ClimaInfo, 7 de março de 2019

ClimaInfo mudanças climáticas

Imazon detecta aumento de 54% no desmatamento da Amazônia

O número de janeiro do Boletim do Desmatamento do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) acusa um aumento no desmatamento na Amazônia de 54% quando comparado ao ocorrido em janeiro do ano passado. Para variar, os estados que mais desmataram foram o Pará e o Mato Grosso. Parte do desmatamento continua ocorrendo em Terras Indígenas e Unidades de Conservação, o que é crime, e com todos os indícios de crime organizado. É preciso processar e punir os culpados. Alô ministro Moro, vamos combater o crime organizado, o que você diz ser uma prioridade?

 

Pressão sobre traders da soja busca contenção do desmatamento no Cerrado

A moratória da soja é um caso de sucesso, a ponto dos produtores excluídos da carteira das grandes traders terem exercido pressão sobre o novo governo para que proíba sua continuidade. Não funcionou, nem tem como funcionar, já que o governo só pode acompanhar o acordo que foi feito entre empresas e sociedade civil. Entretanto, a moratória é limitada à Amazônia, o que levou a gestões junto às traders na busca da ampliação do escopo de modo a incluir o Cerrado. Os primeiros movimentos vão no sentido do aumento da transparência e da rastreabilidade das compras que as traders fazem no bioma. Mas entende-se que estes são apenas os primeiros passos. O objetivo é claro: parar todo o desmatamento no país e zerar suas emissões. Até porque a extensão de terras subaproveitadas permite a expansão da atividade agropecuária sem a necessidade de cortar uma árvore sequer.

Em tempo, a notícia não vem de um site ambientalista, mas do Financial Times.

 

Sobre as ameaças do novo governo aos povos indígenas

Uma das maiores ameaças deste novo governo recai sobre as comunidades indígenas. O Terra+, novo site do ISA (Instituto Socioambiental), acompanha e comunica tudo que anda acontecendo com os povos indígenas. O site apresenta um sistema de indicadores montado a partir de informações sobre projetos de infraestrutura, etapas de demarcação e presença de invasores ilegais. Aliás, já se detecta um aumento de invasões neste começo do ano, como conta Anthony Boadle em artigo para a Reuters.

Em tempo: Dom Phillips escreveu um belo artigo sobre o clima crescente de conflito na Terra Indígena mais emblemática – a Reserva Raposa Serra do Sol, no norte de Roraima. Ele relata as conversas que teve com lideranças indígenas e ouve a disposição de resistir a quaisquer das mudanças que o governo vem tuitando.

Em tempo: o Financial Times chamou os primeiros meses do ano e do novo governo de “sangrentos”, dado o aumento de homicídios, principalmente no Rio de Janeiro. É bom avisar que a matéria não tem relação direta com clima e índios, a não ser pela pregação belicosa dos tuítes do presidente e filhos.

 

Bento Mix

Durante o carnaval, o ministro das minas e energia, almirante Bento Costa Lima Leite de Albuquerque, foi ao Canadá e soltou uma sequência de declarações de arrepiar em um evento. Disse, por exemplo, estudar a permissão de atividades de mineração em áreas restritas, como as Terras Indígenas e em zonas de fronteira. Mais, egresso do programa nuclear da marinha, o almirante não poderia deixar de falar do programa nuclear brasileiro e, dentre as atividades de mineração, citou explicitamente a de urânio. Posto que o país atravessa uma crise fiscal, o almirante entende que precisará dos investimentos privados para a pesquisa de novos depósitos do metal. Um dos participantes do evento mostrou cautela, dizendo que o mercado está deprimido desde que o acidente de Fukushima provocou o cancelamento de várias novas usinas. Segundo ele, se e quando o mercado voltar a crescer, então a abertura oferecida pelo almirante poderá ser bem-vista. Não contente, o almirante atribuiu o desastre da Vale ao destino: “Quis o destino que, no início do mandato do presidente Bolsonaro, sofrêssemos um novo e doloroso choque com o rompimento de outra barragem de rejeitos.” Posto que o almirante está colocando um esforço pessoal para concluir Angra 3 e, talvez, iniciar a construção de outras usinas, talvez caiba perguntar quais providências estão sendo tomadas para que o tal destino não provoque um acidente nuclear na região mais densamente povoada do país?

