Ricardo Salles pede combate internacional aos eventos extremos, mas não menciona a mudança do clima

O ministro Ricardo Salles falou da importância da comunidade internacional combater os eventos extremos na Assembleia da ONU Meio Ambiente, no Quênia. “Eventos extremos criados pelo homem ou pela natureza precisam ser abordados pela comunidade internacional. Esses eventos tendem a atingir mais duramente as populações mais vulneráveis. O Programa de Meio Ambiente da ONU e seus Estados membros precisam fazer um esforço maior para enfrentar esses desafios frequentes.” Curiosamente, no longo discurso não foi feita sequer uma única menção à palavra ‘clima’, muito menos às mudanças climáticas. Para ser justo, a palavra aparece uma única vez, quando o ministro agradeceu a doação feita ao Brasil pelo Fundo Verde do Clima pelo país ter reduzido o desmatamento entre 2014 e 2015. Aliás, Salles disse que o desmatamento caiu mais de 70% desde 2004, sem mencionar que a queda real parou em 2012 e que, desde então, a área desmatada anualmente aumentou em 50%. Salles aproveitou a deixa para vender seu peixe, ou melhor, sua carne, dizendo que “a produção de carne brasileira e o ambiente não são conflitantes entre si. Nossa pecuária extensiva é uma resposta bem-sucedida para reduzir as emissões de gases do efeito estufa”. O ministro não mencionou que, de 2006 para cá, o rebanho diminuiu por volta de 20% enquanto as emissões do arroto do rebanho ficaram quase constantes e, portanto, as emissões por cabeça aumentaram. Esses dados vieram do SEEG e do Censo Agropecuário do IBGE. Daniela Chiaretti escreveu para o Valor uma matéria a respeito do pronunciamento destacando a crítica à ONU feita por Salles.

 

Boletim ClimaInfo, 15 de março de 2019.