ClimaInfo, 21 de setembro de 2018

O SERTÃO VAI VIRAR DESERTO

O Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) fez um estudo sobre o que pode acontecer no semiárido brasileiro em diferentes cenários climáticos. A região acaba de amargar sete anos seguidos de muito pouca chuva, e esse é um quadro que pode virar permanente, caso as metas do Acordo de Paris não sejam alcançadas. O climatologista Carlos Nobre, um dos autores do estudo, contou ao Estado de São Paulo que “no pior ano de seca do período recente, em 2012, a área que ficou em condição de seca extrema foi de cerca de 2%. Até o final do século, em um cenário de 4°C, 51% poderia ser afetado por essas secas extremas”. E a área do polígono das secas pode crescer e abarcar parte do Cerrado no Maranhão, do Piauí e da Bahia. Nobre acrescenta sua preocupação com o processo de desertificação da região em que, com a perda de vegetação nativa, o solo fica exposto. Quando chove, acrescenta, “isso tira a camada superior e resta somente um solo rico em metais. E aí pode chover o quanto for, que a vegetação não volta. Com as mudanças climáticas, essas condições para a desertificação podem aumentar”. Daí o título da nota: ao invés de virar mar, o sertão vai virar deserto mesmo.

https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,aquecimento-eleva-risco-de-desertificacao-no-nordeste,70002510467

 

AGROFLORESTAS E SEUS DESAFIOS NA AMAZÔNIA

O Globo Rural do começo do mês conta histórias interessantes de um pessoal do Sul que foi parar nas proximidades de Porto Velho, começou a plantar frutos e acabou criando o Projeto Reca (Reflorestamento Econômico Consorciado Adensado). As técnicas desenvolvidas cabem perfeitamente no que hoje é conhecido como sistemas agroflorestais – SAF. Hoje o grupo de 109 cooperados está recebendo apoio de um programa de carbono neutro da Natura. A matéria conta de outros SAF, como o projeto Cacau Floresta, desenvolvido por uma parceria entre a TNC e um grupo de mais de 100 produtores em São Félix do Xingu, no Pará. Com outras ações similares acontecendo, Marcello Brito, diretor executivo da Agropalma, diz que “temos hoje na Amazônia um mosaico de iniciativas de negócios sustentáveis que não falam entre si”. Mas a dificuldade-raíz enfrentada por muitos é a regularização fundiária. Como o CAR é autodeclaratório, estima-se que muita gente anda declarando terra que não é sua. Brenda Brito, do Imazon, diz que “o governo precisa resolver a situação desses 38% da região (estima-se que esse é tamanho das terras devolutas), pois essa área está aberta à ocupação ilegal. O CAR já aponta indícios dessa apropriação indevida”. A matéria do Globo Rural traz um retrato longo e bastante completo dos principais desafios para o aproveitamento sustentável e inclusivo da maior floresta tropical do mundo.

https://revistagloborural.globo.com/Noticias/Sustentabilidade/noticia/2018/09/nova-economia-da-amazonia.html

 

CONTEXTO POLÍTICO AUMENTA O DESMATAMENTO E PODE PIORAR

Há algumas semanas, o Imazon sinalizou a volta do crescimento do desmatamento da Amazônia nos últimos meses. No Mongabay, Sue Branford e Maurício Torres escrevem que a bancada ruralista, Temer e parte do judiciário se juntaram para incentivar a grilagem de terras, mãe de boa parte do desmatamento da Amazônia. Logo na introdução do artigo, os autores apontam que o sistema de comando e controle sofreu cortes drásticos de orçamento e pessoal que afetaram outros órgãos como a Funai. Além disso, o governo apresentou uma série de projetos de lei reduzindo unidades de conservação, como o da novela inacabada do Jamanxim. Outra pérola foi a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o Código Florestal, que pode ter incentivado ainda mais a grilagem ao anistiar quem havia desmatado. Os autores ainda alertam que as perspectivas de um futuro governo Bolsonaro vão na direção de mais grilagem e mais desmatamento.

https://pt.mongabay.com/2018/09/tempestade-politica-do-brasil-impulsiona-o-desmatamento-da-amazonia/

 

AS GRANDES LACUNAS DO CADASTRO AMBIENTAL RURAL

O Imaflora e parceiros descobriram que mais de ⅓ da área das propriedades rurais privadas ainda não faz parte do sistema do cadastro ambiental rural (CAR). O Imaflora usou um método diferente do adotado pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB), órgão que sistematiza os dados do CAR. A diferença está na área total que deveria ser cadastrada. O SFB usou a área dada no Censo Agropecuário 2006 do IBGE. O grupo formado pelos Imaflora, GeoLab (Esalq/USP), Lagesa (UFMG), Royal Institute of Technology e Observatório do Código Floresta estima que a área total é de 502 milhões de hectares, 26% maior que os 398 milhões adotado pelo SFB. No começo de junho, o SFB registrava o cadastro de 413 milhões de hectares. Logo, falta mais de ⅓ da área para ser cadastrada.

