ClimaInfo, 26 de setembro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

SECA EM RIOS AMAZÔNICOS PODEM AFETAR 124 MIL PESSOAS

Pelo jeito vem aí outra seca brava na Amazônia. Muitos rios estão secando e a previsão é de pouca chuva. A calha do rio Madeira, em alguns pontos, está apenas 20% acima do nível mais baixo já registrado. As calhas do Juruá e do Purus também estão baixas em vários trechos. Hermógenes Rabelo, da Defesa Civil do Amazonas, disse que “a calha do rio Negro está normal e a anomalia é identificada na parte oeste e sudoeste do estado. Em função da dimensão territorial, as primeiras regiões afetadas são a oeste e a sudoeste, depois vem a parte central e, em terceiro, o Baixo Amazonas, no leste”. A notícia publicada no jornal A Crítica, de Manaus, não diz que há grande chance de ocorrer um El Niño ainda neste ano, e que o fenômeno pode estender o atual período seco da Amazônia Central por mais algumas semanas – ou meses.
https://www.acritica.com/channels/manaus/news/estiagem-deve-afetar-124-mil-pessoas-no-interior-do-amazonas-aponta-defesa-civil

 

A INTERMINÁVEL CRISE HÍDRICA DE SÃO PAULO

O Estadão conversou com vários moradores da região metropolitana de São Paulo que continuam a sofrer com a constante falta d’água, o que indica que parte importante da população não está sendo atendida como o dito nas propagandas e discursos oficiais. O problema, segundo os especialistas entrevistados, está no controle da pressão da água na rede da Sabesp. Durante o dia, o consumo é mais alto e não deixa a pressão subir. Já durante a noite e a madrugada, o consumo despenca e a pressão na rede tende a subir. A maior pressão na tubulação aumenta os vazamentos e pode provocar rompimentos na rede. Para que isto seja evitado, a Sabesp reduz a pressão durante a noite, fazendo com que os moradores dos pontos mais altos da cidade fiquem sem água. Entrevistada, tanto a empresa quanto a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp) disseram que está tudo em ordem.

O mesmo Estadão de ontem trouxe uma matéria da jornalista Giovana Girardi sobre os ainda poucos projetos de reflorestamento existentes na grande área do Sistema Cantareira. Esses projetos trazem claramente ganhos para o Sistema: “a floresta retém a erosão e diminui a quantidade de sedimentos nos rios. Um reflorestamento de 4 mil hectares – apenas 2% da área de recarga do reservatório – poderia gerar uma economia de R$ 300 milhões somente no tratamento da turbidez da água”. O artigo comenta um trabalho do World Resources Institute lançado ontem: “Infraestrutura natural no sistema de abastecimento de água de São Paulo”.

https://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,moradores-relatam-rotina-diaria-de-cortes-dagua-desde-a-crise-hidrica,70002517589

https://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,cantareira-replantio-leva-a-economia-no-tratamento,70002517629

http://wribrasil.org.br/pt/publication/infraestrutura-natural-para-agua-no-sistema-cantareira-em-sao-paulo

 

DA URGÊNCIA DAS 3 GRANDES TRANSFORMAÇÕES PARA A SUSTENTABILIDADE

José Eli da Veiga, professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente da USP, escreveu um artigo no mínimo instigante para a Página 22. Veiga diz que falta ao pensamento da sociedade o sentido de urgência das transformações necessárias para se chegar ao desenvolvimento sustentável. Veiga analisou 6 publicações recentes: cinco propostas de organizações da sociedade civil para os presidenciáveis e o Relatório Luz da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável – Síntese II. Seu olhar foi menos para o conteúdo, alegando que “seria missão impossível pretender propor qualquer tipo de análise comparativa desses seis documentos. Sem a imprescindível assimilação que ainda demandará muito tempo, nem sequer uma descrição de cada um deles poderia ficar razoável.” Ele aponta para o que os documentos têm em comum: a tal falta de urgência, e mais, que estes evitam tocar nas agendas polêmicas que seriam exatamente as grandes e necessárias transformações. Para Veiga, precisaremos precificar as emissões – e precificar alto; começar um processo que leve rapidamente à falência do setor fóssil, tanto na parte dos combustíveis fósseis quanto na dos plásticos e outros materiais com forte pegada ecológica; e, por último, uma renovação radical do atual padrão de produção alimentar. Quanto a este último ponto, Veiga diz que “não significa voltar a uma agropecuária tão natural quanto a que prevaleceu até a síntese da amônia, industrializada a partir da primeira guerra mundial. Significa, ao contrário, até maior intensificação dos processos produtivos, mas concomitante à sua desintoxicação, como propõe há quase dez anos a Royal Society no relatório Reaping the benefits – Science and the sustainable intensification of global agriculture”.

http://pagina22.com.br/2018/09/24/falta-sentido-de-urgencia/

https://royalsociety.org/topics-policy/publications/2009/reaping-benefits/

 