Em tempo: ainda sobre a Vale, após o afastamento do presidente Fabio Schvartsman e de parte da diretoria, Miriam Leitão escreve sobre a governança desejável para a corporação: “empresas deixam de existir quando não sabem reagir às grandes crises. A mudança tem que ir muito além da alteração de nomes ou novos truques de publicidade. É preciso um comando para a empresa que consiga fazer uma transição real para uma nova Vale.”

 

Retrocedendo a passos largos no controle ambiental do Ibama

Suely Araújo e Fabio Feldmann defendem a permissão da conversão de multas do Ibama em serviços ambientais estratégicos como um avanço. O governo passado havia escolhido a bacia do rio São Francisco como o primeiro eixo estratégico para a aplicação destes recursos. Foram feitas licitações para projetos e uma parte dos escolhidos foram propostos por organizações da sociedade civil. Para Suely e Fabio, isso bate de frente com o discurso governamental que ataca as ONGs e bate de frente, também, com as tratativas do ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, quem quer pura e simplesmente eliminar a possibilidade de conversão. Como o governo não tem dinheiro, as ações estruturantes vitais para o país e as populações da região ficaram para um eventual próximo governo que entenda ser este um modelo importante para o desenvolvimento regional.

Já que estamos falando de multas ambientais, vale registrar que, neste começo de ano e de governo, o Ibama aplicou o menor número de multas desde 1995. É lícito supor que a quantidade de infrações, se mudou, foi para cima. Pelo jeito, as ameaças explícitas feitas desde a campanha estão surtindo efeito, levando-nos a esperar novos acidentes ambientais.

 

O movimento jovem que busca mudar o mundo

15 de março é a data escolhida por jovens de dezenas de nações para a Fridays For Future, uma greve escolar que exigirá dos governos ações concretas e transformadoras para a contenção do aquecimento global. O que começou há dois anos com uma sueca de 15 anos, cresceu e se transformou em cerca de 500 eventos que acontecerão em, no mínimo, 51 países de todos os continentes. “Unidos, nos levantaremos em 15 de março e muitas outras vezes, até vermos justiça climática. Exigimos que os líderes mundiais assumam a responsabilidade e resolvam esta crise. Vocês falharam conosco antes. Mas a juventude deste mundo começou a se mover e não vamos parar nunca”. O The Guardian produziu uma bela matéria a respeito.

Nos EUA, um movimento um pouco mais antigo disparou várias ações judiciais contra governos e virou trend topic na semana passada, quando um grupo de jovens de entre 12 e 16 anos foi até o Senado norte-americano pedir aos senadores que aprovem o Green New Deal. O vídeo da discussão que tiveram com a senadora democrata pela Califórnia, Dianne Feinstein, viralizou, com os manifestantes se mostrando respeitosos, mas desafiadores. O pessoal da Intercept contou a história do encontro e o site Democracy Now trouxe uma entrevista com dois deles que vale a pena ler. O New York Times conta que, sob pressão de ativistas e manifestantes, a cúpula dos Democratas decidiu, enfim, se mexer, mas mantendo um olho no desenrolar da campanha presidencial de 2020.

Dias atrás, a chanceler alemã, Angela Merkel, insinuou que a Rússia estaria por trás do movimento dos jovens estudantes: “todas essas crianças de repente pensando na mudança climática sem interferência externa é difícil imaginar (…) A Europa tem inimigos e a guerrilha digital da Rússia pode ser sentida através de todos os países europeus.” Neste final de semana, Merkel recuou, passando a apoiar as manifestações e dizendo que os estudantes devem estar frustrados com a demora do abandono da geração de energia baseada no carvão.