Isso ajuda a explicar porque a bancada ruralista busca adiamento sobre adiamento do prazo final para a realização do cadastro. Pela lei, findo o prazo, o CAR passa a ser documento obrigatório para obtenção de crédito rural federal. Muita gente estranhava a pressão pelos adiamentos por conta do SFB dizer que o cadastro registrava mais de 100% da área esperada.

http://imaflora.blogspot.com/2018/08/estudo-estima-que-mais-de-36-da-area-de.html

 

EUROPA PRECISA PARAR COM A VENDA DE CARROS FÓSSEIS ATÉ 2030 PARA ATINGIR METAS CLIMÁTICAS

Para que a Europa cumpra metas alinhadas à contenção do aquecimento global em 1,5oC, a venda de carros fósseis puros teriam que parar já em 2030. E, a partir de 2037, nem os híbridos com motores de combustão interna fóssil poderiam ser vendidos. Assim, em 2050 restariam os últimos híbridos e uma frota movida por eletricidade e fontes alternativas. Isso tudo aponta para 1,5oC com somente 50% de certeza. Um cenário com 66% de certeza se mostra inviável, mesmo se as vendas de carros fósseis puros parasse já em 2025, e que a partir de 2030 só houvesse carros com emissão zero nas vias europeias. Os resultados são de um estudo que o Greenpeace encomendou ao Centro Aeroespacial da Alemanha (Deutsches Zentrum für Luft-und Raumfahrt, DLR).

https://www.dlr.de/dlr/en/desktopdefault.aspx/tabid-10081/151_read-29854/#/gallery/32032

https://www.theguardian.com/environment/2018/sep/20/eu-must-end-new-petrol-and-diesel-car-sales-by-2030-to-meet-climate-targets-report

 

O PICO DA DEMANDA POR FÓSSEIS DEVE OCORRER NA PRÓXIMA DÉCADA, E OS IMPACTOS NOS MERCADOS FINANCEIROS SERÃO TREMENDOS

O pico da demanda por combustíveis fósseis terá um impacto dramático nos mercados financeiros já na próxima década, segundo o think tank financeiro Carbon Tracker (CT). Na visão dos analistas do CT, o sistema energético global está migrando de um estágio baseado em combustíveis fósseis para um baseado, principalmente, em fontes renováveis de energia.

O CT classificou os fatores que impulsionam a transição energética em categorias relacionadas a mudanças tecnológicas, mudanças na demanda e mudanças promovidas por políticas públicas. No que toca à tecnologia, o desenvolvimento recente e explosivo das baterias, da energia solar fotovoltaica e da energia eólica tem criado uma forte curva de aprendizagem que reduz os custos destas tecnologias em 20% a cada vez que se duplica a capacidade instalada, um fenômeno que deve continuar por um bom tempo ainda. Quanto à demanda, o motor da mudança hoje reside nos mercados emergentes, de maiores taxas de crescimento, maior densidade populacional e mais poluição. Estes mercados têm menos infraestrutura fóssil e uma aumentada dependência energética, o que os torna ansiosos pelo aproveitamento das oportunidades da era das fontes renováveis. Para o pessoal do CT, é muito provável, portanto, que os mercados emergentes tenham cada vez maior o crescimento da demanda de energia a partir de fontes renováveis e não de combustíveis fósseis. A espetacular queda dos preços e o aumento da flexibilidade proporcionado pela informatização e pela digitalização geraram um crescimento muito rápido, seguindo curvas em  ‘S’, das indústrias da energia solar fotovoltaica, da energia eólica, das baterias e dos veículos elétricos (EVs).

A modelagem destes fatores feita pelos analistas do CT levou-os a concluir que o valor máximo da demanda por fósseis, o tal pico da demanda, acontecerá durante a década de 2020. Para eles, no momento do pico da demanda fóssil, as fontes de energia solar fotovoltaica e eólica serão responsáveis por 6% do fornecimento total de energia e 14% do fornecimento de eletricidade em todo o mundo.

