A energia nuclear, o sequestro do carbono da atmosfera e a geoengenharia solar não nos salvarão da mudança do clima

As empresas globais de combustíveis fósseis estão enfrentando uma série de processos judiciais, resoluções de investidores e regulamentos que as pressionam a investir mais em energia limpa. Além disso, grupos ativistas pressionam pela manutenção do carvão, do petróleo e do gás natural no subsolo. A reação das empresas – e de vários outros setores – a estes movimentos combinam o greenwashing com tentativas de desenvolvimento de alternativas ao abandono dos combustíveis fósseis. Em três tempos:

  1. Matéria do New York Times relata o investimento feito recentemente por algumas das maiores empresas de combustíveis fósseis do mundo (Chevron, Occidental Petroleum e BHP) na Carbon Engeneering, uma pequena empresa canadense que anuncia estar à beira de um avanço na solução do que afirma ser um quebra-cabeça crítico para a mudança do clima: remover o carbono da atmosfera.
  2. Com o título ‘A energia nuclear pode salvar o mundo’, um artigo de opinião, publicado, também, no NYT pelos autores do livro ‘A bright future‘, no último sábado, defende a expansão da tecnologia como a maneira mais rápida de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e descarbonizar a economia global.
  3. Há pouco mais de uma semana, o professor de Harvard, David Keith, defendeu o investimento global em pesquisas na área de geoengenharia solar como forma de redução dos riscos climáticos (leia o artigo no site do ClimaInfo).

Apesar da urgência da questão climática nos obrigar a considerar estas e muitas outras alternativas, o Relatório Especial 1,5oC do IPCC afirma que, para mantermos o aquecimento global abaixo deste limite de aquecimento, teremos que reduzir as emissões líquidas de CO2 em 45% até 2030, e as zerarmos até 2050. Daí que a captura de carbono da atmosfera, a energia nuclear e a geoengenharia solar não resolvem o problema.

Em tempo: muita gente não acredita que conseguiremos fazer o que o IPCC considera cientificamente necessário sem uma profunda mudança política. Para a pesquisadora Grace Blakeley, do think tank da esquerda britânica IPPR, a única maneira de deter a mudança do clima é desafiar a lógica do capitalismo: “temos de romper com um sistema em que o valor de tudo é determinado pela quantidade de dinheiro que os ricos podem ganhar.”

 

ClimaInfo, 9 de abril de 2019.