta-ibge.shtml

https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,mais-da-metade-dos-municipios-nao-contam-com-politica-de-saneamento-basico,70002509137

 

INTERESSE EM NOVO LEILÃO DO PRÉ-SAL MOSTRA QUE PETROLEIRAS NAVEGAM BEM EM MARES REVOLTOS

As petroleiras deveriam estar com suas barbas de molho por conta das eleições, já que alguns candidatos estão prometendo cancelar as concessões obtidas em leilões recentes enquanto outros prometem abrir mais concessões. No entanto, aparentemente, estas se sentem bem em mares revoltos. Um artigo publicado ontem no Valor diz que aumentou o interesse no leilão de áreas do pré-sal a ser realizado na próxima semana, o qual “pode ser a última oportunidade de contratação de blocos no polígono do pré-sal nos próximos anos”. O governo espera arrecadar quase R$ 7 bilhões em bônus, mais o que for ofertado do excedente em óleo de cada um dos quatro campos a serem leiloados.

Em tempo: nenhum dos candidatos se manifestou até agora sobre o impacto da exploração do pré-sal sobre o aquecimento global e poucos mencionaram as centenas de bilhões dados em subsídios às petroleiras.
https://www.valor.com.br/empresas/5861325/5-rodada-do-pre-sal-se-torna-prioridade-para-petroleiras

 

ENERGÉTICA FRANCESA VAI DIVERSIFICAR INVESTIMENTOS NO PAÍS

A Engie é a maior geradora privada do país. Em carteira, a empresa tem 13 GW que incluem uma participação na hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, e usinas a carvão no sul do país. Pouco mais de 9 GW são concessões que vencem nos próximos 12 anos. O plano de negócios da empresa busca diversificar os investimentos e procura oportunidades em linhas de transmissão e fontes renováveis. A empresa decidiu vender suas usinas a carvão, mas está em busca de compradores, sem sucesso, já há algum tempo. A Engie prevê que as hidrelétricas continuem sendo a parte mais importante do negócio, mas demanda que o governo resolva a questão do risco hidrológico, o GSF, que, hoje, desincentiva quem quer investir nesta forma de geração elétrica.

https://www.valor.com.br/empresas/5860647/engie-quer-diversificar-negocios-para-manter-crescimento-no-brasil

 

AUMENTO DAS ENCHENTES NA AMAZÔNIA É CORRELACIONADO COM AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

A frequência de enchentes cresceu muito na Amazônia entre o início do século 20 e hoje. O fenômeno tem conexão provável com as mudanças climáticas globais, segundo estudo publicado na Science Advances. Até os anos 1950, as grandes cheias aconteciam uma vez a cada 20 anos. Desde 2000, porém, Manaus sofre uma cheia a cada 4 anos, e as de 2009 e 2012 bateram todos os recordes de intensidade. O clima amazônico dos últimos anos, em especial o que se pode medir a partir da precipitação, parece um exemplo de livro didático do que a maioria dos cientistas espera das mudanças climáticas globais: um aumento da frequência dos chamados eventos climáticos extremos, com estações secas mais secas que o normal e estações chuvosas ainda mais “molhadas” que o esperado.

Os pesquisadores identificaram uma correlação entre este processo e o fortalecimento da chamada circulação de Walker (também conhecida como célula de Walker). Essa circulação de ar, típica da camada mais baixa da atmosfera nos trópicos, está ligada a diferenças de temperatura no mar e na Terra, envolvendo tanto trechos do Pacífico quanto do Atlântico tropical, num sistema de evaporação e de formação de nuvens e chuva. Como o oceano Atlântico tem ficado mais quente nos trópicos, enquanto o Pacífico tem ficado mais frio, a circulação de Walker tem se fortalecido e despejado mais água sobre a Amazônia. Este processo parece estar associado a uma série de mudanças na circulação dos oceanos e dos ventos – e, em última instância, com o aumento das temperaturas médias da Terra causado pela queima de combustíveis fósseis e pelo desmatamento.

http://advances.sciencemag.org/content/advances/4/9/eaat8785.full.pdf

https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/09/19/pesquisa-decifra-causas-de-aumento-de-enchentes-na-amazonia/

 

A IMOBILIDADE PROVOCADA PELOS CARROS

Na Cúpula do Clima da semana passada, o carro elétrico esteve em alta em vários pronunciamentos e compromissos que aparentemente se esqueceram que, limpo ou não, o automóvel segue comprometendo a mobilidade nas grandes cidades. Um artigo publicado na Curbed advoga mais mobilidade ativa e critica pesadamente a ideia dos carros elétricos serem salvadores do clima: “em certos momentos, a Cúpula pareceu uma feira de automóveis. O evento terminou com um passeio cross-country em carros elétricos… A única sessão completamente dedicada ao transporte pareceu mais com comerciais autocêntricos: SUV a célula de combustível! Estações de Recarga! Baterias”. A autora ironiza a promessa de lançamento de um satélite dedicado ao monitoramento das mudanças climáticas feita pelo governador da Califórnia, Jerry Brown: “o símbolo foi vergonhoso. Imaginei o lançamento do foguete numa paisagem deslumbrante da costa da Califórnia, com a atenção de todos voltada para o espetáculo no céu, quando nossos líderes deveriam de verdade estar focando o bairro, a rua, a calçada”.