O SETOR ELÉTRICO SE ACHA MENOS RESPONSÁVEL PELAS METAS DE PARIS

Claudio Sales e Alexandre Uhlig, do Instituto Acende Brasil, think tank do setor elétrico, escreveram um artigo sobre as emissões e as responsabilidades do setor em função da proximidade da Conferência do Clima deste dezembro. Eles elogiam o trabalho do Fórum Brasileiro de Mudança Climáticas, que colocou mais peso nas emissões do desmatamento, da agropecuária e do transporte e, portanto, de quem se deveria exigir mais reduções. Os autores acham, por exemplo, que “a falta de percepção da sociedade para os reais responsáveis pelas emissões de GEEs implica em uma cobrança equivocada e o estabelecimento de metas desproporcionais para o setor elétrico”, sem citar quais eram estas metas, porque eram desproporcionais e quem as estabeleceu. Possivelmente, a motivação do artigo aparece no final quando, falando da intermitência das fontes limpas,  dizem que “para fazer frente a esse desafio, pode-se contar com a opção termoelétrica e com o potencial hidráulico remanescente associado a um robusto sistema de transmissão”, onde termoelétrica quer dizer queimar fósseis.

O que os autores não mencionam é que os modelos climáticos estão indicando menos chuvas em muitas das represas e usinas. Os agentes do setor deveriam estar dando as mãos com o setor agropecuário para fazer o impossível para conter o aquecimento global. Afinal, eles estarão entre os primeiros a sofrerem as consequências da mudança do clima.

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,o-brasil-e-a-cop-24-na-polonia,70002517500

 

EUA, ÍNDIA E ARÁBIA SAUDITA SERÃO OS MAIS AFETADOS PELO CUSTO SOCIAL DO CARBONO

O custo social do carbono (CSC) representa o custo econômico associado aos danos e benefícios que resultam da emissão adicional de uma tonelada de dióxido de carbono. Um trabalho que a Nature acaba de publicar usou modelos climáticos e econômicos para estimar o custo social em nível global e, também, nos principais países emissores. O custo calculado ficou mais alto em três países: US$ 86 na Índia, US$ 48 nos EUA e US$ 47 na Arábia Saudita. O Brasil está no segundo bloco, empatado com a China, com um CSC de US$ 24. O número mais trágico é o global, que é a soma ponderada de todos os CSCs, e este chegou a quase US$ 420 por tonelada de carbono emitida. Estes valores devem ser lidos com cautela, pois são a expressão das premissas adotadas na modelagem. Um artigo no Independent destaca especialmente o CSC nos EUA, indicando que o custo dos retrocessos promovidos por Trump e seus negacionistas amestrados pesará no bolso dos seus eleitores. Aliás, no dos exportadores de petróleo do Oriente Médio também.

https://www.nature.com/articles/s41558-018-0282-y

https://www.independent.co.uk/environment/climate-change-global-warming-effects-country-us-india-saudi-arabia-a8552746.html

 

BANCO INGLÊS PARA DE FINANCIAR TÉRMICAS A CARVÃO

O Standard Chartered é um banco inglês voltado para corporações e que atua em todo o mundo. Nesta semana, o banco decidiu não mais financiar novas térmicas a carvão. Na semana passada, o japonês Marubeni tomou a mesma decisão. Em abril, o HSBC avisou que estava cortando operações envolvendo carvão, óleo betuminoso e poços de petróleo e gás no Ártico, mas ainda não especificou um prazo. A declaração do Standard Chartered faz um passeio pela nobre missão de ajudar o mundo a prover energia barata, principalmente para os menos favorecidos, mas que, após extensa consulta a clientes, acionistas, colaboradores, governos e ONGs, entendeu que os riscos ambientais do carvão superam os benefícios de uma energia mais barata.

Outro sinal de que os tempos do carvão estão difíceis vem dos EUA. Em 2013, o governo Obama previu que a demanda mundial por carvão cresceria quase 40% até 2040. A projeção mais recente, prevê crescimento da ordem de 1%.

https://www.sc.com/en/explore-our-world/here-for-good-means-saying-no-to-coal/

https://www.reuters.com/article/us-stanchart-coal/standard-chartered-to-stop-financing-new-coal-fired-power-stations-idUSKCN1M50ID

http://ieefa.org/moodys-renewables-continue-growing-at-coals-expense/

 

