Sobre a Assembleia da ONU Meio Ambiente

Terminou na 6ª feira a reunião da Assembleia da ONU Meio Ambiente em Nairóbi. A reunião começou sob o trauma provocado pelo acidente com o avião da Ethiopean, no qual morreram cientistas e delegados que estavam a caminho da reunião. Durante a semana foram lançados trabalhos importantes sobre a crise dos recursos naturais, sobre a situação atual e as perspectivas para o futuro. Sobre este último estudo, a ONU destaca que “o relatório, produzido por 250 cientistas de mais de 70 países, afirma que, se não ampliarmos drasticamente a proteção ambiental, cidades e regiões na Ásia, no Oriente Médio e na África poderão testemunhar milhões de mortes prematuras até a metade do século. A publicação também alerta que os poluentes presentes em nossos sistemas de água potável farão com que a resistência antimicrobiana se torne a maior causa de mortes até 2050 e com que disruptores endócrinos afetem as fertilidades masculina e feminina, bem como o desenvolvimento neurológico infantil”. A propósito do relatório, Dani Chiaretti, do Valor, escreve que “bastariam, contudo, investimentos da ordem de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) global em decisões ambientalmente sustentáveis para enfrentar os danos das mudanças climáticas, da escassez hídrica e da perda de biodiversidade.” Daniela traz outro ponto importante para a compreensão da situação atual: “Existem 100 mil produtos químicos em uso, e menos da metade destes teve seus impactos testados. Perto de ⅖ das pessoas não têm acesso a aterros sanitários. As perdas de alimento chegam a mais de 36% do que se produz, sendo 55% nos países ricos. Dietas com menor consumo de carne e redução no desperdício de comida poderiam diminuir em 50% a necessidade de produção de alimentos para mais de 9 bilhões de pessoas em 2050”. Joyce Msuya, diretora interina da ONU Meio Ambiente, disse que “chegamos aos limites do planeta (…) Não podemos mais atrasar ações para proteger as pessoas e o planeta. Não podemos mais crescer agora e deixar para limpar depois”.

Das resoluções que não foram aprovadas na Assembleia, destacam-se:

– uma em prol do desmatamento zero, que não avançou porque o Brasil insistiu em colocar a palavra “ilegal” antes do “zero”, coisa que os europeus não aceitaram;

– a criação de um grupo de trabalho que proporia um esquema de governança para as experiências e o desenvolvimentos de tecnologias de geoengenharia, que não avançou porque os EUA não querem compartilhar conhecimentos e alegaram tratar-se de um tema afeito à Convenção do Clima,  como se o clima fosse uma entidade separada do meio ambiente; e

– a proposta de um instrumento vinculante para a restrição do uso de plásticos, porque os EUA e o Japão pediram mais estudos, o que, na prática, adia qualquer decisão para um futuro não muito próximo.

 

Boletim ClimaInfo, 18 de março de 2019.