Acordo comercial EUA-China ameaça o agro-pop-tech-tudo

Os EUA e a China devem assinar um acordo para encerrar a guerra comercial iniciada por Trump. Neste, a China deve prometer aumentar as importações de produtos do agronegócio dos norte-americanos. Com isso, o consumidor chinês pagará mais caro pelos produtos e o produtor brasileiro perderá – ao menos em parte – seu melhor freguês. Para Marcos Jank, o acordo traz riscos sérios para a pauta exportadora do agronegócio brasileiro: “Se esse acordo se concretizar, poderemos estar entrando numa era de ‘comércio administrado’ caso a caso, sob a égide de interesses geopolíticos, que pode reduzir o nosso acesso à China, ao Brics e a outros mercados emergentes. Aí, sim, estaríamos entregando a nossa alma.” Esta tal “alma” apareceu também na semana passada numa fala do chanceler Ernesto Araújo: “Nós queremos vender soja e minério de ferro, mas não vamos vender nossa alma. Isso é um princípio muito claro. Querem reduzir nossa política externa simplesmente a uma questão comercial, isso não acontecerá”. Ruralistas reclamaram desta nova investida contra seu negócio, eles que vêm lutando em frentes: contra o antiglobalismo, que se alinha automaticamente aos EUA, seu maior concorrente, e contra a agenda do ministro da economia que quer retirar do setor subsídios e privilégios. A esse respeito, Jank disse que “precisamos nos libertar da dependência do crédito rural subsidiado, de tabelamentos e subsídios de fretes, de assentamentos rurais desnecessários e da ideia anacrônica da taxar exportações”, mas ele pede que a libertação seja lenta e gradual para que não prejudique demais os produtores.

Há pouco mais de um ano, ele escrevia que “investimentos em tecnologia, ganhos de escala e subsídios a insumos modernos transformaram a China em uma potência agrícola. O país virou o 3o maior exportador de agro do mundo, à frente do Brasil (…) Estamos condenados a nos casar com a China, de alguma forma. Mas até aqui foi ela quem deu corda e dominou a relação, pois pensa estrategicamente e sabe perfeitamente o que quer. Nós somos o oposto da China: ansiosos, imediatistas, individualistas e meio esquizofrênicos”. Jank não imaginava o quanto.

 

Boletim ClimaInfo, 18 de março de 2019.