A sujeira da Vale em Cubatão

A VLI, braço logístico da Vale, opera duas ferrovias muito importantes, a Carajás e a Vitória-Minas. A empresa tem um terminal multimodal em Cubatão, na entrada do porto de Santos, e está tocando uma obra para aprofundar o leito do canal de modo a permitir a entrada de navios maiores. Julia Dolce, da Agência Pública, foi dar uma olhada na cava construída para alojar a lama dragada do canal: “Iniciada em 2017, a cava é um buraco com diâmetro maior do que o estádio do Maracanã e 25 metros de profundidade (…) debaixo das águas do estuário de Santos, ambiente aquático de transição entre o rio e o mar onde se localiza o porto mais movimentado do Brasil”. A lama removida do canal “traz à tona uma longa história de contaminação. É como se fosse uma linha do tempo de poluição na forma de camadas químicas sedimentadas por décadas de atividade industrial na areia no fundo do canal. Entre os químicos sedimentados estão componentes altamente tóxicos e cancerígenos, como amônia, cianeto e mercúrio.” O primeiro impacto é sobre a pesca. Um dos moradores conta que “lá dentro da cava, que agora está cercada, era o melhor ponto de pesca. Agora a gente tem que ir mais longe, gastar mais com gasolina. Antes, eu largava a rede aqui na frente de casa e cansei de pegar 100 quilos, 150 quilos de peixe. Agora não é assim. Meu cunhado pegou o barco ontem mesmo para pescar, saiu às 23 horas e voltou às 5 horas sem nenhum peixe.” A matéria segue falando dos impactos à saúde que essa lama pode trazer e faz um relato longo e detalhado das brigas da comunidade com a empresa e as intervenções do Estado, quase sempre do lado da empresa. Uma matéria para ler e guardar.

Em tempo: o drama dos rejeitos da Vale tem mais um capítulo. Depois da auditoria alemã ter dado aval à barragem que desabou em Brumadinho, seis outras empresas se recusaram a auditar as barragens da empresa. Reputação é um ativo muito precioso e, como músculos, dão muito trabalho para ganhar e põe-se tudo a perder num piscar de olhos.

 

ClimaInfo, 4 de abril de 2019.

x (x)
x (x)