O site da FridaysForFuture traz um mapa com a localização dos eventos programados. No Brasil, estão programadas manifestações nas cidades do Rio de Janeiro e Mogi das Cruzes, São Paulo.

 

Reino Unido reduz emissões

As emissões do Reino Unido caíram em 2018, pelo sexto ano consecutivo. Mesmo considerando que essa queda tem sido menor a cada ano, a economia britânica cresceu no período, reforçando a noção de que o país conseguiu descolar emissões do PIB. A ver o que acontece caso o Brexit for concluído e parte da atividade econômica se mudar para o continente. O The Guardian e o Financial Times também deram destaque à notícia.

 

Emissões chinesas crescem mais devagar

A China reportou suas emissões do ano passado, indicando que elas aumentaram 2,3% em relação ao ano anterior. Como o PIB aumentou 6,6%, as emissões por unidade de PIB caíram 4%. O pessoal da Carbon Brief juntou esses valores com os de EUA, Europa e Índia, os maiores emissores globais, e revisou o aumento das emissões globais para 2%. Ou seja, ao invés de caírem drasticamente, como recomendado no relatório especial 1,5oC do IPCC, elas continuam subindo. Com a palavra, os jovens da nota acima.

 

Petroleiras continuam a aumentar produção e a ter prejuízos com o óleo e o gás de folhelho

No início da produção via fracking nos EUA, os pequenos produtores tomaram todo o risco e alguns conseguiram lucros respeitáveis, enquanto a maior parte simplesmente quebrou por ter tomado dívidas demais em comparação ao retorno obtido nas operações. Nos últimos tempos, as grandes petroleiras, principalmente a Exxon e a Chevron, entraram para valer. Só que, embora estejam extraindo até mais petróleo e gás do que o previsto, e embora o preço do barril de petróleo tenha subido em relação a 2017, os elevados custos de produção fazem os lucros continuarem inexistentes. Segundo uma matéria da Oil Price, analistas dizem que as petroleiras continuam a repetir o mesmo velho refrão “esperem até o ano que vem”.

Enquanto isso, a Shell busca encontrar um lugar ao sol no futuro livre de combustíveis fósseis. Kelly Gilblom, da Bloomberg, faz uma comparação curiosa: “A entrada da Shell no mundo elétrico em escala global é como se o McDonalds se tornasse o maior fornecedor de alimentos saudáveis – mesmo já tendo uma clientela que quer mais Big Macs.” Para Gilblom, analistas e investidores importantes ainda não acreditam que uma petroleira possa se tornar uma operadora no mundo da eletricidade – algo como a Petrobras se transformar na geradora eólica do país. No entanto, aparentemente, a Shell entende que este é o único futuro viável para a corporação.

 

A mudança do clima acirrará a desigualdade nos EUA

A Economist comentou um artigo publicado na Science em 2017 que analisou projeções da mudança do clima para os EUA e os possíveis impactos econômicos e sociais. A matéria resume, assim, o principal resultado do trabalho: em um cenário de aquecimento de 3oC até o final do século, o PIB norte-americano cairia 4% quando comparado a um cenário sem aquecimento global. A Economist dá um destaque especial à distribuição geográfica destes impactos: nos 20% de municípios mais pobres, a perda de produção chegaria a 10% do PIB local. No mais pobre dos municípios, a perda chegaria a 28%. Já nos municípios do grupo dos 20% mais ricos, as perdas seriam quase nulas. A explicação levantada pela Economist diz que a parte mais pobre dos EUA está nos estados do Sudeste, onde a economia depende mais da agricultura do que dos serviços ou da indústria, como acontece no restante do país, e a agricultura é a atividade econômica mais afetada pelo aquecimento global. A região também sofre mais impacto da elevação do nível do mar e do aumento de frequência e força dos furacões Caribenhos. Finalmente, nos estados mais ao norte, mais calor implica economia de gastos com a calefação, enquanto no Sudeste implica maior uso de aparelhos de ar condicionado.

 

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