ClimaInfo, 25 de setembro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

MMA PROMETE DIFERENCIAR DESMATAMENTO LEGAL DO ILEGAL

O Ministério do Meio Ambiente publicou uma portaria que começa a organizar as informações sobre autorizações de supressão de vegetação nativa, as quais, hoje, estão espalhadas pelos três níveis de governo. Hoje, as imagens de satélite mostram as áreas recém-desmatadas, sem que se saiba se havia autorização para tal e, caso haja, se esta vale para a área toda. O Ibama ficou com a responsabilidade de montar e gerir o novo sistema. Dentre as metas que o governo estabeleceu dentro do Acordo de Paris está a promessa de eliminar o desmatamento ilegal até 2030.

http://www.mma.gov.br/informma/item/15112-governo-diferenciar%C3%A1-desmatamento-legal-do-ilegal.html

https://www.oeco.org.br/blogs/salada-verde/governo-quer-diferenciar-desmatamento-legal-do-ilegal/

 

EMPRESAS E PROPRIETÁRIOS IMPEDEM A DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS

O processo de demarcação de terras indígenas (TI) é demorado, basicamente porque sofre uma série de impedimentos interpostos por contestações administrativas e judiciais e a marcação cerrada do agronegócio. Na 5a reportagem da série Projeto Amazônia, da Folha de S. Paulo, o tema é justamente as derrotas sofridas no processo de demarcação de TIs. Há, hoje, 245 terras indígenas em todo o país esperando por regularização. Enquanto isso, por exemplo, garimpos funcionam com licenças dadas por órgãos estaduais contestadas pelos ministérios públicos estaduais e federal. No final da matéria, vem a sentença: “O resultado da influência ruralista é que o presidente Michel Temer foi o que menos demarcou TIs desde a redemocratização: apenas uma foi homologada em pouco mais de dois anos”, uma área de 20 mil hectares no Mato Grosso, homologada em abril deste ano. Na semana passada, segundo o ISA, o governo homologou mais uma TI para os “Kaxuyana-Tunayana, nos municípios de Faro, Oriximiná e Nhamundá, entre o noroeste do Pará e o nordeste do Amazonas. A área tem mais de 2,1 milhões de hectares, o equivalente ao território de Sergipe”.
http://temas.folha.uol.com.br/projeto-amazonia/demarcacao-de-terras/empresas-e-negocios-atrasam-demarcacao-de-terras-indigenas-amazonicas.shtml

https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/governo-declara-terra-indigena-de-dois-milhoes-de-hectares-no-norte-do-para

 

ELETROBRAS QUER VENDER PARTE DA CONTA CRESCENTE DE ANGRA 3 PARA ESTRANGEIROS

Em entrevista ao Valor, o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Filho, disse que está estudando vender uma participação minoritária da Usina de Angra 3 em troca dos recursos necessários para concluí-la. Interessante notar que ele disse faltarem R$ 17 bi para a conclusão da obra, um valor 20% maior do que os R$ 14 bi que têm sido veiculados nos últimos meses. Assumindo o novo valor, a usina acaba de ficar ainda mais inviável do que já era. Lembrando que o projeto e os equipamentos são dos anos 80, anteriores à explosão de Chernobyl e bem anteriores ao derretimento de Fukushima.

Conseguirá Ferreira atrair a atenção da direita nacionalista defensora da energia nuclear como objeto de segurança nacional?
https://www.valor.com.br/empresas/5875799/eletrobras-avalia-vender-fatia-da-eletronuclear-grupo-estrangeiro

 

AS AMEAÇAS AMBIENTAIS DA ELEIÇÃO DE CAIADO EM GOIÁS

Nas pesquisas da semana passada, o uber-ruralista, Ronaldo Caiado, tinha 36% das intenções de voto para governador de Goiás e os analistas falavam de um sério risco deste senhor ganhar já no primeiro turno. Caio de Freitas Paes escreveu para o Intercept sobre como Caiado é uma ameaça séria à Chapada dos Veadeiros. A família do candidato tem empresas interessadas em construir pelo menos sete usinas hidrelétricas em área de conservação da região, e em montar uma fábrica de fertilizantes a partir da mineração de fosfatos numa área de mais de 13 mil hectares. Paes conta, com detalhes e documentos, os conflitos de interesse e as manobras da família Caiado e amigos.

