ClimaInfo, 2 de outubro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

COMEÇA REUNIÃO PARA ANÁLISE FINAL DO RELATÓRIO 1,5oC DO IPCC

Ontem, na Coreia do Sul, cientistas do IPCC e delegações governamentais iniciaram a reunião que dará os últimos retoques no relatório que analisa o que o mundo precisa fazer para limitar o aquecimento global em 1,5oC acima dos níveis pré-industriais. A reunião deve durar toda a semana e o Sumário para Formuladores de Políticas deve ser lançado na próxima 2a feira. A mídia internacional já está repercutindo o que se sabe, e especulando sobre o que ainda não se sabe do relatório. A BBC diz que “deve ser o relatório mais crítico e mais controverso sobre a mudança do clima dos últimos anos… o relatório deve dizer que manter [o aquecimento global] abaixo deste limite requererá ações urgentes e dramáticas dos países e dos indivíduos”. Já a France Presse disse que “os diplomatas reunidos na Coreia do Sul estarão na desconfortável posição de analisar e validar um importante relatório da ONU que destaca o fracasso de seus governos na tomada de ações mais fortes contra a mudança do clima”. O Business Standard, da Índia, diz ter visto o texto que os norte-americanos preparam: “eles pedem mais de cem diluições, alterações e retiradas [de trechos do texto]”.

Uma parte relevante do relatório compara a severidade dos impactos entre cenários de aquecimento limitado à 1,5oC, 2oC e acima de 3oC. Foram analisados impactos físicos, sociais e econômicos.

https://www.bbc.com/news/science-environment-45653099

https://www.nakedcapitalism.com/2018/09/ipcc-manipulating-climate-report-summary-favor-wealthy-nations.html

https://www.business-standard.com/article/international/us-wants-dilutions-alterations-and-deletions-in-un-climate-change-report-118100100029_1.html

https://www.indiatoday.in/education-today/gk-current-affairs/story/un-report-mission-impossible-climate-target-1353408-2018-10-01

 

OS PRESIDENCIÁVEIS, A MUDANÇA DO CLIMA E O DESENVOLVIMENTO

A revista Época começou uma análise dos programas dos presidenciáveis no que toca às relações da mudança do clima com o desenvolvimento do país. Frente a tantas crises urgentes, o aquecimento global ainda é um assunto frio na disputa eleitoral, mas os programas dos presidenciáveis marcam posição sobre o compromisso com o clima, todos prometendo cumprir o Acordo de Paris. Só Bolsonaro se posicionou contrário. Todos o candidatos analisados defendem investimentos em energia renovável, como hidrelétricas, solar e eólica. Porém, à exceção de Marina Silva, eles não se comprometem explicitamente com a retirada de investimentos nos combustíveis fósseis. Quanto ao desmatamento, embora o país tenha prometido ao Acordo de Paris zerar o desmatamento ilegal até 2030, apenas dois candidatos, Boulos e Marina, citam em seus programas metas de desmate zero. A Época aprofunda a análise dos programas dos presidenciáveis para os temas da energia elétrica, transportes e combustíveis, florestas e agricultura, adaptação às mudanças climáticas e desenvolvimento e economia.

No Estadão, Gabriel Manzano comentou a análise da SOS Mata Atlântica sobre como o meio ambiente aparece nos programas de governo e em pronunciamentos dos candidatos. Bolsonaro e o Cabo Daciolo “não só ignoram o assunto como se mostram hostis à simples ideia de discuti-los”. Os dois propõem a unificação das pastas de Meio Ambiente e Agricultura, ou seja, a extinção do MMA e “predominam discursos fortemente antiambientalistas”. O título do artigo faz menção aos 50 tons de verde adotados pelos candidatos.

https://epoca.globo.com/deixado-de-lado-pelos-presidenciaveis-nas-entrevistas-combate-mudancas-climaticas-divide-programas-de-governo-23115439

https://epoca.globo.com/veja-como-os-presidenciaveis-se-posicionam-sobre-combate-as-mudancas-climaticas-23117048

https://cultura.estadao.com.br/blogs/direto-da-fonte/os-50-tons-de-verde-da-campanha-eleitoral

 

IMAZON REVELA DESMATAMENTO DE 4,500 KM2 NOS ÚLTIMOS 12 MESES

O Imazon soltou seu Boletim do Desmatamento de agosto indicando que, durante julho, desmataram-se 545 km2. O desmatamento acumulado nos doze meses a partir de setembro do ano passado, na metodologia do Imazon, chega a 4.533 km2, 82% acima dos  2.491 km2 detectados pela mesma metodologia no mesmo período de 2016-17.

