ClimaInfo, 17 de outubro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

A ELEIÇÃO NÃO ACABOU E O DESMATAMENTO JÁ ACELEROU

Entre junho e setembro, a floresta Amazônica perdeu mais de 2.400 km2 de mata, segundo dados do Deter-B do INPE. O aumento em relação ao mesmo período do ano passado foi de 36%. O Deter-B é usado como apoio para os dados oficiais de desmate raso baseados no Prodes e abrange o desmatamento com solo exposto, desmatamento com vegetação, mineração, degradação por fogo e extração de madeira. Já é clássico: em períodos eleitorais, a fiscalização enfraquece e os desmatadores aproveitam. É possível que a campanha do capitão-afastado, ao prometer desmontar a fiscalização e ocupar a Amazônia, tenha incentivado o pessoal da motosserra a atacar a floresta antes mesmo do término das eleições. Na semana passada, uma pessoa morreu em ataque a um posto da Funai. Não é um bom augúrio, e nem uma surpresa.

http://www.observatoriodoclima.eco.br/desmatamento-cresce-36-no-periodo-eleitoral/

 

AMAZÔNIA: MAIS SECA NO SUL E MAIS ÚMIDA NO NORTE

A mudança do clima está aumentando a diferença entre os climas nas regiões sul e norte da Amazônia. Os registros na região que compreende a Amazônia boliviana, a peruana e o extremo da Amazônia brasileira, mostram que, no período que vai de 1981 a 2017, em média, a precipitação diminuiu em 18%, em parte pela redução do número de dias de chuva. A pesquisa, que acaba de ser publicada na Climate Dynamics, atribui o efeito ao aquecimento do Atlântico tropical norte, que enfraquece o fluxo de vapor para o sul, somado a uma redução das correntes de convecção. Já no região norte da Amazônia, acontece o oposto. A precipitação aumentou 17% no período, assim como o número de dias de chuva. As correntes de convecção, que antes distribuíam mais uniformemente a umidade do Atlântico tropical, agora tendem a se concentrar mais ao norte. Um dos pesquisadores, o climatólogo José Marengo, do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), contou para o Direto da Ciência que “no sul, o prolongamento do período seco pode facilitar a propagação das queimadas e afetar a hidrologia dos rios, com impactos ecológicos e econômicos muito grandes em uma região bastante populosa. No norte, por outro lado, as chuvas extremas podem afetar o curso das enchentes dos rios, isolando populações ribeirinhas, por exemplo. Se fossem chuvas regulares não haveria problemas, mas o aumento das chuvas extremas é que complica a situação”.

https://link.springer.com/article/10.1007/s00382-018-4462-2

http://www.diretodaciencia.com/2018/10/15/amazonia-tem-mais-chuvas-extremas-no-norte-e-mais-secas-no-sul-diz-estudo

 

TROCA NA EQUIPE BRASILEIRA DE NEGOCIAÇÃO DO CLIMA E MAIS UM DIÁLOGO TALANOA FECHADO

O embaixador José Antonio Marcondes de Carvalho, que chefia a delegação brasileira nas negociações do clima desde 2013, deixará o posto depois da Conferência do Clima deste dezembro. Gaúcho, como é conhecido, foi ator importante no processo que levou ao Acordo de Paris. Everton Vargas, outro veterano das negociações, deve assumir o posto. Claro que depende do que acontecerá no próximo governo.

Enquanto isso, o MMA convidou cientistas para mais uma sessão do Diálogo Talanoa, com portas fechadas para a sociedade, apesar do espírito de inclusão do Diálogo proposto pelas ilhas do Pacífico.

https://www.valor.com.br/brasil/5927219/pais-troca-negociadores-na-area-ambiental

http://mma.gov.br/informma/item/15151-comunidade-cient%C3%ADfica-participa-de-di%C3%A1logo-sobre-clima.html

 

TÉRMICAS DA PETROBRAS PODEM SER DESATIVADAS

A reforma do setor elétrico ficou para o ano que vem e, também, a situação de um grupo de térmicas, muitas da Petrobras. Os contratos deste grupo terminam em 2023 e, caso não sejam recontratadas, deixarão um buraco de 13 GWh no sistema. Pelas regras atuais, estas térmicas teriam que participar dos leilões de energia com contratos de apenas um ano, o que não é interessante para os proprietários. O imbróglio promete continuar se a reforma for aprovada como está, posto que, por outros motivos, as térmicas mais velhas continuam perdendo a atratividade. O lado interessante é que, na pior das hipóteses, elas seriam substituídas por térmicas mais novas e mais eficientes, e a matriz elétrica emitiria menos gases de efeito estufa.

https://www.valor.com.br/brasil/5927223/incerteza-sobre-reforma-pode-levar-desativacao-de-termicas-da-petrobras

 

OS EQUIPAMENTOS PARA ETANOL DE MILHO

A Dedini é uma das mais tradicionais fabricantes de equipamentos para a indústria de álcool e açúcar e, agora, está investindo nas usinas de etanol de milho. Três usinas no Mato Grosso fizeram encomendas com capacidade de produção de 30 mil litros por dia. Como é da sua tradição, a empresa projetou módulos de 15, 30, 60, 90 e 120 mil litros por dia.

