Eduardo Viveiros de Castro: “Vocês sabem muito bem o que estão fazendo e são assassinos”

O renomado antropólogo Eduardo Viveiros de Castro disse ao site português Público que o atual governo é formado por “pessoas que têm como objetivo acabar com os índios. Acabar mesmo, rever as demarcações, privatizar as terras, catequizar os índios” e aponta os retrocessos que já entraram na pauta. Apesar disso, o antropólogo mantém um certo otimismo e conta que “o líder indígena Ailton Krenak falou uma coisa bastante sensata. [Disse que] este Governo é terrível, mas a gente está preocupada com vocês, brancos, porque nós, índios, estamos vivendo isso há 500 anos, estamos acostumados, vocês é que não estavam, coitados. Estamos solidários com vocês, com pena dos brancos bons, mas a gente vai escapar desta. Passamos 500 anos escapando disso”.

Já o promotor Marco Antonio Delfino de Almeida fala de um grande perigo para os indígenas: “Eu vejo que por trás deste suposto estímulo à exploração de Terras Indígenas, há o franqueamento de uma quantidade imensa de Terras Públicas para a produção por valores irrisórios pelo agronegócio” e que não se pode chamar isso de ‘parceria’. Ao contrário, “é uma exploração travestida de outro nome (…) É o melhor dos mundos para o agronegócio, porque o arrendamento de terras particulares tem um custo alto, normalmente associado ao valor da soja. Se, por acaso, essa produção quebra, a pessoa acaba sendo duplamente afetada: ela arrenda determinada área pelo valor da soja, ocorre uma seca, o preço da soja sobe, ela não produz e tem que pagar um valor muito alto por conta daquele arrendamento. Isso não acontece, por exemplo, se arrendarem uma Terra Pública – Terra Indígena é Terra Pública – por um valor irrisório, muitas vezes em troca de uma cesta básica ou mil reais. Obviamente, que num cenário de restrição econômica, de restrição de políticas públicas – é nesse cenário que os Povos Indígenas estão inseridos – isso acontece”.

 

Boletim ClimaInfo, 11 de março de 2019.