Os estados nos quais mais se desmatou a Amazônia em agosto de 2018 foram, pela ordem, Pará (37%), Mato Grosso (20%), Amazonas (19%), Rondônia (16%), Acre (7%), Roraima (1%) e Tocantins (<1%).

O dado oficial do INPE deve sair antes da Cúpula do Clima que ocorre no início de dezembro. Se o aumento oficial for da mesma ordem, respeitando a proporção histórica das diferentes metodologias, o desmatamento oficial pode ir a mais de 12.000 km2, o maior dos últimos 10 anos. Mais uma tragédia anunciada para a prestação de contas do governo Temer.

http://imazon.org.br/publicacoes/boletim-do-desmatamento-da-amazonia-legal-agosto-2018-sad/

https://news.mongabay.com/2018/09/ahead-of-election-deforestation-continues-to-climb-in-the-brazilian-amazon/

 

SEMINÁRIO SOBRE A AMAZÔNIA DISCUTE INTEGRAÇÃO DAS QUESTÕES SOCIAIS COM CIÊNCIA “DURA”

No segundo workshop ‘As dimensões científicas, sociais e econômicas do desenvolvimento da Amazônia’, organizado pela FAPESP, pelo Inpa e pelo Wilson Center, a ênfase foi a integração entre a ciência dura e as questões sociais. Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP, disse no workshop que “mudanças no balanço energético e em ciclos hidrológicos já são observadas em pesquisas realizadas na Amazônia. Estamos descobrindo e monitorando essas mudanças. Porém, para conseguir que políticas públicas sejam feitas para a região, é preciso integrar aos estudos científicos aspectos socioeconômicos críticos para a sustentabilidade da região. (…) A Amazônia armazena entre 100 bilhões e 120 bilhões de toneladas de carbono na biomassa. Porém, nos últimos anos, com o aumento da perda de árvores – por seca, enchente e desmatamento –, se uma pequena fração desse montante for para a atmosfera, vão ocorrer grandes mudanças no balanço CO2 atmosférico”. Rita Mesquita, pesquisadora do Inpa, comentou a necessidade de uma maior integração das várias pesquisas que estão sendo feitas dizendo que “os estudos precisam ser interdisciplinares. Modelos sociais, econômicos e ambientais nem sempre têm os interesses alinhados. Mas só quando colocarmos todos esses aspectos juntos, poderemos avançar em questões de sustentabilidade”. http://agencia.fapesp.br/pesquisas-ambientais-na-amazonia-devem-integrar-questoes-socioeconomicas/28814/

 

A PECUÁRIA ENCOLHE, MAS CONTINUA PRESSIONANDO A FLORESTA

O IBGE revelou que o rebanho bovino encolheu no ano passado pela primeira vez desde 2012 como consequência dos escândalos da JBS e da Operação Carne Fraca. “Houve abate estratégico, inclusive de matrizes, o que reduziu a taxa de nascimentos e, posteriormente, o tamanho do plantel”, disse Mariana Oliveira, analista do IBGE. A pesquisa Produção da Pecuária Municipal mostra que a pecuária continua seu movimento em direção à região Norte. O município de São Félix do Xingu, no sudeste do Pará, tem 2,2 milhões de cabeças, um crescimento de 24% nos últimos dez anos. Aliás, dos 10 municípios com o maior rebanho, 7 ficam no Pará. A região Norte comportava 50 milhões de cabeças, o segundo maior rebanho do país em 2017. Esse movimento, claro, coloca cada vez mais pressão sobre a Amazônia.
https://www.valor.com.br/agro/5890651/crise-mudou-rumo-da-pecuaria-confirma-ibge

https://www.valor.com.br/agro/5888335/rebanho-bovino-caiu-em-2017-pela-primeira-vez-desde-2012

 

E SÃO PAULO VAI DESCOBRINDO AS VANTAGENS DA BICICLETA ELÉTRICA

O Estadão traz uma matéria simpática sobre as bicicletas elétricas em São Paulo, feita com ‘e-ciclistas’ de várias idades. Numa das mais movimentadas ciclovias da cidade, a que percorre toda a Av. Faria Lima, a matéria diz que, há três anos, as elétricas respondiam por 2% do movimento e, agora, já respondem por 9%. Quem conhece São Paulo e suas ladeiras, pode imaginar que as vendas das elétricas devem continuar crescendo bastante. Os preços no Brasil giram entre R$ 3.500 e R$ 5.000. Na Índia, os preços começam por volta de R$ 1.500, e na China por volta de R$ 1.800. Se alguém quiser importar direto, além do frete, terá um imposto de 60% sobre o valor da nota. Uma pena.