Segundo o Caiado candidato, o processo de licenciamento ambiental é “extremamente longo e burocrático” e virou “um grande gargalo na vida de muitos empreendedores que buscam desenvolver uma atividade regular, seja ela comercial, industrial ou rural”.

https://theintercept.com/2018/09/23/ronaldo-caiado-chapada/

 

NOVO RELATÓRIO SOBRE OS DESAFIOS DO DESASTRE DE MARIANA

O desastre de Mariana completará 3 anos no dia 3 de novembro. Marcelo Leite escreveu na Folha sobre o relatório “Os Impactos do Rompimento da Barragem do Fundão, a primeira avaliação publicada pelo painel independente de especialistas reunido pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN)” lançado ontem. Um ponto destacado no relatório é a necessidade de elaborar “linhas de base” para avaliar os 42 projetos que compõem a estratégia da Fundação Renova, criada para resolver, mitigar e compensar o estrago feito. Essas “linhas de base” indicam o que foi fruto do desastre e o que faz parte das carências históricas da região do rio Doce. Marcelo cita como exemplo destas últimas, a quase completa ausência de tratamento de esgotos na bacia. Marcelo termina o artigo comparando o trabalho que está sendo feito por lá com a situação do resto do país: “De certo modo, é o oposto do que transparece no processo eleitoral em curso. Que sirvam as lições: não existem soluções fáceis para algo tão complexo quanto o Brasil desastrado, só soluções possíveis e difíceis de alcançar sem um mínimo de coesão e respeito por todos os envolvidos”.

Em tempo: os royalties da mineração baterão recorde até o final do ano e devem passar dos R$ 3 bilhões devido às mudanças na lei da mineração. Até agosto, a União, os estados e os municípios tinham recebido quase R$ 2 bi, mais do que em todo o ano passado. A região de Carajás foi a que mais gerou royalties, seguida da grande área mineral das proximidades de Belo Horizonte, onde ficava a Barragem do Fundão da Samarco.
https://portals.iucn.org/library/node/47832

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marceloleite/2018/09/relatorio-revela-brasil-complexo-contido-no-desastre-de-mariana.shtml

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,royalties-da-mineracao-serao-recorde-este-ano,70002513623

 

IMPACTOS DO ‘COMBATE ALTERNATIVO’ AO AQUECIMENTO GLOBAL

Frente ao tamanho do desafio imposto pela necessária redução das emissões globais de gases de efeito estufa, muitos cientistas pesquisam alternativas como a reflexão de parte da luz solar de volta ao espaço. Mas esta alternativa pode causar mais problemas. Pelo menos é o que indica um artigo publicado na Nature no mês passado mostrando que a reflexão de parte da luz do Sol não reduziria os danos causados às plantações pelas mudanças climáticas. Como o rendimento das colheitas globais deve cair como resultado do estresse térmico sofrido pelas plantas, a pulverização de partículas reflexivas na atmosfera poderia limitar o aumento de temperatura e, assim, um tanto destes problemas. Mas estas partículas também dispersariam a luz solar que chega à superfície do planeta, o que poderia reduzir a fotossíntese e prejudicar o crescimento das plantas. A pesquisa conclui que o benefício da redução das temperaturas seria mais ou menos compensado pelo dano causado pela mudança na incidência da luz solar.

https://www.nature.com/articles/s41586-018-0417-3

 

E O FOCO RECAI SOBRE OS REFUGIADOS DO CLIMA

Ao mesmo tempo em que os chefes de Estado se reúnem na Assembleia Geral das Nações Unidas desta semana em Nova York, tempestades e desastres recentes colocam os refugiados do clima nas manchetes. Um artigo publicado no The Guardian de ontem destaca como “a era da migração climática já está… sobre a América”, documentando como e quando os EUA mudarão à medida que a mudança climática muda fundamentalmente sua população. E o Los Angeles Times destaca como a mudança climática age como um multiplicador de conflitos, ajudando a estimular ondas de refugiados em todo o mundo. Estas matérias tiveram origem na demanda por uma resposta mais coordenada do sistema de desastres climáticos da ONU feito por uma força-tarefa da organização internacional sobre migração e deslocamentos populacionais.

Como para exemplificar a pressão do clima sobre as populações, as Carolinas do Norte e do Sul, nos EUA, continuam a ser atingidas pelos efeitos tardios do furacão Florence, mais de uma semana após a tempestade ter atingido o continente, já que enchentes mortais estão causando sérias ameaças à região. Pelo menos 42 pessoas morreram até agora como resultado da tempestade, enquanto milhares foram resgatadas e permanecem em abrigos. Rios ainda sobem nas Carolinas e estão gerando alertas e evacuações no início desta semana, e o Serviço Nacional de Meteorologia relata que cinco pontos de monitoramento dos níveis dos rios na Carolina do Norte ainda estavam em “fase de grande inundação” no fim da semana.

