IDEC: Angra 3 é desnecessária e economicamente inviável

A polêmica usina nuclear de Angra 3 continua na mídia. Na 6ª feira, Clauber Leite reafirmou dois argumentos contrários: o que mostra que a energia da usina será, de longe, a mais cara das fontes ligadas ao Sistema Integrado Nacional; e o que demonstra que, dada a abundância de outras fontes, será completamente desnecessária. Leite adiciona mais um argumento: “a precificação da energia de Angra 3 recomendada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) em outubro último (R$ 480 por MWh) como alternativa para viabilizar a construção da usina, pode gerar um favorecimento ilegal dos acionistas da Eletrobras. Isso porque o preço das ações adquiridas até então considerava os contratos assinados pela empresa se comprometendo à entrega da energia ao valor inferior previsto anteriormente (R$ 250 por MWh). A efetiva viabilização do processo ao valor indicado pelo CNPE pode resultar, portanto, numa transferência ilegal de renda do consumidor final para os acionistas da companhia.”

O Greenpeace, desde sempre, é contra usinas nucleares, mas mantendo-se apoiado na ciência. O escritório francês da organização publicou um relatório precioso sobre o estado dos resíduos das usinas nucleares no mundo. A essência da operação de uma usina é o controle das reações nucleares para gerar calor. Chega um momento no qual as varetas de combustível não têm urânio suficiente para manter a reação nuclear com eficiência, mas ainda contêm urânio e outros materiais radiativos que exigem um cuidado muito especial. A prática usual no Brasil é deixar as varetas usadas dentro do próprio reator. Em alguns outros países, o material é reciclado e o resíduo estocado sob grande e custosa vigilância. Não existem, hoje, alternativas seguras e viáveis para o armazenamento das varetas de combustível utilizadas ou para os resíduos do reprocessamento durante os milhares de anos necessários para a redução da radiação destes materiais em níveis seguros. Do ponto de vista das emissões de gases de efeito estufa, quando se faz a avaliação de ciclo de vida de diferentes fontes de eletricidade para estimar as emissões embutidas em cada kWh gerado, mesmo desconsiderando esta etapa final de armazenamento, as emissões da eletricidade de usinas nucleares são maiores do que as das fontes limpas, embora sejam bem menores do que as das térmicas fósseis.

Em tempo: em janeiro, uma nota do MME dava conta que “o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) tem sido obrigado a despachar, de forma contínua, usinas térmicas a diesel com tarifas acima de R$ 700/MW”. Isso é uma comparação marota. As térmicas a diesel são usadas para suprir picos de demanda ou, excepcionalmente, cobrir térmicas a gás natural. Uma usina nuclear, por concepção, não se presta a esse tipo de operação, assim, a comparação não faz sentido.

 

Boletim ClimaInfo, 18 de fevereiro de 2019.