O pessoal do CT alerta os investidores que atuam nos mercados de energia quanto a três fatores de risco colocados pela transição energética: sistêmicos, relacionados a países e setoriais. Os riscos sistêmicos vêm dos US$ 25 trilhões hoje investidos em ativos fixos fósseis, cada vez mais vulneráveis a encalhes à medida que a transição energética avança. Quanto aos países, os analistas alertam quanto à vulnerabilidade daqueles que dependem fortemente dos combustíveis fósseis e que, portanto, são mais vulneráveis à queda dos altos rendimentos do setor. O CT identificou 12 países que têm rendas de combustíveis fósseis superiores a 10% do PIB. Já os setores afetados pela transição energética são múltiplos e não limitados apenas aos combustíveis fósseis em si. Além das áreas óbvias do carvão, do petróleo e do gás, estes incluem bens de capital (como turbinas a gás), transporte (como portos dedicados ao carvão) e automotivo. Setores diretamente impactados compõem até um quarto dos índices mais importantes das bolsas de valores globais. Nos mercados de dívida, o combustível fóssil e os setores relacionados representam quase um quarto do total de títulos corporativos seguidos pela Fitch e um pouco mais dos títulos cobertos pela Bloomberg.

https://www.carbontracker.org/reports/2020-vision-why-you-should-see-the-fossil-fuel-peak-coming

 

DETECTADA PERDA DE GELO INÉDITA EM CALOTA POLAR RUSSA

Um trabalho até agora inédito registrou uma perda acentuada de gelo na calota polar de Vavilov, no Ártico russo, em 2015. Naquele ano a calota chegou a perder quase 30 metros num único dia. A perda histórica de gelo é de apenas 5 cm por dia. O estudo levanta dúvidas sobre quão estável é o gelo das ilhotas espalhadas pelo Ártico.

https://www.sciencedaily.com/releases/2018/09/180919144910.htm

 

FALTAM MELHORES MEDIÇÕES PARA O ACOMPANHAMENTO DA DINÂMICA DO GELO DA GROENLÂNDIA

Algumas geleiras na Groenlândia estão derretendo mais rapidamente do que outras e a ciência ainda não sabe exatamente por que. Um artigo da Reuters conta um pouco das pesquisas que estão sendo feitas e das lacunas sobre a dinâmica das camadas de gelo. Há tempos atrás, os modelos focavam no derretimento superficial das geleiras, mas agora se sabe que o que acontece no fundo delas, no contato entre o gelo e o solo, é ainda mais importante. Só não se sabe o quanto. Assim, nos últimos anos, vem aumentando o intervalo das projeções de quanto gelo vai derreter e quando. A última projeção oficial do IPCC dizia que, até 2100, o mar subiria entre 28 e 98 cm. Ao que se sabe, a próxima projeção deve aumentar este intervalo para entre 33 e 133 cm, alteração que faz muita diferença para quem mora à beira-mar.

Ontem, um fotógrafo da Reuters filmou o momento no qual uma geleira imensa se soltou do continente.

https://www.reuters.com/article/us-climatechange-greenland-insight/greenland-and-the-hunt-for-better-climate-science-idUSKCN1LZ1EX

 

A DESIGUALDADE NO CONHECIMENTO SOBRE IMPACTOS DAS ONDAS DE CALOR

Não há dúvidas quanto a mudança do clima vir a afetar muito mais as populações mais pobres do que o pessoal do andar de cima. Um estudo que acaba de sair pinga duas gotas extras de maldade na situação: existem muito mais estudos acerca dos impactos sobre a saúde provocados por ondas de calor em países ricos do que em países pobres. Não só o impacto é maior, como o desconhecimento sobre estes também o é. Isso, claro, limita ainda mais as possibilidades de atendimento da população atingida. E tem mais. Também é significativamente menor o número de estudos sobre regiões de alta densidade populacional mais sujeitas aos efeitos das ilhas de calor. As regiões mais críticas e com menos estudos são o Sudeste da Ásia, a América Central e a África Central.

https://croakey.org/ahead-of-climate-and-health-symposium-review-spotlights-global-inequities-in-heatwave-research/

 

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DIÁLOGO TALANOA PROMOVIDO PELA SOCIEDADE CIVIL DISCUTE COMO AUMENTAR A AMBIÇÃO DO ACORDO DO CLIMA

O Observatório do Clima e parceiros convidam todos os interessados a participar da próxima sessão brasileira de contribuição ao Diálogo Talanoa. O evento, que reunirá representantes do setor público e da sociedade civil, integra a trilha de discussão que tem como objetivo estimular o aumento da ambição nacional no âmbito do Acordo de Paris.