BARRIL DO PETRÓLEO PASSA DOS US$ 80 PELA PRIMEIRA VEZ DESDE 2014

O preço do barril do petróleo Brent passou dos US$ 80 anteontem, pela primeira vez desde que o preço despencou de mais de US$ 100 para menos de US$ 30 entre 2014 e 2015. Desde o começo do ano, a OPEP e a Rússia combinaram ações conjuntas para controlar esse preço, ora aumentando a oferta, ora fechando um pouco as torneiras dos poços. Desta vez, a alta vem na esteira de três movimentos. A reimposição de sanções comerciais que Trump lascou em cima do Irã fez o petróleo iraniano sumir dos mercados oficiais, reduzindo a oferta global. Ao mesmo tempo, os estoques norte-americanos estão baixos e, embora a produção tenha aumentado um pouco, o número de novos poços está crescendo moderadamente, sinalizando oferta menor no futuro. Diante disso, a OPEP e a Rússia decidiram não fazer nada e deixar o preço subir. E tem a situação política e econômica na Venezuela, que derrubou a produção do país, estrangulando ainda mais a oferta global. Analistas estão apostando que o preço continuará em tendência de alta, e talvez passe dos US$ 90 ainda neste ano. Por aqui, a notícia é boa para a Petrobras e ruim para o não resolvido confronto entre o governo e os caminhoneiros.

O lado bom é que as renováveis ficam mais competitivas.

https://www.valor.com.br/empresas/5880435/opep-leva-petroleo-ao-maior-nivel-em-quase-quatro-anos

https://www.valor.com.br/financas/5879015/petroleo-brent-sobe-quase-3-e-recupera-niveis-do-fim-de-2014

https://uk.reuters.com/article/us-global-oil/oil-prices-surge-as-saudis-russia-wont-open-spigots-idUKKCN1M401E

 

AS EMISSÕES CHINESAS SEGUEM AUMENTANDO

Dados do Greenpeace indicam que, do começo do ano até agora, as emissões chinesas de gases de efeito estufa chinesas aumentaram 3%, quando comparadas com as do mesmo período do ano passado. Em 2017, estas emissões tinham subido 2%, depois de vários anos seguidos de queda. Chegou-se a dizer que as emissões chinesas tinham atingido seu máximo em 2013 e dado uma estabilizada no ano passado. Mas dois anos seguidos de aumento sugerem que a curva se inclinou para cima. O principal motivo é que a China voltou a crescer e, demandando mais energia, aumentou suas emissões.

https://unearthed.greenpeace.org/2018/09/21/china-emissions-rise-2018/

 

RELATÓRIO DA ONU DIZ QUE ESTABILIZAR O SISTEMA TERRESTRE EXIGE TRANSFORMAÇÕES GENERALIZADAS NOS FUNDAMENTOS DA ECONOMIA

No ano que vem, a ONU lançará o Relatório do Desenvolvimento Sustentável Global – 2019 (Global Sustainable Development Report). Uma versão para comentários circula desde o mês passado entre entidades selecionadas. O Relatório faz uma crítica dura ao sistema econômico mundial, dizendo que “os modelos econômicos que suportam o processo de tomada de decisões de políticas dos países ricos desconsideram quase que completamente as dimensões materiais e energéticas da economia. As economias esgotaram a capacidade dos ecossistemas planetários de manejar os resíduos gerados pelo uso de materiais e energia”. Ou seja, a ficha de que o planeta é finito ainda não caiu. O documento lança um petardo ainda mais forte: “Soluções baseadas no mercado não são suficientes – mesmo com um preço de carbono alto” e “mudanças incrementais e lineares não são suficientes para estabilizar o sistema Terra. Transformações rápidas, fundamentais e generalizadas provavelmente serão necessárias para reduzir o risco de se ultrapassar o limiar (de um ponto sem retorno)”.

https://sustainabledevelopment.un.org/globalsdreport/2019

https://www.sciencealert.com/un-draft-report-says-we-must-transition-economy-to-tackle-climate-change

 

Para ir

DIÁLOGO TALANOA PROMOVIDO PELA SOCIEDADE CIVIL DISCUTE COMO AUMENTAR A AMBIÇÃO DO ACORDO DE PARIS

O Observatório do Clima e parceiros convidam todos os interessados a participar da próxima sessão brasileira de contribuição ao Diálogo Talanoa. O evento reúne representantes do setor público e da sociedade civil e integra a trilha de discussão que tem como objetivo estimular o aumento da ambição no âmbito do Acordo de Paris.

O Diálogo Talanoa busca discutir como manter o aumento da temperatura média global bem abaixo dos 2°C e envidar esforços para limitá-lo em 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.

A partir deste evento, será redigido um documento com questionamentos e observações que será encaminhado ao governo brasileiro pelo Observatório do Clima e transformado em submissão oficial ao Diálogo Talanoa da UNFCCC (Convenção Clima).

A programação está dividida em 4 diálogos com 3 perguntas: Onde estamos? Onde queremos ir? Como chegar lá?

Quinta, 27 de setembro, das 9h às 17h30, no Auditório FNP do Venâncio Shopping, Setor Comercial Sul, Quadra 8, Bloco B 50, sala 827, Asa Sul, Brasília-DF.

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfGsF5sindRpLk6BQeYIWTTGiuvEixEmJwbu_-IDl7OJ_rYJA/viewform

 

Siga o ClimaInfo nas redes sociais: www.facebook.com/climainfo e www.twitter.com/climainfonews