ClimaInfo, 14 de fevereiro de 2019

ClimaInfo mudanças climáticas

Ministro Marcos Pontes diz que a mudança climática é um dos “maiores desafios da humanidade”

As mudanças climáticas são “um dos maiores desafios que a humanidade enfrenta” e o tema continuará a ser tratado com a devida prioridade pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), segundo o ministro Marcos Pontes – a despeito dos posicionamentos contrários assumidos por dirigentes de outras pastas. Em entrevista a Herton Escobar para o Jornal da USP, Pontes disse: “No nosso entendimento, este imenso desafio representa uma oportunidade para o Brasil repensar sua estratégia para o futuro e nortear suas ações em sintonia com os pilares do desenvolvimento sustentável e do conhecimento científico.”

 

O agro quer protecionismo e subsídios

O embate entre os ministérios da Economia e da Agricultura começa a ter capítulos diários. Numa crítica abrangente, Paulo Guedes disse que “todo mundo vem pedir subsídios, dinheiro para isso, dinheiro para aquilo. Eu falo: o que vocês podem fazer pelo Brasil? Quebraram o Brasil, quebraram o Brasil”. Na semana passada, Guedes havia cortado a tarifa antidumping erguida para proteger a indústria do leite em pó. A agricultura chiou feio e, desta vez, Guedes voltou atrás. Mas atacou em outra frente, avisando que quer acabar com a isenção previdenciária do exportador rural. Afinal, o maior rombo nas contas públicas parece vir da previdência e o setor agroexportador vive dizendo que é o grande responsável pela balança comercial brasileira. Logo, dinheiro tem. E o agro ainda tem outra batalha. No final do ano, o pessoal do Temer retirou o subsídio nas contas de luz do campo, que pagava, em média, cerca de 30% a menos do que um consumidor urbano de porte semelhante. Só esse subsídio, que se agrega à conta de luz de todos os demais consumidores, chegou a R$ 3,4 bilhões no ano passado. Aos poucos, o que se revela é um setor que recebe uma grande cesta de benesses do Tesouro Nacional.

 

Especialistas desmentem fake news florestais

Tasso Azevedo e Luís Guedes Pinto analisam no Valor Econômico um vídeo que viralizou nas redes sociais no qual o “palestrante sugere que o país conserva florestas demais e tem tanta área protegida, tanta terra indígena e tanta exigência de preservação que ficou sem espaço para desenvolver a agropecuária. Como tantas outras histórias difundidas via “zapzap”, esta também é uma fake news.” Para começar, em área total, a Rússia tem mais floresta do que o Brasil. Mesmo em termos relativos, o Brasil faz parte de um grupo de 30 países nos quais a área florestada cobre mais de 60% de seus territórios. Se é verdade que 25% da área do Brasil está dentro de áreas protegidas – unidades de conservação e terras indígenas – a média mundial é de 29%. E no caso brasileiro, 90% das áreas protegidas estão na Amazônia, e a maior parte delas em locais remotos ou sem nenhuma aptidão agrícola. Como dizem os autores, “o número de áreas protegidas parece impressionante no powerpoint, mas não compete com o agronegócio.” A ministra Tereza Cristina e a bancada ruralista gostam de dizer que ninguém protege mais a floresta do que o agricultor brasileiro, só que os números não corroboram a afirmação. “A conservação das áreas florestais é bem diferente quando comparamos as áreas públicas e privadas. As propriedades privadas tiveram perda líquida de mais de 20% de sua cobertura florestal nos últimos 30 anos. Nas unidades de conservação e terras indígenas a perda foi de 0,5% e, em outras áreas públicas não protegidas, de 5%.”

Ninguém disputa que o agronegócio brasileiro fez avanços tecnológicos impressionantes e que vem se mostrando estrategicamente crucial na economia brasileira. Mas não precisa avançar sobre a Amazônia nem precisa de números distorcidos. Apresentações e discursos falsos só ajudam a banda podre do agronegócio que opera na base de crimes como a grilagem de terras públicas, a extração ilegal de madeira e os garimpos igualmente ilegais.