https://www.theguardian.com/environment/2018/sep/24/americas-era-of-climate-mass-migration-is-here

http://www.latimes.com/nation/la-na-pol-climate-change-refugees-united-nations-20180923-story.html

https://www.nytimes.com/2018/09/22/us/hurricane-florence-carolina.html

 

“CLIMÃO” NA REVISÃO DO RELATÓRIO 1,5oC DO IPCC

Bob Ward, diretor de políticas públicas do Grantham Research Institute on Climate Change and the Environment, e outros cientistas não nominados pelo The Guardian disseram ao jornal inglês que os cientistas que trabalham na redação final do Sumário para Formuladores de Políticas do Relatório Especial sobre 1,5oC do IPCC (a ser lançado no dia 8/10) estão censurando seus próprios alertas para que suas recomendações sejam mais palatáveis aos países que, como os EUA, a Arábia Saudita e a Austrália, relutam em cortar suas emissões de gases de efeito estufa da queima de combustíveis fósseis. Refutando estas afirmações, o IPCC disse em nota ainda não saber “o que estará no Sumário para os Formuladores de Políticas, porque sua consideração linha a linha só ocorrerá nas sessões do IPCC de 1 a 5 de outubro”. A nota diz também que, “seja qual for o texto que está sendo lido, este certamente mudará entre agora e então”. Segundo a nota do IPCC, os autores do relatório tiveram que responder a mais de 42 mil comentários, recebidos em três períodos de revisão, e incorporar novas publicações científicas até a data limite de 15 de maio. “Todos os relatórios do IPCC passam por vários rascunhos e revisões. É completamente normal que o texto do relatório principal e o Sumário para Formuladores de Políticas evoluam ao longo deste processo”, diz a nota.

Myles Allen, um dos coordenadores do Sumário, disse ao site Climate Home News que é “ofensivo” sugerir que os cientistas fazem o que os governos lhes impõem. “Isso foi pintado como um bullying dos governos sobre os cientistas, o que é degradante para os governos, porque sugere que eles agem de forma antiética, e é humilhante para os cientistas, porque sugere que podemos ser intimidados”.

Em tempo 1: a matéria do Guardian foi o 10o artigo sobre clima mais compartilhado nas redes sociais durante a semana passada, com 6,4 mil compartilhamentos somados no Facebook, no Twitter e no Reddit.

Em tempo 2: o “climão” reflete a sensibilidade política do relatório, porque o objetivo mais rígido do Acordo de Paris (1,5oC de teto para o aquecimento global) implica cortes muito mais rápidos nas emissões de gases do efeito estufa, o que prejudicará as economias dependentes dos combustíveis fósseis.

https://www.theguardian.com/science/2018/sep/23/scientists-changing-global-warming-report-please-polluters

http://www.climatechangenews.com/2018/09/24/climate-scientists-reject-offensive-claim-us-saudi-meddling-landmark-report/

 

A GERAÇÃO VIA RENOVÁVEIS ESTÁ NO CALCANHAR DO GÁS

Tem gente, principalmente dos mundos das turbinas e do gás, que vê um papel importante para o gás natural na transição energética para uma economia de baixa emissão. Mas dois artigos recentes jogam água fria nesta ideia, por conta da queda no preço das baterias. Um artigo publicado na Green Tech Media traz uma série de previsões apresentadas pela consultoria Wood Mackenzie numa feira sobre energia e geração elétrica em Barcelona. Se hoje a capacidade total de armazenagem gira por volta de 6 GWh, ela deve chegar a 65 GWh nos próximos 4 anos, mais de 10 vezes maior. Se é sabido que o preço da geração solar e eólica vem despencando, a consultoria indica que o preço do conjunto geração e armazenagem já está alcançando as avançadas plantas de ciclo combinado a gás. A NextEra americana vai vender energia no Arizona por US$ 45 por MWh, com baterias que seguram 4 horas de operação, para a cidade de Tucson. A Xcel Energy está oferecendo conjuntos semelhantes a US$ 36 por MWh. Esses valores já seriam competitivos por aqui.

Um outro artigo divulgado pela Reuters começa dando notícias até que alvissareiras para o panorama do mercado de gás. Mas levanta bandeiras vermelhas ao dizer que os conjuntos solar e/ou eólica com baterias estão avançando mais rapidamente do que previam até os mais otimistas há alguns anos.

O aviso é claro para nossos planejadores: investir em plantas e infraestrutura fósseis trava por um bom tempo os investimentos na onda verde e mais barata das renováveis.

https://www.greentechmedia.com/articles/read/6-charts-showing-the-renewables-threat-to-gas

https://www.reuters.com/article/us-gas-industry-gastech/buoyant-gas-industry-may-be-blindsided-by-renewables-idUSKCN1M00P3

 

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