O Diálogo Talanoa busca discutir como manter o aumento da temperatura média global bem abaixo dos 2°C e envidar esforços para limitá-lo em 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.

A partir deste evento, será redigido um documento com questionamentos e observações a ser encaminhado ao governo brasileiro pelo Observatório do Clima e transformado em submissão oficial ao Diálogo Talanoa da UNFCCC (Convenção Clima).

A programação está dividida em 4 diálogos com 3 perguntas: Onde estamos? Onde queremos ir? Como chegar lá?

Dia 27 de setembro, das 9h às 17h30, no Auditório FNP,  do Venâncio Shopping, Setor Comercial Sul, Quadra 8, Bloco B 50, sala 827, Asa Sul, Brasília-DF.

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfGsF5sindRpLk6BQeYIWTTGiuvEixEmJwbu_-IDl7OJ_rYJA/viewform

 

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DIÁLOGO DE TALANOA: O RELATÓRIO ESPECIAL DO IPCC – 1,5oC

Com a participação de Paulo Artaxo, membro IPCC, professor titular do Instituto de Física da USP e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), este evento do Diálogo Talanoa busca o entendimento sobre como as grandes empresas vêm contribuindo para o cumprimento do Acordo de Paris e orientar sobre o papel da sociedade no combate às mudanças climáticas.

Dia 19 de outubro, das 13h às 18h, no Auditório do Museu do Amanhã, Rio de Janeiro.

https://biblioteca.cebds.org/evento-talanoa-19-10-2018-inscricoes

 

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PÉ NO PARQUE

O WikiParques junto com ((o)) eco e com patrocínio da Fundação Grupo Boticário anunciam o lançamento da websérie Pé no Parque. A série nasceu da ideia – e da necessidade – de atingir o grande público e despertar nele a consciência sobre o papel e a importância das nossas áreas protegidas. Os primeiros quatro episódios são dedicados às histórias e imagens do Parque Nacional de São Joaquim (SC).

Os episódios podem ser consultados na página do projeto:

https://www.wikiparques.org/pe-no-parque/

 

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AGROFLORESTA É MAIS

O documentário mostra como uma área degradada pela produção extensiva de búfalos na região da Mata Atlântica paranaense foi transformada por meio de iniciativas de recuperação do meio ambiente que usam da produção agroflorestal, com produção de alimentos e preservação da biodiversidade.

Os protagonistas desta transformação foram as 24 famílias de agricultores do Acampamento José Lutzenberger, do MST. Por esta iniciativa, o Acampamento recebeu do Instituto Socioambiental o Prêmio de Conservação e Ampliação da Agrobiodiversidade.

https://agencia.fiocruz.br/fiocruz-lanca-documentario-agrofloresta-e-mais

 

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TERRITÓRIOS AUDIOVISUAIS INDÍGENAS

O Festival de Brasília de Cinema Brasileiro tem uma novidade na programação deste ano: A mostra “Territórios Audiovisuais Indígenas”. As exibições acontecem no Memorial dos Povos Indígenas, na Capital Federal, com entrada gratuita.

Veja a programação no link.

http://tvbrasil.ebc.com.br/reporter-brasil/2018/09/festival-de-brasilia-do-cinema-brasileiro-exibe-producoes-indigenas

 

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TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO E USO DE BIOGÁS E BIOMETANO

Livro da professora Suani Coelho, do IEA-USP, contendo informações recentes sobre a obtenção desses dois energéticos a partir de resíduos urbanos e rurais. Segundo a pesquisadora, a produção e o uso de biogás e biometano ainda se encontram em estágio bastante incipiente no país. Entretanto, isso não se deve à falta de tecnologias, mas, principalmente, a um comportamento conservador de muitos atores envolvidos no processo de obtenção dos energéticos e à ausência de políticas adequadas. “Há poucas e importantes iniciativas que ainda não se difundiram no país. Com atenção particular, o livro trata da vinhaça, resíduo produzido em enormes quantidades no processo de obtenção do etanol e com imenso potencial energético”.

O livro pode ser baixado do link abaixo.

http://www.iee.usp.br/gbio/sites/default/files/TECNONOLIAS%20DE%20PRODU%C3%87%C3%83O%20E%20USO%20-%20BIOGAS%20E%20BIOMETANO.pdf

 

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