Extinction Rebellion, a nova resistência climática

Neste final de semana, milhares de londrinos saíram às ruas, bloquearam a Ponte Waterloo, a praça do Parlamento, uma parte do Hyde Park, além do Oxford Circus e Piccadilly Circus, em um protesto contra a inação climática. O movimento se autodenomina Extinction Rebellion e programou suas próximas manifestações para 80 cidades em 33 países. Esse movimento de desobediência civil surgiu em outubro passado no Reino Unido sem hierarquia nem organização formal, num processo essencialmente orgânico que se utiliza das redes sociais para organizar protestos. O Financial Times diz que a atmosfera de um dos protestos do grupo era festiva, com o pessoal dançando e servindo cupcakes. Entre os milhares de participantes via-se “famílias com crianças, um banqueiro, um funcionário público, avôs, um sacerdote”. Segundo o FT, a ‘extinção’ presente no nome do movimento não se refere apenas a plantas, insetos e animais, mas à espécie humana.

Uma das principais motivações do movimento é a ideia de que não há uma comunicação real dos impactos trazidos pela mudança do clima porque assume-se que pessimismo demais afasta as pessoas. Mas para o movimento, o remédio seria o oposto. Algo como fez Jem Bendell, professor da Universidade de Cumbria, em um dos textos mais acessados sobre o clima, o Deep adaptation: a map for navigating climate tragedy (Adaptação profunda: um mapa para navegar na tragédia climática): “Contemplar esta possibilidade (da mudança do clima), pode parecer abstrato. (…) Mas quando eu digo fome, destruição, migração, doença e guerra, falo da sua vida. Com a energia cortada, rapidamente você não terá água saindo da torneira. Você dependerá de seus vizinhos para ter comida e calor. Você ficará desnutrido. Você não saberá se deve ficar ou ir. Você terá medo de ser morto violentamente antes de morrer de fome”. Apesar do tom profundamente negativo do texto, o pessoal do Extinction Rebellion imagina ser possível reverter o quadro e caminhar para um mundo mais saudável e com uma zeladoria global sustentável.

Em tempo: na semana passada, a Science publicou uma carta assinada por mais de duas dúzias de pesquisadores de renome sobre os protestos de mais de um milhão de crianças e adolescentes de todo o mundo no mês passado. Na carta, os pesquisadores dizem que as preocupações dos jovens com seu futuro são mais que justificadas e pedem adesão e suporte de colegas ao movimento, posto que, apesar dos repetidos relatórios e trabalhos que mostram a urgência e o tamanho do esforço a ser feito, pouco acontece de fato: “Vemos como nossa responsabilidade – social, ética e acadêmica – declarar em termos claros: somente se a humanidade agir rápida e resolutamente poderemos limitar o aquecimento global (…) e preservar a base natural para o suprimento de alimentos e bem-estar das gerações presentes e futuras. É isto que os jovens querem alcançar. Merecem o nosso respeito e o nosso total apoio.”

 

ClimaInfo, 16 de abril de 2019.

 

Atualização 17/04/2019

Movimento Extinction Rebellion bloqueia centro de Londres

 

 

Mais de 200 ativistas pelo clima foram presos ontem, em Londres, por bloquearem ruas do centro da cidade, segundo informa a BBC. O prefeito de Londres, Sadiq Khan, disse “compartilhar a paixão” dos ativistas, mas disse também estar “extremamente preocupado” com os planos dos manifestantes que querem fechar o metrô de Londres ainda hoje (17/4). Khan disse ser “absolutamente crucial” conseguir que mais pessoas usem o transporte público para combater a mudança climática e que “atacar o transporte público desta maneira só prejudicaria a causa de todos nós que queremos combater a mudança climática”. Os ativistas querem “fechar Londres” até 29 de abril em uma série de protestos.

 

ClimaInfo, 17 de abril de 2019.