Este ano, devem ser produzidos mais de 600 milhões de litros de etanol, e projeta-se uma expansão que pode chegar a 5 bilhões de litros em 2023. Usinas flexíveis, que podem operar com cana de açúcar e milho, parecem ser a tendência, mas existem plantas, como essas da Dedini, que funcionam só para processar milho.

https://www.valor.com.br/agro/5926581/dedini-aposta-em-destilarias-de-etanol-partir-do-milho

 

LANÇADA A COMISSÃO GLOBAL EM ADAPTAÇÃO

O ex-secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, a CEO do Banco Mundial, Kristalina Georgieva, e Bill Gates lançaram, na 2a feira, a Comissão Global em Adaptação, com a missão de ajudar o mundo nos preparativos para os impactos da mudança do clima. O leque de ações vai desde a promoção de cultivos resistentes a secas até a elaboração de padrões de edificações que suportem melhor furacões e inundações. Georgieva disse que “o conhecimento (existente) não está sendo posto em prática rápido o suficiente e nem está sendo compartilhado. As decisões estão sendo tomadas em função do curto prazo e não estão levando em conta os riscos no longo prazo.” A Comissão trabalhará em duas frentes, por um lado levantando recursos e construindo vontade política para a adaptação e, por outro, reunindo conhecimento e experiências e difundindo e promovendo ações. O foco nos dois primeiros anos recairá ao longo de quatro eixos da adaptação: alimentação e modo de vida rural, infraestruturas, cidades e  indústrias. Hoje, gasta-se quase US$ 400 bilhões por ano em ações para a mitigação das emissões e não mais que US$ 20 bilhões na proteção contra eventos extremos. A Comissão pretende igualar o jogo.

https://www.theguardian.com/environment/2018/oct/16/leaders-move-past-trump-to-protect-world-from-climate-change

https://www.theatlantic.com/science/archive/2018/10/why-climate-science-cant-help-some-poor-countries-un-ipcc/569458

 

AS FLORESTAS E O DIREITO À TERRA SÃO CENTRAIS PARA LIMITAR O AQUECIMENTO GLOBAL

Na sequência do lançamento do Relatório 1,5oC do IPCC, a Climate, Land, Ambition and Rights Alliance (CLARA) publicou um estudo sobre “As rotas que faltam para 1,5oC”, destacando a importância das florestas para a manutenção do aquecimento global sob controle. Mais, ela prega o apoio às populações nativas – reconhecendo-as como as melhores protetoras das florestas – por meio da regularização fundiária de seus territórios, além do combate ao desmatamento e à degradação. Para o setor agropecuário, a CLARA aponta a necessidade de mais plantio direto, menos fertilizantes e mais apoio às pequenas propriedades. Além da revolução de hábitos alimentares para a redução drástica do consumo de carne e do desperdício na forma de lixo.

Um artigo no Atlantic fala das pesquisas que mostram a influência das florestas sobre o clima, contando a história recente da incorporação dos ciclos biológicos nos modelos climáticos. Não que isso seja muita novidade por aqui, mas é interessante ver que isso passa a ser reconhecido. A matéria menciona o trabalho do climatólogo Antônio Nobre, do INPE, que estima que a Amazônia descarregue cerca de 20 trilhões de litros de água todo dia, 17% a mais do que o “poderoso Rio Amazonas”.

https://www.climatelandambitionrightsalliance.org/report

https://news.mongabay.com/2018/10/land-rights-forests-food-systems-central-to-limiting-global-warming-report

https://www.theatlantic.com/science/archive/2018/10/how-forests-affect-climate-change/572770

 

MUDANÇA DO CLIMA E ESCRAVIDÃO NO CAMBOJA

Acaba de ser divulgada uma investigação que indica a existência de uma relação direta entre a mudança do clima e o aumento de trabalhadores em condições análogas à escravidão no Camboja. Tanto secas quanto inundações estão quebrando colheitas e forçando famílias a abandonarem o campo e buscarem trabalho nas cidades. Lá, muitas acabam parando nas olarias que, por conta desta mesma migração, vêm a demanda por tijolos disparar. Como a legislação e a fiscalização são frouxas, o trabalhador acaba caindo no conhecido esquema de receber vales que só podem ser descontados nas vendas da olaria, e dormir ou alugar moradia também das olarias. Os vales não dão conta das despesas e o trabalhador se vê preso à olaria. O sistema envolve famílias inteiras e, claro, até as crianças acabam sendo obrigadas a trabalhar.

https://www.abc.net.au/news/2018-10-16/how-climate-change-is-trapping-cambodians-into-modern-slavery/10377982

https://www.aljazeera.com/news/2018/10/cambodia-high-rises-slavery-climate-change-181016060513601.html

 

IMPORTANTE CADEIA DE SUPERMERCADOS ALEMÃ PASSA A SÓ COMPRAR SOJA SUSTENTÁVEL

A Lidl, rede global de supermercados de baixo preço, prometeu que todo seu suprimento de soja e derivados virá de produtores e plantações certificadas quanto à sua sustentabilidade, e excluirá produtos de áreas desmatadas. Esta é uma tendência de consumidores mais conscientes da sua pegada ecológica. Por enquanto, o movimento maior é encontrado nos países desenvolvidos, mas é um recado claro para os que acham que podem continuar vendendo o que quiserem “sem ninguém encher o saco”, como disse recentemente um certo general. Consumidores conscientes não ‘enchem o saco’ – só param de comprar o que não é sustentável.

A Lidl tem mais de 10.000 supermercados na Europa e nos EUA.

https://www.businessgreen.com/bg/news/3064453/lidl-pledges-to-make-entire-soy-supply-as-sustainable

 

PAUL KRUGMAN ESCREVE SOBRE O NEGACIONISMO DE TRUMP & CO.

“Temos bons motivos para acreditar que Trump e seus colegas estão vendendo o país por ganho pessoal. Mas, quando o assunto é a mudança do clima, eles não estão só vendendo os Estados Unidos: estão vendendo o mundo inteiro.”

Vale o recado para os que pretendem governar o Brasil destruindo o meio ambiente.

Em tempo: Krugman é Prêmio Nobel de Economia.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/paulkrugman/2018/10/donald-e-a-negacao-mortal.shtml

 

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