Enquanto isso, no Reino Unido, o ministério do Transporte estima que, em 2050, 16% das vias estarão congestionadas. Por lá, hoje, o congestionamento atinge 7% das vias. Isso fará com que o tempo médio no trânsito suba quase 20%.

https://www.curbed.com/2018/9/18/17870878/global-climate-action-summit-electric-cars-transportation

https://www.thetimes.co.uk/article/electric-cars-forecast-to-clog-roads-77805kxbf

 

MAIORES AUDITORIAS GLOBAIS ACUSADAS DE ESCONDER RISCO CLIMÁTICO JUNTO COM SEUS CLIENTES

Uma lei recentemente aprovada no Reino Unido obriga as empresas a declarar suas emissões de gases de efeito estufa, as medidas que estão tomando para reduzi-las e os riscos que a mudança do clima traz para seus negócios. A análise dos riscos é importante para os acionistas e o público em geral. Pela lei, estas declarações precisam de auditadas por terceira parte independente e qualificada. Depois de analisar o processo com lupa, a Client Earth, organização inglesa sem fins lucrativos, denunciou que quatro grandes empresas – EasyJet, Balfour Beatty, EnQuest e Bodycote – não abriram suas avaliações de risco. E denunciou, também, que as auditorias feitas pelas quatro grandes corporações globais de auditoria e consultoria – PwC, KPMG, EY e Deloitte – “não apontaram qualquer problema” e afirmaram que “as declarações estão em conformidade com a lei e que não há nenhuma inexatidão material”. A Client Earth pediu explicações às empresas, às auditorias e ao órgão regulador. Afinal, uma empresa aérea como a EasyJet afirmar que o clima não traz riscos para o negócio é algo que desperta suspeitas em qualquer um, para dizer o mínimo.

https://www.clientearth.org/easyjet-among-companies-reported-to-regulator-by-clientearth/

 

PRODUÇÃO DE CARVÃO CAI NOS EUA APESAR DE TRUMP

Trump e seu governo estão fazendo o que podem para aumentar o consumo de carvão mineral, mas parece que a lei do mercado segue mais forte. Segundo relatório da Standard & Poor’s, os produtores norte-americanos reportaram a produção de 181 milhões de toneladas no 2o trimestre, uma queda de 4% em relação ao 1o trimestre e dos mesmos 4% em relação ao 2o trimestre do ano passado. Matthew Hong, diretor da consultoria Morningstar, diz que “as entregas à plantas domésticas de carvão continuam a cair e, embora o ritmo de fechamento de térmicas a carvão tenha diminuído, a matança continua”.

http://ieefa.org/u-s-coal-production-falls-for-third-straight-quarter/

 

OS PREÇOS DE CARBONO ESTÃO BAIXOS DEMAIS PARA CONTER O AQUECIMENTO GLOBAL

A OCDE publicou seu relatório anual sobre a precificação de carbono no mundo. O relatório adota o preço de referência da tonelada de carbono de € 30 e o compara com os níveis praticados em mercados nacionais, subnacionais e com os cobrados via impostos e taxas. A análise cobriu os países membros da organização e do G-20 – que inclui o Brasil – responsáveis por 80% das emissões globais. A conclusão é que os preços estão baixos demais para produzir qualquer efeito sobre as economias e, portanto, inúteis para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. O preço médio está 76,5% abaixo do preço de referência. A diferença está caindo muito lentamente e o relatório diz que, a continuar assim, os dois preços se encontrarão somente em 2095.

http://www.oecd.org/tax/effective-carbon-rates-2018-9789264305304-en.htm

https://uk.reuters.com/article/us-oecd-carbon/global-carbon-prices-too-low-to-combat-climate-change-oecd-idUKKCN1LY19A

 

NASA LANÇA SATÉLITE PARA ANALISAR O GELO NOS POLOS

No domingo, a Nasa lançou o satélite ICESat-2 com a missão, dentre outras, de monitorar as camadas de gelo dentro dos dois círculos polares. O satélite foi equipado com um novo laser especialmente desenvolvido para mapear a extensão e a profundidade do gelo. No comunicado oficial, a Nasa diz que “a missão reunirá dados suficientes para estimar a mudança anual na elevação das camadas de gelo da Groenlândia e da Antártica, mesmo se esta for tão pequena como quatro milímetros, a espessura de um lápis No 2”.
https://icesat-2.gsfc.nasa.gov/

https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/nasa-lanca-satelite-com-laser-para-estudar-perda-de-gelo-na-terra-23072530

 

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