Inspiração, humildade, tristeza e esperança de quem observou o movimento jovem da última 6ª feira

O movimento jovem que exige ação imediata contra a mudança do clima repercutiu em todo o mundo. Na 6ª feira, o foco foram as manifestações, as frases e os cartazes cheios de significado. Vale, agora, chamar a atenção para uma carta e um artigo, ambos de gente mais velha, ambos declarando a admiração pelo movimento. A carta foi escrita por Sasja Beslik, bósnio, sobrevivente da guerra civil dos anos 90, especialista no mundo financeiro onde trabalha com questões de sustentabilidade do sistema capitalista. A carta saiu na Medium, na 2ª feira da semana passada. Beslik diz que “tem dias que andando pelas ruas de Estocolmo sinto vergonha de mim, da minha geração e do trabalho que faço (…) um reconhecimento das decisões ruins que continuamos a tomar e das narrativas complexas que desenvolvemos para justificar nossa falta de coragem. Nos escondemos para não enfrentar o aquecimento global (…) Sabemos que não podemos continuar tratando o planeta como fazemos. Concordamos que precisamos mudar e, no entanto, não mudamos”. Mas Beslik crê que os sinais certos para o sistema capitalista seriam o suficiente para a gigantesca guinada que ele admite ser necessária. Amélia Gonzalez comentou a carta n’O Globo.

Já o artigo foi escrito por Alden Mayer, 66 anos, diretor da Union of Concerned Scientists, que vem trabalhando com as questões climáticas há 30 anos. Mayer conta que acompanhou a manifestação, em especial as falas dos jovens diante do Capitólio, em Washington. “Me vi sentindo um leque de emoções: a inspiração vinda da força e da clareza moral, a esperança que suas ações inspirem líderes de governo e do setor privado a buscarem as mudanças transformadoras necessárias (…) a humildade em reconhecer que, a despeito dos nossos melhores esforços (…) não conseguimos mobilizar a ação climática na escala necessária. E sinto uma profunda tristeza pelo fato de que, mesmo se conseguirmos reduzir dramaticamente as emissões e ficar dentro dos limites do Acordo de Paris, o mundo que estes estudantes encontrarão ao longo de suas vidas será severamente estressado pelos impactos da mudança do clima”. No entanto, ele lembra uma frase ouvida quando do lançamento do Relatório 1,5°C do IPCC no ano passado: “Toda fração de grau de aquecimento que conseguirmos evitar, importa”. Mayer termina no mesmo tom emocionado: “a mistura amarga de tristeza, cansaço, frustração e raiva que tantos de nós guerreiros climáticos de cabeças brancas sentimos com muita frequência será sobreposta por algo fresco, inspirador e lindo: uma nova esperança e a gratidão por ela. Nós devemos isso a vocês, jovens amigos.”

Vale dar uma lida no relato feito por Amanda Costa no site do Engajamundo. Ela diz que “temos medo, anseios, borboletas no estômago e pressa. TEMOS MUITA PRESSA. Sabemos da urgência e queremos soluções. Estamos dispostos a mudar nossos hábitos, mudar nossa postura, cobrar nossos representantes e salvar nosso mundo.”

 

Boletim ClimaInfo, 19 de março de 2019.