 

Diretor da EPE defende diversificação das fontes de energia

A EPE, Empresa de Pesquisa Energética, é responsável pelo planejamento energético do país. Seu novo presidente, Thiago Barral, funcionário de carreira, deu uma entrevista ao Valor destacando a importância da diversidade de fontes de energia no país. Barral falou um pouco mais da geração de eletricidade e do aumento da participação das eólicas e das fotovoltaicas na matriz elétrica. Ele também reforçou um discurso um pouco antigo, dizendo que o sistema precisa de segurança (leia-se térmicas a gás natural) e não pode ser ineficiente (leia-se retirada dos subsídios às fontes limpas). Um dos produtos importantes que a EPE deve apresentar esse ano é o Plano Nacional de Energia 2050, a grande visão de longo prazo da matriz energética. Para Barral, a “atenção ao plano de 2050 é um legado meu como diretor de estudos econômicos e energéticos. E é um compromisso meu aperfeiçoar esse planejamento.” A ver como o novo governo tratará o tema.

 

China e Índia lideram “esverdeamento” do Planeta

Um trabalho recém publicado na Nature Sustainability estima que a China e a Índia abrigam um terço da vegetação que surgiu no planeta desde 2000. As fotos de satélite da NASA mostram que a nova vegetação, florestas e lavouras, dentre outras, cobre uma área quase do mesmo tamanho que o de toda a região pan-amazônica. Na China, 40% do novo verde são florestas, em grande parte plantadas, e 30% são lavouras. Na Índia, mais de 80% vem da expansão das lavouras. Isso indica que ações humanas são fator bem mais relevante do que os processos inteiramente naturais. Alguns cientistas pensam que o aumento da concentração de CO2 na atmosfera também ajuda as plantas a crescer. A partir das fotos, os pesquisadores montaram um mapa mundi indicando os locais que ficaram mais verdes e aqueles que perderam o verde nas duas últimas décadas. A maior perda de cobertura vegetal aconteceu no Brasil e no leste da África.

O Carbon Brief e a BBC comentaram o trabalho.

 

China exporta emissões via Iniciativa Belt and Road

A Iniciativa Belt and Road (BRI) é composta, basicamente, de financiamento chinês para obras e equipamentos de infraestrutura em seus vizinhos e na África. O mecanismo básico é o velho conhecido pacote de financiamento acoplado à engenharia, aos serviços das obras e aos equipamentos do país financiador, no caso a China. O que fica cada vez mais evidente é que a China está aproveitando a iniciativa para reduzir suas próprias emissões de gases de efeito estufa, transferindo setores altamente emissoras como os de geração elétrica, siderurgia e cimento para os “beneficiados” pelo BRI. E aproveita para vender um pouco de carvão para as térmicas que recém vendeu e instalou. O pessoal do South China Morning Post conta que muitas das plantas construídas usam equipamentos ultrapassados e tecnologias que deixaram de ser permitidas na própria China. Aliás, o país aproveita a oportunidade para, também, empurrar um pouco do carvão de baixa qualidade que extrai.

 

Justiça australiana rejeita abertura de nova mina de carvão

Numa decisão inédita, a Corte de Terra e Ambiente do estado de New South Wales, Austrália, não autorizou a abertura de uma nova mina de carvão alegando o impacto que teria sobre o aquecimento global. É a primeira vez que o clima é o motivo principal para a decisão. O principal juiz da corte disse que a abertura e a exploração da mina não deveriam ser autorizadas porque “as emissões de gases de efeito estufa (GEEs) da mina e do seu produto aumentariam a concentração global destes gases em um momento em que é urgentemente preciso, para atingir as metas climáticas acordadas, uma diminuição rápida e profunda das emissões de GEEs”.

