COP24: o fator Polônia

Emblematicamente, a COP24 será realizada a 60 milhas da usina a carvão PGE Opole, onde estão sendo construídas duas novas unidades que adicionarão 1.800 MW de capacidade. A obra integra um projeto de 10 GW de novas usinas a carvão na Polônia, dos quais 3,2 GW já estão em construção. Todas devem entrar em operação na próxima década, quando o Acordo de Paris estará em vigor.

 

Este contraste ajuda a entender a controversa presidência da Polônia – país viciado em carvão e em conferências climáticas. A COP24 será a terceira realizada em solo polonês. A última, a COP19, foi marcada por eventos gritantes de greenwashing da indústria do carvão que levaram o conjunto das ONGs ambientalistas a abandonar as negociações em sinal de protesto.

A Polônia é, de longe, o maior polo de crescimento da indústria do carvão na Europa e no mundo. Mais de 80% da eletricidade do país vêm da queima do carvão, que responde por aproximadamente 100.000 empregos diretos na mineração. Estima-se em mais um milhão o número de empregos indiretos, em indústrias que se mantêm competitivas internacionalmente graças à energia do carvão.

Para a indústria do carvão, a Polônia é uma mina. Sete em cada dez usinas têm mais de 30 anos e precisam urgentemente serem substituídas ou revitalizadas. Cerca de 80% das minas de carvão polonesas não são rentáveis, com perdas anuais que chegam a mais de € 1 bilhão por ano, exigindo investimentos em melhorias de produtividade.

 

Como se não bastasse a matriz energética suja, muitos poloneses ainda usam carvão barato comprado em lojas para aquecimento doméstico, cuja queima só aumenta os problemas de qualidade do ar. Portanto, não é surpresa que, de acordo com um estudo da Organização Mundial de Saúde de 2016, 33 das 50 cidades mais poluídas da Europa estejam na Polônia. Entre elas, Katowice, sede da COP. A cidade de cerca de 300 mil habitantes no sudeste do país fica no coração do cinturão de ferrugem polonês. Abriga a maior feira comercial do setor de mineração e o maior produtor de carvão da Europa. Além disso, quase metade dos 82 mil empregos na Polônia que dependem da produção de carvão são encontrados na região metropolitana da Alta Silésia, em Katowice.

Este é o cenário perfeito para que a presidência polonesa tente arrancar dos participantes da COP24 uma declaração sobre ‘transição justa’ para a economia de baixo carbono. Embora o tema seja legítimo e mereça atenção, o risco é que, nesse contexto, a declaração se torne um instrumento para justificar a continuidade do carvão. Afinal, esse tema permite tanto focar a importância de gerenciar proativamente os desafios socioeconômicos da transição para o benefício de todos como apresentar bodes expiatórios para as consequências mal geridas da globalização e de outras transições industriais.

 

Até o momento, os poloneses mostraram poucos sinais de querer um resultado ambicioso que pudesse engendrar a limpeza da matriz energética suja que alimenta o país. A Presidência polaca está ganhando confiança, mas está focada na entrega de declarações políticas (apenas transição, florestas e mobilidade elétrica) e no processo da COP, em vez da política necessária para impulsionar a ambição.