16% das exportações do agronegócio vão para países islâmicos

O chanceler Ernesto Araújo repetiu várias vezes não ver motivos para a aproximação do governo Bolsonaro com Israel afetar as relações com o mundo árabe. Mas Mauro Zafalon, na sua coluna na Folha, mostra que, no ano passado, do total de mais de US$ 100 bilhões em produtos do agronegócio exportados pelo Brasil, os países islâmicos compraram US$ 16,4 bilhões, ou seja 16%. Para a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) o bloco islâmico é composto por 52 países onde mais de metade da população se classifica como muçulmana. No sentido contrário, o Brasil importou US$ 1 bilhão da agropecuária daqueles países, o que nos dá um saldo de mais de US$ 15 bilhões. Na 4ª feira, a CNA promoveu um jantar com a presença do presidente e de 37 representantes dos países muçulmanos. Aparentemente não houve a mesma identificação demonstrada para com Trump e Bibi King.

Os dois maiores compradores do agro brasileiro foram, no ano passado, a China com US$ 36 bilhões e a União Europeia com US$ 18 bilhões. Não se sabe o desfecho das negociações entre Trump e a China para encerrar a guerra comercial. Mas a China pode trocar as compras de soja e carne do Brasil pela paz com os EUA. Se isto se confirmar, a importância do mundo muçulmano aumenta e mais difícil ficará explicar o amor a Israel.

Em tempo: o complexo da soja e da carne estão no topo da lista das exportações e os dois foram responsáveis direta ou indiretamente pelo desmatamento da Amazônia e, mais recentemente, do Cerrado. Os movimentos de aproximação a Israel e uma eventual redução das exportações para a China podem diminuir a pressão por áreas novas e, assim, contribuir para mitigar as emissões nacionais. No limite, o desmatamento ficaria restrito ao crime organizado de grileiros e garimpeiros.

 

ClimaInfo, 12 de abril de 2019.