Green New Deal, a ousada proposta democrata para as energias renováveis e o clima

A ala mais à esquerda do partido Democrata dos EUA saiu fortalecida nas eleições de novembro, ocupando várias cadeiras na Câmara de Representantes. Uma de suas figuras mais emblemáticas é a jovem deputada Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York. Ela lançou uma ideia que rapidamente ganhou adeptos dentro do partido e que acaba de virar um programa escrito em parceria com o Senador Edward Markey. O programa, batizado como Green New Deal (Novo Acordo Verde), busca inspiração no grande acordo que o presidente Roosevelt instituiu na esteira da grande crise de 1929. Frente a uma quebra monumental de empresas e um desemprego igualmente monumental, Roosevelt investiu em três eixos: programas de apoio a fazendeiros, a desempregados e à população carente; recuperação da economia por meio de um amplo programa de obras; e uma reforma do sistema financeiro. A versão verde se inspira no segundo eixo para atacar a mudança do clima. Os autores reconhecem que, apesar dos avisos do relatório especial 1,5°C do IPCC feitos  no ano passado, muito pouco tem sido feito para evitar os piores cenários. A proposta, então, é criar um programa que investirá trilhões de dólares para mudar a matriz energética norte-americana, tornando-a limpa e renovável. A proposta tem recebido apoio de um vasto leque do público americano, inclusive de alguns membros do partido Republicano.

A crítica mais aguda veio de outra ala dos Republicanos, que vê na proposta a volta de políticas da esquerda do país. Dizem que, ao invés de se limitar a atacar o problema do clima, a proposta reestrutura o governo, tornando-o novamente grande e todo poderoso. Alguns analistas acreditam que, a tomar força, o New Green Deal criará as armas perfeitas para a campanha de reeleição de Trump. Ao que tudo indica, a iniciativa recolocou o clima na linha de frente das eleições de 2020.

Os setores mais liberais, como a revista The Economist, torceram o nariz dizendo que é o remédio velho e errado para a doença climática.

Nos últimos dias, quase todos os veículos comentaram a iniciativa. Um bom resumo dos argumentos dos vários lados foi feito pelo pessoal do Climate Nexus. Vale dar uma olhada nas matérias dos Washington Post, New York Times e The Guardian. E tem outro artigo interessante, sob o ângulo da tecnologia, na Technology Review.

 

Boletim ClimaInfo, 12 de fevereiro de 2019.