 

A Austrália sofre com secas, enchentes e ondas de calor

As fotos na matéria do The Guardian impressionam. Muitas mostram dezenas de bois mortos por uma enchente provocada por um volume inédito de chuvas no estado australiano de Queensland. E não só. Segundo a matéria, foram encontrados cangurus em árvores e pilhas de pássaros na lama. Ao final de um período de forte seca, choveu 70 cm em uma única semana, a maior parte num intervalo de 4 dias. Moradores compararam esse evento extremo com um ciclone, só que no interior do país. Eles contam que, nos primeiros dias, o gado começou a ficar fraco por ter que se mover na lama e, no final, não tinha mais energia para se aquecer e morreu. Durante o final de semana, o mesmo The Guardian publicou duas matérias, uma falando dos extremos de seca e tempestades e outra falando das sucessivas crises hídricas no país. Na primeira, o destaque é para a cidade de Townsville, na ponta norte do país, onde, em duas semanas, choveu 1,4 metros de água. Na Tasmânia, ilha no extremo sul, relâmpagos secos provocaram incêndios que queimaram 3% da ilha. E, no mês passado, várias cidades sofreram com ondas de calor que fizeram a temperatura chegar a quase 50oC.

Um dos principais sistemas fluviais de abastecimento de água, o Murray-Darling, está quase seco em vários trechos depois da passagem das ondas de calor, embora estas tenham sido a última gota d’água num gerenciamento dos recursos hídricos que, durante muito tempo, privilegiou a irrigação. O resultado, agora, são racionamentos e a mortandade de um dos peixes emblemáticos da região. R. Keller Kopf, autor da segunda matéria, diz que, “se as emissões globais de carbono permanecerem altas, a temperatura recorde para a região de 48oC deverá passar dos 51oC ainda neste século. As temperaturas em Death Valley são, às vezes altas, mas não tem ninguém morando ou plantando algodão ou cultivando peixes por lá.”

 

Sobre as emissões do agro global

Pesquisadores alemães fizeram uma revisão da participação da agricultura nas NDCs e nos inventários nacionais de 46 países. As emissões do setor agropecuário destes 46 países correspondem a 90% das emissões globais do setor. O desmatamento não entrou na conta. Duas das mais importantes conclusões são:
1) as ações de mitigação do setor só são destacadas quando existem co-benefícios e quando elas não reduzem a produção; e
2) o sistema de monitoramento, relato e verificação (MRV) das emissões definido pelo IPCC não é usado com frequência, dificultando a comparação dos dados. Isso indica a necessidade de incentivar a troca entre os países das experiências com o MRV, de implantação de ações e de políticas.
Na contabilidade global de emissões do ano de 2010, o setor agrícola foi responsável por mais de 10% do total global de emissões.

 

Quanto mais quente será sua cidade no futuro? (O caso dos EUA)

As temperaturas nas cidades dos EUA devem mudar drasticamente acompanhando o aquecimento da atmosfera. Por volta de 2080, Nova York será tão quente como Arkansas, e Washington-DC deve ter um clima semelhante ao do Mississippi, segundo um novo relatório publicado na revista Nature Communications. O trabalho usa mapas para identificar semelhanças entre as temperaturas projetadas para o futuro de 540 cidades norte-americanas e as temperaturas atuais de outras áreas urbanas, em um cenário sem controle do aquecimento global. Um mapa interativo divulgado junto com a pesquisa permite que os norte-americanos identifiquem quais temperaturas atuais correspondem às previstas para suas cidades. “Se eu tiver netos e eles morarem no mesmo lugar que eu, eles podem não reconhecer o clima no qual hoje vivemos”, disse Matthew Fitzpatrick, um dos autores do trabalho, ao The Atlantic.

A proposta do trabalho ajuda a comunicar os efeitos das mudanças climáticas para o público leigo. Ficamos torcendo para que cientistas brasileiros repitam o trabalho para nossas cidades.

 

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