https://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,bicicleta-eletrica-vira-alternativa-de-transporte-em-sao-paulo,70002526731

 

SANTIAGO TERÁ MAIOR FROTA DE ÔNIBUS ELÉTRICOS FORA DA CHINA

Quando, há 12 anos, a capital do Chile implantou o Transantiago, um sistema integrado de transporte urbano, operar com ônibus elétricos era uma ideia que só parecia ser aplicável em países desenvolvidos, embora fosse ideal para cidades poluídas como Santiago. Mas os preços dos veículos e a forte presença dos ônibus fabricados no Brasil não permitiram sua introdução. Porém, este mercado está mudando rapidamente, e a capital do Chile terá 100 ônibus elétricos em operação até o final deste ano, tornando a frota de ônibus elétricos da cidade a maior fora da China.

O custo de cada veículo é de US$ 330 mil, a autonomia de 250 quilômetros e o custo da energia consumida por quilômetro percorrido é três vezes menor que nos veículos movidos a motores diesel similares. A eletricidade será fornecida pela Enel, por meio de 100 estações de carga a serem instaladas em terminais da cidade.

https://www.latercera.com/nacional/noticia/rojo-blanco-asi-seran-los-primeros-buses-electricos-del-transantiago/336803/

 

PAÍSES COM EMISSÕES CRESCENTES NÃO ESTÃO CUMPRINDO METAS

Por conta da proximidade do lançamento do Relatório Especial 1,5oC do IPCC, estão aparecendo análises sobre o que os países estão fazendo para cumprir as metas prometidas no âmbito do Acordo de Paris. E o balanço aparenta ser bem ruinzinho.

As emissões da Austrália voltaram a crescer, refletindo a sucessão de  governos conservadores instáveis, que estão buscando apoio na poderosa indústria do carvão, apesar das secas fortes e enchentes também devastadoras que trouxeram prejuízos bilionários para a lavoura no país.

Outro país importante que está numa encruzilhada é a Alemanha. O governo Merkel vive uma crise de governabilidade recorrente nos últimos tempos. Precisando de apoio no Parlamento, tem grande dificuldade em manter as metas de redução de emissão, pressionado que está pelos empregos no setor do carvão e automotivo. Neste último, postergam-se medidas que reduziriam as emissões do transporte.

Aliás, a situação é ruim o suficiente para o Guardian dizer que o papel dos ativistas é imprescindível para o aumento do nível de consciência da população mundial. O jornal lamenta a recente condenação de 3 ativistas antifracking ingleses, no que chamou de “um julgamento indevidamente duro e desproporcional”. E também lamenta o escândalo pessoal do diretor da ONU Meio Ambiente, Erik Solheim, que ocorre num momento muito infeliz.

https://www.theguardian.com/commentisfree/2018/sep/30/the-guardian-view-on-climate-policy-failures-dont-give-up

https://www.theguardian.com/environment/2018/sep/28/australias-greenhouse-gas-emissions-climb-again-amid-climate-policy-vacuum

https://www.dw.com/en/coal-dilemma-will-germany-blow-its-co2-budget/a-45594623

https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-09-27/germany-struggles-to-end-coal-reliance-despite-clean-power-shift

 

O PREÇO DO BARRIL DE PETRÓLEO PODE CHEGAR A US$ 100

O preço do barril passou dos US$ 80 na semana passada, e tem gente achando que pode chegar a US$ 100 até o fim do ano. Um artigo no Times de Londres lembra que este preço estava acima de US$ 110 em 2014, despencou para quase US$ 25 em 2016 e ficou flutuando entre US$ 25 e 30 durante um bom tempo. Naquela época, o CEO da BP, Bob Dudley, dizia que o preço ficaria entre US$ 50 e 60 durante um bom tempo, e que seria uma aberração voltar para perto de US$ 100. Esta aberração começou despontar no horizonte por conta de outra aberração surgida quando Trump rasgou o acordo nuclear com o Irã e novamente impôs sanções e prometeu penalizar qualquer país que furasse o bloqueio. Com isso, o petróleo iraniano sumiu do mercado oficial, que já sofria com a falta da Venezuela no mercado. O último passo, foi a negativa da Arábia Saudita e da Rússia em aumentar a produção para cobrir o buraco. Analistas apontam que, para chegar a US$ 100, só é preciso mais algum movimento como, por exemplo, uma retaliação iraniana, ou Trump continuar a soltar seus venenosos tuítes contra algum país produtor de petróleo.

https://www.thetimes.co.uk/article/world-is-bracing-for-unwelcome-return-of-100-oil-gt5ndt6cd

 

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